Discurso durante a 109ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manipulação da atual campanha política pela coligação que dá sustentação ao Governo Federal, alertando que o presidenciável Lula será o próximo alvo.

Autor
Lauro Campos (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. ELEIÇÕES.:
  • Manipulação da atual campanha política pela coligação que dá sustentação ao Governo Federal, alertando que o presidenciável Lula será o próximo alvo.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2002 - Página 17481
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, POLITICA INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, CAPITALISMO, REFERENCIA, NECESSIDADE, COMBATE, DEFICIT, ORÇAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • ANALISE, ATUALIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXISTENCIA, INTERESSE, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, DESTRUIÇÃO, PROGRAMA POLITICO, CANDIDATO, ESPECIFICAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, POLITICO.

O SR. LAURO CAMPOS (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Tancredo Neves dizia que o caminho da vitória política está pontilhado de cadáveres, de derrotados. Não são apenas as derrotas individuais que pontilham a estrada política, a existência e a vida dos políticos.

Com muita tristeza, quando a estrutura do poder se sente ameaçada, quando o rei fica nu, quando o povo começa a tomar consciência da natureza real da estrutura interna e internacional do poder, quando o povo, vez ou outra, escuta o Sr. George Soros, o megaespeculador, ex-patrão do Presidente do Banco Central - a quem ele deve subserviência e respeito até hoje - dizer que as eleições no Brasil são resolvidas nos Estados Unidos. Quem disse isso sabe o que está dizendo! É o Sr. George Soros. Ele sabe! Como ele resolveu o destino de uma parte do mundo? Armou um exército para invadir a União Soviética às suas próprias expensas, com dinheiro “sorificado”, com dinheiro do Soros.

Quando escutamos expressões como essas, provenientes de autoridades norte-americanas... Aquele outro disse que o Brasil está completamente falido, e o FMI não vai realizar empréstimo algum. Vai acontecer com o Brasil o mesmo que ocorreu com a Argentina e com outros países, que chegaram a tal estado de desarticulação, de desestruturação, de crise, de ruptura e de violência, porque, se a sociedade vai se despregando, se descolando, se a ideologia foi desmoralizada, se as colas que unem a sociedade vão perdendo seu poder de coesão, é a força, é a prepotência, é o despotismo e o autoritarismo que realizarão a tarefa necessária da coesão social, coesão pela violência.

E aonde vai a democracia? Democracia, democracia, quantos crimes se praticaram em seu nome! Democracia, democracia à Bush, democracia “embushada”, como esta que se instala nos Estados Unidos. E o Sr. Bush é a última flor do lácio, se lá fosse o português a linguagem usada, porque ele é a última flor de um processo iniciado logo na Segunda Guerra Mundial. É o estado militar industrial a que se referiu Eisenhower. Na presidência da República, Eisenhower alertou para o fato de que se estava formando, nos Estados Unidos, um complexo industrial militar que acabaria atingindo a democracia em cheio, e que este complexo industrial militar iria, obviamente, dominar o processo político nos Estados Unidos.

O Presidente Bush II é a última expressão e conseqüência desse estado industrial militar, que se sustentou durante toda a Guerra Fria. W. W. Rostow , assessor de presidentes norte-americanos disse: "A lógica que está por detrás das despesas crescentes de guerra dos Estados Unidos é obrigar a União Soviética a fazer o mesmo e, com isso, impedir que ela desenvolva suas forças produtivas."

Foram os Estados Unidos que perceberam que, ao longo de toda a Guerra Fria, ao longo dos mais de 20 anos após a Segunda Guerra Mundial, os US$17 trilhões gastos com a dissipação bélica tornaram a economia e a reprodução do capitalismo nos Estados Unidos tão dependentes da dinâmica da destruição que, obviamente, os Estados Unidos não poderiam viver sem mais essa.

Quando Bill Clinton começou a ameaçar, fez reduzir as despesas de guerra nos Estados Unidos e equilibrou o orçamento, prometendo que no ano 2012 a dívida pública americana, de US$5,5 trilhões, seria liquidada, desapareceria, os Estados Unidos entraram em crise. Haveria dois milhões de desempregados, de acordo com um livro chamado O Fim dos Empregos, de Jeremy Rifkin, se a Nasa fosse desestruturada.

            É obvio que o programa do Presidente George Bush foi no sentido de reverter a tendência imposta pelos democratas: a de equilibrar o orçamento.

Gar Asperovitz, Diretor da Agência para o Futuro, nos Estados Unidos, fez uma provocação: “Quando o capitalismo conseguiu desenvolver-se equilibrando o orçamento? Jamais”. É impossível desenvolver a economia e equilibrar o orçamento. Esse fato, que deveria ser óbvio para todos, foi comentado por Keynes , várias vezes, em sua Teoria Geral do Emprego, do Dinheiro e dos Juros.

O que estamos vendo é que nos impõem, por meio do FMI, a camisa de força do equilíbrio orçamentário. Como disse o Presidente Fernando Henrique Cardoso: é impossível equilibrar o orçamento e pagar a dívida externa. Está na página 242 do livro intitulado As Idéias e seus Lugares, escrito há 12 anos por Sua Excelência. O Senhor Presidente quer de nós o impossível: que paguemos a dívida externa, que tenhamos um superávit primário de R$30 bilhões e que equilibremos o orçamento. Sua Excelência escreveu, há pouco tempo, que é impossível, mas o exige de nós. Não se pode pedir o impossível de um povo a não ser por meio de violência, de prepotência, de autoritarismo.

O que estamos percebendo é que o Governo, que quer fazer o impossível, que assumiu a meta de realização do impossível - meta imposta pelo FMI -, entrou em um processo de degradação, de corrupção, que penetrou em todos os poros da economia.

A doação das empresas estatais utilizando-se nomes que eles costumam inventar para tapar os erros do passado, a privatização doada das empresas estatais é uma completa loucura, não porque aquelas empresas significassem um processo de estatização socializante. Nada disso! Nunca tive dúvidas de que não era isso. As empresas estatais não constituíam nunca no Brasil uma ameaça à economia dita de mercado, à economia individualista, egoísta, à economia da poupança privada e dos investimentos lucrativos.

Como não havia uma burguesia forte no Brasil, o Estado, tal como ocorreu no Japão a partir de 1863 e na Rússia a partir de 1900, vai produzindo a burguesia, vai aumentando a dívida externa para transferi-la aos capitalistas que estão sendo criados por ele mesmo. O Estado é capital; o Estado capitalista é capital. Foi capital mercantil durante 250 anos; depois, foi capital industrial durante mais de 100 anos; e, agora, é capital especulativo, financeiro, faz parte do mundo do capitalismo imperialista na sua fase financeira. O capital é isto: vendeu as empresas estatais para cumprir seu papel de financiador de banqueiros e especuladores. Esse é o desígnio, esse é o destino atual do Estado brasileiro.

Como capital é poder sobre coisas e pessoas, o Estado é poder sobre coisas e pessoas. Estado capitalista e capital foram formados juntos, apareceram juntos e se transformaram juntos. Quando um governo liqüida o capital estatal, está liqüidando o Poder Público, o Estado nacional. Liqüidaram o Estado nacional ao doar os capitais, ao deixar derrubar nossa soberania, que é uma proteção ao capital, e ao abrir as portas para as importações subsidiadas com nosso dinheiro, a uma taxa de juros enlouquecida, ensandecida para importar barato e destruir o resto do parque industrial e os empregos no Brasil.

De maneira que um modelo como esse não pode ter sido mentado aqui, por cabeças nacionais, brasileiras, por mais distorcidas que tenham sido no processo de deformação que sofreram nas universidades americanas, até chegarem à deformação máxima, que é o título de PhD em universidade americana.

E agora? Dizem agora que as eleições no Brasil são decididas nos Estados Unidos. Pois bem, vemos que não apenas o Estado, mas também os sindicatos, todas as organizações da sociedade civil que deveriam compartilhar do poder foram desmanchadas, desmoralizadas. Partido político acabou de ser, nessa tal de verticalização. Não existe partido político mais no Brasil. Chico Campos recuperou a razão: no Brasil, dizia ele, partido político é questão de tabuleta. E as tabuletas estão misturadas, é jacaré com cobra-d’água. É a tal da verticalização. (Risos.) Os impossíveis e os opostos se conciliam na tarefa inglória de conquistar um poder que se desmancha, que se deteriora.

É natural que ao partido no poder seja lícito, porque as leis são as que eles fazem; as leis eleitorais também são as que eles fazem, como essa do jacaré com cobra-d’água, chamada “lei da verticalização”. Verticalização de uma sociedade horizontalizada.

E agora? Restam agora esses nichos do poder político e do poder colocado a serviço do político: os arapongas oficiais, os chapas-brancas da liberdade de comunicação e de expressão. Todos eles a serviço desta desordem intitulada democracia.

Percebemos que a campanha política atual utilizou esses instrumentos, com os quais derrubaram a Srª Roseana Sarney. Foi fácil derrubá-la: bastaram algumas tramas, algumas arapucas e articulações deste poder podre. Podre poder. E a Srª Roseana Sarney, que estava em primeiro ou em segundo lugar nas pesquisas - não me lembro mais -, foi totalmente destruída. E continua a marcha do candidato chapa-branca. Naquele momento, ele pôde ficar nas sombras, não precisou mostrar que estava articulando a derrota antecipada da primeira candidata - naquela ocasião, a Governadora Roseana Sarney.

Agora, a imprensa chapa-branca, os arapongas chapas-brancas, os detratores alugados pelo Governo, os sicários de todas as origens e formas, eles, obviamente, estão preparando - e já conseguiram -, a derrota ou a redução do candidato Ciro Gomes, o segundo na linha da desmoralização programada pelo Planalto, a braços com amigos como, por exemplo, o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o Ministro Nelson Jobim, aquele que disse ser a fazenda do Presidente Fernando Henrique Cardoso um dos símbolos da Pátria, além do Hino nacional, a Bandeira e os emblemas da Pátria, para defender também as terras de “Sua Majestade”, o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

É o mesmo amigo de sempre! O leal Ministro Nelson Jobim, que está lealmente realizando essa tarefa de destruir partidos políticos, de destruir programas, de acabar com qualquer forma de junção feita por meio de ideologias e programas partidários.

Parece-me, portanto, que o início se deu com Roseana Sarney. E agora já começam a preparar - e há fumaça no ar - a desmoralização de quem? Quem restará? Luiz Inácio Lula da Silva. Ouçam o que estou dizendo: daqui a uma semana no máximo as inverdades espertas vão começar a aparecer, as mentiras bem articuladas, as acusações não provadas, mas altamente eficientes. E assim, com armadilhas, com golpes, com esses instrumentos espúrios, vão-se enchendo a estrada e o caminho da atual eleição presidencial.

O marqueteiro de Sua Majestade Fernando Henrique Cardoso veio diretamente de Bill Clinton, por quem foi emprestado. Também era o dedo do gigante norte-americano aqui nos nossos quartéis eleitorais. É triste, mas vamos esperar pacífica e ordeiramente o último passo que transforma aquele anão, aquela pessoa sem mensagem, sem carisma, que é o candidato Serra, o intelectual Serra, o politocrata Serra em um candidato que, agora, parece, até aprendeu a falar, tão entusiasmado ficou consigo mesmo e com os seus amigos, os articuladores, os armadores de arapucas e de armadilhas que destruíram os seus adversários até agora.

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva pode colocar o que resta de suas barbas de molho; ele tem de colocar de molho o que resta de suas barbas. As suas barbas são simbólicas; o Brasil, também. Estatelado, ele não tem proposta, não tem partido, não tem ideologia, não tem verticalidade. Ele não sabe dizer “não”.

Como diz o Senador Pedro Simon, “o lobo mau virou vovozinha”. Estamos diante desta pobreza humana que o abrir das cortinas eleitorais revela para a tristeza de todos nós.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2002 - Página 17481