Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o envolvimento de sacerdotes da igreja católica em casos de abuso sexual e pedofilia.

Autor
Leomar Quintanilha (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Considerações sobre o envolvimento de sacerdotes da igreja católica em casos de abuso sexual e pedofilia.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2002 - Página 7614
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, AUMENTO, DENUNCIA, SACERDOTE, EXPLORAÇÃO SEXUAL, CRIANÇA, MUNDO, ESPECIFICAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • CONVOCAÇÃO, IGREJA CATOLICA, AUTORIDADE RELIGIOSA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DISCUSSÃO, FORMALIZAÇÃO, DOCUMENTO, PREVISÃO, ADOÇÃO, PUNIÇÃO, EXPULSÃO, SACERDOTE, RECOMENDAÇÃO, PROCEDIMENTO ESPECIAL, CONTROLE, SEMINARIO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, FIXAÇÃO, CRITERIOS, ADMISSÃO, CANDIDATO, RETRATAÇÃO, SOCIEDADE.
  • DEFESA, NECESSIDADE, IGREJA CATOLICA, DISCUSSÃO, MANUTENÇÃO, OPÇÃO, PROIBIÇÃO, CASAMENTO, FORMAÇÃO, FAMILIA.

  SENADO FEDERAL SF -

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            SR. LEOMAR QUINTANILHA (PFL -TO) - Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, a imprensa mundial tem destacado com grande ênfase nos últimos dias o envolvimento de representantes da Igreja Católica com a Pedofilia. Foram tantas as denúncias de casos de abuso sexual que o Vaticano decidiu convocar as autoridades religiosas dos Estados Unidos para discutir o que fazer diante de tais ocorrências. Terminado o encontro da alta cúpula da Santa Sé com bispos e cardeais americanos, formalizou-se um documento que prevê punição pesada para os casos comprovados de abuso sexual e pedofilia, a expulsão sumária dos envolvidos. Houve, porém, dificuldades para se chegar a um acordo final sobre a linha de atuação da igreja nesses casos. Os mais radicais esperavam a adoção de medidas drásticas enquanto outra corrente defendia uma linha menos repressiva.

            Ao encerrar a reunião de cúpula, os cardeais presentes ao encontro pediram desculpas à sociedade por não terem sido capazes de preservar a igreja de tais escândalos. Disseram que os abusos contra menores não foram evitados por culpa da ação ou falta de ação de alguns bispos. Garantiram, entretanto, que a partir de agora os bispos recomendarão o processo especial para os clérigos envolvidos notoriamente em casos de abusos contra menores e também para os casos que não são conhecidos, mas nos quais o bispo diocesano considere o padre uma ameaça à proteção das crianças e dos jovens. Será intensificado o controle sobre os seminários e escolas de formação de sacerdotes, com o estabelecimento de critérios rígidos para a admissão dos candidatos. Foi reafirmado que o abuso sexual contra menores é considerado um crime pela sociedade e um grave pecado diante de Deus, sobretudo quando cometido justamente por aqueles que têm a missão de ajudar as pessoas a se conduzirem de acordo com as normas santas da igreja.

            A decisão extraída do encontro não poderia ser diferente da que foi acordada. É inconcebível que a imagem da igreja católica, que desempenha papel de relevância na construção de valores morais e na edificação de uma sociedade justa e fraterna, seja manchada em virtude da ação de religiosos inescrupulosos. Aliás, o maior erro da Santa Sé foi exatamente esconder a ocorrência de tais práticas, como se tal atitude fosse capaz de preservar a até então intocada credibilidade da igreja católica.

            A onda de denúncias de abuso sexual e pedofilia nos Estados Unidos começou em 1985, depois que um padre de Louisiana foi condenado a 20 anos de prisão por molestar sexualmente dezenas de garotos. Desde então, os escândalos não pararam mais. As dioceses, entretanto, apenas suspendiam os padres envolvidos e os submetia a tratamento médico, enquanto se oferecia às vítimas cuidados psicológicos e pastorais. Enquanto isso, o assunto era abafado das páginas dos jornais mediante a realização de acordos financeiros com as famílias das vítimas, para os quais a igreja destinou vultosas somas de dinheiro em troca de garantia de confidencialidade. Quando tais acordos não eram possíveis, as vítimas ingressavam em juízo para reparar os constrangimentos sofridos. É por isso que tramitam na justiça numerosas ações de indenização por perdas e danos resultantes de processos por abuso sexual. Estima-se que, somente nos Estados Unidos, tais indenizações atinjam a extraordinária cifra de US$ 1 bilhão de dólares. 

            Senhor Presidente,

            Senhoras e Senhores Senadores, 

            A proliferação de casos em que padres, párocos, bispos e outros sacerdotes da igreja católica se envolvem em transgressões sexuais coloca em xeque a questão do celibato, que há séculos a igreja defende como uma doutrina inarredável. Alguns estudiosos do assunto entendem que o envolvimento de religiosos católicos em casos de abuso sexual não tem relação com a sua situação de celibatários, já que os piores casos de abusos de que se tem notícia são cometidos por não-católicos. É certo que há registro do envolvimento de religiosos de outras seitas em ocorrências de abuso sexual e pedofilia. Porém, é impossível dissociar a questão do celibato com a disseminação de práticas sexuais por parte de sacerdotes da igreja católica. É importante lembrar que aqui não estamos nos referindo exclusivamente a abusos sexuais cometidos contra crianças, que é propriamente a pedofilia. Há casos de religiosos que se envolvem em práticas sexuais com jovens de 16 ou 17 anos. Atos desse tipo até podem ser considerados imorais e pecaminosos, mas não se constituem em abusos, uma vez que são praticados com o consentimento do menor envolvido. 

            Nessas situações, a discussão em torno da manutenção ou não do dogma do celibato deve sim ser considerada. É hora de a alta cúpula da Santa Sé reunir-se para se debruçar sobre o tema. Alguns integrantes do corpo diretivo da igreja já aceitam a possibilidade de que a adoção do celibato passe a ser opcional. Para eles, não parece coerente que a mesma igreja que prega e defende com tanta propriedade a valorização da família como a mais importante célula do tecido social proíba os seus sacerdotes de constituírem sua própria família. Há ainda os que vêem nessa proibição uma intromissão indevida na individualidade da pessoa humana e uma agressão ao seu instinto natural no que diz respeito à atividade sexual. Ademais, assegurar ao religioso a possibilidade de constituir família pode dar-lhe a tranquilidade necessária para exercer o sacerdócio e contribuir para aprimorar o imprescindível papel desempenhado pela igreja católica na edificação de uma sociedade moralmente íntegra e socialmente justa.

            Era o que tinha a dizer !

            Muito Obrigado !


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2002 - Página 7614