Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Evolução do esporte no Distrito Federal, em particular dos clubes de futebol, representados hoje nacionalmente pelo Gama e o Brasiliense. Congratulações ao jovem brasiliense César Castro, atleta revelação da sexta etapa do Grand Prix de Saltos Ornamentais encerrado no último sábado, em Coral Springs, EUA. Protestos contra a nova lei agrícola recentemente adotada pelos Estados Unidos, que aumenta os subsídios à agricultura naquele país.

Autor
Lindberg Cury (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Lindberg Aziz Cury
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Evolução do esporte no Distrito Federal, em particular dos clubes de futebol, representados hoje nacionalmente pelo Gama e o Brasiliense. Congratulações ao jovem brasiliense César Castro, atleta revelação da sexta etapa do Grand Prix de Saltos Ornamentais encerrado no último sábado, em Coral Springs, EUA. Protestos contra a nova lei agrícola recentemente adotada pelos Estados Unidos, que aumenta os subsídios à agricultura naquele país.
Aparteantes
Casildo Maldaner.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2002 - Página 8129
Assunto
Outros > ESPORTE. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • ELOGIO, EVOLUÇÃO, DIVULGAÇÃO, AMBITO NACIONAL, ESPORTE, DISTRITO FEDERAL (DF), ESPECIFICAÇÃO, TIME, FUTEBOL.
  • CONGRATULAÇÕES, CESAR CASTRO, ATLETA PROFISSIONAL, VITORIA, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, ESPORTE AQUATICO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • PROTESTO, APROVAÇÃO, LEGISLAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CONCESSÃO, SUBSIDIOS, PRODUTO AGRICOLA, PREJUIZO, CONCORRENCIA, PRODUTO NACIONAL, MERCADO INTERNACIONAL.
  • DEFESA, NECESSIDADE, GOVERNO BRASILEIRO, LIDERANÇA, MANIFESTAÇÃO, COMBATE, PROTECIONISMO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, permitam-me abordar, antes do tema principal do meu discurso, um fato importante para o esporte brasiliense. Brasília vive um momento de glória. O esporte em Brasília, particularmente o futebol, ao que tudo indica, atingiu a sua maioridade. Finalistas em duas das mais importantes competições futebolísticas do Brasil, o Gama e o Brasiliense colocaram Brasília, definitivamente, no disputadíssimo circuito da primeira divisão do futebol brasileiro. Como militante do futebol, atleta que fui ao longo dos anos, e presidente também do Brasília, creio ser oportuno fazer esta referência.

O Gama, no ano de 2000, foi campeão brasileiro da segunda divisão, o que lhe assegurou o direito de participar no ano seguinte do campeonato brasileiro da primeira divisão. Este ano, chegou às finais do torneio do Centro-Oeste.

Hoje, faço uma referência ao Brasiliense, presidido pelo ex-Senador Luiz Estevão, que não está no rol das minhas amizades, muito ao contrário, mas acho que é uma questão de justiça falarmos sobre esse clube. O Brasiliense, que esta noite disputa a final da Copa do Brasil, surpreendeu a todos, não só pelo ineditismo da situação, mas principalmente pela excelência do futebol praticado até então.

Armando Nogueira, o maior e mais respeitado cronista desportivo do País, em sua coluna dominical, distribuída a dezenas de jornais brasileiros, intitulada “Um time, sim senhor!”, assim descreve o futebol praticado pela jovem equipe de Brasília:

Um time, sim senhor!

Enfim, posso dizer alguma coisa sobre o time do Brasiliense: é bom de bola mesmo. Tem um toque de bola que vejo em poucos times do momento. É bem organizado em todas as linhas. Física e mentalmente, está no ponto ideal de competição. Troca passes com rapidez e precisão. Parece time argentino dos bons. Em matéria de circulação de bola, em velocidade, ninguém é melhor que o argentino. O time do Brasiliense faz um toco y me voy que é uma beleza.

Não deu vida fácil ao Corinthians, no Morumbi, e certamente não lhe dará trégua também lá em Taguatinga. O time paulista jogará, certamente, armado para o contra-ataque. É o seu trunfo, à luz do regulamento. Na certeza, porém, de que o Brasiliense não lhe dará sopa. O time se defende tão bem quanto ataca e contra-ataca. É competitivo, joga lealmente.

No Morumbi, o Brasiliense foi a estrela do espetáculo. Nesse aspecto, só lhe faço um reparo: o amarelo do uniforme, puxado a ouro velho, esmaece o fulgor da equipe. O futebol da rapaziada do Brasiliense pede um amarelo mais ardente. Eis uma questão para o pintor Rubens Gerchman, que, além de entender de futebol, domina, como poucos, a psicologia das cores.

O Corinthians venceu a partida, mas em momento algum empolgou, como esperavam a crítica e a torcida. O jogo foi lá e cá. Chegou mesmo o Corinthians a ser favorecido quando o árbitro puniu como mera simulação um lance em que um jogador do Brasiliense foi empurrado pelas costas, em plena área corinthiana. Uma falha injustificável, porque Simon estava em lugar próximo do lance.

Igualmente privilegiada era a posição do juiz de linha, que devia ter acenado a bandeira no instante em que Gil atropelou o zagueiro brasiliense, cometendo falta flagrante. Dali surgiria o gol da imerecida vitória corinthiana.

Enfim, o Brasiliense não me pareceu um desses times bissextos, que de vez em quando surpreendem. O time existe, não é uma ficção.

Brasília conta também com representantes da delegação brasileira que disputa a Copa do Mundo de Futebol. Jogadores como Lúcio e Kaká mantêm estreitas relações com nossa cidade. O auxiliar de arbitragem Jorge Paulo, de Brasília, integra a equipe de árbitros convocada para atuar na Copa do Mundo. E ainda, como prova inconteste do grandioso momento que vive o futebol da nossa cidade, o Presidente da CBF nomeou como chefe da delegação brasileira o dirigente Weber Magalhães, Presidente da nossa Federação Metropolitana de Futebol.

Ainda dentro do assunto esportes, quero também fazer uma referência a um atleta brasiliense, chamado César Castro, de 19 anos, cujo nome será incluído numa placa na base da estátua do Hall da Fama de Natação, em Fort Lauderdale (EUA), como atleta revelação da 6ª etapa do Grand Prix de Saltos Ornamentais, encerrado no sábado em Coral Springs (EUA). César ganhou a medalha de bronze na prova de trampolim de três metros. No próximo fim de semana, ele tentará repetir o desempenho na etapa da Cidade do México. A equipe brasileira teve um desempenho inédito na competição, organizada pela Federação Internacional de Natação (Fina). César superou os atletas medalhistas olímpicos Alexandre Despartie, do Canadá, e Dmitry Sautini, da Rússia. Já Cassius Duran e Juliana Castro conseguiram, respectivamente, os quinto e sexto lugares na prova de plataforma. Com esses resultados, os três brasileiros garantiram vagas para a Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, de 24 a 29 de junho, em Sevilha, Espanha.

Sr. Presidente, feitas as referências a esses atletas e ao Brasiliense Futebol Clube, que vive um momento de suma importância dentro do futebol brasileiro, que são destaques aqui de Brasília, abordarei outro tema que merece uma reflexão de todos nós.

Os produtos agrícolas brasileiros têm enfrentado várias barreiras protecionistas no mercado internacional. Nos últimos anos, essas dificuldades, impostas principalmente pelos Estados Unidos e países da União Européia, vêm crescendo de forma absurda. Um dos exemplos mais claros é a aprovação da lei agrícola norte-americana, sancionada na última segunda-feira pelo Presidente George W. Bush, que amplia os subsídios agrícolas para US$190 bilhões ao longo dos próximos seis anos. Repito, amplia os subsídios agrícolas para US$190 bilhões ao longo dos próximos seis anos.

A nova lei, batizada de Farm Bill, representa um aumento de 40% sobre os incentivos agrícolas atualmente concedidos pelo governo americano aos produtores rurais. E vai contra o compromisso de abertura do mercado assumido pelos Estados Unidos na última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada em Doha, no Catar, em novembro do ano passado, da qual participei representando este Congresso Nacional. A reunião da OMC reuniu representantes de 142 países e tratou, principalmente, da queda das barreiras agrícolas impostas pelos países industrializados.

Na ocasião, o encontro serviu para abrir a discussão sobre a necessidade de diminuição dos subsídios praticados pelos Estados Unidos e pela União Européia. Com a liberalização do comércio agrícola mundial, esperava-se a injeção de alguns trilhões de dólares à economia mundial, beneficiando, principalmente, os países em desenvolvimento, como o Brasil. Nosso País exporta, hoje, cerca de US$6 bilhões em produtos agrícolas por ano. Com a promessa de redução de subsídios por parte dos países ricos, esperava-se dobrar esse valor.

Existia um clima de grande expectativa no meio produtivo do nosso País quando de lá saímos com essa informação da queda gradativa dos subsídios que eram fornecidos por meio das estatais, principalmente na Europa, e particularmente na França, em cima dos produtos agrícolas.

Mas a lei agrícola aprovada pelo Congresso americano e sancionada pelo Presidente Bush joga um balde de água fria nas pretensões dos países em desenvolvimento. Com essa medida, o governo americano rasga o acordo feito na reunião da OMC e joga tudo no lixo. Com os subsídios aos produtores americanos, com certeza nossos produtos terão imensas dificuldades de competir com os produtos deles.

Os próprios analistas americanos consideram a lei um absurdo. Cito, abaixo, alguns exemplos listados por eles:

1) A lei foi feita em um ano eleitoral pelo Congresso americano e buscava atender principalmente os eleitores de estados agrícolas;

2) A lei concede uma ajuda excessiva aos fazendeiros americanos. Mais de 60% dos subsídios agrícolas vão para as maiores fazendas dos Estados Unidos;

3) Grande parte dos produtos americanos provenientes desses subsídios chegará ao mercado mundial com preços artificialmente baixos, sufocando os países do Terceiro Mundo, que não poderão competir em pé de igualdade com os produtos subsidiados. Isso significa queda nas vendas externas, retração na produção agrícola dos países em desenvolvimento, redução da renda dos produtores rurais e do nível de emprego no campo.

Para ampliar a sua venda externa, os produtos agrícolas brasileiros dependem da liberação dos mercados e do fim dos subsídios.

O Governo brasileiro precisa agir com rapidez e ingressar na Organização Mundial do Comércio com representação contra a lei agrícola americana, a exemplo do que outros países já estão articulando. É o caso da União Européia. Ontem, em Genebra, os maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo - conhecidos como o Grupo de Cairns - se reuniram e condenaram a política agrícola dos Estados Unidos.

Mas o Governo brasileiro tem sido muito lento e tímido nessas questões internacionais. Um exemplo claro é o caso do aço, que sofreu uma sobretaxa nos Estados Unidos, e o Brasil não tomou nenhuma atitude concreta para defender o produto nacional, uma das nossas grandes fontes de produção e exportação.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador Lindberg Cury, V. Exª me permite um aparte?

O SR. LINBERG CURY (PFL - DF) - Com muito prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador Lindberg Cury, mais uma vez, V. Exª traz um tema que se refere a subsídio. O governo americano acaba de sancionar a lei mediante a qual se concedem bilhões e mais bilhões de dólares à sua produção em detrimento dos outros países. A análise de V. Exª não cabe somente ao Brasil, mas a toda a América do Sul, aos países emergentes. Numa tentativa de alcançar uma vida melhor, o povo vai ao campo, como se diz na gíria, no “cantar do galo”, ao amanhecer. Esforça-se e produz. Luta daqui e de lá, enfrenta intempéries, faz novena para que não haja estiagem ou o granizo, dependendo da região, a fim de que possa colher o seu plantio. Qual não é a nossa surpresa, depois de tudo isso, quando verificamos que é impossível competir, porque o primeiro do mundo entra com 40% ou 50% de subsídio e concorre conosco, que não temos esse incentivo. E ainda querem dizer que nos estão dando as mãos, por meio dessa parceria; ainda querem a Alca, um mercado livre, mesmo com toda essa proteção. Esse grito de guerra de V. Exª é de dor, eu diria até de sacrossanta raiva. Raiva no sentido do viver dos produtores brasileiros, que ecoa na América do Sul. É difícil essa forma de lutar. Por isso, creio que o grande grito do Governo brasileiro tem que ser mais duro. Creio que a nossa diplomacia tem que ser menor, a essa altura. Temos que ser mais agressivos. O próprio Pratini de Moraes, Ministro da Agricultura, é conhecido como o homem que bate na mesa. Precisamos envidar esforços em conjunto: o Governo brasileiro, os Governos do Bloco da América do Sul, junto à Organização Mundial do Comércio, a OMC, e defender os nossos produtos com muita força. Vamos encontrar maneiras pelas quais possamos colocar barreiras para que o nosso pleito tenha eco. Assim não dá! O protecionismo americano não interfere apenas na produção de mantimentos, de grãos, etc., mas também em equipamentos que muitas vezes vêm dos Estados Unidos. Direta ou indiretamente, isso significa, para o Brasil, em torno de 40% do PIB, que é ligado aos agronegócios. É duro ver todo um esforço reverter em nada. Cansa. Por isso, temos que bater com mais força; temos que ser mais agressivos em relação a essa questão. Cumprimento-o de coração, porque V. Exª está representando um grito generalizado neste momento. Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Muito obrigado Senador Casildo Maldaner.

Peço permissão a V. Exª para incorporar as suas palavras ao meu discurso, porque elas representam justamente o pensamento dos países em desenvolvimento. É a contestação do México, da África, dos países da América do Sul, que vivem da exportação, principalmente desses produtores agrícolas. Agora, mais uma vez, sofrem com a punição de S. Exª o Presidente dos Estados Unidos, que, apoiado pelo Congresso, num momento histórico, às vésperas de campanha política, impede o crescimento dos demais países.

Os países que produzem essencialmente na área agrícola vão sofrer conseqüências drásticas. Elaboram uma lei que concede subsídios imensos aos agricultores americanos em prejuízo dos nossos produtos lá fora.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não podemos ter medo de enfrentar o gigante. O Governo brasileiro precisa tomar uma atitude mais corajosa e liderar um movimento mundial contra o protecionismo norte-americano. Precisamos acabar com essa atitude passiva, que só vem prejudicando os nossos produtos lá fora, fechando mercado e derrubando preços. A hora é de luta.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2002 - Página 8129