Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Avaliação global da realidade política mundial e, em especial, do Oriente Médio.

Autor
João Alberto Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
Nome completo: João Alberto de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Avaliação global da realidade política mundial e, em especial, do Oriente Médio.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2002 - Página 12858
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, POLITICA INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, ORIENTE MEDIO, CRESCIMENTO, CONFLITO, AMBITO INTERNACIONAL, REGISTRO, OCUPAÇÃO, TERRITORIO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DESTRUIÇÃO, CIDADE, POPULAÇÃO, AUSENCIA, HEGEMONIA, INTERESSE, CONTRIBUIÇÃO, PAZ, MUNDO.

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O SR. JOÃO ALBERTO SOUZA (PMDB - MA) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é costume acreditar que o tempo ajusta os espaços da convivência entre as pessoas. O tempo desarma paixões, arrefece ânimos exaltados, amaina agruras, favorece o esquecimento, destrói as razões dos conflitos. O tempo redimensiona verdades absolutas e recria realidades novas, fazendo-as nascer de verdades pequenas e partilhadas.

Não parece ser esse o resultado do que vem ocorrendo com o renitente, histórico, indomável e sangrento conflito entre Israel e o povo palestino. Os anos, os meses, os dias passam, e a situação se encaixa cada vez mais em uma perspectiva de exasperação, comprovam a gravidade os acontecimentos que têm castigado as duas nações durante os últimos meses. Israel arrasa cidades, moradias e vidas humanas, acionando poderosos e sofisticados meios de guerra. Palestinos revidam matando também, fazendo dos próprios corpos instrumentos de surpresa, destruição e morte. A cada novo ataque, novas incursões; a cada nova incursão, novos ataques. Ataques, vítimas e pretextos mesclam-se como em caldeira de ódios ferventes, em frêmitos de estertores e de renovados juramentos de vingança.

O horizonte de paz duradoura, quase formalizado há mais ou menos dois anos em Camp David, vem-se desfazendo, vem-se distanciando, destinado, quem sabe, a tornar-se uma miragem a atrair milhares de pessoas para a morte, na aridez de um deserto desprovido de relacionamento e de racionalidade.

A genuína paz não é fruto da ação de exércitos que aplicam tecnologia de ponta, nem de homens-bomba que se despedaçam. A genuína paz não se alicerça sobre escombros, muito menos sobre cadáveres. Funda-se, sem dúvida alguma, em verdades compartilhadas, em cessões recíprocas, em compromissos resultantes de diálogo, na compreensão da justiça real, que reconhece e respeita as verdades reais de cada povo, sem submeter a ninguém pela sem-razão da força. Homens-bomba e retaliações nada mais produzem do que a fragilização das possibilidades de retomada do diálogo e a disseminação do entendimento de que as conversações para a paz são impossíveis.

Difundiu-se no mundo, após os atentados de 11 de setembro de 2001, a idéia de um universo polarizado entre o Bem e o Mal. Há países onde mora o Bem. Há países onde se alojou o Mal. Estes e seus homens devem ser destruídos. Semelhante maniqueísmo, Sr. Presidente, Srªs e Senhores Senadores, além de visão retrógrada e tradutora de uma eugenia estapafúrdia, em nada contribui para a paz. Pelo contrário, lança bases para ações de prepotência, em defesa de políticas, de éticas, de justiças e de morais cujos únicos pilares são interesses hegemônicos.

Suplantando a justiça ou marginalizando-a com reconhecimentos parciais, não haverá possibilidade de paz. Os parâmetros da justiça estão claramente delineados no que se relaciona aos direitos do Povo Palestino. São parâmetros, são metas de domínio e de consciência de todos os povos, merecedores da solidariedade geral. Nesse contexto, deve ser rechaçado com determinação todo plano estrangeiro que vise a atingir a integridade regional árabe. Devem ser condenadas a ocupação israelense dos territórios e das cidades palestinas e sua sistemática opressão com chacinas que atingem, sem discriminação, sem dissuasão, inocentes, velhos, mulheres e crianças. Devem ser acatadas as reivindicações existenciais desse povo, representadas pelo direito de território próprio, de retorno dos refugiados, de autodeterminação e estabelecimento de um estado independente.

A paz ou é justa e ampla, ou não é paz. A avaliação global da realidade do Oriente Médio solidifica a convicção de que nem a força bruta, nem a morte serão caminho para a reversão dos acontecimentos e para o abandono da opção pela tragédia. O caminho é o diálogo, a cooperação, a disponibilidade para o reconhecimento do espaço de cada povo. O caminho é a interação das culturas e das civilizações, com fundamento nos valores humanísticos que sustentam a igualdade de todos, indistintamente.

Fora dessa perspectiva, o tempo continuará alimentando a falta de razão dos conflitos, armando as paixões, dividindo o mundo entre bons e maus, armazenando e aprofundando o ódio e o cultivo da destruição.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2002 - Página 12858