Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solidariedade ao Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pela sua posição de priorizar o combate à fome.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Solidariedade ao Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pela sua posição de priorizar o combate à fome.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2002 - Página 19636
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, DEMOCRACIA, BRASIL, CONGRATULAÇÕES, POPULAÇÃO, PAIS, RESULTADO, ELEIÇÕES, REFORÇO, ESTADO DEMOCRATICO.
  • CONGRATULAÇÕES, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, DISCURSO, DECLARAÇÃO, COMPROMETIMENTO, PRIORIDADE, GOVERNO, COMBATE, FOME.
  • EXPECTATIVA, ORADOR, MANIFESTAÇÃO, APOIO, CONGRESSO NACIONAL, POPULAÇÃO, PAIS, AUXILIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ALCANCE, OBJETIVO, TRANSFORMAÇÃO.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil viveu a sua grande festa democrática, com a eleição presidencial que levou ao Governo Federal Luiz Inácio Lula da Silva. A festa consolida décadas de luta pelo revigoramento da democracia, encerrando o ciclo autoritário. Há muito o que celebrar dos resultados das urnas, tomando a eleição pelo eixo nacional de um país em busca de sua identidade democrática.

Foram quatro décadas de avanços e recuos, de aberturas e de retrocessos, que permitiram amadurecer no Brasil um tipo de política aberta ao mais abrangente diálogo, tendo como base a idéia já antiga de mudanças, preconizadas desde os tempos das reformas de base, no Governo João Goulart.

O País exauriu todos os modelos de desenvolvimento que serviram, ao longo da história, para remunerar o capital dos ricos e para fazer mais ricos, enquanto milhões de brasileiros permaneceram pobres, parte deles miseráveis, sem acesso a terra, sem trabalho, sem moradia, sem ter o que comer, enfrentando a ronda da morte.

Um país de privilégios, onde os direitos constitucionais são postergados, e as políticas públicas rareiam, como dádivas a prender pela dependência e pela subalternidade grande parte do povo brasileiro.

A eleição do Presidente Lula põe fim a essa visão equivocada de progresso, que enumera conquistas econômicas, mas deixa à míngua as vítimas da questão social. Pouco importa ao povo um lugar de destaque entre os países ricos, se a pobreza continua avassalando a população, estigmatizando-a como uma massa de desvalidos e esfomeados.

Por isso mesmo, repercutiu em todo o Brasil o pronunciamento do Presidente eleito, o primeiro que fez após sua retumbante vitória, o de priorizar o combate à fome, seguido do desejo de ver o povo, todo ele, comendo três vezes por dia, todos os santos dias.

Atento e emocionado, o povo ouviu um dos seus mais autênticos filhos, que experimentou os ritos do sofrimento, desde que abandonou sua terra - Pernambuco - para buscar trabalho e sobrevivência em São Paulo, que ofereceu sempre oportunidade à mão-de-obra abundante do Nordeste.

A fala inaugural, cercada de expectativa, repleta da emoção pelas vitórias pessoal e política do novo Presidente, deu ao Brasil um alento, restaurou a confiança nos poderes públicos, valorizou a atividade política e colocou bem às claras o tema da fome como proposta de debate e de trabalho sem os velhos preconceitos que cercaram alguns temas sociais, transformando-os em verdadeiros tabus.

Má conselheira, como ensinou Indira Ghandi, a fome campeou no Brasil, humilhou o seu povo, inferiorizou e banalizou a vida, sem que houvesse da parte dos poderes públicos mais do que medidas paliativas. Agora, felizmente, a fome parece estar com seus dias contados, em honra da dignidade do povo brasileiro.

O combate à fome não é simples, nem fácil, mas começar por ele é um bom indício para um Governo nascido nas urnas, ungido democraticamente como legítimo e que está destinado a cumprir um papel de ponte entre o passado e o futuro, entre a vergonha e a esperança, entre o medo e a felicidade.

O combate à fome, prometido pelo Presidente eleito, é mais que uma antecipação de prioridades, é mais que um resgate de compromisso de campanha, é um símbolo que marca, em seus primeiros passos, um novo Presidente, como um guia, um líder, com todas as suas responsabilidades perante seu povo.

Está na tradição indígena o papel dos líderes para manter vivo o espírito das suas nações. Um deles, Nhara, foi ao sacrifício para que nunca faltasse o alimento para a sua tribo. Está na história do milho, entre indígenas do norte do Brasil, o princípio da autoridade, que resguarda os interesses sociais, antes de tudo; interesses que começam pela sobrevivência, que a comida garante, na mais antiga das recorrências humanas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revisita, assim, o que de mais íntimo e profundo tem a cultura brasileira, buscando inspiração para o seu Governo, voltado para saudar débitos com o povo, na maior de todas as dívidas acumuladas pelo país. Enfrentar e vencer a fome é um desafio sem tamanho, uma causa a despertar toda a sociedade, continuamente, em lugar das boas ações que homens iluminados, como o sociólogo Betinho, empreenderam e ainda empreendem para minorar o sofrimento dos mais pobres.

O anúncio formal do combate à fome pelo Presidente eleito do Brasil, ainda que seja iniciado a partir de janeiro de 2003, certamente inspirará a corações e mentes de boa vontade a que façam com que o povo brasileiro tenha um natal mais feliz neste ano que está findando; um natal solidário, um natal sem fome, um natal da esperança e da fraternidade.

Certamente, os partidos que representam os Estados e o povo brasileiro no Congresso Nacional saberão trazer a sintonia conquistada nas urnas, captada nas múltiplas manifestações de vontade, auscultada pelo coração emocionado pela necessidade de se mudar o País e saberão ajudar o Presidente Lula a promover todas s reformas que tenham no centro a vida, como destinação do processo de desenvolvimento.

Foi o Papa Paulo VI, com sua encíclica Popularum Progressio, em 1967, quem definiu que o desenvolvimento é o novo nome da paz, chamando a atenção do mundo para a questão social. Lastimavelmente, o mundo pouco mudou. As palavras do papa não foram ouvidas e nem consideradas em grande número de países, onde a fome esmaga as suas populações, e a paz continua sendo um sonho, alimentado pacientemente.

Também no Brasil, o modelo concentrador de rendas tornou mais fundo o fosso entre ricos e pobres. As desigualdades continuam aviltando a história de populações inteiras, marginalizadas pela falta de oportunidades. Pacato por índole, resignado por formação, o povo brasileiro conteve as suas energias e esperou pelas promessas da classe política, de prosperidade e de justiça social.

A eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a resposta aos anseios públicos, é a recuperação da confiança na palavra empenhada, é a certeza de que o homem do povo será fiel ao povo.

O combate à fome pode e deve ser a marca com a qual o novo Governo honrará o Brasil e os brasileiros, descortinando um amanhã radioso, capaz de projetar sua luz possante sobre todos, desde os mais isolados do Norte, os povos da floresta, até os tradicionalistas do Sul, com seu modo próprio de viver e de combater, passando por todas as regiões do País, especialmente pelo Nordeste, onde a pobreza, a miséria e a fome produzem a degradação da vida e de onde saiu para superar todos os obstáculos e para vencer o Presidente eleito.

Sendo, como o sou, de um Estado nordestino - Sergipe, que volto a representar na próxima legislatura, graças à generosidade do seu povo - e sendo de um partido que tem como lema o socialismo, manifestar a minha total e irrestrita solidariedade ao Presidente eleito Lula, pelo anúncio do combate à fome como prioridade do seu Governo, e meu apoio nesta Casa, para que as medidas necessárias sejam aprovadas e entrem em vigor, com seus efeitos justiceiros.

Penso que a sociedade brasileira acompanha interessada e estará somada ao Presidente, ao lado da classe política, para o mutirão indormido contra a fome, como ponto de honra, como problema central do País, maior e mais urgente que todos, porque um problema do povo, da sua sobrevivência, da sua vida.

Felicito, assim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, saudando, mais uma vez, a sua vitória, da qual participei intensamente desde o primeiro turno, e desejando que ele cumpra, com firmeza e determinação, a sua vontade de acabar com a miséria e com a fome e servir, na mesa brasileira, três dignas refeições ao povo.

Quero, por fim, citar um poeta popular da minha terra, nascido e criado em Laranjeiras, a rica zona do açúcar, João Silva Franco, que, apesar do sobrenome, descende de escravos. É de sua autoria a bela trova, refutando as sentenças de Paulo, o apóstolo:

Quem não trabalha não come,

É conversa muito falha,

Porque só vemos com fome

O povo que mais trabalha.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2002 - Página 19636