Discurso durante a 46ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração, hoje, do Dia da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração, hoje, do Dia da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2002 - Página 5606
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, AVIAÇÃO, CAÇA, FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), ELOGIO, ATUAÇÃO, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, DEFESA, PAZ.
  • HOMENAGEM, ALBERTO SANTOS DUMONT, VULTO HISTORICO, INVENÇÃO, AERONAVE, PATRONO, AVIAÇÃO.

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O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste 22 de abril, em que se comemora o dia da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, convém lembrar que a vocação brasileira pelos ares manifestou-se muito cedo e com nítido relevo. Ainda nos inícios do século XVIII, Bartolomeu de Gusmão, o Padre Voador, espantava a corte portuguesa com um aeróstato que chegou a se elevar aos 4m de altura.

Avulta, em seguida, a figura de um dos grandes brasileiros e um dos mais brilhantes inventores do século XX. De porte frágil e pequena estatura, Alberto Santos Dumont eleva-se acima da conjuntura histórica em que atuou e nos alcança com impressionante força. Por sob a pátina que recobre o Grande Vulto de nossa História, percebemos um ser humano de qualidades incomuns, o rasgo e a ousadia da genialidade, afirmada em lances sucessivos. 

Permita-me traçar, Sr. Presidente, um breve retrato desse admirável compatriota. Nascido em 20 de julho de 1873, no município mineiro de Palmira, que ostenta agora o nome de seu filho mais ilustre, Alberto Santos Dumont partiu para estudos na França aos 18 anos, onde começou a se interessar pela aerostação. O grande problema teórico e prático então posto para o vôo dos balões era o da sua dirigibilidade, ao qual Santos Dumont passa a dedicar-se com afinco. 

Uma das características marcantes desse inventor era o fato de que ele projetava, construía e testava os seus aparelhos, deparando-se, por diversas vezes, com grandes perigos. Assim fez com seus sucessivos balões, somando êxitos e alguns acidentes, até chegar à estrondosa consagração pública de 19 de outubro de 1901. Nesse dia, com seu balão dirigível nº 6, dotado de um motor a explosão, cumpre um circuito preestabelecido que incluía a circunavegação da Torre Eiffel e arrebata o valioso prêmio Deutsch. Estava conquistada a dirigibilidade plena dos balões.

Seu espírito inquieto e destemido não iria parar aí, pois se defrontava com um desafio ainda maior: o do vôo de veículos mais pesados que o ar. Após infatigáveis experiências, guiado por sua imaginação exuberante e grande engenhosidade, Santos Dumont realiza o feito que lhe daria glória imorredoura. Em 1906, com sua estranha aeronave 14-Bis, cuja fuselagem era de bambu, coberta por panos de seda, o brasileiro é o primeiro a erguer uma máquina acima do solo por seus próprios meios. Sim, o homem voa!

O gênio de Santos Dumont, Sras. e Srs. Senadores, manifestou-se ainda em outras invenções, como a do relógio de pulso e do hidroavião, sendo responsável também pela construção do primeiro hangar. Sua magistral capacidade de projetista e de engenheiro mecânico teve sua consagração maior com a concepção da aeronave demoiselle, elegante precursora dos atuais ultraleves, com a qual ele realizaria seus últimos vôos. A generosidade e a grandeza da alma de Santos Dumont não impediu, entretanto, que ele tivesse um fim solitário e trágico, suicidando-se em 1932. 

É mais que justa, mais que sábia a homenagem que prestou a Força Aérea Brasileira a este admirável inventor, aeronauta e ser humano, concedendo-lhe o posto honorífico de Marechal-do-Ar em 1959, e proclamando-o, enfim, em 1971, como seu Patrono.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, a Força Aérea Brasileira, a gloriosa FAB, foi criada em 1941, quando o mundo passava pelo conturbado e dramático período da 2ª Guerra Mundial. Não estava o Brasil ainda dentro da guerra, mas precisava preparar-se para essa possibilidade, que veio a se concretizar um ano e meio depois, em 22 de agosto de 1942, após sucessivos bombardeios de navios brasileiros por submarinos alemães.

A fusão das armas aéreas do Exército e da Marinha resultou em uma estrutura ainda precária para a imensa tarefa que se descortinava para a FAB, que precisou adquirir aviões modernos e treinar seu pessoal em ritmo intenso, contando, para isso, com expressiva ajuda dos Estados Unidos.

Estávamos em uma guerra em que não defendíamos apenas a integridade do patrimônio brasileiro e de vidas brasileiras. Era uma guerra que se travava contra a barbárie nazi-fascista, contra sua inaceitável opressão imperialista, contra o genocídio friamente planejado e executado. Era uma luta pela democracia, pela possibilidade de convivência fraterna entre os povos - e pela dignidade do ser humano.

A tarefa imediata da FAB concentrava-se, entretanto, na defesa de nossas embarcações, constantemente atacadas pelos submarinos da marinha alemã, resultando na perda de valiosas vidas humanas. Ao longo de nossa costa, os aviadores da FAB realizaram incansáveis vôos de patrulhamento, investindo contra os submarinos agressores quando se deparava a oportunidade. Além de prevenir inúmeros ataques, de infligir perdas à frota inimiga, como o afundamento do submarino U-199, nossa Força Aérea obtinha inestimável experiência para se lançar a uma tarefa mais difícil e crucial, que consistia em entrar em ação no próprio cenário da guerra européia.

Em fins de 1943, quando o Governo brasileiro decidiu que nossas Forças Armadas participariam da Campanha da Itália, foi criado o 1º Grupo de Aviação de Caça, sendo nomeado seu comandante o Major Aviador Nero Moura. Em outubro de 1944, após intensivos treinamentos, o grupo de caça desembarca na Itália, estabelecendo acampamento em Tarquínia. Também é criada e enviada ao teatro de operações, a Esquadrilha de Ligação e Observação, com o importante objetivo de apoiar a artilharia da Força Expedicionária Brasileira.

A essa altura, a frente da Itália, defendida encarniçadamente por tropas alemãs, auxiliadas pelas unidades italianas remanescentes, representava elemento decisivo para a evolução da guerra. De acordo com o Brigadeiro Nelson Freire Lavenère-Wanderley, os objetivos atribuídos ao Grupo de Caça Brasileiro, assim como às demais unidades de caça aliadas daquele Comando, visavam principalmente a três finalidades:

a) apoio direto às Forças Terrestres;

b) isolamento do campo de batalha, pela interrupção sistemática das vias de comunicações, ferroviárias e rodoviárias, que ligavam a linha de frente alemã ao vale do rio Pó e ao resto do território ocupado pelos alemães;

c) destruição de instalações militares e industriais no norte da Itália.

Com seu reduzido mas bravíssimo contigente de pilotos, do qual todos os oficiais eram voluntários na campanha européia, o Grupo de Caça da FAB cumpriu galhardamente sua missão, com resultados que superaram quaisquer expectativas. Seu desempenho pode ser avaliado pelo trecho que se segue do relatório oficial do Regimento de Caça americano engajado na campanha, referindo-se ao período crucial da ofensiva aliada, que quebra, definitivamente, a resistência alemã na Itália:

Durante o período de 6 a 29 de abril de 1945, o Grupo de Caça Brasileiro voou 5% das saídas executadas pelo XXII Comando Aerotático e, no entanto, dos resultados obtidos por este Comando, foram oficialmente atribuídos aos brasileiros 15% dos veículos destruídos, 28% das pontes destruídas, 36% dos depósitos de combustível danificados e 85% dos depósitos de munição danificados.

Nessa grande Ofensiva da Primavera, ressalta o glorioso dia 22 de abril como o de atuação mais decisiva e fulminante do Grupo de Caça Brasileiro, tendo obtido, em 44 missões individuais, a destruição de mais de 100 veículos e outros alvos de guerra. As perdas brasileiras no mesmo dia consistiram apenas em 2 aviões avariados e um avião abatido para além da linha inimiga, sendo capturado o piloto após saltar de pára-quedas.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, espero que essas palavras expressem uma sincera e mais que merecida homenagem à Força Aérea Brasileira, ao seu Patrono e à sua Aviação de Caça, a qual desempenhou-se tão brilhantemente de sua missão na 2ª Guerra Mundial, assim como tem exercido com seriedade e competência o seu papel de resguardar a paz.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2002 - Página 5606