Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DEFESA DA CONVOCAÇÃO DE UMA CONVENÇÃO NACIONAL EXTRAORDINARIA DO PMDB PARA DELIBERAR SOBRE O APOIO AO GOVERNO DE LUIZ INACIO LULA DA SILVA.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • DEFESA DA CONVOCAÇÃO DE UMA CONVENÇÃO NACIONAL EXTRAORDINARIA DO PMDB PARA DELIBERAR SOBRE O APOIO AO GOVERNO DE LUIZ INACIO LULA DA SILVA.
Aparteantes
Maguito Vilela.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2002 - Página 22278
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REGISTRO, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), IMPORTANCIA, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • DEFESA, CONVOCAÇÃO EXTRAORDINARIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CONVENÇÃO NACIONAL, DELIBERAÇÃO, IMPORTANCIA, APOIO, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE, SENADOR, DEPUTADOS, GOVERNADOR, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PARTICIPAÇÃO, REUNIÃO, DEBATE, SITUAÇÃO.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago a esta tribuna o grande debate que se trava hoje dentro do nosso Partido, o PMDB. Mais uma vez enfrentamos o dilema de ser ou não governo, que vem desde o Governo José Sarney. Naquela ocasião, por um acordo, alguns membros do Partido foram servir a administração como ministros, o que se repetiu no Governo Fernando Henrique Cardoso, quando o PMDB também resolveu participar do Governo, ocupar alguns Ministérios. Mas tudo isso sempre de forma muito mal resolvida, sem democracia interna nas decisões. É importante, portanto, até seguindo o exemplo do Partido dos Trabalhadores - embora este seja, às vezes, criticado pelo excesso de democracia -, tentarmos buscar mais democracia para o nosso Partido, na hora de tomar uma decisão como essa, de ser ou não governo.

A democracia é necessária e indispensável. Sou a favor de fazermos uma parceria e apoiarmos o Governo Lula - como apoiei no primeiro e no segundo turnos -, mas que isso ocorra de uma forma muito tranqüila, com a consciência de toda a comunidade do nosso Partido.

O PMDB tem uma história maravilhosa a favor da democracia brasileira, pelo fim da ditadura. E como segundo ou terceiro partido deste País, o PMDB tem de dar um exemplo de grandeza e chamar todos os seus membros para uma reconciliação interna, para uma tomada de posição firme, para um lado ou para o outro. É importante que toda a base partidária se manifeste, e não apenas duas ou três pessoas, as Lideranças principais - o Líder do Senado, o da Câmara, o Presidente do Partido -, que, pelo resultado eleitoral, não correspondem ao que pensa a maioria do nosso Partido político.

É relevante, hoje, uma convenção extraordinária do nosso Partido para discutir a adesão ou não ao Governo Lula. Vou lutar na convenção, se ela acontecer, farei todo o possível para que ela se consolide, se afirme a favor de um apoio a Lula, em uma hora tão importante, de tantas esperanças para tantos brasileiros. Mas é necessário que essa decisão seja democrática, seja da maioria absoluta, que seja consultada toda a base, que sejam consultados todos os segmentos, em todos os Estados brasileiros, porque, a partir daí, não se poderá falar que houve fisiologismo, ou acordos com um determinado Líder, ou compra de votos, essas coisas que ainda existem na política brasileira, mas que precisam acabar. Chega de barganha, chega de troca e conversa de pouca gente, sem democracia, sem abertura, sem assembléia para discutir, porque isso gera um tipo de convívio que não é sadio.

Desta forma, é importante o PMDB aglutinar-se outra vez, fazer a convergência de todas as suas forças. É importante que um dos maiores partidos do País, com uma história espetacular, resolva, de forma diferente - com a decisão das bases partidárias -, se fará parceria ou não com o Governo de Lula, ou seja, se deseja estar ou não no Governo.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Senador Mauro Miranda, V. Exª me concede um aparte?

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Com todo prazer, Senador Maguito Vilela.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Quero cumprimentá-lo pela oportunidade do seu pronunciamento e dizer que V. Exª tem razão. O Partido tem que aprender a agir democraticamente e a colaborar com a democracia brasileira. Para tanto, tem que agir interna corporis também de forma democrática. O PMDB sempre foi dirigido por duas, três, quatro, cinco ou, no máximo, seis pessoas. As grandes decisões do Partido sempre foram tomadas por um número muito reduzido de Líderes. O Partido tem que aprender a deixar a grande maioria tomar decisões. O PMDB continua sendo o maior partido do Brasil: tem a maior bancada no Senado, uma das maiores na Câmara, o maior número de prefeitos, vereadores, deputados, e assim por diante. É, portanto, um partido que tem que dar exemplos ao Brasil. Assim, para apoiar ou não o governo de um outro partido, tem que ouvir a maioria. Essa não é uma decisão simples, pois vai valer por quatro anos. O PMDB participou dividido das últimas eleições: metade apoiou o Lula; a outra metade apoiou o Serra. Como é que agora três, quatro ou cinco pessoas vão decidir o destino do Partido? Temos que fazer uma convenção, temos que convocar todo o Partido - de norte a sul, de leste a oeste - e a vontade da maioria tem que ser respeitada. Se a grande maioria, ou a maioria, optar pelo apoio ao Governo Lula, ótimo! Caso contrário, vamos respeitar também. Desde o primeiro momento defendi a candidatura Lula. Defendo o apoio a ele. Mas é importante para o Governo Lula uma decisão maior, e não a decisão de uma Executiva, que, inclusive, não tem legitimidade, pois traiu o Partido ao prometer lançar candidatura própria e não o fazer, o que prejudicou todos os candidatos do PMDB no País. Essa Executiva não tem credibilidade e não tem autoridade para decidir nada, até porque não apoiou a candidatura Lula. É preciso reunir o Partido em convenção; é preciso chamar prefeitos, vereadores e líderes de todos os recantos deste País e tomar uma decisão oficial, uma decisão importante para o Brasil, para o PMDB e para o PT. Entendo que o apoio ao PT é muito mais natural do que o apoio ao PSDB - como foi no passado -, porque PT e PMDB sempre defenderam as mesmas teses, as mesmas idéias, têm uma história juntos. Ou seja, os dois partidos têm muita coisa em comum. PMDB e PSDB não têm nada em comum. Para mim, o apoio do PMDB ao PSDB durante o Governo Fernando Henrique Cardoso ocorreu apenas por fisiologismo, por barganha de cargos. E há outra coisa que vou defender na convenção, Senador Mauro Miranda: o Partido deve apoiar o Governo Lula, mas sem a intenção de indicar nomes ao futuro Presidente, pois é ele quem deve fazer o convite a algum peemedebista, se quiser a sua colaboração. Penso que o PMDB não deve indicar ninguém. Deve ser dado o direito ao Presidente da República de convidar alguém do Partido se assim quiser. O PMDB tem que apoiar sem barganhar. Tem que acabar essa política do toma lá dá cá. Política não é brincadeira, tem que ser feita com muito idealismo, pensando no Brasil e no povo brasileiro. Não se faz política como se fosse um balcão de negócios. Temos que resolver em convenção se apoiamos ou não o novo Governo, mas devemos deixar o Presidente livre para escolher ou não alguém do nosso Partido. O posicionamento de V. Exª, Senador Mauro Miranda, está correto. Um partido do tamanho e da importância do PMDB tem que ter muita responsabilidade perante este País. Por isso, para decidir o seu futuro e tomar as suas posições, tem que contar com o apoio da maioria. Vou defender com todas as forças a realização de uma convenção extraordinária do Partido para que seja tomada uma decisão em favor do Brasil e do povo brasileiro. Muito obrigado.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Senador Maguito Vilela, concordo plenamente com todas as palavras de V. Exª sobre a necessidade dessa parceria acontecer da forma mais clara possível. A minha linha de pensamento é a mesma de V. Exª, mas quero ir um pouco adiante. Se houve erros no passado, se houve defeitos graves nas gestões e nos acordos anteriores, quem sabe não está na hora de mudar isso. O Brasil está muito esperançoso com o início do Governo Lula. Vamos buscar inspiração até no próprio Partido dos Trabalhadores, que teve a paciência de construir, durante 22 anos, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva para Presidente da República.

É necessário termos um ideal, uma chama interna, uma bandeira a favor deste País. A troca, a barganha de cargos, o fisiologismo não são aconselháveis neste momento, denigrem a imagem de um dos maiores partidos do Brasil, como V. Exª bem disse, denigrem aquele que aceita um acordo que não foi bem trabalhado, que não foi democrático.

Nesse sentido, faço um apelo ao Presidente do PMDB e às lideranças que estão aqui, no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, para que venham para o diálogo, atendendo ao apelo por mudança que existe no Brasil. Também faço um apelo aos Governadores, a quem cumprimento pela belíssima eleição - Governadores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, do Distrito Federal e de Pernambuco -, para que nos ajudem a fazer esse entendimento, a buscar um rumo novo, que permita que tenhamos mais confiabilidade perante a sociedade brasileira.

Vamos lutar para que isso aconteça. Se o PMDB for fazer aliança, que a faça no seu todo, com muita clareza, muita democracia interna e, sobretudo, com muito ideal e amor ao povo brasileiro.

Eram essas as minhas palavras, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2002 - Página 22278