Discurso durante a 59ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Crença no êxito da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de Futebol. Defesa da punição da escuderia Ferrari de Fórmula 1 pela decisão tomada ontem, no Grande Prêmio da Áustria, de obrigar o piloto Rubens Barrichello a desistir da vitória.

Autor
Carlos Patrocínio (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Crença no êxito da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de Futebol. Defesa da punição da escuderia Ferrari de Fórmula 1 pela decisão tomada ontem, no Grande Prêmio da Áustria, de obrigar o piloto Rubens Barrichello a desistir da vitória.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2002 - Página 7922
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • COMENTARIO, PROXIMIDADE, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, EXPECTATIVA, VITORIA, BRASIL, ELOGIO, TREINADOR PROFISSIONAL DE FUTEBOL, ESCOLHA, ATLETA PROFISSIONAL.
  • COMENTARIO, CAMPEONATO MUNDIAL, AUTOMOVEL, CRITICA, FALTA, ETICA, DETERMINAÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, PREJUIZO, VITORIA, BRASIL, ALEGAÇÕES, CONTRATO, EXPECTATIVA, PUNIÇÃO, DIRETORIA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faltam apenas 18 dias para a Copa do Mundo. Ontem a Delegação Brasileira embarcou para Barcelona, onde permanecerá por alguns dias e participará de jogos amistosos. Posteriormente, representará o Brasil na Copa do Mundo, patrocinada pela Coréia do Sul e pelo Japão.

Era meu intento, Sr. Presidente, enviar requerimento de moção de aplausos, de congratulações e de esperança, em nome do Senado Federal. Alegro-me de que tal requerimento já tenha sido apresentado e aprovado. Gostaria de dizer, da tribuna do Senado Federal, que paira no coração de mais de 170 milhões de brasileiros a esperança de que nossa delegação, muito bem comandada pelo treinador Luiz Felipe Scolari, o querido Felipão, possa alcançar o pentacampeonato, colocando, de maneira definitiva, a Seleção Brasileira de Futebol, o esporte mais popular e mais querido, a paixão nacional, no topo do ranking dos grandes praticantes desse esporte apaixonante.

Gostaria também, Sr. Presidente, no que diz respeito às diversas reportagens e críticas publicadas, de enaltecer o caráter e a personalidade do treinador da Seleção, Luiz Felipe Scolari. Criou-se uma celeuma intensa em torno da convocação ou não do atacante Romário, sem sombra de dúvida, um desportista de escol, de habilidades incomparáveis, um grande goleador, mas nós queremos sair em defesa do treinador Felipão, porque acreditamos que a disciplina tem que pairar sobretudo acima de qualquer técnica ou de outras qualidades que um atleta possa ter. Não que o Romário não seja um atleta disciplinado, porque, na realidade, tenho assistido a várias partidas de futebol e jamais o vi questionar qualquer arbitragem, qualquer resultado de futebol.

Sr. Presidente, penso que o Brasil estará bem representado e, desta tribuna, eu gostaria de desejar ao Luiz Felipe Scolari, aos atletas e a toda a delegação brasileira toda sorte de êxito, de felicidade, e que contemplem o Brasil com essa alegria, pois o povo está precisando disso. E nada mais alegra o povo brasileiro do que uma conquista de tal envergadura.

Lembro-me que, na Copa de 1970, existia um clima de total e absoluta intranqüilidade em nosso País, com o regime ditatorial, com o desaparecimento de estudantes e de outros queridos entes brasileiros. Havia uma instabilidade; não sabíamos que rumo haveria de tomar aquele regime de exceção em nosso País. Com a vitória do Brasil e a conquista do tricampeonato na Copa de 1970, no México, pudemos perceber que houve uma calmaria, por assim dizer, em nosso País.

Estamos assistindo, nos últimos dias, no decorrer desta última semana, a uma agitação intensa com relação ao risco Brasil, porque o mesmo estaria subindo, que o Brasil já não estaria tão infenso aos efeitos da Argentina, assim por diante, então, creio que nada melhor do que nos ligarmos na Copa do Mundo. Teremos uma primeira etapa, as oitavas-de-final, muito fácil para o Brasil, porque enfrentará três equipes que - embora todas as Nações participantes mereçam o nosso respeito - não chegam a causar qualquer temor maior para a nossa seleção.

Portanto, Sr. Presidente, não gostaria de deixar passar esta minha palavra de apreço e de confiança no futuro da seleção brasileira, e tenho a certeza de que poderemos alcançar, sim, o tão almejado pentacampeonato mundial de futebol sob a batuta, sob a direção firme e rigorosa, como tem sido, do grande técnico gaúcho Luiz Felipe Scolari.

Mas, Sr. Presidente, ontem assistimos a um espetáculo deprimente. Uma enorme decepção e constrangimento tomou conta não só da população brasileira, mas, quero acreditar, de todo o mundo, quando milhões e mais milhões de pessoas assistiam à renhida disputa do Grande Prêmio da Áustria. Vimos algo que jamais deveria acontecer no esporte: o nosso representante, na escuderia da Ferrari, o atleta, o grande brasileiro, depositário de tantas esperanças do povo brasileiro na Fórmula 1, Rubens Barrichello, que já havia praticamente vencido a corrida do Grande Prêmio da Áustria, ter que acatar ordens da escuderia da Ferrari e deixar que Michael Schumacher o ultrapassasse para ser, mais uma vez, o campeão.

E aqui não cabe nenhuma crítica ao Rubens Barrichello, que hoje está sendo criticado por alguns jornais e defendido por outros, mas eu quero defendê-lo. Na última sexta-feira, ele renovou o seu contrato por mais dois anos com a Ferrari e tem que, efetivamente, cumprir as normas, as ordens emanadas pelos seus diretores. Mas aquela decisão de ontem representa uma grande vergonha para essa escuderia, fabricante de mais de 60 anos, que tem um nome a zelar, talvez a que desfrute de maior conceito na Fórmula 1. E, parece-me que, por uma simples decisão mal tomada, joga-se por terra uma tradição de cerca de 60 anos. O esporte está de luto, por assim dizer. Assistimos, ontem, a uma verdadeira falta de ética, a uma falta de espírito esportivo.

Comungo com aqueles, Sr. Presidente, que acham que o mais importante é competir, mas é claro que os grandes ídolos se formam apenas na vitória. E quando há oportunidade de se ter uma vitória limpa, não se deve deixar que ela escape das mãos, até porque o grande desportista, o ídolo do esporte de qualquer nação, além de representá-la, representa também o anseio do seu povo.

Lamento, sob todos os aspectos, o ocorrido ontem no Grande Prêmio da Áustria, quando o piloto Rubens Barrichello, a pouquíssimos metros da linha de chegada, pisou no freio para que o provável futuro campeão, o homem mais importante de todos os tempos, o maior atleta da fórmula I, o alemão Michael Schumacher, mais uma vez, ganhasse a disputa.

Fica aqui também o protesto do Senado Federal brasileiro, acompanhando os espectadores que vaiaram aquela atitude nefasta que empana o brilho de qualquer esporte.

Sr. Presidente, no dia em que tudo no mundo globalizado disser respeito apenas às questões econômicas, creio que o mundo estará perdido. Entretanto, é o que observamos. Sabemos que, em outras atividades da vida humana, na política por exemplo, vêem-se contratos espúrios, decisões que não se coadunam com a ética e com aquilo que o povo espera. Mas, no esporte, isso jamais poderá ocorrer, porque significará a frustração de um povo, que deposita, em qualquer de suas modalidades, o seu grande lazer e uma aspiração muito grande.

Sr. Presidente, era o que tinha a dizer, enaltecendo a Seleção Brasileira, desejando-lhe todo o sucesso e lamentando profundamente a decisão tomada ontem pela escuderia Ferrari, que, espero, seja punida pela FIA, Federação Internacional de Automobilismo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2002 - Página 7922