Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Contradita às declarações do Senador Eduardo Suplicy sobre a atuação do governo.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Contradita às declarações do Senador Eduardo Suplicy sobre a atuação do governo.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2002 - Página 11603
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, DECLARAÇÃO, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, EXISTENCIA, CONLUIO, GOVERNO BRASILEIRO, GEORGE SOROS, EMPRESARIO, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, BENEFICIO, JOSE SERRA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PSDB - RR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entendo o pânico do Senador Eduardo Suplicy por causa da leitura dos jornais e dos novos indicadores das pesquisas eleitorais em nosso País. Porém, temos de discordar de S. Exª - apesar da boa vontade, do respeito e do carinho que temos pela Oposição -, quando diz que o Palácio do Planalto, o Senador José Serra, o governo americano e as entidades internacionais participam de um complô contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Ora, por mais que o PT considere Lula importante, está valorizando-o demais ao achar que o mundo se juntou para evitar que ele seja o Presidente do Brasil, até porque as eleições ainda nem começaram. Podemos dizer que Lula talvez seja o favorito, como eram a Argentina e a França na Copa do Mundo, dois times que voltaram para casa na primeira rodada. Sendo assim, não devemos antecipar o processo eleitoral.

Temos de rebater, com veemência, a colocação de que o Senador José Serra ou o Governo brasileiro estão fazendo terrorismo. Isso não é verdade. Aliás, o PT deve saber, se pretende, algum dia, governar este Brasil, que, com a globalização da economia - o Senador Eduardo Suplicy, um economista brilhante, sabe disso -, independentemente da vontade do Governo brasileiro, de José Serra, Lula, Garotinho ou Ciro Gomes, a comunidade internacional vai fazer a leitura da realidade econômica e política do Brasil, como faz com o Afeganistão, a Argentina, o conflito árabe. O preço do petróleo sobe no mundo todo quando brigam em Israel. Enfim, atualmente, não é possível dissociar essas questões.

Temos de repelir, sim, a tentativa de o mercado ou os investidores internacionais se imiscuírem nas questões locais brasileiras. Mas, daí a dizer que o mercado não vai fazer a leitura, há uma distância muito grande.

E mais: quero saber do Senador Eduardo Suplicy qual é o PT que ataca o mercado, porque hoje o jornal Folha de S. Paulo, na coluna Painel, está dizendo que o ex-governador, assessor e um dos coordenadores da campanha de Lula, Cristovam Buarque, procurou o megainvestidor George Soros para tentar promover um encontro entre o PT e ele - o mesmo George Soros que, há algum tempo, foi atacado porque Armínio Fraga, quando foi indicado para a Presidência do Banco Central, teria trabalhado com ele.

Vê-se, portanto, que existe um PT do discurso, que condena o mercado internacional, e um PT que está procurando conversar com George Soros, talvez até para discutir a indicação do próximo Presidente do Banco Central!

É importante restringirmos essas especulações ao que realmente são: especulações. Não se pode generalizar e embutir nessa discussão o candidato José Serra e o Presidente da República. Estamos vigilantes e, se isso acontecer, responderemos à altura. V. Exª sabe da nossa postura de tentar não “eleitoralizar” o debate no Senado. Não devemos fazer isso. Mas, no momento em que for preciso colocar os pontos nos “is”, nós o faremos, com muita tranqüilidade, com muito respeito, com todo o carinho que temos pela Oposição.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Romero Jucá?

O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PSDB - RR) - Ouço o aparte de V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Romero Jucá, quero transmitir algo que é de interesse do País. É muito importante que, sobretudo, o Palácio do Planalto e o próprio Senador José Serra, que conta com o apoio do Palácio, contribuam para não gerar esse clima ao se atribuir a Lula e à preferência do povo brasileiro a culpa por fatores de instabilidade na crise, seja no que diz respeito ao valor do dólar no mercado de câmbio, seja no que diz respeito ao que está ocorrendo com as letras financeiras do Tesouro e outros papéis brasileiros. Aliás, será muito importante a presença do Ministro Pedro Malan e do Presidente do Banco Central, Armínio Fraga, no diálogo que será promovido na Comissão de Assuntos Econômicos por iniciativa nossa e de V. Exª. Que esse debate aconteça o quanto antes para dirimir esse tipo de dúvida! Que a autoridade econômica principal do Governo colabore para que haja um clima de normalidade nas eleições, permitindo ao povo brasileiro ter toda tranqüilidade para escolher o seu candidato à Presidência da República! O ex-Governador Cristovam Buarque teve uma relação de conhecimento com o megainvestidor George Soros. Não sei exatamente o que vão conversar, mas é preciso que essas pessoas que contribuíram para que houvesse grandes reviravoltas nas economias do Reino Unido e da Malásia, por exemplo - isso é de conhecimento internacional -, contenham-se para evitar que aconteça no Brasil algo parecido e que uma instabilidade maior seja gerada. Acredito que qualquer diálogo que Cristovam Buarque tenha com George Soros - se, de fato, isso ocorrer - será nesta direção: para que ele tome os devidos cuidados, porque se sabe, historicamente, que as suas ações de natureza especulativa contribuíram para uma grave crise na Malásia e também no Reino Unido. Irão dizer-lhe, provavelmente, que seja cuidadoso ao comentar a situação brasileira. Há um fato da história, Senador Romero Jucá, que nos autoriza a assim agir. Ficamos realmente preocupados quando houve a indicação à Presidência do Banco Central, pelo Presidente da República, de Armínio Fraga, que à época era um importante diretor da empresa de George Soros. Agora é preciso que se tome cuidado ainda maior. Estou convicto de que, dada a seriedade com que Armínio Fraga vem conduzindo-se à frente da Presidência do Banco Central e dada a repercussão internacional, ele próprio deve estar preocupado com o que está dizendo aquela pessoa para quem ele trabalhava. Por ocasião da vinda de Pedro Malan e Armínio Fraga, poderemos conversar melhor sobre esse assunto. A propósito, talvez, V. Exª já possa nos informar a data acordada com o Presidente Lúcio Alcântara para o comparecimento dessas autoridades à Comissão de Assuntos Econômicos.

O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PSDB - RR) - Senador Eduardo Suplicy, agradeço a V. Exª pelo aparte.

Procurei recolocar as questões da forma como as entendo. Entendo que o PT, hoje, tem um conflito interno. Cristovam Buarque não vai procurar George Soros, mas sim já o procurou e está pedindo que seja realizada uma reunião de parte do PT com ele. Espero que seja uma discussão produtiva e efetiva. Não sei qual será o assunto tratado, mas espero que o PT seja feliz nessa sua relação.

Quanto à questão da vinda do Ministro Pedro Malan e do Presidente do Banco Central, Armínio Fraga, quero dizer que, sempre, permanentemente, eles estiveram à disposição do Senado e vieram aqui inúmeras vezes. Tanto é assim que, quando houve esse princípio de turbulência ou tentativa de dizer que havia algum tipo de equacionamento errado nessa questão da desvalorização dos fundos, fui o primeiro a apresentar - V. Exª também o fez - um requerimento de convite para que o Ministro e o Presidente do Banco Central aqui viessem. Eles estão à nossa disposição. Cabe ao Presidente Lúcio Alcântara, da CAE, marcar essa audiência. Não vou marcá-la, porque não é atribuição minha; a mim compete colocá-los à disposição do Senado, e foi o que fizemos num primeiro momento.

Quanto à posição do Governo, quero dizer que todas as medidas necessárias têm sido tomadas para fortalecer os fundamentos da economia e evitar que o Brasil seja comparado à Argentina e a outros países que vivem, hoje, um drama na sua economia. O Governo brasileiro tem feito a sua parte e vai continuar fazendo. Fez a sua parte quando contingenciou, por conta da defasagem de receita decorrente da suspensão da CPMF, R$5,1 bilhões de seu orçamento. O Governo vai continuar agindo com responsabilidade durante e após o período eleitoral.

Faço votos de que o PT se encontre e que, nessa divisão interna, escolha qual PT vai prevalecer: se o do discurso de Lula e de Duda Mendonça ou o da prática do PT em determinados casos.

Estaremos aqui para debater, politicamente, todos esses assuntos no momento em que isso for possível.

Agradeço o aparte de V. Exª.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2002 - Página 11603