O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou ler, para conhecimento do Senado, o breve pronunciamento que fiz, no domingo último, no jornal A Crítica, de Manaus -- o primeiro após a minha reeleição. Trata-se do artigo intitulado “De alma lavada!”:

Acabo de ser reconduzido ao Senado pelos votos de mais de meio milhão de amazonenses. Foi, como as anteriores, obtidas em minha vida pública, uma vitória emocionante por si mesma - pois vencer será sempre prazeroso -, mas também pela forma como venci: limpamente, sem qualquer mácula.

Apenas como constatação, não por gabolice, registro que tenho sido, no Amazonas - e talvez no Brasil -, um caso raro de político que se elege, mesmo para cargos importantes, em condições atípicas, não convencionais, contrariando todas as regras do catecismo eleitoral.

Assim, não tive, desta vez como das outras, apoio de máquinas administrativas; não contei com o respaldo de caciques políticos; gastei uma insignificância, em comparação com alguns dos meus adversários; noventa por cento dos prefeitos estavam contra mim; quase todos os candidatos a deputado federal e estadual apoiavam meus competidores; e, finalmente, meu partido, o PDT, não tem militância na capital nem estrutura no interior.

Escasseiam-me sempre, portanto, os três ingredientes básicos numa eleição: poder, dinheiro e apoio político. Elegem-se geralmente aqueles que têm as três coisas ou, pelo menos, uma delas. Eu não tenho praticamente nenhuma, e é fácil explicar por quê.

Não tenho poder porque, por opção, tenho vivido na oposição a maior parte do tempo, e as poucas vezes em que estive próximo ao poder, só recolhi o ônus, porque dele não tirei proveito algum.

Não tenho dinheiro porque, além de não possuir fortuna, não uso de influência política para beneficiar empresas de laranjas ou de amigos e, portanto, não tenho financiamento de campanhas feito por empresários favorecidos por mim.

Como não tenho poder nem dinheiro, não tenho conseqüentemente apoio político, porque não tenho como ajudar, financeiramente ou com benesses oficiais, os candidatos a deputado federal e estadual em troca do seu apoio à minha candidatura. Os poucos que me apóiam o fazem em troca de nada, por amizade ou civismo.

Como, então, em circunstâncias tão adversas e contrariando todas as regras, consegui eleger-me, não acidentalmente, uma vez, mas, sistematicamente, quatro vezes vereador e senador?

A explicação está no impressionante e extraordinário fenômeno de mobilização espontânea da sociedade a movimentar milhares de cabos eleitorais voluntários, que se transformam numa gigantesca força de cidadania, incontível e imbatível, a serviço da minha candidatura. Algo que deixa o meio político confuso e perplexo. E que está a merecer um estudo no campo da ciência política.

Por isso, deixo aqui o meu comovido agradecimento aos amigos e ao povo do Amazonas, especialmente o de Manaus -- onde fui o vencedor por larga margem --, que me deu esta vitória de profundo significado e alcance, pela renovação de esperança, ao permitir a milhares de pais dizer a seus filhos: vale a pena ser decente.

Estou de alma lavada!

Sr. Presidente, solicito a transcrição, nos Anais desta Casa, deste meu pronunciamento, que espelha a mais límpida verdade do que foi a minha reeleição pelo Estado do Amazonas.

Muito obrigado.