Discurso durante a 68ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, pelo transcurso dos 50 anos de sua fundação.

Autor
Sebastião Bala Rocha (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AP)
Nome completo: Sebastião Ferreira da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, pelo transcurso dos 50 anos de sua fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2002 - Página 8992
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ELOGIO, REALIZAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, INCENTIVO, EDUCAÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, COMBATE, FOME, POBREZA, DESEMPREGO.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (PDT - AP. Pronuncia o seguinte discurso.) - A fome, a miséria, a exploração sob todas as suas mais perversas formas, a discriminação (a forma mais humilhante de relacionar-se com o próximo), são males de nosso tempo e é desnecessário dizer que Jesus Cristo nos mostrou a maneira de combatê-las de uma forma simples e eficaz: “Ama o próximo como a ti mesmo”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Exmºs Revmºs Dom Jaime Henrique Chemello*, Presidente da CNBB; Dom Alfio Rapisarda, Núncio Apostólico; Dom José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília; Dom Marcelo Carvalheira, Vice-Presidente da CNBB; Dom Raymundo Damasceno*, Secretário-Geral da CNBB, senhores convidados, religiosos aqui presentes, senhoras e senhores, ao falar a importantes autoridades da Igreja Católica, minhas palavras iniciais reverenciam o Sumo Pontífice, João Paulo II, que, na sua Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente, nos exorta a um “sério exame de consciência sobre as responsabilidades que cabem aos cristãos nos males do nosso tempo”.

O Santo Padre, portanto, de maneira lúcida, coerente e atualizada, ratifica o papel exemplar da CNBB na defesa das questões sociais. O Papa João Paulo II, que, em uma de suas visitas ao Brasil, mais precisamente a que fez ao Rio de Janeiro, disse que o papa era brasileiro, certamente tornou-se mais brasileiro ao dar ao povo católico a primeira santa brasileira, a Santa Paulina.

É com um sentimento de profunda fé nos ensinamentos cristãos que participo desta solenidade que reverencia os 50 anos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Diante de tantos benefícios proporcionados ao Brasil pela CNBB nesses anos de existência, tudo que está sendo dito hoje, nesta justa homenagem, não é capaz de traduzir de forma fidedigna as gloriosas conquistas da CNBB para o Brasil e para o povo brasileiro.

Em nome do meu Partido e do povo do Amapá, desejo ressaltar os aspectos evangelizador, social, político, humanístico e democrático dessa instituição emblemática da missão apostólica da Igreja Católica no Brasil e no mundo, que é a CNBB.

Mesmo que a sua principal missão seja de natureza evangelizadora, mesmo que os prelados brasileiros não reclamem para si essa intervenção, é inegável o quanto fizeram pela superação dos graves problemas políticos, sociais e de direitos humanos que temos vivido nesse meio século de existência da entidade.

Para além das correntes ideológicas, de Esquerda ou de Direita, designações que nem sempre se aplicam bem a pessoas e entidades, a CNBB sempre esteve ao lado do que julgava mais justo para o povo brasileiro.

A campanha de defesa dos povos indígenas, tema da Campanha da Fraternidade de 2002, é um dos exemplos dessa intervenção de defesa dos direitos humanos. A campanha do ano passado: “Vidas sim, drogas não”, de significado sem paralelo no combate à dependência química, trouxe e ainda trará muitos benefícios no resgate de vidas, de almas e de dignidade humana.

Não é de hoje que temas como desemprego ocupam a pauta de mobilizações da Igreja Católica brasileira. E um Partido como o PDT não permanece indiferente a esse tipo de ação. É, portanto, com profunda admiração que vemos essa atuação. Em 1999, por exemplo, foi lembrado o desemprego com o lema: “Sem trabalho...por quê?”

Ainda em 1991, é possível localizarmos essa preocupação, quando o tema foi: “A fraternidade e o mundo do trabalho”. Se recuarmos ainda mais no tempo, veremos que, em 1978, a CNBB já clamava por “Trabalho e justiça para todos”. Ou seja, mesmo quando os canais democráticos estavam ainda emperrados, obstruídos, artificialmente engessados, e até censurados, havia uma voz que bradava no Brasil e no mundo por justiça social.

Quero lembrar a todos o quanto essas campanhas - face mais visível da CNBB - são educativas para a sociedade como um todo. Desconheço trabalho de conscientização tão consistente quanto este. A cada ano, além de um tema e de um lema, são mobilizadas milhares de comunidades, é elaborado um material de divulgação e o tema escolhido é debatido em profundidade por pessoas simples e humildes das mais longínquas paragens deste País.

Mas o trabalho da CNBB vai muito além dessa conscientização. Não podemos deixar de mencionar o trabalho de, literalmente, salvar vidas. A Pastoral da Criança, uma iniciativa da CNBB, conduzida bravamente pela Doutora Zilda Arns - e só tardiamente apoiada pelos poderes públicos -, tem revertido de maneira admirável as taxas de mortalidade infantil. Um trabalho que é reconhecido pelo Unicef como dos mais competentes do mundo.

O trabalho de pastorais como a da Terra (CPT), além de participar incansavelmente da luta pela reforma agrária, tem denunciado sistematicamente a violação de direitos humanos no campo. Graças a ela, é possível reconstruir a memória dos trabalhadores rurais assassinados em função da luta pela democratização da terra.

Não poderia deixar de mencionar os trabalhos em defesa da educação. Ainda na década de 60, foi criado, por exemplo, o Movimento de Educação de Base (MEB), que, pelas ondas do rádio e com o auxílio de monitores nas isoladas comunidades rurais, buscava alfabetizar adultos, numa tentativa de reverter o atraso na escolarização dos brasileiros.

Ao longo da história recente, nomes como o de Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Mauro Morelli e Dom Aloísio Loscheider ocuparam o espaço público para defender a abertura política, para combater a miséria e a fome, para defender os direitos humanos. Esses bispos, sem demérito dos outros que brilham, cada um no exercício dos seus carismas, assumem quase que uma aura de heróis da nacionalidade. A eles, minha admiração.

Minha saudação especial ao amável Dom João Risati, Bispo de Macapá, com votos de que conduza a diocese de Macapá com a espiritualidade, dedicação e humildade que tem demonstrado durante o seu exercício episcopal. Humildade de quem deixou a Itália para se embrenhar pela Amazônia e se dedicar à evangelização dos nossos caboclos, como tantos outros evangelizadores italianos.

Nesse ponto, eu gostaria de fazer, já seguindo para a conclusão do meu pronunciamento, um depoimento pessoal sobre a importância da evangelização, sobre a importância da espiritualidade na vida do ser humano. Falo da minha própria vida, porque, na minha adolescência, foi a Igreja Católica, sem dúvida nenhuma, que me deu a orientação ética, a orientação moral e a orientação religiosa que fundamentaram a minha vida como pessoa humana; que me fizeram médico e, hoje, Senador da República.

Certamente, eu teria muitas dúvidas se não tivesse convivido com a Igreja Católica, com os padres italianos, que, naquela época, foram os primeiros a ocupar a Amazônia. Ainda não havia padres brasileiros no País, principalmente na Amazônia. Hoje, já há alguns, como o Padre Paulo, em Macapá; Padre Aldenor, em Santana, e outros.

Certamente, aquela experiência fortaleceu não apenas o meu espírito, mas também as minhas convicções de ser humano e os valores éticos, morais, democráticos e os valores referenciados também na questão dos direitos humanos.

Quero deixar este depoimento como experiência de vida para que muitos outros jovens católicos, pelo Brasil afora, adolescentes e crianças, busquem, por meio da Igreja Católica e dos ensinamentos ali colhidos, fundamentar a sua consciência de vida.

Minhas congratulações sinceras, com desejo de que prossigam nessa luta tão gloriosa pela dignidade do povo brasileiro, a Dom Jaime Henrique Chemello, mais uma vez, Presidente da CNBB; a Dom Marcello Pinto Carvalheira, Vice-Presidente; Dom Raimundo Damasceno Assis, Secretário-geral; Dom Alfio Rapizarda, núncio apostólico; Dom José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília, aqui presente, que representam, nesta solenidade, certamente, toda a Igreja Católica do Brasil.

Em nome do PDT e do povo do Amapá, os mais sinceros votos de que a CNBB continue a manter o espírito evangelizador e o compromisso social e humanístico que tem demonstrado nesses 50 anos de existência, pois ainda são muitas as injustiças que grassam na sociedade brasileira, e precisamos do concurso de todos para superá-las.

Não temos a menor dúvida: a CNBB é imprescindível nesta luta.

Parabéns!

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2002 - Página 8992