Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUMENTO DA COMPETITIVIDADE DA ECONOMIA BRASILEIRA E O CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMERCIO EXTERIOR.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUMENTO DA COMPETITIVIDADE DA ECONOMIA BRASILEIRA E O CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES.
Publicação
Publicação no DSF de 10/04/2002 - Página 4229
Assunto
Outros > COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • DEFESA, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, COMERCIO EXTERIOR, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, MERCADO INTERNO, MELHORIA, QUALIDADE, PRODUTO, CRESCIMENTO, EXPORTAÇÃO.
  • COMENTARIO, EXPECTATIVA, EMPRESARIO, AUMENTO, EXPORTAÇÃO, CARNE BOVINA, COURO, CALÇADO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, após a Segunda Guerra Mundial, o sistema capitalista inaugurou uma nova divisão internacional de poderes entre países. Essa nova realidade nas relações políticas, industriais e de comércio, particularmente na geografia do chamado mundo ocidental, passou a ser liderada pelos Estados Unidos.

Inegavelmente, nos trinta anos seguintes, esse novo modo de produção resultou em um desenvolvimento fantástico e abriu uma grande estrada que permitiu muito rapidamente, um crescimento impressionante das transações internacionais. Com essa revolução no comércio internacional e na concorrência entre países e capitais, aconteceu também uma alteração radical entre os interesses dos chamados países industriais e dos países em desenvolvimento.

Como podemos perceber, nesse novo palco internacional, a procura constante por um padrão cada vez melhor de produtividade tornou-se uma verdadeira obsessão e, por que não dizer, uma questão de sobrevivência. Esse é o mundo da globalização, não mais comandado pelo “Estado Nação”, mas sim pela eficiência, pela rapidez, pela sofisticação, pela qualidade e pelo saber na sua forma mais competente.

Dessa maneira, a mundialização dos mercados tornou os termos atuais da concorrência capitalista extremamente agressivos. As novas contradições que se formam e se avolumam no seio da chamada globalização da economia já mostram que a síntese do antagonismo sócio-político não se dá somente entre o capital e o trabalho nos corredores das fábricas. É preciso perceber que ela se verifica também agora, e de maneira cada vez mais importante e determinante, no coração do fantástico desenvolvimento e reprodução do capital, em sua forma mais complexa, mais avançada e mais manipuladora.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, justiça seja feita, o Brasil da era Fernando Henrique Cardoso percebeu claramente todas essas mudanças e percebeu igualmente que precisávamos nos preparar com mais dinamismo e com mais competência para participar dessa nova concepção do mundo. Assim, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, com sua visão de sociólogo de vanguarda e de estadista competente, sabia perfeitamente que o Brasil moderno não podia mais conviver com o Brasil do passado, dominado por um Estado perdulário, clientelista, paternalista, fruto de sucessivos pactos políticos que sempre foram celebrados nas caladas das madrugadas pelas elites pouco ciosas dos seus deveres e obrigações para com a pátria.

Não tenho a menor dúvida de que o futuro do Brasil dependerá em grande parte de sua capacidade de alargamento do mercado interno, da geração constante de empregos e da sua disposição em travar uma grande luta visando conquistar largos espaços nos mercados internacionais. Nesse sentido, vale lembrar que um grande esforço está sendo feito para elevar a participação brasileira no comércio internacional de bens e serviços que infelizmente ainda é das mais modestas.

Na conjuntura internacional de hoje, o sistema econômico brasileiro tem procurado ser competitivo com outras economias emergentes e mesmo com os países desenvolvidos, tentando a cada oportunidade agregar mais valor manufatureiro ao seu comércio externo e procurando criar uma forte política de aumento constante de sua capacidade de exportação.

Como dissemos anteriormente, a competitividade brasileira nos mercados externos, ainda deixa muito a desejar. Lamentavelmente, a lógica do comércio internacional do Brasil ainda é toda ela baseada em uma certa improvisação. Devemos acrescentar ainda que não existe uma boa coordenação entre os atores envolvidos na questão e falta agressividade para lidar com as variáveis e com as exigências do mercado internacional e, por fim, a qualidade do nosso produto ainda é muito pouco conhecida no exterior. Aliás, a esse respeito, o representante de comércio americano, Robert Zoellick, que está no Brasil para amenizar os impactos das barreiras comerciais americanas sobre o aço, ficou surpreso com a excelente qualidade apresentada por vários produtos produzidos pelas nossas indústrias que ele desconhecia completamente.

Apesar do enorme esforço que precisa fazer para exportar mais, o Brasil já tem motivos suficientes para comemorar as perspectivas que se abrem para as suas exportações de carne bovina, para a reestruturação da indústria automobilística na América Latina e para a expansão do complexo coureiro calçadista nacional. É importante ressaltar que são nichos importantes de nossa indústria, com enorme capacidade de crescimento, elevada qualidade e inegável condição de competitividade e que apresentam ainda amplas possibilidades de duplicação de exportações em curto e médio prazo como veremos a seguir.

No caso da carne bovina, depois da epidemia da “Vaca Louca”, do injustificável boicote canadense e da suspeição criada em outros mercados mundiais importantes, o Governo brasileiro conseguiu, a duras penas, após travar uma grande batalha internacional, provar que tem o melhor produto do mundo a oferecer.

Segundo estatísticas recentes, o mercado mundial de carne bovina desossada e de carne industrializada realizou, em 1999, um movimento total de 15,3 bilhões de dólares. Todavia, diante de um comércio dessa importância, o Brasil conseguiu uma participação de apenas 850 milhões de dólares, ou seja, uma modesta fatia de 5,5% do total. De qualquer maneira, devemos assinalar que a presença brasileira nos mercados mundiais de carne bovina desossada e industrializada teve boa melhora na década passada. Por exemplo, segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 1990, o Brasil ocupava a 14° posição entre os maiores exportadores de carne desossada e conseguiu passar para o 10° lugar em 1999. Em relação à carne industrializada, o Brasil também tem elevado o seu grau de competitividade na conquista de mercados. Em relação a esse aspecto, merece atenção o fato de o nosso País apresentar hoje níveis bastante razoáveis de controle sanitário, o que já coloca a nossa carne em excelente posição na preferência dos maiores compradores internacionais. Finalmente, é importante dizer que, apesar de existir ainda uma forte retração no consumo mundial de carne, em virtude da crise sanitária que atingiu países da União Européia, o Brasil tem amplas possibilidades de abrir novas brechas nesse mercado. Assim, sabendo tirar proveito da crise de lá, o nosso País conseguiu ocupar um bom espaço naquela região, oferecendo qualidade e ocupando também a posição deixada pela Argentina, cujos rebanhos foram contaminados pela aftosa e cuja economia está hoje em completa bancarrota. Além do importante mercado consumidor da União Européia, o Brasil fixa os olhares em direção do Leste Europeu, do Oriente Médio e da China. Enfim, para coroar essas perspectivas, o Brasil necessita urgentemente derrubar as barreiras alfandegárias que dificultam a entrada de nossa carne nesses mercados. Hoje, segundo os especialistas da área, essas possibilidades podem se concretizar em médio prazo.

No que se refere à indústria automobilística, o Brasil tem grande interesse na expansão do mercado regional. Com a crise da economia Argentina, cuja recuperação é extremamente penosa e de longo prazo, o Brasil posiciona-se para recuperar e aumentar sua participação nesse concorrido mercado da América do Sul. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entre 1996 e 1999, as exportações brasileiras em direção da América do Sul caíram seguidamente. Em 1996, 86% de nossas vendas de veículos foram dirigidas para a América do Sul. Em 1999, esse percentual caiu para 48%. Além da simples venda de veículos, a posição brasileira é bastante privilegiada como fornecedor de peças e componentes. A presença de um forte parque industrial com altos índices de qualidade e desenvolvimento é o que faz a diferença frente aos concorrentes no continente.

Por último, temos o complexo coureiro-calçadista que revela elevado grau de otimismo em relação às perspectivas do setor para os próximos anos. Os industriais estão esperando que a produção física cresça em média 4% ao ano nos próximos seis anos. No que se refere às importações, espera-se um crescimento médio de 13% no período mencionado, um aumento de 12% para as exportações, uma expansão de 3% para os empregos, e crescimento de 13% para os investimentos.

Por sua vez, o setor de curtume deverá apresentar um crescimento médio anual de 3% na produção de couros, um aumento de 13,5% das importações, um crescimento de 6% para as exportações, um acréscimo de 13% para os investimentos e de 6% para o consumo.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, como vimos ao longo deste pronunciamento, para os três setores industriais comentados, os empresários esperam a realização de grandes negócios em curto e médio prazo. Dessa maneira, mais do que nunca, é preciso que os empreendedores brasileiros procurem por todos os meios melhorar os seus produtos, atingir patamares superiores de qualidade, de organização e de produtividade. Esses são, certamente, os elementos básicos exigidos pelo mundo globalizado. Infelizmente, aqueles que não conseguirem se adaptar a essa realidade, serão fatalmente tragados pelas leis frias e implacáveis do mercado e terão de fechar as portas de suas empresas.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Modelo1 5/14/2410:27



Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/04/2002 - Página 4229