Discurso durante a 68ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, pelo transcurso dos 50 anos de sua fundação.

Autor
José Alencar (PL - Partido Liberal/MG)
Nome completo: José Alencar Gomes da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, pelo transcurso dos 50 anos de sua fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2002 - Página 8985
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB).
  • APREENSÃO, AUMENTO, EMIGRAÇÃO, JUVENTUDE, ELOGIO, ATUAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), REALIZAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, JUSTIÇA SOCIAL, COMBATE, FOME, MISERIA.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG. Pronuncia o seguinte discurso.) -

A injustiça social assume proporções de ofensa a Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança, e se opõe ao mandamento do amor fraterno que Jesus Cristo instituiu como lei da nova e eterna aliança. O resgate da dignidade dos pobres não pode limitar-se à assistência emergencial, mas exige a transformação da sociedade e da economia numa nova ordem voltada para o bem comum.

Este texto foi distribuído aqui pela CNBB.

Neste País tão rico, um dos mais extensos do planeta, de povo bom, pacato, ordeiro, trabalhador, inteligente, versátil - a própria miscigenação da nossa raça nos confere essa versatilidade admirável, de fazer inveja aos grandes estudiosos do mundo inteiro -, neste País de território riquíssimo em recursos naturais, será que ainda não despertamos para mensagens como essas?

Não podemos, de forma alguma, assistir ao crescimento da desesperança em nosso País. Nós invertemos o fluxo migratório. Nossos ancestrais são os migrantes do passado - portugueses, espanhóis, alemães, africanos e asiáticos. Todos os povos vieram para o Brasil. Era a verdadeira terra prometida, aonde chegavam, constituíam família e cresciam. Fizeram esta nação, que é a Nação brasileira.

Hoje, nossos jovens estão, depois de formados, buscando, até de forma clandestina, sair do Brasil para encontrar uma alternativa de vida em países com potencialidades inferiores às deste país tão rico que possuímos.

Perdoe-me, Sr. Presidente. Hoje é um dia muito importante para todos nós, porque estamos homenageando o cinqüentenário da CNBB, mas os oradores que me precederam levantaram questões ligadas às preocupações nacionais, e eu não poderia deixar também de fazer aqui um registro dessa nossa grande preocupação.

            Um grande estadista chinês, Deng Xiaoping, num determinado momento dos anos 70, disse, numa metáfora, que “não importa a cor do gato; o que importa é que ele cace o rato”. Essa metáfora foi traduzida por cientistas políticos, inicialmente da própria China, como: não importa a coloração ideológica, o que importa é o bem comum.

Aqui no Brasil poderíamos traduzir: “Não importa a coloração partidária, o que importa é que se alcancem os objetivos sociais”.

Sr. Presidente Ramez Tebet, do Senado da República; Exmº Sr. Dom Jayme Henrique Chemello, digníssimo presidente da CNBB; Exmº Sr. Dom Alfio Rapizarda, digníssimo núncio apostólico; Exmº Sr. Dom José Freire Falcão, digníssimo arcebispo de Brasília; Exmº Sr. Dom Marcelo Carvalheira, digníssimo vice-presidente da CNBB; Exmº Sr. Dom Raymundo Damasceno Assis, digníssimo secretário-geral da CNBB; senhores arcebispos e bispos aqui presentes, senhores sacerdotes, religiosos, pastores de outras denominações cristãs aqui presentes, cristãos leigos aqui presentes, Srªs e Srs. Senadores, excelentíssimas autoridades, Senhoras e Senhores convidados.

A palavra que trago hoje a esta tribuna é de comovido e respeitoso reconhecimento a uma instituição que encarna admiravelmente a força moral e espiritual de nossa brava gente brasileira.

A CNBB - Conferência Nacional do Bispos do Brasil -, com suas 41 arquidioceses, 205 dioceses, presentes em todo o território nacional, com sua composição humana rica em expoentes de nossa cultura, cardeais, arcebispos, bispos, abades, não representa apenas a estrutura hierárquica superior de uma religião que tem suas raízes cravadas na história brasileira. Ela representa, ainda, um momento de suprema elevação da inteligência, do humanismo e da espiritualidade do ser humano. A CNBB é vista na simpatia popular, em qualquer segmento comunitário, como referência viva, palpitante, ativa, destemida, de nobres ideais religiosos, propagados nos púlpitos e professados pelos fiéis.

Todos sabemos que, de suas sábias diretrizes, inspiradas na mensagem de conteúdo transcendente e de ressonância eterna, que vêm de Roma, derivam as ações apostolares que posicionam sacerdotes e leigos da Ação Católica na vanguarda dos movimentos em favor da paz social, da justiça, dos direitos humanos.

A CNBB, repetimos, é fiel porta-voz da mensagem da Igreja, uma mensagem de esperança e não uma promessa de utopia, como ensina o Dr. Alceu Amoroso Lima.

Deixou essa condição documentada desde seus começos. Já naquela reunião inaugural de suas atividades, no dia 14 de outubro de 1952, no Palácio São Joaquim, residência do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, mostrou exuberantemente a que estava vindo.

Presidida pelo saudoso Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, um mineiro eminente, então arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, coadjuvado na secretaria-geral pelo legendário Dom Hélder Câmara, a instituição optou, com fervor e tenacidade sobrenaturais, pela recomendação magistralmente traçada por Pio XII, em alocução dirigida aos cardeais em 2 de fevereiro de 1946. Dizia Sua Santidade: “A Igreja não pode circunscrever-se inerte nos segredos de seus templos; desertar de sua missão divinamente providencial de formar o homem completo e, com isto, colaborar, sem descanso, na constituição do sólido fundamento da sociedade. Tal missão é nela essencial.” E, mais adiante: “O sentido da sobrenaturalidade da Igreja é dar, estavelmente, figura e forma ao fundamento da sociedade humana, acima de todas as diversidades, além dos limites do espaço e do tempo.”

Nestes 50 anos de fecunda apostolicidade, a CNBB não faltou jamais a essa recomendação e a essa missão, essencial aos sagrados deveres sacerdotais. Esteve presente, de forma abrangente e infatigável, paternalmente solícita, em todos os fronts, na defesa de postulados e princípios indissociáveis da dignidade humana. Enfrentou, com altivez, em horas difíceis e amedrontadoras, quando outras lideranças se quedaram receosas, as diatribes e os excessos do poder mundano discricionário. Seus dirigentes e integrantes deram de si o melhor, por esse tempo todo, na tentativa de construção de um mundo mais justo e mais solidário. Proclamaram sempre a primazia do amor contra o ódio, da justiça contra a exploração, da paz contra a violência, da esperança contra o desespero.

Para comprovar tudo isso é só recordar as campanhas empreendidas, os manifestos, as proclamações, as denúncias, dirigidos às autoridades e à opinião pública.

São esses mesmos sentimentos edificantes que impulsionam, todos os anos, a famosa Campanha da Fraternidade. Essa campanha não é senão um brado de alerta a respeito da crise ética e problemática social aflitiva de nossos tempos. Tão forte tem sido o impacto da Campanha da Fraternidade, que ela, hoje, não se limita a sensibilizar apenas a comunidade católica. Atinge mentes e corações em todos os demais redutos do pensamento religioso. Faz parte da bela proposta de convivência ecumênica defendida pela Igreja.

O mesmo pode ser percebido nos demais projetos de ação pastoral, comunitária e assistencial desenvolvidos pela CNBB. Em tudo ganha realce o grande e constante desafio aos cristãos para que “vivam de tal modo o Evangelho, que ele possa se tornar uma mensagem atraente para homens e mulheres de hoje”.

Senhoras e senhores, comungo, com vivo entusiasmo, das emoções e alegrias deste momento dedicado à celebração do meio século de existência da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. Nutrimos, todos nós, no Senado da República, grande admiração por essa nobre instituição, que tão bem simboliza a consciência cívica e espiritual da sociedade brasileira.

Sou pessoalmente ligado, por laços de afeição, de modo especial, a duas figuras ilustres dos quadros episcopais brasileiros, ambos no exercício da profícua atividade apostólica em Minas Gerais, o Estado que represento nesta Casa: o Excelentíssimo Senhor Cardeal Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Serafim Fernandes de Araújo, e o Excelentíssimo Senhor Arcebispo de Mariana, ex-presidente da CNBB, Dom Luciano Mendes de Almeida. Na citação desses dois “homens de Deus” e, também, na pessoa do digno presidente atual da CNBB, Dom Jayme Henrique Chemello, reverencio, com apreço e respeito, todos os ilustres componentes dessa notável organização.

Asseguro-lhes partilhar, como homem público, como cidadão e como católico, dos anseios e esperanças dos bispos brasileiros, quando batalham pela edificação de uma sociedade justa e solidária, quando se colocam a serviço da vida e da esperança nas diferentes culturas; quando convocam a sociedade para movimentos como o do Mutirão Nacional para a superação da miséria.

Iniciativas assim tornam-nos melhores como seres humanos. Fazem-nos sentir, como cristãos, mais próximos da mensagem que chega do alto e do fundo dos tempos e da qual a CNBB é qualificada intérprete.

Muito obrigado.

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2002 - Página 8985