Discurso durante a 118ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Aspectos positivos da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.

Autor
Lúdio Coelho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Lúdio Martins Coelho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Aspectos positivos da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2002 - Página 18735
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, VITORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, REALIZAÇÃO, REFORMA POLITICA, REFORMA TRIBUTARIA, REFORMA JUDICIARIA, AUXILIO, ATUAÇÃO, CANDIDATO ELEITO.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, ESTABILIDADE, ECONOMIA, CONTROLE, INFLAÇÃO.
  • EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, CANDIDATO ELEITO, REALIZAÇÃO, COMPROMISSO, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, MELHORIA, ECONOMIA.

O SR. LÚDIO COELHO (Bloco/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acompanhei pela imprensa, principalmente pela imprensa falada, os mais variados tipos de comentários a respeito das últimas eleições. É a oportunidade de ouvirmos a grande quantidade de cientistas políticos que estão surgindo em nosso País.

O resultado dessas eleições no Brasil é um campo muito vasto para o exame dos senhores cientistas políticos; como o povo desta Nação brasileira, de vez em quando, dá lições.

Assistimos à eleição do Presidente da República. Um operário, oriundo de uma remota cidade de Pernambuco, faz esse percurso por São Paulo e alcança a Presidência da República desta Nação extraordinária capaz de uma virada tão profunda: a substituição, sem maiores conseqüências ou agitações, de um governo capitalista, liberal e intelectualizado por um governo de um operário. Tal fato representa bem o espírito pacífico do povo brasileiro.

No entanto, o povo brasileiro foi cauteloso; entregou a Presidência da República ao Sr. Lula e deixou quase todos os Estados governados por Partidos de Oposição ao Presidente eleito. O povo repetiu a confiança em dois Estados de representação política relativamente pequena, mas importantes, como o meu Mato Grosso do Sul e o Acre, e entregou também o Piauí. Contudo, retirou do Partido do Presidente eleito o governo de um dos Estados mais importantes do nosso País.

Ontem, quando da visita que S. Exª. o Presidente eleito fez aos diversos Poderes da República, estava em meu gabinete dando uma olhada em uns documentos. Encontrei discurso feito por mim, no começo do ano passado, em que falava da importância do entendimento entre os Poderes da República para fazermos as reformas que são consenso entre a classe política brasileira. Também encontrei pronunciamentos de inúmeros Senadores falando sobre a necessidade das reformas. Não entendemos, portanto, por que elas não acontecem.

Talvez seja o momento de o País efetuar as reformas básicas: política, tributária e judiciária. Além disso, também devemos aproveitar a oportunidade para fazermos a reforma que a Nação brasileira está tão necessitada: a do comportamento humano.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu a estabilidade econômica - estamos com a moeda estável -, conseguiu controlar a inflação, conseguiu levantar o endividamento do País de todas as áreas - Estados, Municípios e autarquias - e está começando o crescimento econômico.

Um dia desses, falando com pessoas ligadas a mim, disse que a não-eleição do candidato ligado ao Presidente Fernando Henrique Cardoso significava uma espécie de fadiga que dá em peças de máquina - não quebra, mas fadiga: a população brasileira se fatigou do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Basicamente, todo os candidatos afirmaram a manutenção dos pontos essenciais do atual governo: estabilidade econômica, superávit primário e os princípios básicos que geram a economia familiar equilibrada, ou seja, gastar de acordo com suas receitas.

Por duas vezes, fui prefeito de Campo Grande. Naquele tempo, não existia esta lei tão importante que é a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas eu afirmava, permanentemente, que a minha administração seguia os princípios da administração familiar. Na administração familiar, ninguém pode gastar mais do que percebe, sob pena de trazer o desequilíbrio ao lar: os filhos saírem de casa e envolverem-se com drogas, a mulher largar o marido. Numa nação desequilibrada, com inflação, aumenta a desordem. Penso que essas eleições propiciarão o entendimento entre as lideranças do nosso País.

Há cerca de dois anos, o Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva estava pescando no rio Paraguai, em Porto Murtinho. Como Presidente do PSDB do Mato Grosso do Sul, entendi que deveria visitá-lo, pois ele era o Presidente do maior partido de Oposição do Brasil. O Governo Fernando Henrique Cardoso passava por um período muito difícil, e eu disse ao Senhor Lula a respeito da importância de tentarmos construir um governo de coalizão nacional. Ao final da Era Vargas, apesar do radicalismo da Oposição, o Brasil conseguiu formar um governo de coalizão nacional que deu sustentação política ao Presidente Dutra. Eu disse ao Senhor Lula que aquela era a oportunidade de nos entendermos. E ele afirmou que estivera com o Presidente Fernando Henrique, que ficou de convocá-lo para uma conversa posteriormente, mas que isso não ocorreu, pois setores do governo estavam dificultando esse entendimento.

Precisamos desse entendimento. O País vive uma situação de tranqüilidade, mas o endividamento brasileiro é extremamente elevado em relação à produção das nossas riquezas. Estamos numa espécie de concordata, pois o cumprimento dos compromissos assumidos pela Nação brasileira depende de um governo persistente, competente, responsável, que encontrará dificuldades ao cortar benefícios, cortar gastos. Somente um consenso nacional será capaz de nos levar a pagar nossas dívidas e levar a família brasileira a aceitar as dificuldades que serão impostas para que isso seja feito.

Penso que o mundo capitalista, dentro de dois ou três anos, haverá de fazer uma ampla renegociação, viabilizando as nações mais endividadas para que elas possam cumprir seus compromissos. Somos muito importantes para o mundo capitalista, somos 170 milhões de habitantes. O nosso crescimento é essencial para que tenhamos capacidade de importar mais e de pagar os juros de nossa dívida. De nada adiantará essa política de juros elevados, se as nações não tiverem condições de honrar seus compromissos. Tenho impressão de que o mundo capitalista criará condições para que países como o Brasil, Turquia, Rússia, Argentina e tantos outros tenham condições de cumprirem seus acordos.

E, assim, nós estamos dando um exemplo extraordinário de compreensão humana, somos uma democracia nova que viabiliza a ascensão à Presidência da República de uma pessoa de origem humilde, um trabalhador. Esta é uma nação privilegiada, é uma nação tolerante. Aqui, graças a Deus, é muito diferente do continente africano, da região árabe-israelense, da própria Rússia, onde a corrupção e a violência campeiam. No Brasil, às vezes, fazemos um grande movimento contra a violência - e, efetivamente, precisamos combatê-la com energia -, mas a nossa violência não tem a profundidade daquela que ocorre em outros países.

Companheiros Senadores, não sou cientista político, mas quis fazer um discurso sobre um assunto que os cientistas políticos estão dando muitos palpites. Quem sabe um de meus palpites também possa ajudar a Nação.

Muito obrigado!

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2002 - Página 18735