Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Réplica às considerações do Senador José Eduardo Dutra a respeito do candidato presidencial Luiz inacio Lula da Silva. (como Líder)

Autor
Geraldo Melo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RN)
Nome completo: Geraldo José da Câmara Ferreira de Melo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Réplica às considerações do Senador José Eduardo Dutra a respeito do candidato presidencial Luiz inacio Lula da Silva. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2002 - Página 11707
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, JOSE EDUARDO DUTRA, SENADOR, AUSENCIA, ACUSAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, RESPONSAVEL, VARIAÇÃO, POLITICA CAMBIAL.
  • COMENTARIO, DISCURSO, JOSE EDUARDO DUTRA, SENADOR, AUSENCIA, RESPOSTA, PRONUNCIAMENTO, ORADOR.
  • CRITICA, DISCURSO, AUTORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ANTERIORIDADE, REPUDIO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), DEFESA, MORATORIA, INFLUENCIA, INVASÃO, PROPRIEDADE RURAL, CONTRADIÇÃO, ATUALIDADE.

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O SR. GERALDO MELO (Bloco/PSDB - RN. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quero dizer a V. Exª que realmente não me senti nem agredido nem insultado pelo Senador José Eduardo Dutra. Ao contrário, senti-me homenageado porque um pronunciamento meu mereceu a ida de S. Exª à tribuna, que - sem nenhum demérito para os demais - é por mim considerado um dos mais competentes, sérios e brilhantes membros desta Casa.

Quero dizer a S. Exª que, evidentemente, numa explicação pessoal, não disponho de tempo para discutir todo o conteúdo do seu pronunciamento, então tenho que me fixar em pontos muito concretos.

Em primeiro lugar, eu gostaria de fazer uma retificação. No meu pronunciamento, que o Senador José Eduardo Dutra acaba de responder, não citei uma única vez o nome do investidor George Soros, nem este assunto entrou nas minhas observações, não se justificando, portanto, que tivesse sido trazido ao discurso do Senador José Eduardo Dutra no aparte do Senador Eduardo Suplicy.

Em segundo lugar, também não abordei as flutuações do mercado e nem atribui ao candidato do PT nenhuma responsabilidade com o que está ocorrendo com o mercado brasileiro, cujos rumores, variações e nervosismos nada mais são do que manifestações do comportamento normal dos mercados, e é uma coisa que esteve completamente fora do meu discurso.

É forçoso reconhecer que o eminente Senador José Eduardo Dutra respondeu, em relação a meu pronunciamento da manhã, somente àquelas coisas que eu não disse. S. Exª falou muito bem, com a elegância e a competência habituais, respondendo ao que eu não disse, inclusive dizendo que somos contrários à alternância de poder e de políticas.

Permito-me dizer, Sr. Presidente, em matéria de alternância de políticas, quem parece ser contra hoje é o Partido dos Trabalhadores, porque o discurso do seu candidato nada mais propõe, em matéria de política econômica, do que aquela que tem sido realizada no Brasil pelo Governo do PSDB, ao ponto de mesmo achar que, diante do que ouço, não seria de surpreender a ninguém que o próprio Ministro Pedro Malan fosse convidado a permanecer no Ministério da Fazenda, bem como o Presidente Armínio Fraga no Banco Central, tal é a semelhança entre as coisas que estão sendo defendidas hoje pelo candidato do PT em sua campanha.

O ponto a que eu realmente me referi - e esse, sim, não foi respondido - é outro. Nós todos, que somos políticos, sofremos pela generalização de um sentimento popular de desconfiança em relação à palavra do político, ao seu compromisso, àquela postura de véspera de eleição do político que assegura ao povo que o mundo vai ser cor-de-rosa se votarem nele e vai ser um desastre se votarem em seu adversário. Referi-me à necessidade de se ter uma postura de lealdade para com a opinião pública, e disse eu, pela manhã, que havia hoje uma grande dúvida no Brasil, porque o candidato a Presidente da República do Partido dos Trabalhadores está defendendo posturas de alinhamento com o FMI hoje, mas propunha o rompimento com o FMI ontem. Qual das duas posições valerá? S. Sª defendeu, muitas vezes, a moratória da dívida externa ontem, e está garantindo cumprimento dos contratos hoje. Qual das duas posição valerá? S. Sª afirma ao País que, se chegar à Presidência da República, vai assegurar ao povo brasileiro um clima de segurança, de ordem e de obediência à lei. Diz isso hoje, mas S. Sª defendeu os saques a supermercados em Buenos Aires e a invasão de propriedades, inclusive produtivas, ontem. Qual é o compromisso que vai valer? O de ontem, o de hoje ou, como alguém diz, o de amanhã, porque pode ser que mude daqui para lá?

Quando vejo o candidato do Partido dos Trabalhadores reunir-se com os usineiros de São Paulo...

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Senador Geraldo Melo, eu gostaria que V. Exª me concedesse um brevíssimo aparte.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. Fazendo soar a campainha.) - Não é possível. Nesse período de cinco minutos, lamentavelmente, a Mesa não pode aceitar apartes, porque é anti-regimental.

O SR. GERALDO MELO (Bloco/PSDB - RN) - Não disponho de tempo, infelizmente.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - (Manifestação fora do microfone.)

O SR. GERALDO MELO (Bloco/PSDB - RN) - Senadora Heloísa Helena, estou com a palavra.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Era só para dizer que tem gente no Governo hoje que já defendeu a luta armada em outros tempos.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - V. Exª continua com a palavra, Senador Geraldo Melo.

O SR. GERALDO MELO (Bloco/PSDB - RN) - Quero apenas concluir dizendo que, quando vejo, por exemplo, o candidato do Partido dos Trabalhadores reunir-se com os usineiros de São Paulo para discutir o fortalecimento da agroindústria do açúcar - que aplaudo e defendo -, o restabelecimento do Proálcool no Brasil - idéia que aplaudo e defendo -, a volta da produção de carros a álcool no Brasil - que também aplaudo e defendo -, confesso que fico em dúvida se o que vai valer, caso S. Sª ganhe a eleição, será essa linha ou aquela em que só se falava em bóia-fria quando se falava com os usineiros de São Paulo. Não me consta que o item bóias-frias tenha entrado no debate entre o candidato do Partido dos Trabalhadores e os usineiros de São Paulo.

Sr. Presidente, em síntese, estou querendo dizer que talvez seja por isso que a sociedade encontra motivos para duvidar das palavras dos políticos. Ela começa a ter o direito de suspeitar que essas posições de hoje são as posições que as pesquisas qualitativas ou o trabalho dos marqueteiros sugeriram que, se fossem assumidas pelo candidato, dar-lhe-iam votos, e que isso se faz para obtenção do voto e não, de fato, pensando em cumpri-las. E, se realmente isso está acontecendo, há um candidato importantíssimo à Presidente da República que está dando sua contribuição para que o povo deixe de acreditar nos políticos. Foi nesse sentido o meu pronunciamento.

Antes de encerrar, peço licença à Mesa para fazer um pedido público de desculpas. Percebi, pelo pronunciamento do Senador José Eduardo Dutra, que S. Exª não entendeu e, por não ter entendido, não gostou da minha referência ao sabonete, feita pela manhã. Quero deixar bastante claro que, em nenhum momento, poderia ter uma posição desrespeitosa em relação a Lula, que é um homem público a quem respeito. Eu não poderia ter uma postura ofensiva. O que eu disse pela manhã posso repetir agora: é que Lula está se portando, já que assumiu um discurso e uma postura totalmente diferentes da sua prática política, do seu discurso e da sua postura dos últimos vinte anos, como um excelente ator, que trabalha contando com um excelente diretor ao seu lado. E que ele está sendo preparado - não estou nem dizendo que isso está errado, nem estou censurando - para ser apresentado à opinião pública, que, comparando em termos eleitorais, é o mercado ao qual os marqueteiros procuram oferecer os seus produtos. Ele retoca o seu produto como se retocaria um sabonete. Foi isso o que eu quis dizer. Não quis ofender o candidato do Partido dos Trabalhadores. Se pareceu ofensivo, peço aos companheiros do Partido dos Trabalhadores que relevem, pois não foi esse o propósito. Embora, realmente, o discurso novo, retificado, alterado, esteja chegando a um ponto que já não se ajusta àquela tese do Senador José Eduardo Dutra, que diz que o seu Partido mudou porque o Brasil mudou. Agradeço a referência e o reconhecimento à mudança que houve no Brasil, só que o discurso mudou para ser contrário ao discurso que se fazia antes, e o povo brasileiro tem direito a ser esclarecido quanto a isso.

Encerro com esta pergunta: se o candidato do Partido dos Trabalhadores fosse eleito Presidente da República, quem governaria o Brasil: o candidato de hoje, com o discurso de hoje, ou a mesma pessoa de ontem, com o discurso de ontem, de anteontem, do ano passado e dos últimos 20 anos?

Obrigado, Sr. Presidente.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2002 - Página 11707