O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de longos e sofridos anos de dominação estrangeira, o pequeno Timor Leste verá realizado, no dia 20 de maio próximo, seu tão almejado sonho de autodeterminação. Terminam, assim, 28 longos anos em que os timorenses lutaram bravamente para defender sua terra da sanha destruidora dos invasores indonésios.

O Brasil teve, nessa etapa final de fundação da nação independente do Timor Leste, um papel preponderante. A partir da intervenção pacificadora da ONU, em 1999, oferecemos um contingente militar para assegurar a tranqüilidade e a ordem no território, como também o administrador transitório do país para a independência, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Nosso compatriota merece todos os elogios pela forma honrada e equilibrada como soube conduzir o delicado processo que comandou. Sua ação firme e, ao mesmo tempo, conciliadora fez com que os ânimos serenassem e, hoje, o Presidente Xanana Gusmão pudesse assumir suas funções num país calmo, mesmo que sofrido.

Apesar de antípodas do ponto de vista geográfico, Brasil e Timor Leste são siameses pela cultura lusa que herdaram de seus colonizadores ibéricos. Como disse Fernando Pessoa, nossa pátria é nossa língua, o que nos faz, timorenses e brasileiros, de certo modo, concidadãos da mesma nação lusófona, o que não é pouco, pois a identidade primeira de todos nós está umbilicalmente ligada à cultura na qual nascemos. É dela que retiramos nossos paradigmas, nossas referências históricas, nossos valores fundamentais. São laços que nos unem a todos, na mesma cosmovisão.

Infelizmente, Sr. Presidente, fruto da insanidade dos invasores indonésios, o Timor Leste encontra-se hoje semidestruído. Sua infra-estrutura física foi arrasada pela ação dos milicianos indonésios, no insano projeto de deixar como herança para os novos tempos de independência um país inteiramente destruído. Uma reedição modificada da aviltante prática da antigüidade de salgar a terra para impedir que os seus legítimos donos pudessem recomeçar a vida.

Todavia, Sr. Presidente, não há força bruta que possa destruir a unidade de um povo. A história está cheia de exemplos de perseguições seculares contra povos, que nem por isso desapareceram ou desistiram de sua identidade. Assim foi com os timorenses e com o Timor Leste.

Ao Brasil, hoje, cabe o orgulho de ter participado do processo de resgate de um povo e da criação de um país. Resta-nos, ainda, a solidariedade com nossos irmãos de cultura, traduzida no apoio incondicional à reconstrução dessa pequena ilha. Conscientes de que temos nossas próprias limitações e nossas chagas sociais a curar, não podemos, contudo, nos omitir na ajuda aos que são ainda mais miseráveis do que nós.

            Se a remessa de recursos financeiros pode ser algo complicado para nosso apertado orçamento, a solidariedade pode ser traduzida em recursos humanos, em apoio logístico, em transferência de tecnologia, em cessão de mão-de-obra especializada em administração pública, em educação, em Medicina e tantos outros campos em que o Brasil é hoje um país capacitado para a exportação.

Sr. Presidente, desde que começou o doloroso processo de libertação do Timor Leste, tenho-me manifestado desta tribuna, visando a que a opinião pública brasileira se sensibilize com as dores daquele sofrido povo, e que o Governo brasileiro se mantenha atento ao imperativo de uma solidariedade ativa para com os timorenses.

Para muito além de uma solidariedade momentânea, em período de infortúnio, devemos construir uma solidariedade de culturas irmãs, que poderá frutificar em benefício de ambos os países, unindo povos antípodas geográficos, mas fraternos na sua história cultural.

No idioma nativo - tétum - o nome dessa nação que ressurge é Timor Lorosae, que significa Timor Leste ou Timor do Sol Nascente. Oficialmente, o país se denominará República Democrática do Timor Leste.

Que o Presidente Xanana Gusmão tenha a força e a sabedoria necessárias para conduzir os timorenses ao merecido destino de paz e desenvolvimento.

Amanhã, Sr. Presidente, será exibido um filme, no Auditório Petrônio Portella, produzido pela grande atriz brasileira Lucélia Santos, que haverá de mostrar o sofrimento dos timorenses.

Sob os auspícios da Senadora Marina Silva, por intermédio de seu gabinete, eu gostaria de convidar S. Exªs para assistir ao filme, produzido por uma brasileira, que retrata a luta sofrida dos timorenses, que, afinal de contas, resultou na independência desse país-irmão, o Timor Leste, que dia 20 empossará seu Presidente eleito, Xanana Gusmão.

Muito obrigado.

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