Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

APOIO A INTENÇÃO DO PRESIDENTE ELEITO LUIS INACIO LULA DA SILVA DE PROMOVER AUDIENCIAS POPULARES COMO FORMA DE MANTER SINTONIA COM AS NECESSIDADES DA POPULAÇÃO.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PROGRAMA DE GOVERNO.:
  • APOIO A INTENÇÃO DO PRESIDENTE ELEITO LUIS INACIO LULA DA SILVA DE PROMOVER AUDIENCIAS POPULARES COMO FORMA DE MANTER SINTONIA COM AS NECESSIDADES DA POPULAÇÃO.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2002 - Página 21646
Assunto
Outros > PROGRAMA DE GOVERNO.
Indexação
  • APOIO, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, GARANTIA, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, POSTERIORIDADE, POSSE, DEBATE, DISCUSSÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • SUGESTÃO, FUTURO, GOVERNO, VIAGEM, REGIÃO SUBDESENVOLVIDA, PRODUÇÃO AGRICOLA, NECESSIDADE, DEBATE, POPULAÇÃO CARENTE, AGRICULTOR, PECUARISTA, TRABALHADOR, INDUSTRIAL, COMERCIANTE, MELHORIA, SITUAÇÃO, PAIS, CONSOLIDAÇÃO, POLITICA, CANDIDATO ELEITO.
  • REGISTRO, DADOS, FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV), AUMENTO, ECONOMIA, OCORRENCIA, DESVALORIZAÇÃO, REAL, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, MELHORIA, ECONOMIA NACIONAL.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a imprensa divulgou nesta semana a intenção do Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, conceder audiências populares no Palácio do Planalto depois de sua posse. O método parece não estar definido, mas a idéia central é abrir as portas do Palácio para o que o Presidente receba, periodicamente, pessoas do povo para discutir reivindicações e problemas.

É claro que os setores preconceituosos da elite que analisam a política nacional rotularão a iniciativa de “populista”. Na verdade, trata-se de uma medida de grande significado social e político e que não carrega em si nenhum aspecto de oportunismo.

Esse tipo de atitude é o reflexo da personalidade e do jeito de ser do novo Presidente. Se, durante toda a vida, Lula praticou o diálogo com a população, especialmente com os mais carentes, por que deixaria de fazê-lo após assumir a Presidência da Republica?

O contato direto com o povo é bom por vários aspectos. Primeiro, porque o Presidente cria uma ponte direta com a sociedade, sem passar pelo filtro da burocracia, que às vezes emperra soluções simples. Nesse tipo de audiência, é possível ao governante tomar conhecimento de muita coisa que está ocorrendo no País e que precisa de solução urgente.

Sou favorável não apenas a essa iniciativa e acredito que o Presidente deve ir mais longe. Além de receber pessoas do povo em sua casa ou no Palácio, deve sair pelo País, visitando os grotões de pobreza e as regiões de produção agrícola. O Presidente e todos os ministros deveriam percorrer o País, conversando com o povo, os agricultores, os pecuaristas, os trabalhadores, os miseráveis, os famintos, os pobres, enfim, todas as camadas sociais.

É importante ao Presidente conhecer de perto todos os problemas do País: a angústia dos produtores rurais, que não sabem como será a política de financiamento para o ano que vem; o caos das rodovias federais, confirmado pela nova rodada de pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, divulgada ontem e que mostra que quase 60% das nossas rodovias continuam em estado precário. Quem sabe se um Presidente da República ou um Ministro dos Transportes, andando nesses trechos quase intransitáveis, possa mudar essa situação?

É importante que o Presidente e os Ministros conheçam a realidade do País, ouvindo o povo no Palácio e visitando cidades e Estados, conversando com industriais e comerciantes, conhecendo os anseios e as necessidades das pequenas empresas, que precisam ser apoiadas pelo Governo porque cumprem um papel essencial no País. Metade dos empregos formais do Brasil é gerados pelas micro e pequenas empresas com até 100 funcionários.

Sr. Presidente, há ainda o aspecto político. A simbologia do povo no poder é forte e será importante na consolidação do apoio político ao novo Presidente. Não há dúvida de que a popularidade de Lula será fundamental para que se criem condições de tomar as medidas contra a crise que já se instalou no País. Levar o povo para dentro do Palácio é estabelecer uma relação de necessária cumplicidade com a sociedade, que também terá um importantíssimo papel na superação das dificuldades que a economia impõe a todos. A crise é real e dá mostras de caminhar para um agravamento preocupante.

As notícias da economia divulgadas ontem não são nada animadoras. O dragão da inflação ensaia colocar o pescoço de fora. O IPCA, índice oficial do Governo que baliza a inflação, fechou em 1,31% em outubro, o dobro do índice registrado em setembro, que foi de 0,72%.

O IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, chegou a 4,21%, o maior valor desde janeiro de 1999, época do início da desvalorização do real.

O IPC, medido pela Fipe, registrou 1,55% na primeira semana de novembro. Também o índice mais alto desde agosto de 2000. A inflação tende a fechar o ano acima de 10%, o que seria o maior índice nos últimos oito anos.

Será preciso coragem e apoio para que o novo governo tome as medidas necessárias para consertar o equivocado rumo tomado pela economia nos últimos anos no Brasil. Mais do que isso, será preciso sensibilidade política e social, qualidades que o Presidente eleito sempre demonstrou possuir com sobras.

Se há algo correto dito pelo Presidente Fernando Henrique, nos últimos dias, foi justamente a sugestão que deu ao Lula. Segundo FHC, Lula precisa apenas ser ele mesmo para fazer um bom governo. Se Lula precisa ser ele mesmo, não pode mudar o seu estilo.

O Lula que o Brasil conhece e que conhecemos; o Lula em quem a grande maioria dos brasileiros depositou todas as suas esperanças nessas eleições, é o Lula que se desenha nesse período de transição. É o Presidente popular, que dribla o protocolo para estar junto ao povo e que acena com uma maneira diferente de exercer o poder. É o Presidente que quer aproximar o Governo da sociedade, recebendo as pessoas e viajando internamente para conhecer o País real em que vivemos e que o atual Governo, infelizmente, insistiu em desconhecer.

Se os analistas começarem a criticar, a solução é simples: convide-os também a estarem no Palácio, a assistirem a uma das audiências populares e a viajarem também pelas regiões mais pobres do País. Seria bom que os analistas que estão a criticar esse posicionamento do Presidente recém-eleito também viajassem com ele pelo País, que conhecessem o Brasil real, os grotões de pobreza, que conhecessem, enfim, a realidade em que vivem os brasileiros.

Tenho a certeza de que serão convencidos pelos fatos de que o preconceito é sempre nocivo e de que é necessário um pouco mais do que o exagerado academicismo para solucionar os problemas brasileiros.

Como eleitor, confesso que a minha esperança cresce a cada dia, a cada nova atitude do Presidente eleito, a cada nova declaração, a cada novo sinal emitido por ele na direção do que será o seu Governo.

Estou convencido de que o povo brasileiro, que depositou todos os seus anseios e esperanças no novo Presidente, dando a Lula a segunda maior votação que um presidente recebeu em toda a história do mundo, não irá se decepcionar, como aconteceu inúmeras vezes.

A nós, ao Congresso, cabe também um papel de muita responsabilidade. É importante garantirmos a governabilidade, emprestando apoio às medidas do novo Governo sem nada exigir. Esta é uma atitude que deve ser tomada não em função de negociações políticas. Será uma atitude de patriotismo e de amor ao País.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Maguito Vilela, peço a V. Exª um aparte.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Concedo um aparte, com muita honra, ao ilustre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero cumprimentar o Senador Maguito Vilela pelo seu pronunciamento de saudação à forma como o Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva vem anunciando as suas primeiras medidas e a sua disposição já neste período de Governo de transição. A disposição anunciada por Lula é a de dialogar com todos os segmentos da sociedade, realizar audiências públicas, inclusive no Palácio do Governo. Também nas suas viagens, Lula sempre tem expressado o quanto gostaria que o Governante pudesse estar onde estão os problemas, a população mais sofrida, para ouvir a voz daqueles que, por tanto tempo, estiveram sem conseguir externar, aos que detêm a principal responsabilidade pela tomada de decisões neste País, no que diz respeito à forma de funcionamento de nossas instituições e também ao que é feito do dinheiro público que, em verdade, é do povo. Quando o Presidente Lula, há poucos dias, reuniu o que se poderá constituir no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - ali estavam presentes empresários; trabalhadores; membros do MST; da grande e da micro empresa; dos setores financeiros; da Bovespa; da Fiespe; da CNI; das entidades rurais e, também, das entidades sindicais, como a Força Sindical; a Central Única dos Trabalhadores e demais - em verdade, sinalizou para a grande abertura que deseja realizar, como um Presidente que quer ouvir as pessoas e, na medida do possível, chegar a um consenso ou, quando da tomada de decisões, seja depois de ouvir as entidades que mais questões relevantes tenham a dizer a respeito. Portanto, assinalo o quão importante é que V. Exª, como um Senador por Goiás, que tem experiência como Governador, aqui assinale a sua boa vontade e o seu apoio a essas diretrizes iniciais de Lula. O fato de Lula ter tido praticamente 62% dos votos válidos no segundo turno hoje representa um exemplo para o mundo, pois ele é um Presidente progressista, com uma história fantástica de construção do Partido dos Trabalhadores, que conseguiu uma vitória em uma eleição democrática. Aqui é interessante lembrarmos episódios ocorridos na América Latina, no início dos anos 70. Salvador Allende foi eleito não pela maioria absoluta. Assim, criaram-se aquelas raízes que, depois, levaram à utilização do argumento de que ele não poderia governar porque não tinha maioria absoluta. Nessa ocasião, não havia ainda o sistema de dois turnos no Chile. Outros governantes eleitos, da Guatemala, do Peru, da Venezuela ou de outros países, acabaram tendo enormes problemas ou foram derrubados por golpes militares. Mas é importante verificar que a legitimidade da eleição de Lula é de tal ordem que até mesmo aqueles que não votaram nele hoje têm uma atitude de boa vontade. Esse, certamente, será um fato estimulador para que ele venha a concretizar os seus principais propósitos - e com os quais V. Exª tem estado de acordo. Lula tem ressaltado que, em primeiro lugar, irá priorizar o combate à fome, à miséria e suas primeiras medidas serão no sentido de atingir esse objetivo maior, ao lado da criação de empregos e a promoção de um crescimento com justiça para valer. Meus cumprimentos.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Senador, agradeço a V. Exª. Seu aparte enriquece o meu pronunciamento. Espero que o futuro Presidente fique rouco de ouvir, ouça muito, pois quem ouve muito erra menos.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2002 - Página 21646