Discurso durante a 69ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Disparidade entre as posições emitidas pelos Srs. José Maria Aznar e Fernando Henrique Cardoso, no encontro da Cúpula União Européia-América Latina. Manifestação de solidariedade ao povo do Timor Leste.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Disparidade entre as posições emitidas pelos Srs. José Maria Aznar e Fernando Henrique Cardoso, no encontro da Cúpula União Européia-América Latina. Manifestação de solidariedade ao povo do Timor Leste.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2002 - Página 9196
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, CONTRADIÇÃO, ASSUNTOS INTERNACIONAIS, REUNIÃO, DIRIGENTE, UNIÃO EUROPEIA, AMERICA LATINA, DEFESA, COMBATE, TERRORISMO, COOPERAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, IMPEDIMENTO, PROTECIONISMO, EXCESSO, COBRANÇA, TARIFAS, SUBSIDIOS, EXPORTAÇÃO, PREJUIZO, ECONOMIA, PAIS SUBDESENVOLVIDO.
  • COMENTARIO, FRUSTRAÇÃO, ACORDO, COMERCIO EXTERIOR, EUROPA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ANALISE, PREVISÃO, FUNCIONAMENTO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA).
  • REGISTRO, SOLIDARIEDADE, ORGANISMO INTERNACIONAL, PROCLAMAÇÃO, INDEPENDENCIA, REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE, APOIO, POPULAÇÃO, COMBATE, POBREZA, SUBDESENVOLVIMENTO, PAIS.
  • ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, SERGIO VIEIRA DE MELLO, AUTORIDADE, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ORGANIZAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, INDEPENDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o último fim de semana emitiu sinais díspares refletindo as contradições da atualidade internacional.

De uma parte, em Madri, a Cúpula União Européia-América Latina revelou um impasse entre duas agendas. A primeira, defendida pelo anfitrião do encontro, José Maria Aznar, presidente do conselho de ministros da Espanha, insiste na prioridade da concertação internacional para o combate ao terrorismo - posição que, sem dúvida, condensa dois traumas: o trauma disseminado por todo o planeta pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e o trauma mais antigo, diria mesmo crônico, da longa e sangrenta convivência do terrorismo basco com a sociedade espanhola.

A segunda agenda teve no presidente Fernando Henrique Cardoso seu mais articulado porta-voz. Ela privilegia a questão da cooperação para o desenvolvimento, com ênfase no desmantelamento das barreiras tarifárias e - sobretudo - não-tarifárias que prejudicam o acesso das exportações latino-americanas aos mercados do Primeiro Mundo, tornando ainda mais árdua e desigual a luta dos nossos países contra o subdesenvolvimento sócioeconômico, caldo de cultura de frustrações e, por vezes, mesmo de ódios militantes contra os valores ocidentais.

Madri significou, assim, mais uma oportunidade perdida, mais uma frustração, mais um avanço adiado na direção do acordo comercial EU - Mercosul, formalmente programado para entrar em vigor em 2005 mesma época prevista para o início do funcionamento da também problemática Área de Livre Comércio das Américas, a Alca.

Até agora, na realidade, as listas de concessões oferecidas pela Europa dos 15 para abrir seu mercado aos produtos agrícolas do nosso bloco mostram-se desproporcionalmente modestas se cotejadas com suas amplas pretensões em relação aos nossos mercados de bens industrializados, telecomunicações, serviços financeiros, de consultoria e compras governamentais .

Enfim, a cúpula quase nada teve a apresentar além de uma declaração protocolar de solidariedade à Argentina, a inclusão da guerrilha colombiana na lista negra do antiterrorismo europeu e um pacto comercial beneficiando exclusivamente o Chile.

De outra parte, porém, Sr. Presidente, quando estendemos nosso olhar mais além, rumo ao extremo oposto do globo, o nosso desânimo e a nossa frustração são momentaneamente ofuscados pelo lampejo de esperança que vem do Timor Leste.

Ali, a razão, o direito e a justiça finalmente triunfaram sobre a força bruta, em um mundo cada vez mais dilacerado entre fundamentalismos rancorosos e multilateralismos prepotentes.

Neste domingo, dia 19, a comunidade internacional e, particularmente, o mundo de língua portuguesa irmanaram-se ao bravo povo timorense na proclamação de independência da primeira nação do novo milênio. Com a posse do presidente Xanana Gusmão, terminava numa festa de paz, alegria e fraternidade mais de um quarto de século de opressão tortura e humilhação imposto pelo invasor indonésio.

Agora, Timor Lorosae adentra uma nova etapa de desafios, contando com a solidariedade dos organismos internacionais e com as promissoras perspectivas de sua riqueza petrolífera, para superar a pobreza e o atraso.

Não poderia encerrar este registro de solidariedade ao bravo povo do Timor Leste sem enaltecer, com brasileiríssimo orgulho, a decisiva contribuição do nosso compatriota Sérgio Vieira de Melo àquele esforço de construção nacional. À testa da autoridade das Nações Unidas incumbida de organizar a transição para a independência, Vieira de Melo demonstrou sua incansável capacidade como líder e negociador ao administrar numerosas obras de recuperação infra-estrutural e outras tantas iniciativas de conciliação e pacificação. Por seu generoso intermédio, o Brasil marca presença permanentemente positiva no nascimento de uma nação fisicamente tão distante, mas tão próxima quando recordamos a lição imortal do poeta Fernando Pessoa: “ minha pátria é a minha língua”. A língua portuguesa.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2002 - Página 9196