Discurso durante a 63ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Elogios aos esforços empreendidos pelo Senador Francelino Pereira em prol do cinema nacional. Influência das telenovelas na vida dos brasileiros.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEDIDA PROVISORIA (MPV). TELECOMUNICAÇÃO. DROGA.:
  • Elogios aos esforços empreendidos pelo Senador Francelino Pereira em prol do cinema nacional. Influência das telenovelas na vida dos brasileiros.
Aparteantes
Romero Jucá.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2002 - Página 8369
Assunto
Outros > MEDIDA PROVISORIA (MPV). TELECOMUNICAÇÃO. DROGA.
Indexação
  • COMENTARIO, DIFICULDADE, LEGISLATIVO, CRIAÇÃO, LEGISLAÇÃO, COMPARAÇÃO, EXECUTIVO, EXCESSO, MEDIDA PROVISORIA (MPV).
  • ELOGIO, ESFORÇO, FRANCELINO PEREIRA, SENADOR, CRIAÇÃO, LEGISLAÇÃO, INCENTIVO, CINEMA, DESENVOLVIMENTO CULTURAL.
  • ANALISE, INFLUENCIA, PROGRAMA, TELEVISÃO, ALTERAÇÃO, VIDA, POPULAÇÃO.
  • ELOGIO, PROGRAMA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DEMONSTRAÇÃO, DEPOIMENTO, VICIADO EM DROGAS, FORMA, ASSISTENCIA, MEDICO, INCENTIVO, FILHO, DIALOGO, PAES, BENEFICIO, COMBATE, DROGA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é uma alegria ver V. Exª presidindo esta Casa. V. Exª é um nome que admiramos há muito tempo, desde quando V. Exª veio a esta Casa como suplente do nosso querido Senador Alexandre Costa e prestou inestimáveis serviços ao Brasil e, de modo muito especial, ao seu Maranhão. É uma honra e uma alegria vê-lo presidindo os trabalhos desta Casa.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, mudarei o tema do meu pronunciamento, para ficar dentro da discussão trazida aqui pelo Senador Francelino Pereira.

Não há dúvida de que S. Exª tem toda a razão em se sentir feliz, satisfeito, porque é realmente muito difícil iniciarmos e concretizarmos um projeto nesta Casa. Sou um dos machucados, porque, nesses quarenta anos de vida parlamentar, tantas e tantas vezes, nos esforçamos para realizar algo positivo em vão. Parece que o Legislativo é quase impotente. Enquanto o Executivo prepara uma medida provisória às 8 horas da noite e, no dia seguinte, sai no Diário Oficial e o Governo executa, nós, aqui, debatemos, analisamos, preparamos projetos, que vão e vêm e não acontecem.

O Senador Francelino Pereira, em uma matéria realmente muito difícil, conseguiu que o projeto andasse, fosse criada a Subcomissão e a Comissão Permanente, onde foram feitos debates e análises, e aprovada uma lei e a entidade específica, com a perspectiva de se obter dinheiro para produção, porque, sem isso, não adiantará nada. E, hoje, é uma realidade.

Falarei sobre um outro setor: a televisão.

Se há algo polêmico no Brasil são as novelas. Em primeiro lugar, não há dúvida de que as novelas brasileiras atingiram um padrão de qualidade técnica de primeira grandeza. A improvisação que acontecia no início, quando as novelas eram praticamente feitas ao vivo, e era difícil compreendermos e aceitarmos, não existe mais. Hoje, as novelas brasileiras têm padrão internacional e são, aliás, as melhores do mundo, dentro do seu contexto, com artistas de primeira grandeza, inclusive grandes artistas do teatro e do cinema atuam nas novelas; e, a cada momento, surge gente nova. A novela tornou-se um grande atrativo.

Lembro que, na campanha eleitoral de 1974, passava uma novela de muito sucesso, O Bem-Amado, que tínhamos que marcar os comícios políticos para depois da novela. Se fizéssemos reunião no horário nobre - entre 20h e 21h -, ninguém comparecia, porque estava todo mundo assistindo à novela. Então, tínhamos que marcar o horário político dizendo com todas as letras: “Após a novela, inicia-se o debate político”.

Mas há muita dúvida com relação ao significado da novela. No Brasil, podemos constatar a influência das novelas nos costumes das famílias, na sociedade, na maneira de ser do povo; enfim, a influência da televisão de um modo geral, e da novela de modo específico, foi muito grande.

Fiz um estudo longo sobre essa matéria, mostrando que, quando não havia televisão, as transformações no Brasil eram lentas. Um dos exemplos interessantes é o comprimento da saia das mulheres, que era comprida. De repente, a França lançava uma nova moda, que aparecia num ou noutro jornal, e levava anos e anos para que se transformasse em realidade. Do que acontecia em Paris, no Rio Grande do Sul ou em Minas Gerais ninguém tomava conhecimento, senão aos poucos.

Com a televisão, essa absorção passou a ser instantânea, pois o que acontece no mundo chega a nossos lares e influencia a nossa família e a nossa maneira de ser. Por isso, a televisão, mais do que o rádio, mais do que o jornal, mais do que o cinema, mexe com a forma de existência da vida brasileira, porque está dentro da nossa casa. Quanto a isso, não há dúvida nenhuma. Por isso, defendo a televisão e venho dizendo que ela merece um cuidado especial. Esta Casa, onde temos a Comissão de Educação, a de Saúde, a de Assuntos Sociais, que cuida da família, da escola, da saúde, não pode deixar de cuidar da televisão, pois ela influencia a mocidade brasileira mais que qualquer outro setor.

E as novelas! As novelas mexem conosco.

Já contei uma vez e vou contar novamente: no Rio Grande do Sul, há um lugar que se chama Santa Justina, de colonização italiana. Embora a menos de meia hora de Caxias, as pessoas viviam naquele lugar praticamente ao estilo de 1875, quando vieram os primeiros imigrantes. Ali, havia a igreja, o salão paroquial ao lado da igreja, a missa aos domingos, e as únicas atividades sociais eram a missa e, depois, a bocha e as cantorias italianas ou gauchescas. E à tarde, depois do churrasco, alguns dançavam à moda antiga; mulheres usavam saias até os tornozelos.

Nós, do antigo PTB e, depois, do MDB, tínhamos o costume de encerrar a campanha em Santa Justina, porque era um local todo nosso. Toda aquela gente era nossa. De dois em dois anos, estávamos em Santa Justina para fazer o comício de encerramento das eleições municipais e estadual.

Passou o tempo, e fui indicado Presidente do Partido. Vieram as violências da revolução, da ditadura e passaram-se mais ou menos quatro anos desde então, não mais que isso, até que eu lá retornasse. Havia chegado a televisão. Em primeiro lugar, não era mais almoço e sim jantar. Tudo bem! Quando olhei ao lado, havia uma boate com luz negra, com música de estourar os ouvidos - como uma boatezinha do Leblon, no Rio de Janeiro. As menininhas usavam minissaias e dançavam músicas modernas. Tudo mudou. Aquele estilo de vida, que havia durado 100 anos, em dois anos transformou-se totalmente em uma outra sociedade.

Isso demonstra o significado da televisão. Se ela não existisse, se não houvessem as novelas mostrando outros estilos, aquela população levaria mais 100 anos para, devagarinho, chegar lá.

É claro que não estou criticando isso. Pelo amor de Deus! Isso é um avanço da tecnologia. O fato de o mundo entrar na minha casa, e eu conhecer tudo o que acontece, é altamente positivo, mas devemos analisar e debater o assunto.

E é dentro desse contexto que venho hoje aqui dizer que estou emocionado com as respostas da novela O Clone com relação ao tratamento de drogados no Brasil. Eu, que venho me dedicando a este assunto há muito tempo, não vi nada melhor que desse resultado. Houve campanhas do governo, campanhas da Igreja, campanhas da sociedade, campanhas de entidades, campanhas internacionais, uma imensidão de campanhas que já foram realizadas no sentido de orientar a mocidade contra o uso indevido de drogas. Em nenhum momento, vivemos o que estamos vivendo agora. É impressionante o número de jovens que está querendo se tratar; é impressionante o número de jovens que está conversando com os seus pais sobre isso - o que nunca fizeram; é impressionante o número de jovens que está buscando tratamento; é impressionante o número de jovens que, assistindo à novela, está buscando ajuda.

E a Glória Perez, que mulher competente! Mulher extraordinária, que soube transformar a sua mágoa, a injustiça da vida, a sua tristeza, o seu sofrimento, que o Brasil inteiro acompanhou, em uma obra magnífica. Atiraram no que viram e acertaram no que não viram. Era para ser o clone o tema central, o grande debate, a discussão; mas, na verdade, o auge da novela está ocorrendo em cima desse trabalho de viciados em drogas.

Vale ressaltar também, meu prezado Senador, o valor artístico espetacular, o desempenho daqueles artistas. Eles estão mostrando realmente o que é um viciado. Inclusive é emocionante, no meio das cenas, mostrarem a experiência de pessoas que sofrem ou sofreram o drama na vida real. Mostram apenas as suas fisionomias dando depoimentos graves, sérios e verdadeiros com relação à droga.

Que belo trabalho esse! Que magnífico trabalho vem sendo realizado nessa novela; que colaboração excepcional para uma das causas mais graves no Brasil hoje, que é a droga na nossa mocidade, nos jovens que, infelizmente, sem outros valores, sem outras chances, se deixam levar por ela.

Às vezes, conversando com os jovens, eles dizem: “Senador, vamos a uma reunião, a uma festinha com colegas da universidade ou a festinhas lá no bairro, na vila, e quem não usa droga é quadrado; é olhado com restrição, como se a pessoa tivesse uma fraqueza. Para convivermos com o grupo, temos que usá-la também”.

E isso se alastrou e se transformou em um problema grave. Já se diz que um terço das universidades brasileiras está infectado com a droga - creio que é mais.

Saudar essa novela da Globo é muito importante. É a segunda vez que vejo a Globo fazer um trabalho de grande repercussão. O primeiro foi aquele em que apareceu um senador defendendo a reforma agrária. Nunca vi se falar tanto em reforma agrária no Brasil, nunca vi se debater tanto a reforma agrária como no caso do senador da novela, que lutava, explicava e justificava o que era a reforma agrária. Ali, já houve um grande feito. Agora, é muito mais; agora se trata de um problema mais grave, mais profundo, mais cruel, que vivemos no Brasil atual, que é a mocidade entregue ao tóxico.

Tenho falado muitas vezes sobre este assunto. Quando fui Governador, olhei de frente esse problema. Criei o Centro da Juventude, que era uma espécie de centro de triagem, onde todos os jovens eram recebidos e encaminhados. Tínhamos o serviço de emprego do jovem, o S.O.S., e, juntamente com os empresários, firmas e entidades conseguimos que jovens desempregados conseguissem emprego. A mãe, muitas vezes, levava dois filhos: um queria emprego, e conseguíamos; outro estava começando a se viciar, e tínhamos o serviço de atendimento a esse jovem e o preparávamos para não cair no vício, por meio do esporte, educação, cultura, seminários, excursões e reuniões de laser. Com isso, trazíamos os jovens que estavam na iminência de entrar para o mundo das drogas.

Criamos uma instituição, um hospital, que estava desativado, para internamento de jovens drogados que não tinham posses, pois sequer o SUS tomava conhecimento do problema. Então, criamos essa entidade para ser utilizada por jovens drogados.

O interessante é que algumas famílias tinham três ou quatro filhos em situações diferentes: um, pequeno, apenas assistia; o outro, jovem, estudava, mas já estava começando a ver; o outro, um rapaz, desempregado, já estava entrando no tóxico, e outro, o mais velho, já estava dentro do tóxico. Cuidar caso a caso, dar força caso a caso e dar um entendimento caso a caso foi a fórmula que se encontrou, e que me pareceu importante.

Mas, lamentavelmente, no Brasil, são muito poucas as instituições preocupadas com as drogas. Não, estou mentindo; são muitas as instituições preocupadas com as drogas, mas são poucos os resultados efetivos.

Falando com psiquiatras, eles dizem que, na Psiquiatria, os tratamentos médicos são poucos eficazes no sentido de se retirar o jovem das drogas. Hoje, o que está tendo mais sucesso são as entidades religiosas, instituições como a do Bom Jesus, por exemplo, em que pessoas anônimas se oferecem para ajudar: recebem a família, o pai, a mãe e os irmãos, abrindo um relacionamento entre o drogado e a família, fazendo uma análise de como está a situação. Depois, esse jovem é recolhido a uma instituição onde fica meses, fazendo tratamento como em um regime militar: levanta às seis horas; arruma a própria cama; uns vão para a cozinha, outros para a horta, ou para a marcenaria, ou para o serviço de limpeza, enfim, todos têm suas obrigações. Lá, tem hora para estudar, para rezar, para brincar, para o lazer e o trabalho. Isso tem dado algum resultado. Dizem os psiquiatras com quem conversei que, nessas instituições, os resultados têm sido positivos.

Portanto, Sr. Presidente, a novela O Clone tem aproximado pais e filhos, ensinando jovens e pais o que fazer. Por isso, são tantos os comentários proporcionando um efeito emocionante.

Repito, Sr. Presidente: estamos vivendo o momento mais significativo do diálogo entre pais e jovens drogados. Estamos vivendo o momento mais significativo de jovens drogados que procuram seus pais e professores para um tratamento; o que antes eles se negavam. Um número significativo de jovens, ao verem os resultados cruéis da droga, estão querendo evitá-la.

Então, desta tribuna, transmito o meu abraço à Glória Péres e à Rede Globo. Isso é muito bom!

E vejo, nesta adaptação da novela, o quanto a televisão brasileira pode fazer pelo nosso povo. Tenho dito e repetido - não sei por que o meu amigo Fernando Henrique não tem uma maior preocupação com isso - que o Presidente da República poderia se reunir com os “homens” da Globo, da Bandeirantes, da Record, da Rede Vida, da Canção Nova, enfim, das inúmeras televisões, para estudarem planos, fórmulas para que possamos ter programas educativos na televisão, programas que instruam e politizem o povo brasileiro. Não quero - e tenho um projeto nesse sentido - fazer a Voz do Brasil na televisão brasileira. Isso seria uma estupidez! Mas penso que se poderia determinar um horário nobre. Ou seja, cada televisão deveria ter, no decorrer da semana, um programa voltado para a sociedade - de música erudita, de debate para jovens, ou outros. Cada televisão escolhe o programa que quiser e da maneira como quiser, mas um programa voltado para a conscientização, para a dignificação do caráter da pessoa, da sociedade, dos jovens brasileiros. Esse é um exemplo do que pode a televisão fazer quando quer. Mas temos muitos exemplos. Se analisarmos os dados do Censo brasileiro, vamos ver que a televisão influencia em muitos deles, porque não pode ser diferente. Já fiz essa análise. E já discutimos o porquê de a novela, a televisão apaixonarem tanto.

A análise feita pelos estudiosos é mais ou menos a seguinte: o pobre assiste à novela, que, para ele, é uma maneira de fazê-lo suportar a vida. A empregada doméstica sai às seis horas da manhã, trabalha todo o dia e chega em casa à noite. É uma vida cansativa e difícil, com duas horas de ônibus e muito trabalho. Quando ela chega em casa, janta e assiste à novela. Na novela, ela se identifica com o personagem - com aquela moça, com aquele rapaz ou com aquela senhora, aquele senhor - e dorme como se tivesse uma vida diferente. Ela sonha com aquilo. Ela tem um instante de paz e tranqüilidade, no momento que vive aquela emoção. Isso a ajuda viver! Isso a ajuda viver! É interessante, mas é real.

Por isso, neste momento, venho à tribuna felicitar a TV Globo, Glória Perez e a todos nós pela demonstração altamente positiva de que, quando queremos, fazemos. Essa é uma demonstração altamente concreta do que pode fazer a televisão de bem para o Brasil. Reconheço que as emissoras de televisão têm de ter lucro. Elas brigam pela concorrência e pelo melhor Ibope. No Ibope, às vezes, a apelação dá mais audiência do que trabalhos sérios. Mas acho que se houver entendimento, consenso e participação de todos, haveremos de melhorar muito a televisão brasileira no sentido de alcançar, em vários setores, o que está sendo alcançado nesta novela.

O Sr. Romero Jucá (Bloco/PSDB - RR) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concedo o aparte, com todo o prazer, ao Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (Bloco/PSDB - RR) - Senador Pedro Simon, quero, num rápido aparte, registrar a importância do seu discurso, assinar e endossar as palavras de V. Exª, não só em meu nome, como Senador por Roraima, mas em nome da Liderança do Governo. Sem dúvida alguma, em seu discurso, V. Exª faz justiça a uma iniciativa que está tendo ampla e positiva repercussão no País entre a sociedade e, especialmente, entre os jovens. Fico muito feliz em ter ouvido, nesta manhã, um discurso de tal capacidade, de tal brilho e de tanta importância social para o nosso País. Meus parabéns!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado, nobre Líder, Senador Romero Jucá.

Era isso, Sr. Presidente. Era isso o que eu queria dizer. Que bom que essas coisas também aconteçam! Na mesma época em que vemos, na televisão, um sinal do que pode ser feito, temos a assinatura da lei que vai trazer dias novos ao cinema brasileiro. Cinema, televisão e cultura são aquilo de que precisamos para proporcionar uma melhor educação para o povo brasileiro.

Fiquei emocionado com o resultado do último censo, que mostra o número de crianças na escola. Realmente, são números que devem honrar o Ministro da Educação. Já estando as crianças na escola, o importante é o que fazer com elas durante o período em que lá ficam. E aí a televisão exerce o seu grande papel.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2002 - Página 8369