Discurso durante a 103ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento, dia primeiro de julho, do político mineiro Geraldo Freire.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento, dia primeiro de julho, do político mineiro Geraldo Freire.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2002 - Página 15559
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, GERALDO FREIRE, EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, SOLICITAÇÃO, VOTO DE PESAR, GERALDO FREIRE, EX-DEPUTADO, PESAMES, FAMILIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do Orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mal completados os 90 anos de idade, Geraldo Freire faleceu em Brasília no dia 1.º de julho, início do recesso parlamentar, tendo sido sepultado na cidade mineira de Boa Esperança. Repousa agora ao pé da serra do mesmo nome, consagrada por Lamartine Babo numa das mais belas canções populares brasileiras.

Aqui estou, nesta tribuna do Senado Federal, para registrar o falecimento e prestar uma homenagem a esse dileto amigo e companheiro de tantas jornadas na vida pública, que ele soube, como poucos, dignificar.

Ainda recentemente, há pouco mais de dois meses, nós nos encontramos no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Ele e a família estavam de volta a Brasília. Foi um encontro festivo. Geraldo estava muito à vontade, de boné, sorriso jovial, muito feliz. Abraçamo-nos com um toque de emoção, para não nos esquecermos nunca mais. Mal sabia que era o abraço da despedida. Dele guardarei sempre a memória viva por todo o infinito. Geraldo Freire, homem profundamente religioso, fez política como viveu, com ética e correção, merecendo o respeito de todos nós. E exerceu importantes cargos, como a Liderança do Governo na Câmara dos Deputados e a Presidência dessa última Casa, onde completou um mandato e cumpriu outros quatro, sempre devotado à causa pública, com isenção e honradez.

Em oração proferida nas exéquias, na cidade de Boa Esperança, o ex-Senador Murilo Badaró, Presidente da Academia Mineira de Letras, assim a ele se referiu:

Sua estatura se assemelha aos grandes cimos, aparentemente inacessíveis, mas, quando escalados, ensejam ao alpinista o encontro da simplicidade das coisas da natureza, da serenidade dos regatos que correm alegres por entre os seixos, da bela dos campos floridos, dos cafezais avermelhados pelos frutos na antevéspera da safra farturosa.

Boa Esperança era a sua cidade natal. Ali ele nasceu, no dia 29 de junho de 1912, e passou grande parte da vida. Casou-se com Hilda Vilela, ocupou seu primeiro cargo público - o de Vereador, em 1936 - e exerceu as atividades de advogado, promotor de justiça, agricultor e pecuarista. Esteve sempre muito ligado àquela aprazível cidade do sul de Minas, que tem como marco a Serra da Boa Esperança e as águas da represa de Furnas.

Nas lembranças que registrou no livro “Ao Longo da Vida”, editado em 1984, poucos anos após haver deixado a vida pública, menciona ter sido escolhido orador de turma que concluiu o Curso Primário na Cidade de Boa Esperança.

Conta que o advogado Milton Campos, então iniciando a carreira profissional, estava lá, assistiu à cerimônia e, convidado pela direção do Grupo Escolar, proferiu para os alunos uma palestra sobre o tema “A Verdade”.

Geraldo Freire fez o curso ginasial na cidade de Varginha e Muzambinho e depois ingressou na Faculdade de Direito de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

Nas primeiras férias, interrompeu o curso, casou-se e elegeu-se vereador. Exerceu o mandato, porém por pouco tempo, porque veio o golpe de 1937, e as casas legislativas, em todo o País, foram fechadas.

Ele se matriculou, então, na Faculdade de Direito de Niterói e, como prometera ao pai, concluiu o curso, passando a exercer a advocacia em sua cidade, onde cuidava também da propriedade agrícola, herdada por sua esposa, Hilda.

Quando vagou o cargo de promotor de justiça, na cidade de Boa Esperança, amigos de Geraldo Freire falaram com Milton Campos - então Governador de Minas Gerais - que o nomeou Adjunto de Promotor até a realização do concurso para o provimento efetivo do cargo.

Ele fez o concurso e, aprovado em primeiro lugar, comentou: “Fui o primeiro Promotor nomeado por concurso em Minas Gerais.”. Era o resultado dos novos tempos. Milton Campos, preocupado em democratizar o Governo, imprimia à administração a marca do respeito à lei e à igualdade de oportunidades.

Geraldo Freire era Promotor de Justiça já há sete anos quando recebeu e aceitou convite para ingressar na União Democrática Nacional - UDN, e candidatar-se a Deputado Federal. Pediu demissão e lançou-se na campanha.

Sem êxito, porém. Não conseguiu eleger-se. E o Procurador-Geral, querendo-o de volta, sugeriu que ele requeresse a reintegração na Promotoria. Mas Geraldo Freire não quis. Achava que, já tendo ingressado na política, estava eticamente impedido de reassumir o cargo. Foi advogar e cuidar das atividades agrícolas.

Na eleição seguinte, obteve a terceira suplência, mas, com a vitória da UDN nas eleições para o Governo de Minas Gerais, e a conseqüente nomeação de deputados federais para cargos de secretário, abriram-se vagas na Câmara e ele pôde exercer parte do mandato. Foi, depois, eleito para as quatro seguintes legislaturas. Seu último mandato terminou em 1979. Ele não se candidatou à reeleição, deixou a vida pública, fixou residência em Brasília, onde a família já fincara raízes, e voltou às lides de agricultor e pecuarista.

Geraldo Freire foi vice-presidente do Diretório da UDN em Minas Gerais e, com a extinção das antigas agremiações partidárias, em 1962, tomou o rumo da grande maioria dos seus companheiros, filiando-se à recém criada Aliança Renovadora Nacional. De 1969 a 1975, presidiu também seu Diretório Regional.

Afastado voluntariamente da vida pública, Geraldo Freire encontrou tempo para escrever. Além de um livro de reminiscências, Ao Longo da Vida, de 1984, publicou outros dois de ficção: Revolta das Águas, em 1994, e Vivendo e Sonhando, em 1997, os quais vieram juntar-se ao livro de poesias, de 1951, intitulado Coragem e Fé.

Fé e coragem, por sinal, nunca lhe faltaram. Foi muito devotado à Igreja Católica. Era freqüentemente convidado a falar aos fiéis. Foi provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento na cidade de Boa Esperança, presidente da Liga Agrária Católica da Diocese de Campanha, em Minas Gerais, e um dos fundadores e primeiro presidente do Grupo Parlamentar Cristão, em 1965.

Sua conhecida religiosidade fez com que, em 1963, proclamados os resultados das eleições, o então Deputado Guilherme Machado, com sua típica verve, dissesse: “A UDN fez 17 Deputados e Deus fez um: Geraldo Freire.”

Pode-se imaginar, pois, a felicidade com que Geraldo Freire recebeu do Presidente da República, Arthur da Costa e Silva, em meados de 1969, a incumbência de ir ao Vaticano como seu representante pessoal para assistir à solenidade de sagração dos novos Cardeais brasileiros.

Meio surpreso com a designação, ouviu a justificativa do Presidente da República: “Existem dois bispos leigos no Brasil: o Adroaldo Mesquita e você. Como o Adroaldo já foi a Medelin, agora é a sua vez”. Geraldo Freire e sua esposa Hilda estiveram, assim, com o Papa no Vaticano.

Coragem, ele demonstrou principalmente quando, no exercício da Liderança do Governo, na Câmara dos Deputados, viu-se envolvido no torvelinho da grave crise política de dezembro de 1968, de que resultou a edição do Ato Institucional nº 5.

Foram para ele, e para todos nós, dias muito difíceis. Ele se conduziu, no episódio, segundo sua consciência, as informações e a responsabilidade que tinha, certamente convencido de que a posição que defendia era a melhor para o desfecho da crise. Como Líder do Governo na Câmara dos Deputados, tinha o dever da lealdade - e a ele não faltou naqueles fatos que a História registra.

Esse era o Geraldo Freire com que muitos de nós convivemos aqui no Congresso Nacional e em Minas Gerais. Eu, particularmente, como seu amigo e companheiro de partido por muitos anos, primeiro na UDN, depois na Aliança Renovadora Nacional. Era, sobretudo, um homem de bem e de espírito público.

Pela retidão com que Geraldo Freire se conduziu na vida pública e pelos serviços prestados à sua cidade de Boa Esperança, a Minas Gerais e ao Brasil, requeiro seja consignado em Ata o voto de pesar do Senado Federal pelo seu falecimento, disso dando-se ciência à viúva, Hilda Vilela Freire, para que ela o transmita às filhas e genros: Gilda Maria, casada com Jacy Garcia Vieira; Glaura, casada com Lúcio Flávio Cambraia Naves; Genda Isabel, casada com Luís Augusto de Barros e Vasconcellos; Genoveva, casada com José Coelho Ferreira; e Graciana, casada com Reginaldo Roberto Mello de Oliveira.

Sr. Presidente, encaminho à Mesa o requerimento vazado nos seguintes termos:

Requeiro, na forma do art. 22 do Regimento Interno, seja consignado em Ata voto de pesar do Senado Federal pelo falecimento, no dia 1º de julho deste ano, de Geraldo Freire, ex-Presidente da Câmara dos Deputados e um dos notáveis homens públicos de Minas Gerais, e que o pesar desta Casa seja comunicado à viuva, Srª Hilda Vilela Freire, e às filhas e genros.

A justificativa está no discurso que acabo de proferir.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2002 - Página 15559