Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre publicação do Instituto de Pesquisas Econômicos Aplicadas - IPEA, intitulada "Velhas Secas em Novos Sertões".

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Considerações sobre publicação do Instituto de Pesquisas Econômicos Aplicadas - IPEA, intitulada "Velhas Secas em Novos Sertões".
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2002 - Página 10726
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • ELOGIO, INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA), EDIÇÃO, LIVRO, AUTORIA, GUSTAVO MAIA GOMES, ECONOMISTA, RESUMO, HISTORIA, SECA, REGIÃO NORDESTE, COMENTARIO, IMPORTANCIA, RENDA, APOSENTADO, FUNCIONARIO PUBLICO, ANALISE, PROGRAMA DE GOVERNO, DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA, PECUARIA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. LUCIO ALCÂNTARA (Bloco/PSDB - CE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está de parabéns o IPEA, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, do Governo Federal, por ter editado o fascinante livro Velhas Secas em Novos Sertões. E merece os maiores elogios o economista Gustavo Maia Gomes, brilhante autor do trabalho e Diretor de Estudos Regionais e Urbanos do IPEA.

O livro leva o subtítulo “Continuidade e Mudanças na Economia do Semi-Árido e dos Cerrados Nordestinos”. É obra que não tem nada da aridez que se poderia esperar de um texto de economia. E isso porque vai além da economia e se espraia pela história, pelo social, pelo humano, pelo campo das políticas públicas.

Em estilo enxuto e instigante, Velhas Secas em Novos Sertões traz ao leitor muitas luzes e nova compreensão sobre a dinâmica da economia do sertão nordestino, no passado e no presente. Se tiver a divulgação que merece, é livro que muito poderá contribuir para a discussão dos problemas e soluções relacionadas à pobreza nordestina, à seca e ao futuro econômico e social da região.

Em relativamente breves 300 páginas, o livro examina a história das secas, a economia tradicional do Semi-Árido e as novas atividades econômicas que lá vão surgindo. Analisa a seca mais recente, de 1998/99, o peso da renda dos aposentados e funcionários públicos, os programas de governo. Identifica duas distintas realidades que apelida de “velhos Sertões” e “novos Sertões”.

Descreve o autor o nascimento, ainda no século XVI, da pecuária extensiva sertaneja, que alimentava o litoral açucareiro. E conta como se ampliou aquela atividade, para abarcar a mandioca, o feijão, o milho, o algodão. De área de população esparsa, passou o Semi-Árido, ao longo de três séculos, a região populosa e de pobreza permanente. De periferia do Nordeste, passou a periferia da periferia, pois o Nordeste foi perdendo peso na economia nacional.

O livro resume brilhantemente a história das secas, uma espécie de irregularidade regular e quase previsível, castigadora, empobrecedora até mesmo dos ditos proprietários ricos. De 1550 a 2000, contabiliza a incidência de 85 anos de seca aguda, incorporadas ao panorama social e econômico, em ciclos perversos.

O autor lança um olhar sobre o Sertão atual, que revela, nos últimos vinte anos, transformações promissoras. Ao lado da economia tradicional, vão surgindo novas atividades, como a fruticultura irrigada e alguma indústria têxtil e de calçados. O livro não se furta a examinar o peso econômico do ilegal e pernicioso cultivo da maconha.

Das análises elaboradas pelo autor decorrem algumas descobertas esclarecedoras e até surpreendentes. Por exemplo, Maia Gomes demonstra que, nos últimos 50 anos, as ações emergenciais do Governo Federal em amparo aos flagelados da seca se foram tornando mais automáticas, a despeito de às vezes chegarem com algum atraso; e se apresentaram mais e mais eficazes, no âmbito de seus objetivos limitados.

Não deixa de ser chocante a revelação do livro, apoiada em sólida pesquisa, de que, na seca de 1998/99, a renda dos alistados nas frentes de trabalho foi maior do que os ganhos obtidos pelas mesmas pessoas em suas atividades rotineiras, em um ano normal, como foi o ano de 1997. Isso expõe, mais uma vez, a extensão da pobreza dos que habitam o Semi-Árido nordestino.

Uma análise inovadora e sem precedentes é apresentada ao leitor: a de um novo setor, que o economista chama de “economia sem produção” do Semi-Árido, composta basicamente pela renda dos aposentados rurais e urbanos e por parte dos salários dos funcionários públicos municipais. Só a renda dos aposentados já supera o valor do produto da pecuária tradicional! E isso, em ano sem incidência de seca generalizada, como foi o ano de 1996.

O livro faz outras comparações iluminadoras. Se bem que os setores inovadores, como a fruticultura irrigada, a soja dos cerrados e a indústria interiorizada, sejam a nova esperança do Sertão, eles ainda têm uma dimensão econômica quase seis vezes menor que a da “economia sem produção” antes mencionada.

Por outro lado, esses mesmos setores inovadores, se somados ao peso da renda de aposentados e funcionários públicos, já superam a economia agropecuária tradicional, de gado, feijão, milho, mandioca e algodão. Isto é, os “novos Sertões” já são maiores que os “velhos Sertões”!

O autor discute as condições de dinamismo e estagnação da economia dos Sertões, velhos e novos, com ênfase na situação de hoje e nas perspectivas para o futuro próximo. E isso, como ele diz, na “esperança de que conduza a melhor compreensão do funcionamento dessa economia e que, por conseqüência, também possa contribuir para a ação mais efetiva dos governos e da sociedade em geral, em prol do desenvolvimento econômico e social dos Sertões, muito embora oferecer sugestões e recomendações políticas não faça parte dos objetivos do livro”.

Sr. Presidente, Velhas Secas em Novos Sertões é um livro que tenho orgulho e satisfação de divulgar. Interessa a nordestinos e brasileiros em geral. É forte sua mensagem final de esperança, ao afirmar que o futuro do Semi-Árido não reside na persistência ou ampliação da ajuda, esmolas, subsídios ou que outros nomes tenham, para além do presentemente essencial, mas nas atividades produtivas e inovadoras de melhor técnica e de maior potencial de difusão de seus produtos, incluída aí a difusão internacional.

O livro é mais um tijolo para a construção de um Brasil melhor.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2002 - Página 10726