Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Presidente de honra do Partido Comunista do Brasil, João Amazonas.

Autor
Emília Fernandes (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Emília Therezinha Xavier Fernandes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento do Presidente de honra do Partido Comunista do Brasil, João Amazonas.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2002 - Página 9849
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO AMAZONAS, EX PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB), EX-CONGRESSISTA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, LIBERDADE, DEMOCRACIA, SOBERANIA NACIONAL, CIDADANIA, POPULAÇÃO, BRASIL.

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A SRª EMILIA FERNANDES (Bloco/PT - RS) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, registramos nosso pesar pelo falecimento do presidente de honra do Partido Comunista do Brasil, João Amazonas. O mais ilustre e mais antigo dirigente comunista brasileiro morreu na tarde desta segunda-feira, dia 27 de maio, em São Paulo, vítima de complicações pulmonares.

Amazonas dirigiu o PCdoB desde a cisão com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1962. Em dezembro passado, renunciou ao cargo em favor de Renato Rebelo. Sua morte deixa o Brasil órfão de uma importante referência política. Nossos sentimentos e abraço solidário aos familiares, amigos e companheiros de partido deste ilustre brasileiro.

João Amazonas participou ativamente do processo de redemocratização de nosso país em 1945, da criação da Petrobrás na década de 50 e luta pelas reformas de base da década de 60.

Também esteve na Guerrilha do Araguaia, ocorrida entre 1972 e 1974, quando camponeses e militantes do PC do B começaram um movimento contra o governo militar e foram severamente repreendidos pelas Forças Armadas, em duro embate que cobriu de luto inúmeros lares brasileiros. Este episódio foi tão marcante para João Amazonas que motivou seu último pedido à família: que suas cinzas fossem jogadas no Sul do Pará, onde ocorreu a Guerrilha.

Desta forma, Senhoras e Senhores, a trajetória de João Amazonas confunde-se com a própria história política brasileira do século XX. Foi um homem que abraçou, como poucos, as lutas populares. Defendeu, em seus 90 anos de existência, a democracia, o socialismo e o respeito aos direitos humanos. Por isso, faz-se necessário resgatar um pouco de seu percurso, nesta homenagem póstuma.

Nascido em 1º de janeiro de 1912, em Belém do Pará, João Amazonas entrou para o PCB em 1935. Líder sindical, defensor aguerrido da Soberania Nacional, foi fundador de diversas entidades de classe, atuando, inclusive, nas fases repressivas da política brasileira.

Fiel aos princípios socialistas, jamais se intimidou ante as perseguições políticas, que levaram-no diversas vezes à prisão, obrigaram-no a se ocultar na clandestinidade durante anos e no exílio entre 1976 e 1979.

Dirigente do PCB desde 1946, João Amazonas foi o deputado constituinte mais votado do Distrito Federal, então no Rio de Janeiro, em 1945. No ano seguinte, ocupou uma das cadeiras na Assembléia Nacional Constituinte, engrossando, assim, a bancada comunista.

Em 1962, participou da organização do PC do B e assumiu a presidência da sigla. No começo dos anos 80, lutou bravamente pela anistia ampla e irrestrita, propondo a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte e de eleições diretas para que o povo brasileiro escolhesse o Presidente da República.

Para viabilizar a transição democrática, percorreu todos os rincões deste país, alinhando-se aos setores mais progressistas da sociedade de forma a dar a sustentação política necessária à candidatura de Tancredo Neves.

Em 1989, ele atuou ativamente pela formação da Frente Brasil Popular, que uniu o Partido dos Trabalhadores, o Partido Comunista do Brasil e o Partido Socialista Brasileiro em torno da candidatura do presidente de honra do PT, Luis Inácio Lula da Silva. Pouco depois, Amazonas adensou a fileira de brasileiras e brasileiros que defenderam aguerridamente o “impeachment” do presidente eleito em 1989, Fernando Collor.

Nos últimos anos de vida, foi bravo combatente da política neoliberal do atual governo e manteve-se firme no compromisso diário de apoiar as candidaturas dos partidos progressistas e na defesa irrestrita da bandeira socialista.

João Amazonas nos deixou aos 90 anos de idade, após 67 de militância política e de transformar o PCdoB numa sigla forte, estruturada e organizada, ”com quadros capazes e levar a luta socialista adiante”, como bem ressaltou o vice-presidente nacional do partido, deputado Aldo Rebelo.

Por sua história de luta, de coerência e participação política, de combate ao retrocesso e pela postura de homem que sempre enxergou à frente de seu tempo, sua memória permanecerá viva e sua história servirá de exemplo a homens e mulheres que, como ele, defendem a soberania nacional, as liberdades democráticas e a plena cidadania a todo o povo brasileiro.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2002 - Página 9849