Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o surgimento do fenômeno da obesidade precoce nas crianças brasileiras.

Autor
João Alberto Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
Nome completo: João Alberto de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Preocupação com o surgimento do fenômeno da obesidade precoce nas crianças brasileiras.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2002 - Página 7819
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, PESQUISA, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), AMPLIAÇÃO, QUANTIDADE, CRIANÇA, EXCESSO, PESO, MOTIVO, AUSENCIA, PRATICA ESPORTIVA, INSUFICIENCIA, QUALIDADE, ALIMENTAÇÃO, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, REALIZAÇÃO, PROPAGANDA, ORIENTAÇÃO, PAES.

O SR. JOÃO ALBERTO SOUZA (PMDB - MA) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no Brasil de nossos dias, pediatras, endocrinologistas, nutricionistas e psicólogos estão se preocupando seriamente com um fenômeno novo no campo da saúde das crianças brasileiras: a obesidade precoce. Há alguns anos, o problema nem chamava a atenção, seja porque estatisticamente os casos eram poucos, seja porque o próprio conhecimento sobre os efeitos maléficos provocados pelo excesso de gordura no corpo infantil ou juvenil não era de domínio generalizado. Hoje, o problema não só é mais estudado e conhecido como o número de crianças e jovens obesos está cada vez mais alto.

            Há poucas estatísticas brasileiras sobre o assunto. No entanto, as disponíveis justificam a preocupação de pais e especialistas. A Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição do Ministério da Saúde, realizada em parceria com a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - FIBGE, demonstra claramente a tendência de crescimento desse problema. No Sudeste, em 1975, 2,5% da população infantil era obesa. Em 1995, esse percentual saltou para 12,9%. Aumento semelhante aconteceu também em regiões mais pobres. No Nordeste, por exemplo, em 1975, havia 1% das crianças com obesidade. Em 1997, o índice alcançou 4,6%. A avaliação mais recente foi feita na cidade de Recife, no ano de 2001: os pesquisadores visitaram famílias de uma comunidade carente e detectaram que 10,1% das crianças menores de 11 anos tinham peso superior ao peso normal e, dessas, 4,6% eram obesas. A questão, portanto, não é dos ricos nem dos pobres, é de todos, pois todos estão sendo atingidos.

A Escola Paulista de Medicina, atual UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo, a primeira instituição do País a se preocupar com a obesidade infantil, trabalho que implantou há dez anos, hoje atende, em média, quatrocentas crianças por mês. Três anos atrás, o atendimento era feito em apenas três dias por semana. Hoje, é diário. O Hospital das Clínicas de São Paulo também criou uma unidade específica, com atendimento diário. Em Brasília, três hospitais públicos possuem ambulatórios de endocrinologia pediátrica. A procura dessas unidades por pais preocupados com o excesso de peso dos filhos vem crescendo de forma constante. Por força da demanda, no Hospital Universitário de Brasília, o tempo de espera para uma consulta nova é de três meses. No Hospital de Base do Distrito Federal, de cada dez crianças ali atendidas, quatro têm peso acima do saudável.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, segundo o Dr. José Carlos Taddei - Coordenador do Departamento de Nutrição e Metabolismo da Universidade Federal de São Paulo - se o País não tomar providências “terá no futuro uma epidemia de obesidade infantil, como ocorre hoje nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos”. Nesse país, 20 % das crianças são obesas.

            As causas desse desequilíbrio podem ser doenças hormonais. As doenças hormonais, no entanto, são responsáveis por apenas 2 % do problema. O grande responsável hoje é o estilo de vida a que são submetidas as crianças. São crianças sem atividades físicas, que passam horas sentadas diante da televisão, que moram em espaços reduzidos e que não dispõem de lugares públicos adequados e seguros para o lazer. Aliando-se a essa realidade os hábitos alimentares, está descortinado o campo para o crescimento da obesidade. Segundo a Drª Nuvartis Setian - Coordenadora da Unidade de Endocrinologia e Diabetologia do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo, “a família brasileira trocou o prato saudável de arroz e feijão por sanduíches e bolachas que não alimentam e engordam”.

O resultado dessa situação são crianças que passam a ter doenças até há pouco típicas dos adultos: altas taxas de colesterol, altos índices de triglicerídeos, diabetes, dores na coluna e nos joelhos. Crianças assim, se não tratadas no tempo propício, terão grande possibilidade de infarto precoce, na faixa dos vinte e cinco aos trinta anos de idade.

O Ministério da saúde certamente acompanha o problema que levantei neste pronunciamento. Há necessidade, porém, de campanhas públicas sistemáticas e exaustivamente esclarecedoras sobre a questão, de modo a orientar pais e crianças. Não há como encaminhar solução para esse problema sem uma participação esclarecida e prática da família.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2002 - Página 7819