Discurso durante a 76ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 60 ANOS DE CRIAÇÃO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE - CVRD.

Autor
Ricardo Santos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: Ricardo Ferreira Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 60 ANOS DE CRIAÇÃO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE - CVRD.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2002 - Página 10317
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. RICARDO SANTOS (Bloco/PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, comemoramos, em 1º de junho último, o 60º aniversário da Companhia Vale do Rio Doce. Essa data, gravada na memória nacional em 1942, corresponde àquela da publicação do Decreto-Lei nº 4.352, da pena de Getúlio Vargas, que definiu as bases em que seria organizada a Companhia Vale do Rio Doce. Com esse ato, o Presidente Vargas deu forma final a um acordo celebrado em Washington, envolvendo os Estados Unidos e a Inglaterra, visando à instalação, em nosso País, de uma produtora e exportadora de minério de ferro.

Criada como estatal em 1º de junho de 1942 e privatizada em 7 de maio de 1997, a Companhia Vale do Rio Doce soube, ao longo de sua história, superar crescentes desafios em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo.

São 60 anos de realizações, de resultados extraordinários nos campos da produção mineral, transporte e logística, que tornaram conhecida não só a engenharia nacional, mas também a engenhosidade e capacidade de gestão do profissional brasileiro.

Nesse relativamente curto espaço de tempo, foi gestada pela inteligência brasileira a maior mineradora diversificada das Américas. Com clientes em mais de 30 países, empregando 21 mil pessoas em todos os quadrantes do território brasileiro, a Vale é também a empresa que mais contribui positivamente para a balança comercial brasileira, com exportações consolidadas de US$3,297 bilhões, em 2001.

Desde a sua fundação, a Vale do Rio Doce exibiu, por meio de seus sucessivos dirigentes e núcleos profissionais, aguçado senso para os negócios em escala mundial. Sempre submetida a uma forte competição no mercado internacional, a empresa se esmerou nas preocupações com a eficiência econômica e sentido amplo, qual seja, na redução dos custos unitários de produção e de transporte de seu principal produto, o minério de ferro; na busca incessante de novos mercados para seus produtos e na diversificação de sua atuação empresarial, visando minimizar seus riscos empresariais.

Ao longo de sua história, ofereceu exemplos extraordinários em cada uma dessas áreas estratégicas de gestão.

Assim, já nos anos 50, atenta à situação do competitivo mercado mundial de minério de ferro, a Vale deu início ao projeto de modernização das operações do complexo mina-ferrovia-porto e do sistema de transporte marítimo. Dessa feita, em 1952, alcançou a marca de 1,5 milhões de toneladas exportadas e buscou, particularmente a partir de 1953, uma vigorosa política de diversificação de mercados. Os Estados Unidos, tradicionalmente o maior cliente, foram então, gradativamente, perdendo terreno para os clientes europeus.

A política de diversificação de mercados possibilitou que as exportações da Vale chegassem aos países socialistas no Leste europeu, em 1954.

Nesse mesmo ano, o Japão adquiriu, pela primeira vez, minério de ferro da Vale.

A despeito das pressões políticas, o comércio com o Leste europeu, num mundo dominado pelas tensões da “guerra-fria”, foi mantido e incrementado.

Em busca de agregação de valor ao seu principal produto, bem como para reduzir riscos empresariais, a Vale, nos anos 50, procurou também diversificar suas atividades no mercado interno, investindo no setor siderúrgico. Em 1959, já era acionista de quatro empresas siderúrgicas: a Usiminas, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Cosipa, e a Ferro e Aço de Vitória.

Na década de 1960, com o aparecimento de novos ofertantes de minério de ferro, destacadamente a Austrália, o mercado mundial conheceu um movimento de queda de preços muito acentuada. Diante desse quadro, a Vale teve que rever sua política comercial. Durante a gestão do Dr. Eliezer Batista, esse notável brasileiro, foram assinados os primeiros contratos de longo prazo com importantes empresas siderúrgicas mundiais, os quais, juntamente com outras medidas, permitiram à Vale compensar a perda nos preços mediante incrementos substanciais na produtividade de exploração e transporte e nas quantidades exportadas.

É importante destacar que grandes iniciativas de caráter estratégico foram desencadeadas nos anos 60, na gestão de Eliezer Batista, que no período de 1961/64 acumulou, inclusive, o cargo de Ministro de Minas e Energia com a presidência da empresa. Os novos rumos traçados pelo Dr. Eliezer perpassaram diversas administrações da empresa e a inspiram até os dias de hoje. Nesta oportunidade, estendemos a essa extraordinária figura humana e intelectual o nosso reconhecimento pessoal e também o de todo o povo capixaba.

Nessa reorientação estratégica, foi fundamental a construção do porto de Tubarão, em Vitória, inaugurado em 1966, rigorosamente dentro dos prazos estabelecidos nesse novo plano.

O terminal marítimo de Tubarão era, então, o maior e mais moderno atracadouro para embarque mecanizado de granéis sólidos. A entrada em funcionamento de Tubarão foi determinante para a assinatura, em 1967, de novos contratos com as siderúrgicas japonesas, o que permitiu elevar as vendas da Vale para o Japão a uma média anual de mais de seis milhões de toneladas a partir de 1969. É interessante observar que a nova concepção logística concebida pela Vale exigiu, igualmente, a construção de terminais portuários de grande capacidade no Oriente, como o localizado na região de Oita, no Japão.

O desenvolvimento do mercado japonês para o nosso minério de ferro envolveu enorme esforço de convencimento, levado a cabo aqui e no exterior. Tratava-se, como esclareceu o Dr. Eliezer a uma Comissão Especial do Senado em abril de 1985, de um desafio muito grande, de transformar uma distância física numa distância econômica. Segundo ele, não seria tão difícil superar a distância física. Restava, para ser vencida, a distância econômica, ou seja, como reduzir os custos de transporte para se chegar ao Japão e aos demais países do Extremo Oriente.

As negociações comerciais conduzidas pela Vale e pela diplomacia brasileira nessa época, no caso da abertura não só do mercado japonês, mas também do europeu, ocidental e do leste, são exemplos vivos que devem orientar e inspirar o desenho de uma política industrial e de promoção de exportações de que tanto necessitamos neste momento para aumentarmos nossos saldos comerciais com o resto do mundo.

Registre-se, ainda, que os contratos de longo prazo impuseram uma revisão profunda na política de transportes marítimos da Vale. Criada em 1962, a Vale do Rio Doce Navegação S/A - Docenave - tornou possível à Companhia efetuar o transporte de minério de ferro, sob comando único, desde a mina até o porto de destino.

Notável ao longo da existência da Vale tem sido a sua capacidade de adaptação às profundas mudanças tecnológicas, conhecidas pela siderurgia mundial no pós-guerra, mudanças estas que levaram a Companhia a intensificar os estudos no sentido da diversificação e da melhoria da qualidade dos minérios, dedicando particular atenção ao processo de pelotização, segmento em que, hoje, é líder mundial. A pelotização do minério de ferro representou importante inovação tecnológica, por permitir a utilização dos minérios ultrafinos, até então rejeitos que se acumulavam junto às minas e causavam sérios prejuízos econômicos e ao meio ambiente.

Outra importantíssima página de sua história foi escrita com a exploração da província mineral de Carajás, no sul do Pará. Data de 1968 a primeira incursão da Vale na região de Carajás. Após uma breve associação com a United States Steel visando explorar comercialmente essas ricas reservas, adquiriu, em 1970, o direito exclusivo de exploração daquelas jazidas, que vieram a se constituir na maior reserva de minério de ferro do mundo.

Com o término da moderna ferrovia ligando Carajás a São Luís, no Maranhão, o projeto Ferro Carajás iniciou a produção em 1985. Esse fato marcou profundamente a história da empresa e do próprio País.

Hoje a Companhia Vale do Rio Doce atua em 11 Estados brasileiros e exerce suas atividades por meio de 72 empresas coligadas e associadas, no País e no exterior, nos segmentos de ferrosos, não-ferrosos, energia, corporações controladas no exterior, com participação em empresas produtoras de bauxita, alumina e alumínio, papel e celulose, fertilizantes, em siderúrgicas e em empresas de comércio eletrônico.

Entretanto, a contribuição dessa extraordinária empresa ao desenvolvimento brasileiro não se esgota no campo econômico. Alcança também o campo do desenvolvimento social e econômico na sua área de influência por meio do Fundo de Melhoramento e Desenvolvimento da Zona do Rio Doce, na sua fase estatal, e dos recursos alocados quando de sua privatização (FRD - Fundo de Desenvolvimento com Recursos da Desestatização), no valor de R$85,9 milhões, para aplicação nas áreas de saúde, saneamento e atenção à criança e ao adolescente. Na área de preservação ambiental, a Vale possui, atualmente, 1,2 milhão de hectares protegidos na Mata Atlântica de Minas Gerais e do Espírito Santo e na região amazônica. O sistema de gestão ambiental das minas de minério de ferro e manganês de Carajás foi o primeiro do mundo a receber certificação ISO 14001.

Mais uma página da empresa começa a ser escrita, desde 1997, quando ocorreu sua privatização. Naquele ano, o chamado Consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional, que praticamente nasceu junto com a Vale, venceu o leilão da Vale do Rio Doce realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Srªs e Srs. Senadores, se a Vale é hoje uma grande empresa competitiva no comércio internacional, gerando, como dissemos, mais de US$ 3 bilhões de exportação para o País, sua contribuição poderá ser ainda mais expressiva desde que se viabilizem projetos de investimentos que venham a agregar mais valor às suas exportações, especialmente as de minério e pellets.

No seu sistema Sul (Minas Gerais e Espírito Santo), ocorre a oportuna associação entre o minério de ferro e o gás natural existente, com enorme potencial de crescimento da oferta, sobretudo na costa do Espírito Santo e nas áreas limítrofes do Estado do Rio de Janeiro. Constatamos que, hoje, a costa capixaba recebe a maior parcela dos investimentos em prospecção de petróleo e gás no País, criando-se, dessa forma, condições altamente promissoras para a produção de bens de maior valor agregado, a exemplo do ferro-esponja, do HBI, da produção de placas, entre outros.

Nesse aspecto, a convergência da política industrial e de comércio exterior é de fundamental importância: se a nossa dotação de fatores - especialmente o gás natural do litoral capixaba e de áreas limítrofes do Rio de Janeiro - é expressiva, há que se definirem condições favoráveis de preço de gás, para que esses empreendimentos, que contribuirão para a expansão das receitas de exportação do País, sejam efetivamente implementados.

Sabemos que intensas negociações já foram realizadas, inclusive no âmbito de discussão do Plano de Desenvolvimento Estratégico do Espírito Santo - o Master Plan - envolvendo a CVRD, a Petrobras e, naquilo que diz respeito à produção de energia, a Espírito Santo Centrais Elétricas S/A, com o objetivo de encontrar um preço de gás que viabilize a sua utilização como insumo industrial e como matéria-prima energética.

Estamos otimistas com relação a uma solução adequada e viável no que diz respeito ao preço do gás, já que é indispensável aproveitar essa vantagem estratégica de que dispomos para expandir nossa produção industrial e de energia e, ao mesmo tempo, diminuir nossas restrições externas.

A Companhia Vale do Rio Doce pode, portanto, elevar sua contribuição à geração de divisas para o Brasil se tivermos a competência de construir as condições necessárias no campo da política industrial para o melhor aproveitamento das novas oportunidades de investimento na metalurgia do ferro e na produção do aço, considerando a capacitação tecnológica da empresa, adquirida durante os últimos 60 anos de sua existência, e a nossa favorável dotação de recursos naturais para a expansão de uma siderurgia brasileira ainda mais moderna e competitiva.

Quero, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao finalizar a minha fala, cumprimentar todo o corpo diretivo da Vale do Rio Doce aqui presente, na pessoa do Dr. Antonio Miguel Marques, seu Diretor-Executivo, Presidente em exercício; do Dr. Paulo Eduardo Cabral Furtado, Conselheiro; do Dr. Guilherme Laager, Diretor-Executivo; do Dr. Raphael Bloise, Diretor da empresa; Dr. Gilson Arantes, Diretor da Samarco; do Dr. Carlos Anísio Figueiredo, assessor da Diretoria, pedindo-lhes que enviem os nossos cumprimentos ao Dr. Roger Agnelli, ao Dr. Armando Oliveira Santos e à Drª Carla Grasso, também Diretores da Vale do Rio Doce.

Parabéns, Vale do Rio Doce!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2002 - Página 10317