Discurso durante a 40ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O GOLPE DE ESTADO NA VENEZUELA E OS CONFLITOS ENTRE OS PALESTINOS E OS ISRAELENSES.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O GOLPE DE ESTADO NA VENEZUELA E OS CONFLITOS ENTRE OS PALESTINOS E OS ISRAELENSES.
Publicação
Publicação no DSF de 16/04/2002 - Página 4554
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, TENTATIVA, GOLPE DE ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, PREJUIZO, DEMOCRACIA, FECHAMENTO, PARLAMENTO, JUDICIARIO, AVALIAÇÃO, DECLARAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA), GOVERNO ESTRANGEIRO, IMPRENSA, AMBITO INTERNACIONAL.
  • SAUDAÇÃO, RETORNO, ESTADO DEMOCRATICO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA.
  • NECESSIDADE, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, AMERICA LATINA.
  • DENUNCIA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, HEGEMONIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • GRAVIDADE, CONFLITO, ORIENTE MEDIO, QUESTIONAMENTO, QUALIDADE, INFORMAÇÃO, IMPRENSA.
  • REITERAÇÃO, DENUNCIA, RISCOS, DERRUBADA, PRESIDENTE, ORGÃO ESPECIAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), COMBATE, ARMA, ENGENHARIA QUIMICA, MOTIVO, DIVERGENCIA, ORIENTAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, levei meu filho ao médico; estou chegando agora, e não sei do que se tratou nesta sessão. Pretendo falar sobre os acontecimentos na Venezuela.

A América Latina, de um modo especial a América do Sul, viveu um acontecimento excepcional e emocionante para todos nós. Na Venezuela, militares, sindicatos dos grandes empresários e dos trabalhadores, e a grande imprensa deram um golpe de Estado, se uniram para derrubar seu Presidente. O Sr. Hugo Chávez* foi preso e afastado. Poderia ter assumido o Vice-Presidente, pelo menos fingindo, mas assumiu o Presidente do Sindicato dos Empresários, um grande empresário.

É interessante salientar que a Venezuela talvez seja um dos países da América Latina onde há uma maior radical divisão entre ricos e pobres. A burguesia venezuelana é das mais ricas e fortes do mundo. E a miséria na Venezuela? Trata-se de um país próspero. É o quarto maior exportador de petróleo do mundo. Riqueza é o que não falta na Venezuela, entretanto, há a demonstração de que, quando não há preocupação com o social e com a distribuição de rendas, os ricos sempre ficam cada vez mais ricos e os pobres mais miseráveis.

O Presidente do Sindicato dos Empresários, unido ao grupo golpista do Exército e à grande imprensa, assumiu o poder. Em meio às acusações feitas, Sr. Presidente, esse empresário houve por bem, como primeiro decreto, fechar o Congresso e a Suprema Corte. Foi sua primeira decisão: deixou a Venezuela sem Congresso e sem Poder Judiciário.

O interessante é que se acusava o Presidente Hugo Cháves, eleito democraticamente, de abuso no uso da Maioria - aliás alguém disse - no Congresso Nacional não sei a favor de quê.

O mundo inteiro se manifestou - Bush, numa alegria incontida, felicitando, reconhecendo o novo Governo, dizendo que era ótimo e que estava tudo muito bem. A Organização dos Estados Americanos, numa nota - porque hoje há uma determinação de que só fazem parte da OEA, como só fazem parte do Mercosul, países democráticos - se propunha a averiguar o que tinha acontecido e, se fosse o caso, determinar que a Venezuela se retirasse .

O Presidente Fernando Henrique Cardoso tomou duas atitudes, uma boa e outra ruim. A boa, lamentando profundamente ocorrido; a ruim, pedindo eleição o mais breve possível; em outras palavras, aceitando o golpe, aceitando que o Presidente tinha destituído Câmara, Senado e Suprema Corte; pedindo apenas que a eleição fosse o mais breve possível. Não foi feliz nessa segunda parte o Presidente.

O interessante é que o que acontece em qualquer canto do mundo chega a nossa casa. Agora, é impressionante como a grande mídia mundial domina os acontecimentos e faz chegar à nossa casa o que ela quer. Para a grande mídia, para as empresas internacionais e americanas, estava consolidado o novo presidente. Nada está acontecendo. A imprensa venezuelana boicotou, esqueceu, não permitiu que o povo tomasse conhecimento do que estava acontecendo. E uma contra-revolução, um contragolpe aos militares e à sociedade, fiz com que os militares voltassem atrás e depusessem o presidente ditatorialmente imposto e recolocassem no lugar o presidente eleito democraticamente.

A população venezuelana não sabia de nada; nós, no Brasil, não sabíamos de nada e o mundo não sabia de nada. Foi um exemplo fantástico do que a mídia internacional faz dentro de um país. Quando ela, perdendo a sua independência, a característica de informar, a obrigatoriedade de informar com independência se agarra a um dos lados.

A grande mídia da Venezuela estava no golpe, contra o Presidente, na derrubada, aceitou o fechamento do Congresso e da Suprema Corte. Para ela, tudo isso era normal. Esses acontecimentos vindo, o povo na rua, e a polícia do Presidente que assumiu matando de catorze a vinte pessoas... E a imprensa nada de informar.

Felizmente e, apesar disso, o bom senso imperou. Aliás, para isso ajudou os primeiros atos do empresário que assumiu o Governo da Venezuela. Fechar o Congresso, a Suprema Corte foi algo que deixou boquiaberta toda a população.

            Lá está o Presidente, democrático, de cujo pronunciamento gostei quando reassumiu o cargo. Não foi de ódio, não foi de vingança, não foi de retaliação, mas de bom senso! E queira Deus que ele vá adiante no cumprimento do seu pronunciamento de busca do entendimento e do diálogo com toda a sociedade. Que bom que isso ocorra, porque a América Latina viveu, nesse final de semana, um dos acontecimentos mais importantes da sua história, que foi o golpe de estado impetrado, o golpe tradicional em que a burguesia, a grande imprensa e os militares, o grande protetor do universo, que é o Presidente americano, reconheceram com alegria o novo governo, e a Nação determinou que voltasse atrás, que a ditadura recuasse e que o Presidente eleito reassumisse.

O Sr. Luiz Otávio (Bloco/PPB - PA) - Senador Pedro Simon, V. Exª me concede um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer, concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Luiz Otávio (Bloco/PPB - PA) - Senador Pedro Simon, V. Exª traz, nesta tarde, o assunto do momento. É um tema que preocupa o mundo todo, principalmente a América Latina, em especial o Brasil. Nos últimos dois anos, assistimos ao mesmo problema no Paraguai, no Peru, com Alberto Fujimori, na Argentina, com de Fernando de la Rúa, e agora com o Hugo Chávez, também na Venezuela. E antes de Hugo Chávez, Pedro Carmona, empresário que se tornou Presidente por três dias.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O homem mais rico da Venezuela.

O Sr. Luiz Otávio (Bloco/PPB - PA) - O homem mais rico da Venezuela. E, na Argentina também, foram três presidentes em quinze dias. Portanto, como eu disse há pouco, V. Exª traz, de forma brilhante, como sempre, um assunto da maior importância e que nos causa preocupação. V. Exª nos brinda com a oportunidade de refletir a respeito do momento que vivemos. Graças a Deus, o Brasil, com todas as dificuldades e problemas, como sempre altaneiro e ordeiro, com um povo trabalhador e sério, faz com que sua democracia seja respeitada e mantida. Não se pode viver em um país que fecha seu Parlamento - no caso da Venezuela trata-se de sistema unicameral. Contamos com um Poder Judiciário forte, que rege nossas leis e faz com que sejam cumpridas pelo Poder Executivo. Cumprimento V. Exª. E me sinto cada vez mais orgulhoso de ser não apenas um seguidor, mas uma pessoa que tem a honra de poder trabalhar e conviver com V. Exª e sua família, no Senado Federal e em Brasília. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito o pronunciamento de V. Exª. Acho que o prezado amigo e colega foi muito feliz ao salientar as preocupações da América Latina. E como estamos de certa forma caminhando em um fio de arame para consolidarmos a democracia neste hemisfério.

Eu vivi a época triste, difícil, meu querido Senador, em que o Cone Sul era considerado o recanto mundial da ditadura, da violência, da tortura, da morte, da falta de democracia. Os governos militares deram o golpe no Chile, na Argentina, no Paraguai, no Uruguai, no Brasil, no Peru, e, praticamente, durante muito tempo, o mundo publicava as manchetes de tortura, de morte, de violência e de ausência de democracia. Felizmente, aos poucos, esse quadro foi mudando e a democracia foi aparecendo. A democracia venceu a violência dos que derrotaram Allende no Chile, a democracia venceu na Argentina, no Uruguai, no próprio Paraguai e aqui no Brasil. Mas, se nós reconhecemos que a democracia venceu o arbítrio, a tortura, a violência e a ditadura, a verdade é que os nossos países da América Latina ainda vivem um regime onde há fome, onde há miséria, onde há uma tremenda injustiça social na distribuição da renda.

A Venezuela é o principal exemplo disso. A Venezuela tem uma renda per capita fantástica de US$10 mil. A sua renda mensal é quase igual à que o brasileiro tem anualmente, mas, na distribuição, alguns ficam com uma quantia fantástica e outros ficam realmente na miséria.

Enquanto nós não nos compenetrarmos da importância de que, junto com a democracia, temos que ter democracia social em que se dê justiça distributiva, não sei onde vamos terminar.

A Argentina, disse muito bem V. Exª, teve vários presidentes em um mês. Graças a Deus, tudo no regime democrático. Um renunciava porque se achava incompetente para levar adiante e era substituído. A Argentina deu um exemplo nesse tumulto, nessa crise inédita da sua história. O Brasil é um país que sempre teve pobreza, miséria. A Argentina era um dos países mais ricos do mundo, tinha uma renda per capita das melhores e tinha justiça social. Cansei de ir lá, do Rio Grande do Sul, e na Argentina não tinha miséria, não tinha fome, não se encontrava um mendigo na rua. A Argentina cumpriu mais do que o Brasil a lição do Fundo Monetário e por isso sofreu mais do que o Brasil e está pagando o preço hoje reconhecido da insolvência da sua economia. Mas graças a Deus conserva a democracia.

Por isso digo que o que aconteceu na Venezuela foi um fato marcante que merece respeito, admiração. Eu, daqui, levo ao povo da Venezuela, aos líderes da Venezuela, a quem teve a competência de fazer o que fizeram na Venezuela, meu abraço muito fraterno porque ali se viveu uma página democrática, na Venezuela e em toda a América Latina.

E veja-se o escândalo que a imprensa, a grande mídia nacional fez na Venezuela: boicotou, em primeiro lugar, fechou-se do lado do golpe, uniu-se, abriu as baterias para tentar desmoralizar o governo democraticamente eleito e fazer implantar uma ditadura. Deu apoio a todos os atos, rápidos, mas cruéis, como fechar o Congresso e o Supremo Tribunal, mas ela foi obrigada. Depois esqueceu, escondeu, não deixou aparecer nenhum fato demonstrando que as coisas estavam mudando, que o governo estava caindo, e o ex-presidente estava voltando. Hoje ela está humilhada perante o mundo e perante a Venezuela. Queira Deus que esse exemplo sirva a outros grandes periódicos, rádios e televisões do mundo para que não sigam o cruel caminho da imprensa da Venezuela.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª com muito prazer.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Senador Pedro Simon, o esclarecimento que V. Exª deu sobre esse fato político que alcançou a mídia nesse final de semana, sem dúvida alguma, foi uma síntese desse acontecimento tão importante para a democracia no nosso País. Gostaria de fazer uma reflexão sobre dois pontos: primeiro, mesmo após o presidente recém-indicado Pedro Carmona, representante de um setor produtivo e da Câmara do Comércio, assumir em um salão com uma enorme quantidade de pessoas que ali estavam para prestigiá-lo, a mídia, como V. Exª trouxe ao nosso conhecimento, divulgou no mundo todo que foi uma aceitação do povo em princípio, que tudo estava sendo preparado e que agora caminharia para a democracia.

Mas houve um fator importante que foi na verdade o povo. O povo não aceitou aquela mudança política, aquele golpe e saiu às ruas de madrugada conscientizando toda a população. Milhares e milhares de pessoas deram a demonstração viva de que aquele golpe não foi do agrado da população da Venezuela. Esses dois fatos tiveram um sentido muito importante no decorrer daquele episódio. Tanto é que, no dia seguinte, pela pressão do povo, o próprio ex-Presidente Hugo Chávez, que caminhava para assumir novamente a Presidência, retorna carregado pelo povo, invade o palácio e retoma o governo. O primeiro fato, para o qual eu chamaria a atenção, é a mídia mundial ter dado o enfoque de vitória do povo; o segundo é o próprio povo, que demonstrou que aquele não era um golpe esperado por todos e estaria conduzindo novamente à presidência o Presidente Hugo Chávez. Era o que eu tinha a dizer, Senador Pedro Simon, parabenizando-o pelo brilhantismo da exposição política de quem conhece de perto os problemas referentes à democracia.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senador Lindberg Cury, agradeço muito a V. Exª, que salienta muito bem o papel da mídia local da Venezuela e da mídia internacional, que está na mão dos Estados Unidos.

Que coisa interessante é essa que estamos vivendo! Tenho na minha casa 120 canais de televisão, mas se quero assistir ao que acontece no mundo só tenho imagens fornecidas pelos Estados Unidos. Não sei se V. Exªs repararam que houve um debate nos Estados Unidos em que a imprensa, a sociedade e o Congresso ficaram espantados quando o Presidente George W. Bush* e seu governo defenderam a tese de que, em determinados assuntos, a grande mídia poderia mentir, esconder, dar a conotação que entendesse ser melhor aos acontecimentos. Após a derrubada das Torres Gêmeas, o mundo inteiro prestou solidariedade aos Estados Unidos. Entretanto, depois de todos os bombardeios ao Afeganistão houve repercussão diferente. A análise foi esta: temos que dialogar com a grande imprensa para que não coloque no ar certas imagens que seriam negativas ao povo americano.

Durante os episódios na Venezuela foi o que se viu. Assistíamos à televisão dia e noite, mas não vimos uma notícia de que algo iria acontecer. De repente, o que a imprensa internacional noticiou foi o que aconteceu; noticiaram depois de ter ocorrido, depois que o presidente já tinha voltado ao cargo. Não houve uma vírgula, uma notícia, um intróito, nenhuma perspectiva de que algo diferente estava acontecendo. A mídia da Venezuela e a mídia internacional entraram no mesmo esquema.

Sr. Presidente, falarei rapidamente porque o meu tempo não me permite delongas - voltarei a esta tribuna para analisar a visita do representante do Presidente Bush ao Oriente Médio. O Presidente Bush determinou que se equacionassem as questões no Oriente Médio: que os israelitas parassem com os ataques, e os palestinos, com os homens-bomba. Quando ele fez essa declaração, numa quarta-feira, imaginou-se que o seu representante - já que o mundo está caindo na Palestina - viajaria no dia seguinte. Mas não! Não viajou na quarta-feira, na quinta-feira, na sexta-feira, nem no sábado, nem no domingo; viajou somente na segunda-feira. Imaginou-se que ele iria diretamente ao palco dos acontecimentos, que ele iria para falar com os palestinos e os israelitas, tentando encontrar uma solução; ele foi à Espanha, depois à Jordânia. O Presidente jordaniano perguntou se ele não deveria estar na Palestina. Ele percorreu um círculo para ganhar tempo. Os israelitas vão conquistando, avançando, derrubando e destruindo, ganhando tempo.

A capa do Correio Braziliense de outro dia mostra bem: “O Bush finge que manda, mas o líder israelita nem sequer finge que obedece”. Nós, cristãos, olhamos com dó algo que nunca tinha acontecido: o bombardeio à Igreja da Natividade. Há receio de que ela caia, o complexo da igreja vizinha já foi incendiado. E vemos a notícia de que também ali as empresas americanas noticiam alguma coisa do que acontece. Há uma notícia que diz que, como o representante do Governo americano ia visitar o chefe palestino, os judeus permitiram fosse levada certa quantidade de água para o local onde está confinado o presidente palestino. Eu não me lembro de uma situação como essa, Sr. Presidente. O povo judeu é tem o carinho e o respeito do mundo. Como cristão, aprendi a respeitar o povo judeu, que tem história, que tem uma biografia, que lutador, dedicado, fiel, que sofreu muito na Grande Guerra. O Holocausto foi um fato que provocou a união do mundo inteiro em solidariedade aos judeus e contra os alemães. Sabemos, é verdade, que somente depois de muitos anos a humanidade tomou conhecimento de vários coisas que aconteceram naquela ocasião. Àquela época não havia, como hoje, a televisão ao vivo; a gente ouvia dizer, ouvia contar. Muitas barbáries cometidas por Hitler só foram conhecidas depois que os aliados invadiram a Alemanha. Quando o mundo soube o que havia acontecido, houve um mar de lágrimas em solidariedade ao povo hebraico.

Não consigo acreditar que o Primeiro-Ministro de Israel seja aceito pelo seu povo. As páginas que ele está escrevendo hoje reabrem no mundo inteiro o debate em torno da causa dos judeus.

Sr. Presidente, V. Exª está preocupado com o andamento da sessão. Encerro prometendo voltar em outra oportunidade. Temos que analisar com profundidade. essa situação.

Encerro, Sr. Presidente, lembrando a V. Exª apenas o seguinte: se não me engano, daqui a dois dias, precisamente no dia 17, acontecerá na Europa uma reunião da entidade representativa do combate às armas químicas, cujo presidente é um brasileiro. Os americanos tentaram derrubá-lo, mas não conseguiram. Agora pediram a convocação de uma reunião extraordinária para, novamente, tentar derrubar o representante brasileiro, que teve atuação excepcional, que fez com que sua entidade tivesse um incremento de 47 para 130 representantes obtivesse respeito e credibilidade no mundo inteiro.

Entendeu ele que fiscalizar a possibilidade do uso de armas químicas em todas as nações é uma obrigação de sua entidade e pediu licença para ir aos Estados Unidos. Os americanos não gostaram. Ele dialogou com o Iraque, que não está permitindo que estrangeiros entrem em seu território, para que a sua entidade pudesse ir lá fiscalizar, ver, orientar e tranqüilamente solucionar o problema do Iraque.

Como o presidente americano está defendendo a tese de que é preciso bombardear o Iraque e está procurando aliados para isso e, mais, não admite que a entidade entre nos Estados Unidos para fiscalizar seu território, o brasileiro passou a ser considerado como inimigo, como uma pessoa que deve cair fora.

É grave essa situação, Sr. Presidente. A derrubada do presidente de uma entidade internacional, como pretende o presidente americano, criará um precedente e todo presidente de entidade terá de ser um serviçal do americano, porque, se tiver a coragem de dizer não, acontecerá o que está ocorrendo agora. Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/04/2002 - Página 4554