Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Apelo ao governador do Estado de Alagoas para que tome providências no sentido de punir os autores de espancamento sofrido pelo estudante Lucas, na cidade de Maceió.

Autor
Heloísa Helena (PT - Partido dos Trabalhadores/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Apelo ao governador do Estado de Alagoas para que tome providências no sentido de punir os autores de espancamento sofrido pelo estudante Lucas, na cidade de Maceió.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2002 - Página 11576
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNADOR, AUTORIDADE, AREA, SEGURANÇA PUBLICA, ESTADO DE ALAGOAS (AL), ADOÇÃO, PROVIDENCIA, PUNIÇÃO, AUTOR, AGRESSÃO, ESPANCAMENTO, ESTUDANTE, DIREITO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS (UFAL), COMBATE, IMPUNIDADE.
  • REPUDIO, COMPORTAMENTO, FILHO, VEREADOR, ESTADO DE ALAGOAS (AL), AUTOR, AGRESSÃO, ESTUDANTE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na manhã de hoje, registro um fato extremamente triste e lamentável que aconteceu no Estado de Alagoas, ao tempo em que apelo ao Governador do Estado e às autoridades da área de segurança pública, no sentido de garantir um acompanhamento firme e independente das diligências a serem feitas em relação ao caso que passo a explicitar.

É claro que sei que existem muitos outros casos igualmente lamentáveis no Estado de Alagoas envolvendo a violência e, de uma forma especial, a violência política, vez que Alagoas é um Estado muito tranqüilo, de pessoas generosas e pacíficas, mas sempre o envolvimento político, de um lado ou de outro, acaba fortalecendo a maldita impunidade no Estado.

Trago, Sr. Presidente, o registro, o lamento, a indignação acerca de um caso ocorrido com um jovem alagoano, o menino Lucas, um rapaz a quem chamo de menino porque tive oportunidade de conhecê-lo ainda criança. Ele é filho da Professora Leda, professora da Universidade, e de um intelectual, poeta Sidney, e mora com o avô, que tem pouco mais de setenta anos. Trata-se de um aluno qualificado e primoroso da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Estado de Alagoas. É um pianista dedicado, um menino que ama a música clássica, estando, portanto, até fora de determinados padrões de uma sociedade consumista e individualista como a nossa.

Infelizmente, no último final de semana, o nosso Lucas foi agredido covardemente em um evento público por um bando de marginais ricos. Como o Lucas não tem aqueles trejeitos necessários para ser acolhido em bandos de marginais ricos, filhos de políticos, especialmente, ele acabou sendo agredido porque o bando de marginais ricos resolveu achá-lo com cara de otário e, portanto, passou a espancá-lo covardemente. Após ser espancado, ele tentou fugir, mas o bando de marginais ricos começou a gritar pela Polícia, que pegou o menino e jogou-o no camburão, achando que se tratava de algum outro marginal.

Depois de tudo devidamente esclarecido, começa a se identificar a seiva maldita da árvore da impunidade do nosso País: a pessoa fica impune devido ao que ela é. Sem dúvida alguma, a maior tristeza e indignação do Lucas se dá pelo fato de não existir a explicação da miséria, do empobrecimento, da dor e do sofrimento, que são características dos filhos da pobreza, que, muitas vezes, vão para a marginalidade como último refúgio, porque não têm nenhuma alternativa de vida. A tristeza de Lucas, da sua família e de todos nós se deve justamente ao fato de não haver essa explicação da miséria e do sofrimento, para justificar a ação abominável e inaceitável dos seus agressores.

Sei que o Lucas vai continuar sendo um menino honesto e decente, um estudante absolutamente qualificado, um pianista de música clássica, um aluno estudioso de Direito da Universidade. Ele vai continuar lutando por justiça social e, apesar da sua timidez e do seu comportamento recluso, vai continuar lutando por aquilo que ele entende ser de fundamental importância no nosso País.

Entendo que a subjetividade humana é muito complexa e que, nem sempre, os filhos reproduzem o comportamento dos pais. Eu sei disso. Mas é evidente que esse tipo de comportamento - e, nesse caso específico, trata-se de filhos de vereadores do Estado de Alagoas - é um sintoma de que essa não é a primeira vez em que isso acontece. Esse marginal rico que agrediu Lucas já agiu assim várias outras vezes.

Portanto, manifesto a minha indignação, deixando o meu abraço grande e apertado à família de Lucas e a ele próprio, que, sem dúvida alguma, é um orgulho para todos nós, e apelo às autoridades do Estado de Alagoas, no sentido de que todas as diligências necessárias sejam cumpridas com o rigor e a firmeza necessárias, a fim de impedir que esses marginais ricos continuem agredindo todas as pessoas por confiarem efetivamente na impunidade, na proteção política de quem os sustenta nas suas respectivas casas.

É aquela velha discussão, que já tive oportunidade de várias vezes trazer a esta Casa, aquilo que os grandes e velhos humanistas espanhóis diziam: a lei, a mesma lei, deve ser flexível para o fraco e implacável para o contumaz e o forte. É isso que, sem dúvida alguma, é preciso acontecer nesse caso, em especial, e em vários outros em que personalidades políticas acham que podem fazer o que querem, em termos de violência.

O meu abraço ao Lucas! Tenho a certeza de que isso não será capaz de tirar nem a beleza, nem a limpidez dos seus olhos - a Ângela fez um artigo belíssimo no jornal -, como também a suavidade do seu sorriso, a pureza dos seus olhos e, de uma forma muito especial, a sua razão de existir, que não se vincula a nada que signifique corrupção, violência e esta seiva maldita do nosso País, que é a impunidade.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2002 - Página 11576