Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM PELOS 59 ANOS DE INDEPENDENCIA DA REPUBLICA DO LIBANO.

Autor
Lindberg Cury (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Lindberg Aziz Cury
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELOS 59 ANOS DE INDEPENDENCIA DA REPUBLICA DO LIBANO.
Aparteantes
Bernardo Cabral, Edison Lobão, Francelino Pereira, Olivir Gabardo, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2002 - Página 22438
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, INDEPENDENCIA, REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO, COMENTARIO, HISTORIA, DESENVOLVIMENTO, PAIS, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, BRASIL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, EMBAIXADOR, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO, DIVULGAÇÃO, CULTURA, PAIS, REFORÇO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, BRASIL.

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente do Senado, digníssimo Senador Ramez Tebet, demais membros da nossa Mesa Diretora, prezadíssimo Sr. Embaixador do Líbano, meu amigo Ishaya El-Khoury, Sr. Embaixador da Palestina, demais embaixadores, autoridades eclesiásticas, meus amigos, minhas amigas, “é preferível ser o último dos homens, mas com sonhos e o desejo de realizá-los, do que ser o primeiro, porém sem sonhos e nem desejos”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, começo citando o mais famoso dos libaneses, o poeta Gibran Kalil Gibran, para falar dos cinqüenta e nove anos de independência do Líbano, que se comemoram nesta sexta-feira, dia 22 de novembro, e sobre a vinda desse povo para o Brasil, para ajudar a formar nosso País.

Foi com muitos sonhos e com o desejo de realizá-los que, há cerca de duzentos anos, aqui aportaram os primeiros libaneses, em busca de uma terra de fartura e paz. E hoje nos orgulhamos de sediar a maior colônia de libaneses e seus descendentes de todo o planeta: são mais de sete milhões no Brasil, mais até do que a própria população do Líbano, hoje em torno de 3,5 milhões de habitantes. São dois países com fortes laços de amizade. E aqui cabe uma ressalva: S. Exª o Embaixador do Líbano é o presidente de cerca de sete milhões de libaneses, uma população maior do que aquela que é governada pelo atual Presidente do Líbano.

Aproveito também a oportunidade para fazer referência à nossa querida Embaixatriz, Aïda El-Khoury, aqui presente, o que muito nos honra.

A história do Líbano remonta a vários séculos, a três mil anos antes de Cristo, a partir dos fenícios. Foram os semitas, vindos da Mesopotâmia (atual Iraque), que se estabeleceram na costa libanesa no terceiro milênio antes de Cristo. Esses semitas são chamados também de cananeus, e a Antigüidade Clássica os denominou de fenícios. Eles fundaram numerosos núcleos urbanos na costa do Mediterrâneo, como Byblos, Beirute, Sidon e Tiro.

Depois foram anos de luta, ocupação e domínio da região por outros povos, principalmente os turcos, que permaneceram no país entre 1516 e 1914. Até que, ao final da Primeira Guerra Mundial, com a expulsão das tropas germano-turcas, o Líbano foi ocupado militarmente por franceses e ingleses. Em março de 1943, foi declarada a independência do país.

O Líbano é, hoje, uma república parlamentarista e sua Constituição é fundamentada na separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O atual Presidente é o General Emile Lahoud e o Primeiro-Ministro é Rafik Al’Hariri.

Sr. Presidente, volto um pouco no tempo para contar a saga desse povo irmão. Há seis mil anos, na costa oriental do Mar Mediterrâneo, terra onde se localiza o Líbano, floresceu uma das mais notáveis civilizações da Antigüidade, a do povo fenício.

Os fenícios foram responsáveis por importantes avanços nas mais variadas áreas do conhecimento, desde a arquitetura até a matemática, passando pela jurisprudência e pela filosofia. Contudo, sua contribuição mais duradoura foi a criação do primeiro alfabeto fonético, dotado de 22 consoantes relativas aos sons da língua. Tal alfabeto, que constituiu, quiçá, a maior invenção humana, foi posteriormente adotado pelos gregos, que o aprimoraram e nele introduziram algumas vogais a mais. Eles foram também exímios navegadores.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há fortes indícios históricos de que os fenícios estiveram no Brasil. Algumas inscrições podem ser verificadas na Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, e no Estado da Paraíba. Além disso, várias palavras indígenas parecem ter origem fenícia. Na história contemporânea, seus descendentes seguiram os mesmos passos, partindo para terras distantes. A maioria escolheu o Brasil, país que tem a maior concentração de libaneses e descendentes do mundo. Os fenícios habitaram, durante 4.500 anos, as terras que hoje compõem o País dos Cedros, e legaram um patrimônio sócio-cultural marcado pelas noções de universalismo, humanismo, pacifismo e liberdade.

Não se pode esquecer que o Líbano sofreu, ao longo de sua história, diversas influências, de povos variados. Persas, gregos, romanos, bizantinos, árabes em toda a sua extensão, mamelucos, otomanos e franceses passaram pelas terras dos cedros e ajudaram a compor uma nação marcada pelo respeito às diferenças. Nisso, o Líbano não difere muito do nosso Brasil, país modelo de convivência harmoniosa e conciliação de interesses.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apesar de sua independência, o Líbano é hoje um país ocupado por forças não-libanesas. As liberdades, das quais sempre foi grande defensor, vêm-lhe sendo subtraídas progressivamente. A de expressão tem sido agredida com o fechamento de alguns veículos de comunicação e com a repressão a manifestações públicas. O desrespeito aos direitos políticos de parlamentares oposicionistas dá-nos a medida exata do descompromisso do atual regime e de seu Judiciário com a vontade do povo libanês.

Lembramos, saudosos, dos tempos em que o Líbano, representado por seu delegado permanente na ONU, Charles Malik, atuou como relator da Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Ele e o brasileiro Austregésilo de Athayde destacaram-se como os grandes artífices do principal documento institucional do século XX: a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Ao comemorar amanhã a data de independência do Líbano, repassamos toda a história desse querido país - cujas contribuições para o crescimento econômico e social do Brasil foram imensas - e perguntamos se o patrimônio que o Líbano legou ao mundo perderá validade em seu próprio berço.

A trágica evolução dos acontecimentos no Oriente Médio reflete, em grande medida, a crise moral de um tempo marcado pelo aumento das desigualdades, pelo retorno da intolerância, pelo afloramento de concepções extremistas e pelo constante estado de beligerância. Todos esses aspectos afetam, de forma especial, o país que comemora a sua independência. O povo libanês permanece oprimido pelos interesses de países que não compartilham sua história ou seus valores.

Uma coisa que nunca foi registrada nos anais da Humanidade é que o Líbano tenha atacado ou conspirado contra quem quer que seja, ou que ele tenha se aliado a outros para fins nefastos. O Líbano nunca deixou de ser uma fonte de bondade, de incentivo e de serviços. Nunca falhou em inspirar a paz, não apenas para si próprio, mas para seus vizinhos e para todo o mundo.

Os jovens libaneses, como seus ancestrais fenícios, sempre foram obcecados pela aventura da liberdade. Na história contemporânea, nosso Imperador Dom Pedro II visitou o Líbano em novembro de 1876. Nessa ocasião, o Imperador ficou encantado com o dinamismo do povo libanês e conclamou-o a emigrar para o Brasil, classificando o País de terra da promissão. O chamado foi atendido, estreitando os laços de amizade entre esses dois países.

Sobre o Líbano, D. Pedro II escreveu: “O Líbano ergue-se diante de mim com seus cimos nevados, seu aspecto severo, como convém a essa sentinela da Terra Santa”.

A beleza do Líbano encantou o Imperador. E tem encantado a todos que conhecem o País dos Cedros. Antigamente, todas as montanhas do Líbano estavam cobertas de cedros. A árvore é muitas vezes mencionada na Bíblia, e está até em sua própria bandeira e simboliza força e eternidade. As belezas do país são iluminadas por sua geografia - sua larga planície costeira e suas montanhas de norte a sul. O vale fértil de Bekaa, a fortaleza de Baalbeck e seus festivais de cultura, as cidades históricas de Byblos, das mais antigas do mundo, e Beirute, a cidade que se recusa a desaparecer.

A história de Beirute merece um capítulo à parte. A cidade foi completamente destruída durante uma série de terremotos, no século VI, e assim permaneceu por cerca de cem anos. No ano de 635, a cidade foi reconstruída pelos árabes, após a conquista islâmica, mas foi novamente destruída, em 1102, pelos cruzados. Em 1516, foi invadida pelos mamlouks, vindos do Egito, e pelos turcos, que lá permaneceram até 1914. No fim do século XIX, Beirute tornou-se a porta de entrada do Oriente, atraindo capitais estrangeiros e tornando-se o centro bancário da região. Até 1970, a cidade ficou conhecida como “a Suíça do Oriente Médio”. Atualmente, após uma guerra que destruiu a cidade, Beirute passa por um grande trabalho de reconstrução.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há 200 anos que a presença libanesa no Brasil tem sido uma história de amor, devoção e fidelidade. Esta Casa sente-se honrada em homenagear o Líbano, país amigo, por ocasião de sua data nacional, e augurar-lhe um futuro de paz, prosperidade e soberania plena.

Neste momento, também faço uma homenagem àqueles libaneses e seus descendentes que adotaram o Brasil como a sua pátria e ajudaram a construir este imenso País.

Aqui faço uma ressalva e uma escusa, de antemão. Os nomes dos filhos que participam da epopéia no Brasil são os mais diversos, em todas as áreas das atividades, e tomo a liberdade de citar alguns.

Na política, aqui mesmo no Senado, temos o ilustre Presidente Ramez Tebet, ex-ministro e, sem medo de errar, o primeiro descendente de libanês a ocupar esta Alta Corte, esta Casa nobre, o Congresso brasileiro. Temos, também, os nossos colegas Pedro Simon, aqui presente, Maguito Vilela e Paulo Souto, recém-eleito Governador da Bahia. Também destacam-se os ex-Governadores Tasso Jereissati, Esperidião Amin e Paulo Maluf; os Deputados Michel Temer, ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Ricardo Izar e Nelson Trad e o ex- Deputado Guilherme Afif Domingos, ex-Presidente da Confederação das Associações Comerciais do Brasil, entidade da qual me orgulho de ser o primeiro Vice-Presidente. Vale a pena citar que, atualmente, na Câmara dos Deputados, temos cerca de 40 Deputados descendentes de libaneses.

Na área da saúde, apenas para citar três nomes, temos Adib Jatene, Elias Murad e Raul Cutait.

Na literatura, destacam-se Milton Hatoum, Salim Miguel, Raduan Nassar e Mansur Chalita.

Na publicidade, lembro Roberto Duailibi, da Agência DPZ.

Na indústria, conforme disse, como também no comércio, são milhares, mas podemos citar Antônio Fara e Carlos Ghosn, da Nissan.

Na área de serviços, destaco Salim Matar, da Localiza.

Na jurisprudência, cito Francisco Rezek, da Corte Internacional de Justiça da ONU, e os ex-Ministros da Justiça Alfredo Nasser e Ibrahim Abi-Ackel.

Na área de educação, o destaque é para Gabriel Chalita, o jovem Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Paulo Sarkis, Reitor da Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e Lauro Morhy, Reitor da Universidade de Brasília.

Na diplomacia, para citar apenas um que me veio à memória, o Embaixador José Maurício Bustani.

E no turismo, entre tantos, o empresário José Carlos Daux, proprietário de uma rede de hotéis em Florianópolis, Santa Catarina.

Esses são alguns dos milhares de libaneses e seus descendentes que se destacaram e se destacam em várias áreas de atividades no Brasil. O tempo é insuficiente para citar todos eles.

Faço, também, um elogio especial ao trabalho desenvolvido pelo Embaixador do Líbano no Brasil, Ishaya El-Khoury, e a Embaixatriz Aïda El-Khoury. Os dois têm trabalhado incansavelmente para fortalecer os laços de amizade entre os dois países e a união de seus povos. Têm estimulado o intercâmbio de conhecimentos entre jovens dos dois países. Recentemente, realizaram em Goiânia um encontro de jovens de origem libanesa, para um debate sobre história, arte e cultura daquele país.

Vale a pena ressaltar, também, que o Embaixador Ishaya El-Khoury tem visitado quase todas as capitais dos Estados e cidades do interior em busca da cultura e para trazer o conhecimento árabe a este País de imensa extensão continental que é o Brasil.

Além disso, o Embaixador tem promovido encontros entre as entidades culturais líbano-brasileiras espalhadas pelo nosso País, com o objetivo de debater as suas ações e o seu futuro.

Uma amostra do dinamismo do casal El-Khoury foi a inauguração, em novembro do ano passado, na Embaixada do Líbano, em Brasília, do Espaço Cultural Gibran Kalil Gibran, destinado a divulgar e fomentar todas as formas de atividades culturais, intelectuais e artísticas dos dois países. Lá são organizadas atividades artísticas e musicais, além de exposições de vários artistas plásticos brasileiros.

Fica até difícil, em um só pronunciamento, enumerar todas as ações desenvolvidas pelo casal El Khroury com o objetivo de fortalecer a amizade líbano-brasileira. Aos dois, os nossos parabéns pelas iniciativas de estreitar esse relacionamento entre os dois povos irmãos.

Encerro este pronunciamento, lembrando...

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Permite-me um aparte, Senador Lindberg Cury?

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Com muito prazer, passo a palavra ao ilustre Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Lindberg, esta é, sem dúvida, uma das mais justas homenagens prestadas pelo plenário do Senado da República. Nem sempre o destino promove justiça. Como V. Exª bem lembrou, o Líbano tem suas origens plantadas no povo fenício, bem antes de importantes acontecimentos da história e da humanidade. A criação do Líbano foi anterior, por exemplo, à grande caminhada de Moisés, que conduziu o povo hebreu, por ordem de Deus, até a Terra Prometida; é anterior também à chegada de Jesus Cristo. Mas somente há poucos anos, posso dizer, e já o disse V. Exª, o Líbano ganhou a sua independência. Daí a injustiça do destino. No Brasil, Senador Lindberg Cury, os libaneses não são considerados invasores, não são indesejados entre nós. Ao contrário, são irmãos nossos. Aqui está, de fato, a população libanesa. A população libanesa, por sua grande maioria, não está no Líbano, e, sim, aqui. Portanto, eu quase diria que o Brasil é o verdadeiro Líbano. Cumprimento V. Exª por lembrar a saga desse povo extraordinário, a sua história de ocupações indevidas que tantos sofrimentos causaram ao povo. Esse povo sobreviveu a uma situação quase anárquica ao longo de sua história e à sua revelia por conta das incompreensões mundiais e dessas ocupações. Cumprimento V. Exª por esta homenagem que presta ao povo irmão, aos libaneses do Brasil e do exterior.

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Agradeço ao Senador Edison Lobão pelo brilhante aparte. S. Exª é um jornalista emérito, historiador e conhecedor dessa descendência libanesa e de sua presença aqui no Brasil.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Antes de passar a palavra a V. Exª, registro que o Senador Romeu Tuma, que preside a CPI do Roubo de Cargas, está fora do Distrito Federal, não podendo, portanto, comparecer a esta sessão, embora seja também um dos requerentes para a instalação desta data comemorativa, do Dia Nacional do Líbano.

Com muito prazer, passo a palavra ao nosso ilustre representante, homem de cultura, que, merecidamente, tem o reconhecimento de toda a nossa Casa, o ex-Governador e Senador Pedro Simon. Aliás, dou a S. Exª a liberdade, pela sua cultura, de falar em árabe.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Sr. Presidente, em primeiro lugar, felicito o Presidente do Senado por ter indicado V. Exª, entre os vários Senadores que se apresentaram, para falar em nome de todos nós nesta solenidade. Não fora isso, teríamos cerca de quinze discursos, o que, talvez, a platéia não agüentasse. Escolheu bem V. Exª, que está agindo com grande seriedade ao nos representar. Eu não poderia, entretanto, deixar de trazer o meu sentimento num momento como este. Para nós do Senado Federal, é uma satisfação muito grande homenagearmos o Líbano. Somos dez, quinze descendentes de libaneses, embora não pareça, porque alguns tiveram seu nome aportuguesado. Esta homenagem às vésperas da visita do nosso Presidente e de uma representação do Senado Federal ao Líbano reflete o significativo carinho e respeito que temos por nossa terra. Na verdade, nós, descendentes de libaneses, temos um coração grande, onde cabem o Brasil e o Líbano, amando-os indistintamente, sentindo carinho, respeito e tendo sonhos em relação a ambos os países. Assim como agora sonhamos com um Brasil onde haja paz, justiça social, um Brasil onde não haja fome, desejamos um Líbano onde haja liberdade, onde os seus cidadãos tenham o direito de expor as suas idéias, onde haja apenas libaneses e seus convidados, onde a ONU faça cumprir o seu direito de absoluta independência, de onde possam sair os que estão perturbando a nação, onde haja a continuidade da milagrosa reconstrução do país e a ressurreição de Beirute. Gosto de ouvir o ilustre embaixador, a sua esposa e os representantes do Líbano dizerem que não querem caridade, pena ou choro. Eles querem ajuda para o Líbano, que está crescendo, avançando e progredindo. Não há dúvida de que todos sabem que o Líbano desempenhou um papel fantástico, há pouco tempo, no intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente. Líbano e Beirute eram os lugares onde ocidentais e orientais sentiam-se em casa. Os seus bancos eram os depositários de petrodólares do mundo árabe e o seu porto era o grande intercâmbio entre o Ocidente e o Oriente. Fazer com que o Líbano não mais ocupe essa posição foi uma trama diabólica. Mas, graças a Deus, o Líbano está retomando a sua posição anterior. Sua gente está crescendo, está avançando, está desenvolvendo, está progredindo e se transformando num exemplo extraordinário de garra e de competência. Seria bom se pudéssemos ver esse fenômeno emocionante que é o novo Líbano que cresce, que avança, apesar das injustiças cruéis que está sofrendo. Algumas vezes, constatamos que a ONU oferece moções, que a imprensa mundial debate o problema “a” ou o problema “b” em um determinado país. No entanto, não se debateu, não se discutiu, não se deu importância, não se considerou os problemas cruéis que o Líbano enfrentou, muitas vezes sozinho. Até os próprios aliados não desejam ver o Líbano ocupar novamente a sua velha posição de liderança, de capacidade. Nós, brasileiros, temos no Líbano um exemplo extraordinário. Os libaneses que aqui estão progridem e crescem com a gente. Eles têm aqui uma população maior aqui do que a que têm lá. Para nós, brasileiros e libaneses, este é um momento muito significativo, porque estamos festejando, de certa forma, a nossa pátria, a grande pátria do Líbano. Meu abraço muito carinhoso e muito afetivo a V. Exª e, de modo muito especial, ao ilustre Embaixador e sua esposa, que nos honram nesta Casa com toda a sua colônia.

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Agradeço ao nobre Senador e ex-Governador Pedro Simon o brilhante aparte, que enriquece o meu pronunciamento.

Faria apenas uma ligeira observação à referência de V. Exª ao fato de que alguns libaneses ou descendentes, às vezes mascarados com outros nomes, fizeram parte do Congresso brasileiro. Década atrás, tive a oportunidade de conhecer o então Senador João Lobo, nome traduzido por seu pai do árabe Hanna Dib. Esse cidadão passou despercebido, nunca tendo sido convidado pela Embaixada libanesa para qualquer tipo de festividade.

Ilustre Senador Pedro Simon, com a sua inteligência, privilégio concedido por Deus, V. Exª enriqueceu o nosso discurso com uma série de fatos políticos e informações importantes. Este País tem muito orgulho de tê-lo como filho, uma de suas grandes expressões.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador Lindberg Cury, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Pois, não. Com muito prazer, concedo um aparte a V. Exª, nobre Senador Bernardo Cabral.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador Lindberg Cury, já começo com uma dificuldade - entre tantas das quais sou acometido -, qual seja interromper o discurso de V. Exª depois do brilhante aparte do Senador Pedro Simon. Sabe V. Exª que há entre mim e o Senador Pedro Simon uma amizade tão longa que tem sido suficientemente forte para vencer o tempo, a distância e o silêncio. Percebo que me situo entre dois amigos muito queridos. De um lado, o Ministro Vantuil Abdala, que há pouco tempo esteve conosco na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, prestigiando os trabalhos em derredor do Tribunal Superior do Trabalho - ele que é descendente de libanês. E do outro lado, uma das figuras mais notáveis que o Parlamento tem, o Senador Francelino Pereira, corajoso, independente, casado com uma filha de libanês, portanto, com um sogro libanês. Dou-me conta que V. Exª está na tribuna sendo abençoado por Nossa Senhora do Líbano. A faculdade de Direito que cursei ficava exatamente no centro dos libaneses na minha terra. Tenho muitos amigos e sempre observei que os libaneses - e veja V. Exª que preside a Casa um descendente deles, o Senador Ramez Tebet, de grande vivência na nossa Ordem dos Advogados - têm uma grande virtude, entre as maiores que possuem: jogam fora as mágoas e cultivam apenas as boas lembranças. Essa é uma característica típica de quem não constrói o ódio, não o alimenta, não o indica, não aponta caminhos ou mostra soluções que não sejam o da paz. Ousei interrompê-lo depois do aparte do meu querido Pedro Simon porque não poderia calar, guardar no meu íntimo a estima que lhe tenho, Senador Lindberg Cury. Ainda ontem V. Exª participou da demonstração de independência do Senado, ao votar uma matéria tão grave e tão séria quanto a que aqui se discutia. Rendo-lhe as minhas homenagens e peço permissão a V. Exª para que as estenda ao Embaixador do Líbano, que aqui se encontra com a sua esposa, mas, sobretudo, ao povo do Líbano. Não importa se, no passado, uns não tenham sabido que carregavam nomes libaneses, o que importa é que, no coração, tragam sempre a presença de Nossa Senhora do Líbano. Meus cumprimentos, meus parabéns!

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Muito obrigado, Senador Bernardo Cabral. Ontem, realmente, tivemos uma prova da capacidade, da cultura e, principalmente, da liderança de V. Exª, quando encerramos, com chave de ouro, uma das votações mais fantásticas e mais importantes para o País: a reforma do Judiciário. As suas palavras, assim como de todos aqueles que o antecederam, vieram trazer o brilhantismo da inteligência de V. Exª ao meu pronunciamento e as recebo com muito carinho, em nome, inclusive, dos demais descendentes de libaneses.

O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Concedo um aparte a V. Exª, Senador Francelino Pereira.

O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - Sr. Presidente, permita-me que eu fale de pé, em homenagem à pátria da minha esposa e, ao mesmo tempo, para manifestar ao meu querido amigo Lindberg Cury a minha alegria e o meu contentamento por essa iniciativa de homenagem pelo Dia Nacional do Líbano. Faço-o com emoção porque há uma relação diferente, com certas especificidades, entre mim e nação libanesa. V. Exª sabe que Minas Gerais não é um Estado, Minas Gerais é uma nação. Somos 18 milhões de mineiros, 853 cidades, das quais aproximadamente 100 em processo de transformação em metrópole. Minas era um Estado que fechava suas fronteiras para que pudesse abrigar apenas os mineiros de nascimento. Mas, essa Minas, que pertencia aos mineiros, acolheu, em determinado momento, duas famílias diferentes. Não sei em que ano, mas o certo é que chegaram a Minas Gerais, na cidade de Oliveira, um casal de primos: Miguel e Eugênia Haddad. Chegou ainda, saído de terra distante, filho de agricultor, trabalhador e pobre, um jovem que desejava estudar em Belo Horizonte, uma cidade universitária, sem praia e, conseqüentemente, sem perdição, e que poderia acolher um forasteiro. Foi assim que, em 1944, cheguei a Belo Horizonte, pelo rio São Francisco e no trem de Pirapora, sem conhecer uma só pessoa na bela terra mineira. Vim estudar, prosseguir meus estudos do Segundo Grau. De tal forma envolvido com as conseqüências dos manifestos dos mineiros, derrubamos a ditadura Vargas. Eu que desejava seguir, exclusivamente, a carreira da advocacia e do Direito e, talvez, um pouco de Literatura, fui, literalmente, tomado pela vida política, de tal forma que, hoje, estou aqui, completando 32 anos de mandato, pelo voto popular dos mineiros. Fui Vereador da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Deputado Federal por quatro mandatos, Governador de Minas, Senador da República, Vice-Presidente e Presidente do Banco do Brasil ao mesmo tempo e Presidente das empresas Acesita. Porém, confesso a V. Exª que o maior prêmio que recebi na vida foi o de ter tido a oportunidade de conhecer, em Belo Horizonte, na avenida Cristóvão Colombo, 520, a família de Eugênia e Miguel Haddad, trabalhadores sem maior fortuna. Um deles veio do Líbano, e o outro, do Piauí distante. Tornamo-nos os três literalmente mineiros. Hoje, representamos um Estado que merece sempre o respeito, a admiração e a condecoração de todos os brasileiros. Mas a verdade é que, se não fosse a minha esposa, que, no Líbano e no Brasil, chamam de Latife - eu a chamo de Latifinha -, mãe dos meus filhos, eu não estaria aqui. Correta, preparada e honrada, nunca aceitou os avanços da civilização familiar brasileira. Em verdade, ela contribuiu, com sacrifício e inteligência, para que o seu esposo iniciasse uma vida política em uma terra onde não nascera, mas da qual sentia que fazia parte, pela identidade e pelo zelo com que sempre conduziu o Estado. Militante do meu destino, dedico toda a minha vida pública a Minas e aos mineiros e, em particular, ao coração da minha esposa, porque foi ela quem criou os meus filhos, permitindo-me que eu estivesse hoje, aqui, conversando, nesta solenidade, aos olhos do Líbano e do seu Embaixador, com Lindberg Cury, esse excelente parlamentar de Brasília. A todos, o meu abraço, a minha alegria e um pouco de emoção por este encontro. Pena que a minha senhora não o esteja ouvindo, mas ela vai ler essas palavras e, com certeza, vai sorrir, com um pouco de lágrimas nos olhos, de alegria e de contentamento. Muito obrigado.

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) Senador Francelino Pereira, agradeço-lhe a mesura e o cavalheirismo com que se dirigiu, de pé, à pessoa que o ouviu durante esse aparte brilhante.

Entendo que esta homenagem é feita ao povo libanês, porque, se fosse dirigida a mim, talvez eu tivesse que falar com V. Exª de joelhos, pela grandeza, pelo histórico do seu passado em Minas Gerais e aqui, no Distrito Federal.

Em todas as oportunidades, venho acompanhando os pronunciamentos e aprendendo muito no Plenário do nosso Senado. V. Exª é um mestre, sempre diz com muita probidade aquilo que pensa e o faz com muita firmeza de propósito, principalmente agora, quando dá um testemunho importante do seu relacionamento, do seu casamento com uma filha de libanês, o que muito honra a colônia e o Embaixador que aqui está.

O Sr. Olivir Gabardo (Bloco/PSDB - PR) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Concedo o aparte ao nobre representante do Paraná, o Senador Olivir Gabardo.

O Sr. Olivir Gabardo (Bloco/PSDB - PR) - Eminente Senador Lindberg Cury, desejo, inicialmente, cumprimentá-lo pela iniciativa dessa justa homenagem ao povo libanês, quando comemora o seu 59º aniversário de independência, e pela beleza do seu discurso, que reflete o nosso pensamento, dos brasileiros, que vivemos com o povo libanês. Eu próprio tive grandes companheiros dos tempos universitários que eram filhos de libaneses, que ajudaram a construir grande parte dos patrimônios cultural e econômico do meu Estado. Mas aproveito esta oportunidade, eminente Senador Lindberg Cury, Srªs e Srs. Senadores, eminentes autoridades libanesas, para expressar aqui o meu profundo agradecimento, o meu reconhecimento e a minha admiração pelo povo libanês e pelo seu governo, quando visitei aquele país, em 1972. Naquela época, reuníamo-nos em Londres. Representando o Parlamento brasileiro na União Interparlamentar Mundial, tive a felicidade e o privilégio de conhecer o Líbano e de ter uma recepção extremamente calorosa por parte do governo libanês. Esta é, portanto, a oportunidade para expressar ao Líbano os meus agradecimentos e dizer que conheci aquela terra. Fiquei encantado com suas belezas naturais, inclusive com as ruínas fenícias. Foi um povo que construiu a sua história milenar. Apesar de todo o sofrimento, o povo libanês tem a grandeza de demonstrar sempre a todos os povos o seu espírito aberto, ameno, leal e propugnante da paz, embora a guerra o tenha castigado e continue castigando tanto. Portanto, eminente Senador, quero deixar aqui o meu profundo reconhecimento pela contribuição notável que o povo libanês trouxe ao Brasil, em particular ao meu Estado. Quero, desde logo, deixar também os meus cumprimentos ao povo libanês, por meio da sua representação diplomática aqui presente. Torcemos para que esse país tenha dias mais felizes, mais tranqüilos, mais serenos e de mais paz, para continuar a sua trajetória extraordinária, que vem desde o povo cananeu. Muito obrigado.

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Ilustre Senador Olivir Gabardo, agradeço também a contribuição de V. Exª por esse brilhante aparte.

Lembro que V. Exª, quando Deputado constituinte, marcou presença no Congresso de uma maneira muito segura, muito inteligente. E, hoje, temos o privilégio de tê-lo aqui conosco.

Aproveitando o ensejo, é bom lembrar que este País foi construído inicialmente pelas colônias libanesa, portuguesa, italiana, alemã, entre outras, logo após a Segunda Guerra Mundial, quando para cá aportaram diversos libaneses. Eles são os nossos antecessores, os nossos pais. Tiveram uma vida difícil, uma vida de sacrifício, mas mantiveram também a unidade da família e algo muito importante: cuidaram, principalmente, da educação dos filhos.

É por essa razão que, hoje, quando se presta esta homenagem à data nacional do Líbano, quero homenagear os nossos pais, esses antepassados que aqui aportaram. A história do pai do Pedro Simon, do meu pai e do pai do Ramez Tebet é a mesma: homens pobres, humildes, trabalhadores, ricos na vontade de vencer, que deixaram, para esta geração, filhos ilustres, como todos esses que citei.

Quero registrar nos Anais do nosso Senado este tributo aos nossos pais, tão importantes na nossa formação intelectual, na nossa cultura e nesse amor que temos pelo Brasil. Apenas 1% retornou a sua terra de origem; os demais ficaram por aqui. Seu amor ao Brasil se manifesta na presença dos filhos em todos os setores, na Medicina, na cultura, no empresariado, de um modo geral. Enfim, tiveram um desempenho muito grande em toda a história do desenvolvimento e do progresso do nosso Brasil.

Sr. Presidente, encerro este pronunciamento lembrando de outro sonho: o dos nossos irmãos libaneses de terem uma pátria livre, sem conflitos e guerras; o sonho de uma terra de paz e prosperidade.

Que Deus nos proteja e ilumine!

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2002 - Página 22438