Discurso durante a 110ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do excelente desempenho do Partido dos Trabalhadores no pleito do último domingo, destacando a vitória de Lula no primeiro turno e o aumento da bancada do partido no Congresso Nacional. Apelo para um entendimento das emissoras de televisão visando a realização de um debate único entre os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições presidenciais.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Análise do excelente desempenho do Partido dos Trabalhadores no pleito do último domingo, destacando a vitória de Lula no primeiro turno e o aumento da bancada do partido no Congresso Nacional. Apelo para um entendimento das emissoras de televisão visando a realização de um debate único entre os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições presidenciais.
Aparteantes
Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2002 - Página 18181
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, VITORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELEIÇÕES, ESTADOS, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • SUGESTÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ENTENDIMENTO, REALIZAÇÃO, DEBATE, CANDIDATO, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • IMPORTANCIA, AUMENTO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONGRESSO NACIONAL.
  • HOMENAGEM POSTUMA, SIMÕES CADAX, VICE-GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC).
  • CUMPRIMENTO, CANDIDATO ELEITO, ESTADOS, ESPECIFICAÇÃO, MAIORIA, VOTAÇÃO, REELEIÇÃO, JORGE VIANA, GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Romeu Tuma, seguindo o registro feito pelo Senador Tião Viana, quero aqui, em nome do Partido dos Trabalhadores, cumprimentar Luiz Inácio Lula da Silva; o Senador José Alencar; o Presidente do PT, Deputado José Dirceu; os nossos candidatos a Governador; José Genoíno, que disputará o segundo turno para Governador de São Paulo; Aloizio Mercadante e todos aqueles que contribuíram para o extraordinário resultado nas eleições, em que Lula sagra-se vencedor em primeiro turno na disputa presidencial.

Com 99,9% dos votos apurados, Lula obteve 39.373.922 votos; José Serra, 19.663.064 votos; Garotinho, 15.190.077 votos; Ciro Gomes, 10.116.938; José Maria, 401.117 votos, e Rui Costa Pimenta, 38.165. Esses dados correspondem a 46,4% para Lula, exatamente o dobro dos 23,2% obtidos por José Serra, candidato da coligação PSDB/PMDB; 19,9% de Garotinho; 11,9% por Ciro Gomes; 0,5% por José Maria, do PSTU, e sem uma porcentagem expressiva para Rui Costa, do Partido da Causa Operária.

Lula obteve resultados superiores aos 50% necessários em alguns Estados como: na Bahia, 55,3%; em Minas Gerais, 53%; no Paraná, 50,1%; em Santa Catarina, 56,6% -- foi o Estado onde ele obteve o melhor resultado. No Estado de São Paulo, ele obteve 46,1% contra 28,5% de José Serra, 14,1% de Garotinho e 10,6% de Ciro Gomes.

Assinale-se que, no Estado de São Paulo, houve ocasiões em que o PT não conseguiu obter um resultado tão favorável. Desta vez, houve um avanço, inclusive na capital, onde a prefeitura é de responsabilidade de Marta Suplicy, do PT.

Quero assinalar que, se algumas pessoas acreditavam que o PT poderia tornar-se uma vidraça, que receberia muitas críticas, na verdade acabou se tornando uma vitrine, porque a evolução dos resultados na história do PT em São Paulo mostra que, mais e mais, naquela capital, o Partido, em especial Lula e o próprio José Genoíno, obtiveram resultados muito positivos. Faltou pouco para que tivéssemos a consagração da vitória do Partido dos Trabalhadores já no primeiro turno.

É importante ressaltar que houve um processo democrático notável. Avançamos muito do ponto de vista da disputa presidencial, das regras estabelecidas nessas eleições. Foi importante a cobertura dos meios de comunicação e das principais emissoras de televisão e de rádio, que se esmeraram, sobretudo na cobertura da campanha presidencial, por promover oportunidades iguais aos candidatos. Assinalamos que a Rede Globo de Televisão, a Rede Record, a Rede Bandeirantes, o SBT, a RedeTV!, a Rádio Televisão e Cultura, a TV Educativa, a CNT, a TV Gazeta, enfim, todas elas tiveram a preocupação de propiciar um noticiário eqüitativo em termos de tratamento aos diversos candidatos e fizeram também questão de promover os debates para que todos eles tivessem as mesmas oportunidades para se apresentar à população.

Isso é importante porque é uma maneira de neutralizarmos os eventuais abusos do poder econômico nas eleições. Em 1994 e em 1998, por exemplo, quem estava à frente nas pesquisas de opinião -- no caso, o então Senador e, depois, Presidente, já em exercício, Fernando Henrique Cardoso -- preferiu não participar dos debates. Desta vez, ainda que liderando as pesquisas, Lula fez questão de participar dos debates nas diversas emissoras.

Não se sabe, porém, se haverá tempo suficiente para a realização de mais três debates. Talvez fosse mais adequado que as emissoras e as coligações responsáveis pelas candidaturas de Lula e de José Serra chegassem ao entendimento sobre a melhor forma de promover o debate. Nesta semana, a campanha vai ocorrer em forma de articulações e diálogos entre aqueles que chegaram à reta final e aqueles que estão considerando expressar o seu apoio a este ou àquele candidato. Embora muitos, de pronto, já tenham expressado o seu apoio a um dos candidatos, ainda há necessidade de entendimento entre as direções partidárias.

Seria adequado que as diversas emissoras de televisão chegassem a um entendimento com as respectivas coligações no sentido da realização de um debate em horário nobre. Sugiro que o debate, em vez de ser realizado a partir das 22h, como ocorreu no primeiro turno das eleições, dada a importância desta decisão para a historia do Brasil, seja realizado em cadeia nacional, com a colaboração das emissoras, com regras acordadas entre todos, por exemplo, de 20h30 às 22h30. Dessa forma, as pessoas que têm que acordar muito cedo teriam também oportunidade de ouvir a palavra dos candidatos à Presidência da República.

É a sugestão que faço às diversas emissoras, como a Rede Globo, a Rede Record, a Rede Bandeirantes, que, agora, estão tratando desse assunto, ao mesmo tempo, cumprimento-as pela maneira imparcial com que cobriram as eleições e realizaram os debates. Espero que agora cheguem a um entendimento que seja do interesse maior da população brasileira, ainda mais porque temos menos de 20 dias para as eleições.

Há uma enorme pressão nos 27 Estados, sobretudo naqueles em que ainda haverá segundo turno, para que os candidatos percorram novamente os respectivos Estados. Eles terão de se desdobrar! Como fazer isso e, ao mesmo tempo, atender à demanda das emissoras de televisão para participarem de debates? É preciso haver um entendimento de bom senso entre as partes.

É muito positivo para o Brasil que duas pessoas com o histórico e a qualidade de Lula e de José Serra cheguem à reta final; ambos foram fundamentais na luta, desde os anos 60, para o processo de democratização do Brasil. Ambos se engajaram nas lutas pelas Diretas Já, nas lutas pela ética na vida política; ambos são reconhecidos como pessoas que têm contribuído de forma relevante para a história do País, para a história de um País que quer a construção de uma Nação civilizada e justa.

Todavia, faço as minhas observações sobre o que distingue a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva da de José Serra.

Conheço José Serra desde os meus tempos de estudante. Senador Edison Lobão, Presidente Ramez Tebet, fui eleitor de José Serra quando ele se sagrou presidente da UNE. Portanto, conheço-o desde aquele tempo. Também o acompanhei nas diversas ocasiões em que, como economista, publicou artigos críticos sobre a política econômica do regime militar; e aqui mesmo, no Senado Federal. Muitas vezes interagimos.

Mas tenho a convicção de que a vitória de Lula por 46,4% dos votos válidos significa a extraordinária vontade do povo brasileiro de realizar justiça com grande prioridade.

Nas campanhas, nas suas entrevistas e nos debates, Lula enfatizou que o seu objetivo fundamental é erradicar a fome e a pobreza; assegurar a cada criança a possibilidade de, efetivamente, freqüentar a escola; assegurar que todas as pessoas, neste País, possam ter pelo menos três refeições, e que, para sua proposição de reforma tributária, atendam-se aos objetivos não apenas de maior racionalidade, mas também de realização de justiça social. Parece-me que aí há uma diferença importante no próprio debate, pois, na sua entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, assinalou José Serra que haveria, no seu ponto de vista, que se ter um foco importante - o da competitividade - como a grande ênfase na hora de se fazer a reforma tributária.

Ora, Senador Roberto Saturnino, na proposição que está no programa de governo de Lula e na proposta de reforma tributária que o Partido dos Trabalhadores tem apresentado ao Congresso Nacional, não apenas avaliamos como importantes a maior racionalização do sistema tributário e, sim, a maior competitividade para as empresas brasileiras, assinalando que é importante, para expandirmos as oportunidades de emprego no País, termos menor incidência de impostos sobre os salários e a folha de pagamento, mas consideramos importantíssima e fundamental que na proposta de reforma tributária haja o objetivo consignado da realização de justiça social, onde fique claro e muito transparente para aquelas pessoas que detêm maiores recursos e maiores rendimentos que deverão colaborar proporcionalmente mais para que possam todos os brasileiros ter a oportunidade de serem sócios deste País e de partilharem da riqueza nacional.

Assim, tenho a convicção de que, na hora de se realizarem os debates entre José Serra e Luiz Inácio Lula da Silva, esses pontos estarão melhor dirimidos para que a população, então, faça a sua escolha.

Quero também cumprimentar Garotinho, Ciro Gomes, José Maria de Almeida e Rui Costa, que contribuíram significativamente para os debates, empenhando-se com grande denodo. Considero alvissareiro que esses quatro candidatos já estejam expressando a sua propensão de estarem, no segundo turno, apoiando Luiz Inácio Lula da Silva. Parece-me que será um resultado natural. É claro que o segundo turno envolve a oportunidade de cada um dos candidatos colocarem com maior clareza toda a sua proposição, mas tenho a convicção de que o PT e Lula se sagrarão vencedores.

Foi muito importante que em José Alencar tenha havido uma colaboração tão expressiva. Lula acabou mostrando que tinha razão quando o escolheu como seu companheiro de chapa, como seu candidato a vice-Presidente, pois José Alencar deu uma contribuição notável em toda a sua campanha.

Cumprimento aqueles que foram eleitos em cada um dos Estados, em especial, assinalo o bom desempenho de Jorge Viana, do PT, que venceu no Acre como Governador, com 63,6% dos votos. Quero expressar o meu sentimento de pesar a todo o PT do Acre pelo falecimento do vice-Governador Simões Cadax, cujo velório ocorreu na data de ontem. Ele, com 82 anos e problemas de saúde, honrou o nosso Partido até este momento.

Cumprimento Jaques Wagner, que teve, na Bahia, um desempenho notável, chegando a 38,5% e valorizando a vitória expressiva do Senador Paulo Souto como Governador daquele Estado; Nilmário Miranda, que, com 30,7% dos votos, honrou tão bem o nosso Partido na disputa com Aécio Neves, o qual, com brilhantismo, sagrou-se Governador do Estado de Minas Gerais. Humberto Costa, que obteve, no Estado de Pernambuco, 34,1% dos votos, honrou ainda mais a vitória expressiva do Governador Jarbas Vasconcelos, do PMDB.

No Estado do Piauí, Wellington Dias, Deputado Federal, obteve uma extraordinária e surpreendente vitória no primeiro turno, com 51% dos votos. Nossos cumprimentos ao PT pelo seu extraordinário desempenho naquele Estado.

Benedita da Silva conseguiu aumentar significativamente sua expressão no Estado do Rio de Janeiro, com 24,4% dos votos, e por pouco não forçou o segundo turno com Rosinha Garotinho, do PSB, que obteve 51,3% dos votos.

Teremos, agora, as disputas no segundo turno e Dalva, no Amapá; José Airton, no Ceará; Geraldo Magela, no Distrito Federal; Zeca do PT, no Mato Grosso do Sul; Maria do Carmo, no Pará; Tarso Genro, no Rio Grande do Sul; José Eduardo Dutra, em Sergipe, e José Genoíno, em São Paulo, são os nossos candidatos a Governador.

Sr. Presidente, no Congresso Nacional, o Partido dos Trabalhadores avançou extraordinariamente, a começar com o desempenho nesta Casa, pois Marina Silva foi eleita no Estado do Acre; Cristovam Buarque, no Distrito Federal; Serys, no Mato Grosso; Ana Júlia, no Pará; Flávio Arns, no Paraná; Paulo Paim, no Rio Grande do Sul; Fátima Cleide, em Rondônia; Ideli Salvatti, em Santa Catarina, e Aloizio Mercadante, em São Paulo, com 10.355.075 votos - 29,8% dos votos válidos -, um desempenho simplesmente fantástico e recorde de votos no Brasil para o Senado Federal. Dessa maneira, o Partido dos Trabalhadores passará a ter quatorze Senadores - de oito, presentemente - no período 2003-2005.

Também para a Câmara dos Deputados, o Partido dos Trabalhadores, que tinha cinqüenta e oito Deputados Federais, eleitos em 1998, agora, em 2002, elegeu nada menos do que noventa e três candidatos, que muito o estão honrando.

Assim, Senador Ramez Tebet, quero cumprimentá-lo também, porque todo o Senado Federal, tendo à frente V. Exª, teve um papel notável nessas eleições. Cumprimento V. Exª pelo seu desempenho e pelo de seu Partido no Estado de Mato Grosso do Sul, mas, felizmente, o Partido dos Trabalhadores também ali se saiu muito bem, estando Zeca do PT no segundo turno.

Quero também assinalar para o Brasil que vivemos uma verdadeira festa democrática: aprofundou-se o processo democrático!

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Antes de encerrar, concedo o aparte ao meu Colega do PT, Senador Roberto Saturnino.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - O aparte, nobre Senador Eduardo Suplicy, é para cumprimentar V. Exª pelo pronunciamento oportuno e judicioso que faz sobre as eleições realizadas no último 6 de outubro. Efetivamente foi um pleito que mobilizou a atenção da população. Aliás, em pleitos anteriores não houve tamanha mobilização quanto neste, em sua profundidade. Basta observamos o índice de abstenções e de votos nulos e brancos que, nesta eleição, caiu substancialmente em relação às anteriores, apesar de grande parte do eleitorado ter sido submetido, lamentavelmente, a um sacrifício de espera, às vezes de horas, em filas de votação, quase que os convidando a não exercer o direito de voto - aliás, é mais do que um direito, é um dever. A população compreendeu a importância decisiva desta eleição para os destinos do País e votou maciçamente, com um índice de abstenção muito baixo, manifestando, flagrantemente, inquestionavelmente, um enorme anseio de mudança em relação à política - especialmente à econômica - que vem sendo adotada. Daí os resultados expressivos que obteve o Partido dos Trabalhadores. Inegavelmente, é o Partido mais caracteristicamente oposicionista a esta política neste pleito e que, certamente, verá confirmada essa tendência vitoriosa que vem, exatamente, do grande anseio de mudança e de restauração de um projeto nacional de desenvolvimento para que o Brasil tenha justiça social. V. Exª é campeão no que se refere a este assunto aqui no Congresso Nacional e em todo o Brasil. Manifesto, aqui, o regozijo, cumprimentando V. Exª pelo excelente pronunciamento. Junto-me ao esforço de V. Exª para levar a cabo todo o prenúncio de vitória que nós, do Partido dos Trabalhadores, obtivemos no primeiro turno para vermos confirmada essa tendência plenamente no segundo turno. Meus parabéns pelo discurso de V. Exª!

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Roberto Saturnino.

De parabéns estão o Brasil e os brasileiros por terem aprofundado e avançado o processo democrático em nosso País.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2002 - Página 18181