Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Importância das manifestações de apoio à candidatura de Lula à Presidência da República. Defesa dos esforços diplomáticos para evitar a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. ELEIÇÕES.:
  • Importância das manifestações de apoio à candidatura de Lula à Presidência da República. Defesa dos esforços diplomáticos para evitar a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque.
Aparteantes
Heloísa Helena, Mauro Miranda, Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2002 - Página 18322
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, RISCOS, POSSIBILIDADE, INVASÃO, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE, DEFESA, NECESSIDADE, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), BUSCA, PAZ, MUNDO.
  • MANIFESTAÇÃO, APOIO, ORADOR, CANDIDATURA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, REFORMA TRIBUTARIA, REFORMA POLITICA, PRIORIDADE, DISCUSSÃO, FIDELIDADE PARTIDARIA, VOTO FACULTATIVO, VOTO DISTRITAL, FINANCIAMENTO, FUNDOS PUBLICOS, CAMPANHA ELEITORAL, IMPEDIMENTO, PROBLEMA, ELEIÇÕES, PAIS.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de iniciar o meu pronunciamento propriamente dito, comungar com as palavras do Senador Eduardo Suplicy com relação aos riscos que o mundo corre com uma possível invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Devemos nos preocupar com essa grave situação, e a ONU tem que envidar todos os esforços no sentido de evitar a catástrofe que representará tal ataque. O mundo inteiro tem que se preocupar com essa ameaça à paz mundial.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faço também alguns comentários sobre as palavras do Senador Eduardo Suplicy com relação à eleição presidencial no segundo turno.

Mesmo antes do início do processo eleitoral e da definição dos candidatos, eu já demonstrava o meu interesse de votar em Luiz Inácio Lula da Silva. E tive o prazer de fazê-lo no primeiro turno das eleições, anunciando a Goiás e ao Brasil o meu voto. Assim também o fizeram o Senador Mauro Miranda e muitos peemedebistas de Goiás. Os três Senadores goianos irão apoiar Lula, de corpo e alma, no segundo turno, e, hoje, membros do Partido de todo o Estado estarão reunidos para decidir se o apoio a Lula será uma unanimidade. Entretanto, a minha posição pessoal já está tomada, e quero crer que também a dos Senadores Mauro Miranda e Iris Rezende. Vamos ouvir os Deputados Federais e Estaduais eleitos e os prefeitos - são cerca de 80 no Estado de Goiás -, mas a nossa intenção é de um apoio maciço do PMDB goiano à candidatura de Lula.

Todos sonhamos com um choque ético neste País, com a moralização pública, com o fim da corrupção. Todos sonhamos com novos rumos para o povo brasileiro. E sabemos que Lula está devidamente preparado, equilibrado para dar esse choque ético de que tanto o Brasil precisa e pelo qual tanto clama o povo.

Após o segundo turno das eleições, farei um pronunciamento sobre a eleição em Goiás, para que o Brasil tome conhecimento de como foi feita a campanha eleitoral no meu Estado.

Hoje, quero dizer da necessidade imperiosa que o Senado da República tem de fazer as reformas que o povo brasileiro anseia e de que o Brasil precisa, como, por exemplo, a reforma política. Precisamos discutir urgentemente a questão da fidelidade partidária. Como disse, farei um pronunciamento à Nação sobre as eleições em Goiás, mas como estou falando sobre fidelidade partidária, antecipo-me e enfatizo que o meu coordenador financeiro de campanha, prefeito de uma das principais cidades de Goiás, a 15 dias das eleições aderiu ao Governador reeleito. Então, imaginem o que mais aconteceu em meu Estado. Portanto, a fidelidade partidária é importantíssima. Há que se parar com o abuso por parte de muitos políticos que aderem, com a maior facilidade, a outros partidos, inclusive na reta final da campanha, como o caso que acabei de mencionar. A reforma política precisa discutir a fidelidade partidária, o voto facultativo, o financiamento público de campanha e o voto distrital. Enfim, são temas importantíssimos que precisam ser definidos na próxima reforma política.

Quanto à reforma tributária, quero crer que o povo brasileiro não está mais suportando tantos impostos, uma carga tributária pesadíssima, além dos encargos sociais, que também são onerosos. Isso está inibindo a geração de empregos e o aumento da produção em nosso País.

Se não fizermos a reforma tributária, o Congresso Nacional e o próprio Poder Executivo serão cobrados no futuro. É lógico que me refiro ao Poder Executivo, porque de nada adianta à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal fazer a reforma tributária se não houver a vontade política do Executivo, pois tudo depende da sanção presidencial.

Mas, na campanha política, percebi - aliás eu já vinha defendendo esta idéia há muito tempo - que a reforma tributária é imprescindível. Só assim haverá a geração de empregos, o aumento da produção e, automaticamente, das exportações e da geração de riquezas no nosso Brasil.

Na reforma política, um tema a ser tratado é o tempo destinado, na televisão, aos candidatos não só ao Governo Federal, mas ao Senado, e mesmo aos cargos proporcionais.

Também considero a reforma previdenciária importantíssima. Não podemos continuar com esse salário mínimo miserável quando sabemos que, ao mesmo tempo, há aposentadorias milionárias de ex-governadores. Essa situação precisa ser revista e, possivelmente, será discutida na ocasião da reforma previdenciária. Certamente encontraremos as soluções que a situação requer.

Mencionei as aposentadorias milionárias. Ontem mesmo eu assisti, pela segunda vez, ao filme Cidade de Deus, baseado em fatos reais nas favelas do nosso País. Fiquei novamente assustado com essa situação de pobreza, de miséria, de fome, do crime organizado, do tráfico de drogas, da participação de crianças em crimes hediondos.

Portanto, é muito importante para o Brasil a reforma política, a reforma previdenciária, a reforma tributária e outras que estão a exigir de todos uma reflexão e um esforço muito grande para que elas sejam realmente efetuadas em nosso País.

Espero que o próximo Presidente da República possa ter vontade política e ajude as duas Casas do Congresso Nacional, a Câmara Federal e o Senado da República, a implementar essas reformas tão importantes e necessárias para o nosso País e para o povo brasileiro.

O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Quero conceder o aparte, com muito prazer, ao ilustríssimo Senador Mauro Miranda.

O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - Senador Maguito Vilela, a primeira manifestação que faço nesta Casa é sobre o seu grande desempenho na disputa pelo Governo do Estado, malgrado as dificuldades que tivemos de pressões políticas, de dificuldade de tempo de televisão - como V. Exª colocou -, da estrutura do poder segurando um pleito democrático dentro do nosso Estado. V. Exª se portou como um verdadeiro estadista na condução desse pleito em Goiás. O resultado foi-lhe adverso, mas já brota em seu pronunciamento, deixando de lado as mágoas, o rancor, os ressentimentos, um novo caminhar. Primeiramente, no sentido de uma definição política para o nosso Estado de Goiás, em relação ao nosso Partido, o PMDB, o qual V. Exª tanto lutou para modificar e modernizar. V. Exª estava coberto de razão. O PMDB de Goiás hoje, ao que tudo indica, apóia a candidatura Lula. Iris Rezende, Maguito Vilela e eu, que já me havia definido desde o primeiro turno, estamos favoráveis à candidatura Lula. Como V. Exª disse, é preciso dar um choque ético neste País, encontrar um novo caminho para acabar com as distorções tão grandes que existem hoje. V. Exª colocou muito bem a questão levantada no filme Cidade de Deus e as dificuldades por que passamos hoje. Também estou para fazer um discurso, nesta Casa, sobre a definição dessa política dos candidatos à presidência da República com relação à qualidade de vida das nossas cidades, tão bem retratada no filme Cidade de Deus. Essa situação também é fruto da desorganização das nossas cidades, que acabam por induzir nossas crianças à marginalidade e à violência. Parabenizo V. Exª por virar a página das eleições de Goiás, buscando, paralelamente, novos conhecimentos, novo músculo para o seu vigor político, ajudando este País a se transformar, a encontrar um novo caminho. Parabéns pela sua disposição de luta, de determinação e pelo seu ideal de vida, sempre dentro da ética, da seriedade, da determinação. É assim que V. Exª tem construído a sua história como político, além de representar tão bem o Estado de Goiás aqui no Congresso Nacional.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço-lhe pelo aparte que enriquece o meu pronunciamento. Menciono ainda o desempenho fantástico que V. Exª tem tido como Senador da República.

Voltando um pouco ao apoio a Lula, quero deixar bem registrado aqui nos Anais da Casa que, quando terminou o 1º turno em Goiânia, no dia seguinte, às 7 horas da manhã, eu anunciava o meu apoio ao candidato Pedro Wilson, do PT, à prefeitura de Goiânia. E o fiz sem conversar com ele, sem pedir um cargo, sem fazer qualquer tipo de barganha, porque não sou político dessa natureza. Da mesma forma, estou declarando meu apoio a Lula sem sequer ter falado com ele. Nem sei se ele quer o meu apoio, o meu voto. Já votei nele no primeiro turno e vou apoiá-lo também no segundo turno, independentemente de ter conversado com ele. Não quero nada a não ser o bem do Brasil, o bem do povo brasileiro. A mim interessa novos caminhos para este País, a redução das desigualdades sociais, o fim da fome, da miséria absoluta que existe hoje nos bolsões de pobreza, nas favelas. O que interessa para mim é uma melhor distribuição de renda, é tudo aquilo que o Lula e o PT têm defendido, pontos nos quais também acredito.

O meu apoio é espontâneo, patriótico, de um brasileiro que sonha realmente com um País melhor, com mais oportunidades para todos. Enfim, é esse o meu desejo.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Concedo o aparte à ilustríssima Senadora Heloísa Helena.

A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Senador Maguito, saúdo V. Exª pelo pronunciamento. Já sabíamos do apoio do Senador Mauro Miranda e do de V. Exª. Tenho certeza de que os companheiros que compõem o Partido dos Trabalhadores de Goiás - Pedro Wilson, Marina -, todos que colaboraram com a candidatura da nossa companheira ao Governo do Estado, estão felizes com a vinda, ao nosso palanque, do grupo que se articula em torno do três Senadores. Espero que tanto V. Exª, quanto os Senadores Mauro Miranda e Iris Rezende possam estar juntos conosco nesse segundo turno. V. Exª me contou algo interessante - sei que não vai tratar ainda do debate específico da eleição de Goiás -: que o candidato do PSDB de seu Estado não foi a nenhum debate, do mesmo jeito que Fernando Henrique também não compareceu a nenhum. No entanto, agora, numa articulação típica de farsa eleitoral, o trunfo, o penduricalho que o candidato do Governo, José Serra, o “serra elétrica”, está o tempo todo colocando, como se fosse algo gigantesco, grandioso, é a chamada para o debate. Trata-se justamente de alguém que, como V. Exª sabe, nunca teve a coragem de estar aqui no plenário participando de debate algum, porque, quando voltou a exercer o cargo de Senador, nunca esteve aqui no plenário, nunca promoveu nenhum debate qualificado, nunca entrou em nenhuma disputa, nem sobre a saúde, nem sobre nenhum tema que fosse importante e relevante para a nação brasileira. Portanto, estamos felizes com a presença de V. Exªs, que estão, com certeza, animadíssimos para o segundo turno. Sabemos que não será uma eleição fácil. Estava, há pouco, conversando com o Senador Antonio Carlos Junior, que dizia que, matematicamente, é impossível haver uma reviravolta. Mas sabemos como são capazes de fazer qualquer coisa. Não sou ambientalista como minha querida Senadora Marina, mas sabemos o que uma serra elétrica pode fazer diante de qualquer árvore frondosa que aparece na sua frente. Mas, mesmo assim, somos sobreviventes e, com certeza, ganharemos essa eleição não por vaidade do Lula, do PT ou de qualquer Partido ou personalidade que nos apóiam, mas com certeza porque é melhor para o nosso querido Brasil. Portanto, manifesto a nossa alegria pelo apoio para que possamos realmente mudar este País.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço muito o aparte à aguerrida e brilhante Senador Heloisa Helena.

Os tucanos - e lá em Alagoas tem tucanos - são bicudos, papudos, gostam de fazer esse tipo de desafio, mas, na realidade, não conseguem justificar nos debates a dívida do Brasil que saltou de R$60 bilhões para R$700 bilhões. Penso que Lula deve exigir, nos debates, esta explicação de José Serra, que também é economista: como o Brasil, em 500 anos, acumulou uma dívida de R$60 bilhões e eles, em 8 anos, conseguiram elevá-la para R$700 bilhões?! Essa é uma pergunta que Lula deveria fazer a ele no debate, assim como a respeito do aumento da fome e da pobreza e dos 50 milhões de brasileiros que vivem, hoje, abaixo da linha de pobreza.

Eu gostaria que o tucano de Goiás tivesse ido a pelo menos um debate, mas ele não foi. Fugiu de todos, não compareceu a nenhum dos seis debates promovidos na televisão, na Rádio K - que inclusive foi fechada - e também na Arquidiocese de Goiânia, onde também não compareceu, alegando que debate é baixaria.

Sobre Goiás farei um pronunciamento à parte tão logo seja possível.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª, Senadora Heloisa Helena, o aparte que muito enriquece o meu pronunciamento.

Concedo o aparte ao ilustre Senador Roberto Saturnino, com muito prazer.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador Maguito Vilela, também cumprimento V. Exª pelo seu pronunciamento e pelo seu desempenho nesta campanha; um desempenho de estofo ético, de estofo moral, um desempenho elevado, que procurou, com a sua exposição ao eleitorado de Goiás, elevar o nível de cultura política, por meio do debate franco, da declaração séria e honesta. V. Exª, efetivamente, merece o nosso cumprimento e o nosso reconhecimento de fraternidade por essa posição em favor de Lula, nosso candidato à Presidência, o que confirma a tradição do grupo político a que V. Exª pertence, juntamente com o Senador Mauro Miranda e o Senador Íris Rezende. São compromissos que vêm de longa data, em relação à justiça social, ao projeto de eliminar essas desigualdades gritantes que o Brasil apresenta, compromissos com o progresso, com a restauração plena da soberania nacional. O grupo de Goiás a que V. Exª pertence e do qual é um dos Líderes tem essa tradição, o que faz com que respeitemos de há muito o desempenho de V. Exª e dos seus companheiros na lide política do País. Isso nos enche de alegria, satisfação e animação. V. Exª continuará aqui, com sua palavra sábia, patriótica e ética, colaborando com o Senado Federal. No entanto, não poderia deixar de também cumprimentá-lo pelo desempenho durante essa última campanha no Estado de Goiás e que trouxe V. Exª mais elevado no conceito que já desfrutava perante os seus colegas nesta Casa. Meus cumprimentos.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço muito o aparte a V. Exª, Senador consagrado, político respeitado em todo o Brasil, justamente pelas suas posições patrióticas, de homem idealista, que, realmente, ao longo de sua vida, tem defendido os interesses do Brasil e do povo brasileiro.

Sr. Presidente, encerro o meu pronunciamento, insistindo que esta Casa, em conjunto com a Câmara Federal, precisa imprimir a velocidade que o Brasil está a requerer para as reformas já citadas - as Reformas Política, Tributária, Previdenciária, enfim, todas as reformas -, capazes de fazer com que o País encontre novos caminhos para o povo brasileiro.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2002 - Página 18322