Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO SENADOR TEOTONIO VILELA, NO TRANSCURSO DOS 19 ANOS DE SEU FALECIMENTO.

Autor
Teotonio Vilela Filho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Teotonio Brandão Vilela Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO SENADOR TEOTONIO VILELA, NO TRANSCURSO DOS 19 ANOS DE SEU FALECIMENTO.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Artur da Tavola, Carlos Wilson, Francelino Pereira, Geraldo Melo, Pedro Simon, Renan Calheiros, Romero Jucá, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 29/11/2002 - Página 23002
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, TEOTONIO VILELA (AL), SENADOR, ESTADO DE ALAGOAS (AL), ELOGIO, VIDA PUBLICA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, DEFESA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, neste sábado, dia 30, faz vinte anos que o velho Senador Teotônio Vilela pronunciou seu último discurso neste plenário, sentado, porque já lhe restavam poucas forças, mas altivo, porque sempre lhe sobravam desassombro pessoal, sonhos e esperanças. E ainda o ouço, Sr. Presidente, com sua voz cansada, mas carregada de humor e ironia a anunciar; “Estou saindo desta Casa, mas prosseguirei na minha vida de velho menestrel, cantando aqui, cantando ali, cantando acolá as minhas pequeninas toadas políticas”.

Nesta quarta-feira, 27, fez 19 anos que Teotônio nos deixou pela história, muito antes que pudesse testemunhar um Brasil que se dá as mãos para enfrentar desafios e não pessoas, para perseguir objetivos e não dissidentes. Ele nos deixou muito antes que pudesse ver integrados à agenda, ao debate e à direção do Brasil os presos que visitava nas masmorras, os líderes que camuflava na mala de seu carro, ou simplesmente os resistentes que a própria anistia prescrevera em suas primeiras versões.

Completaram-se ontem, Sr. Presidente, 19 anos de sua partida. No mesmo novembro de passadas eleições, por que ele tanto lutou, no mesmo novembro da proclamação da República e da data da nossa Bandeira.

O escritor Otto Lara Resende até se permitiu revelar, a propósito da partida de Teotônio, que chegara a desejar que ele houvesse isso um pouco antes, a 15 de novembro, para reproclamar a República em homenagem a ele, ou um pouco depois, a 19 de novembro, para então proclamá-lo Bandeira do Brasil.

Em seus desígnios, Deus o chamaria a 27 de novembro, até permitindo que então se comemorasse simbolicamente um dia de esperança. Mas para que, ou por que, afinal, se o que mais nos ensinou Teotônio é que neste Brasil de muito por fazer a esperança será a marca de todos os dias e de todos os anos? E o sonho de Teotônio não teria sido em vão.

Faz 19 anos que silenciaram as pequeninas toadas políticas de que ele falava, mas nesse curto tempo já se ouve Brasil afora o formidável concerto de esperança que ele soube preparar com a antevisão dos profetas. Faz apenas 19 anos, mas as transformações institucionais, sociais e políticas ocorridas no período, de tão profundas, parecem antes mudanças de um século.

Faz apenas 19 anos. Mas o líder sindical que ele visitava nas prisões assumirá, em pouco mais de um mês, a Presidência do Brasil, escolhido na maior e mais democrática eleição direta de todo o mundo.

Faz apenas 19 anos. E o amigo-sociólogo, apenas anistiado ontem, presente em seu enterro, comanda hoje o processo de transição mais civilizado e mais democraticamente transparente de que se tem notícia em nossa história.

O Estado brasileiro indenizou ex-presos políticos e seus familiares. São cada vez mais remotos os vestígios da ditadura. O Brasil saiu de uma anistia consentida para uma Constituinte com marcas tão visíveis de cidadania que nem seus equívocos conseguiram ofuscar.

No mesmo Brasil em que, há menos de 20 anos, apenas generais chegavam à Presidência, tem-se hoje um civil como Ministro da Defesa, poucos conhecem os nomes dos chefes militares e, a rigor, não há na imprensa nem no Congresso nenhum especialista em almanaque militar.

Faz 19 anos a partida de Teotônio, mas tão viva é sua mensagem, tão marcante a sua presença, que ele poderia repetir hoje, como fez em sua última entrevista ao Canal Livre da TV Bandeirantes: “Ainda estou vivo, para continuar andando por este País, mesmo sem mandato, como cantador de viola e um menestrel, pregando o que desejo para o Brasil”.

É verdade que, na época dessa entrevista, já lhe expirara a representação parlamentar de nossa querida Alagoas. Mas quem disse que o Brasil inteiro não lhe renovara o mandato de semeador de sonhos e esperanças, de pregoeiro da liberdade, de guerreiro da justiça e da paz? Quem disse que lhe faltava representatividade nessa luta, que era de todos os sem-vez e sem-voz, contra o alijamento político e a exclusão social?

Em um Brasil em que o presente se fizera noite, Teotônio soube fazer-se profeta da esperança, ecoando de norte a sul o solo de sua indignação, que de canto, a princípio solitário, logo se fez hino de uma gente e senha de futuro de uma nação. E assim se cantou a anistia com a fé dos que só imaginam o País com a plenitude de suas liberdades para construir o futuro com a inteireza de sua cidadania. A princípio em vozes comoventemente esparsas, depois em coro alentadoramente uníssono. E assim se sonhou a Constituinte, que, de ousadia de visionários, logo se fez conquista de cidadania. E assim nas ruas se plantaram as diretas, a princípio um sonho distante de poucos cruzados, depois uma luta presente de muitos guerreiros. Teotônio, entre os primeiros de todos.

Quem hoje desconhece a providencial licença para tratamento de saúde do velho e também inesquecível Ulysses Guimarães, que entregou a Presidência do PMDB a Teotônio exatamente para que ele abortasse as manobras conciliatórias com o regime, para a prorrogação de mandato do general de plantão ou para saídas políticas diversas da eleição direta para Presidente? E em harmonia com Ulysses, Teotônio impediu que se restringisse aos gabinetes parlamentares ou a discursos protocolares o grito pelas diretas que o coração e a alma do Brasil já não podiam conter e que a emenda de Dante de Oliveira logo, logo levaria às praças. Quem afinal no PMDB e no próprio Governo de então ousaria confrontar Teotônio, bengala à mão, a cabeça marcada pelo câncer, a vida minada pelas dores, mas incansável em sua cruzada cívica pela liberdade e pela democracia?

Foi com a bravura de uns, a articulação de outros e a participação de muitos que nas praças se plantou o futuro e que as Diretas e a própria democracia se transmudaram de sonho de uma geração em conquistas de um povo. Com a mesma indignação dos que crêem que quando se oprime um homem, qualquer homem, não se violenta apenas um cidadão, esmaga-se a cidadania, comprometendo o futuro, com a mesma esperança dos que acreditam que nem a noite mais longa e sombria sufocará a madrugada.

Ocorre-me, Sr. Presidente, a propósito, algumas reflexões inevitáveis. A primeira emerge da análise da figura e do trabalho de Teotônio, que, hoje, o distanciamento histórico ajuda a avaliar com mais isenção. Mesmo para quem o sangue torna a isenção inalcançável, mais passam os anos e mais se valoriza a sua missão primordial de profeta da esperança. A resistência democrática, a recusa à cooptação, a própria cruzada pela anistia e pelas eleições diretas são, antes, desdobramento inevitável dessa crença interior que conseguiu vencer a própria descrença.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Teotonio Vilela Filho, V. Exª me concede um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Concedo um aparte ao Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Peço perdão por interromper seu discurso. Mais do que ninguém, V. Exª deve ter acompanhado a vida de seu pai. De todos os fatos relacionados, como testemunha da história contemporânea e tendo convivido com alguns dos fatos descritos, além de falar com o coração, V. Exª fala com a verdade. Certo dia, neste plenário, V. Exª me consultou a respeito de um fato que teria ocorrido durante a vida de seu pai, num momento mais grave, quando da visita ao recém-eleito Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. V. Exª me perguntava se eu havia conduzido o então Senador Teotônio Vilela no porta-malas de meu carro a fim de que o visitasse no Dops, que eu chefiava. Peço licença para descrever os fatos rapidamente a fim de esclarecer à sociedade brasileira a verdade. Muito respeito eu tinha pelo Senador Teotônio Vilela. No dia de maior crise e gravidade do evento de São Bernardo, a grande greve do ABC, um dos membros da diretoria refugiou-se no gabinete do então Prefeito daquela cidade, Tito Costa. Começaram os telefonemas à minha diretoria - o saudoso Franco Montoro, Orestes Quércia, Ulysses Guimarães, o senhor seu pai, todos preocupados em evitar violência naquela prisão, e eles faziam-se praticamente de obstáculo para aqueles que pudessem decidir abusar da violência para cumprir o mandado de prisão. Garanti que aquilo não ocorreria, e o Governador Quércia, à época também Senador, falou comigo. Tomamos, então, uma decisão conjunta, e a lei foi cumprida. Naquele momento, do Comando do Exército, ofereceram dois tanques que estavam na Via Anchieta para serem colocados à frente da Prefeitura. Não concordei com essa proposta e coloquei a minha demissão à disposição das autoridades que chefiavam o Estado. Logo em seguida, dois ou três dias depois, recebi um telefonema do Prefeito Tito Costa, que me pedia para que o Senador Teotônio Vilela tivesse um encontro reservado com o Lula, porque ele tinha uma idéia que provavelmente poderia harmonizar as partes interessadas e resolver a gravidade do problema. Eu encontrava-me em Campinas, estava com uma Rural Williams, portanto não tinha porta-mala. Saí do sítio da minha sogra, deixei a minha família, fui à residência de Tito Costa, coloquei o Senador Teotônio Vilela do meu lado e segui para o Dops, entrando pela porta da garagem aberta, sem nenhum conflito. Ele ficou no meu gabinete com o Lula durante o tempo que achou necessário para discutir, sem nenhuma intromissão ou oitiva de quem quer que seja. Dei toda a liberdade para aquele homem que realmente falava com o coração, com a alma e com amor ao Brasil. Portanto, homenageio com V. Exª a figura de Teotônio Vilela e esclareço o meu comportamento perante esse homem que representa hoje um vulto da história contemporânea do Brasil.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Muito obrigado, nobre Senador Romeu Tuma, pelo aparte de V. Exª, que incorporo com muita honra ao meu discurso.

Por várias vezes ouvi de meu pai palavras de elogio ao comportamento, à postura e ao caráter de V. Exª naquela época tumultuada, em que a busca de diálogo, ocorrida entre V. Exª e Teotônio, facilitou e evitou transtornos que poderiam causar mortes.

Muito obrigado.

O Sr. Artur da Távola (Bloco/PSDB - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Concedo o aparte ao nobre Líder e amigo Senador Artur da Távola.

O Sr. Artur da Távola (Bloco/PSDB - RJ) - Senador Teotonio Vilela, estou a ouvir V. Exª, dividido entre várias emoções. A primeira delas, talvez a menos importante, mas ainda importante, refere-se ao teor literário do discurso de V. Exª, que faz jus à tradição da grande literatura do Estado das Alagoas, um primor de pronunciamento, com o uso do idioma na sua melhor expressão. A segunda diz respeito à recordação dos últimos 20 anos, a partir do último discurso do Senador Teotônio Vilela, seu pai, até o dia de hoje. E a terceira refere-se ao fato de V. Exª estar na tribuna. Nesses 20 anos, tudo ou quase tudo com o que Teotônio sonhou e pelo que lutou está a realizar-se. No dia-a-dia, perdemos a noção das perspectivas de um país, e quem olhar para o Brasil de 20 anos passados e para o Brasil de hoje verificará avanços incomensuráveis, inimagináveis, até para um país com as dificuldades e características da nossa organização socioeconômica. O Brasil, de 1927 até hoje, teve apenas três Presidentes civis que chegaram ao fim do Governo: o Presidente Juscelino Kubitschek, o Presidente José Sarney e o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Se quisermos, ao invés de tomar a figura do Presidente civil, tomarmos a figura do Presidente eleito pelo povo, tivemos também três: Dutra, que era militar, Juscelino e Fernando Henrique Cardoso. Portanto, essa história, já de setenta e tantos anos, de golpes militares, de interrupção do processo democrático, essa interminável tragédia, filha direta do presidencialismo e da nossa incultura política, hoje, de alguma maneira, se encaminha na direção do futuro. Qual era a origem de Teotônio Vilela, seu pai? Uma origem da classe dominante das Alagoas e, ao mesmo tempo, marcadamente formada pela Igreja católica, pelo Cristianismo, tanto que, se não me equivoco, o irmão de S. Exª foi um dos cardeais mais importantes do Nordeste. É muito interessante como irrompe dentro de Teotônio, seu pai - seja pelo viés da visão cristã do mundo ou pela visão católica do mundo, após João XXIII, que é da década de 60 -, o sentido libertário. S. Exª herda do cristianismo algo que é marcante na história dessa fé: a idéia do martírio pessoal como forma elevada de chegar-se aos demais, como um exemplo radical de confiança naquilo que se tem como idéia predominante. A idéia da liberdade, que nasce nas origens do cristianismo, a idéia de que foi dado ao homem o livre-arbítrio, portanto ele é livre na essência do seu ser. A idéia do martírio, que é o que consagra a santidade dentro do cristianismo, não é uma idéia simplesmente masoquista ou autodestrutiva, mas a idéia da entrega radical da vida à sua crença. Aqui está o ponto nodal do exemplo deixado por Teotônio. V. Exª sabe que pude acompanhá-lo nos dois últimos anos de sua vida, particularmente nas idas ao Rio de Janeiro. Era nosso pequeno grupo político, ainda alijado da vida pública brasileira, que permanentemente estava com S. Exª, o acolhia e conversava. Tenho, na mais profunda emoção da memória, a lembrança do dia em que seu pai, já combalido, entrou em um estúdio para ouvir Fafá de Belém gravando O Menestrel das Alagoas. Tenho até uma crônica publicada sobre esse momento no jornal O Globo. Nós todos ficamos paralisados de emoção. S. Exª, combalido, mas lutando, talvez estivesse realizando algo que é pouco compreendido fora do cristianismo: o ideal da santidade, o martírio. Ao ouvir, entre tímido e assustado, aquela reverência, em um dos momentos finais de sua vida - pois sabia que estava para partir -, recebeu uma homenagem que se espalhou pelo povo brasileiro disseminando a semente da esperança, a idéia de mudança. Aquele sim, Senador Teotonio Vilela, foi um grande momento de mudança neste País. A mudança é diferente da continuidade. A mudança é quando se dá um corte radical e nova ordem surge. A outra pode chamar-se evolução, transformação, porém não mudança. Teotônio foi, muito além do menestrel, o cavaleiro da mudança da ordem institucional. Não podemos deixar de ouvir V. Exª recordar seu pai com reverência, com emoção, com carinho. Por quê? V. Exª e seu pai são a mesma pessoa. V. Exª, com seu jeito manso, articulador, conciliador. Seu pai era assim também. Ele só ficou brabo ou, melhor dito, bravo depois que a ditadura implantada no Brasil chegara ao fim de seu ciclo e precisava de uma resposta justamente do pensamento liberal, associado ao pensamento progressista, para que se pudesse fazer uma frente de renovação civil que recuperasse a institucionalidade democrática do Brasil. V. Exª também é assim. Tenho a certeza de que se um dia, abaterem-se sobre o País - que isto não ocorra - as terríveis garras de uma ditadura, V. Exª, com essa mansuetude, puxará de dentro a peixeira que tem na alma, a do ardor cívico, e virá para a luta com a mesma disposição de seu pai. V. Exª é daqueles tipos calmos que pedem a Deus para que não o irritem, porque sabe da sua força quando a fúria, sobretudo o ardor cívico ou algo dessa natureza venha a primeiro plano. Ouvir V. Exª na seqüência de toda essa memória é a certeza de que V. Exª é a continuidade dessa saga. V. Exª o faz com modéstia, que é da sua natureza, com sua timidez simpática e absolutamente irresistível, tanto a seus pares quanto a todos seus outros admiradores. Congratulo V. Exª pelo discurso. Ele nos toca e emociona a todos. Lamento tê-lo interrompido nesta hora, exatamente no meio do discurso, que estava caminhando de maneira tão afetuosa e, ao mesmo tempo, literariamente tão elevada. Parabéns, Senador Teotonio Vilela Filho.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Obrigado pelo aparte, querido amigo, Senador Artur da Távola. Permita-me apenas discordar quando V. Exª me compara com o velho Teotonio. Ele era um gigante, eu sou apenas um homem - bem-intencionado, mas apenas um homem.

Sei da amizade que V. Exª tinha com ele, assim como o Senador Pedro Simon, que era um outro irmão e companheiro de lutas, de sonhos, de esperanças. A convivência com V. Exªs neste plenário, além da satisfação que todos os Senadores têm de conviver com os senhores, para mim tem ainda um caráter inegavelmente rico, que é saber que V. Exªs eram companheiros, parceiros do velho Teotônio Vilela.

Sr. Presidente, o que hoje se pergunta é como se pode enxergar algum sinal de aurora em meio à noite tão cerrada. Mais ainda, que estranha e formidável resistência interior em um homem que já não tinha qualquer resistência orgânica? Como ser tão forte um homem tão fragilizado pela doença? Como alimentar tão fundas esperanças um homem a quem já não sobravam horizontes de vida?

Muitos dos sonhos de Teotônio estão hoje alcançados - inclusive um dos sonhos maiores, de que a democracia não é um valor abstrato, mas tem que se constituir em realidade concreta no cotidiano mais corriqueiro dos mais anônimos cidadãos.

A indicação dos passos a percorrer é ainda maior que o roteiro das conquistas a celebrar. Reconquistamos a democracia formal do funcionamento regular das instituições e do respeito aos direitos individuais. É preciso agora lutar pela democracia social das oportunidades e pelo atendimento dos direitos coletivos.

Espero, Sr. Presidente, e como espero! que a memória de Teotônio que nos une e reúne por um passado de mais liberdade, nos aproxime, num desafio que nos remeterá a um futuro de mais igualdade, de mais solidariedade. Reconquistamos a liberdade, mas é preciso conquistar a justiça. Temos a democracia formal, mas é preciso a cidadania abrangente.

Qualquer retrospecto da vida de Teotônio nos leva inevitavelmente a um exercício teórico de imaginar que cruzadas enfrentaria hoje o velho Menestrel das Alagoas. Como seria a releitura atualizada do seu Projeto Brasil e das cinco famosas dívidas com que fustigava a consciência nacional, clamando por seu resgate? Não parece difícil imaginar que, vencida a etapa da anistia política, Teotônio se jogaria na compulsão com que se atirava às questões políticas e sociais na pregação de uma anistia econômica e social ainda mais abrangente para os milhões de brasileiros hoje mutilados em sua cidadania e violentados até em seu direito à esperança. Teotônio, um conquistador de liberdades políticas, seria, hoje, um guerreiro dos direitos sociais.

Depois da anistia política, depois da dívida política parcialmente resgatada, é a dívida social que mais nos desafia. Apesar do estorvo que representam as dívidas interna e externa para o nosso desenvolvimento e o nosso simples crescimento.

Teotônio, que não admitia um país estigmatizado pela repressão política e pela intolerância ideológica, não suportaria o apartheid econômico que divide e separa regiões e o apartheid social que distancia as pessoas, ameaçando a unidade política da própria Nação.

            Ninguém desconhecerá que muito já se fez, mas todos reconhecerão que há muito a fazer para que todo brasileiro tenha não apenas a liberdade constitucional de ir e vir, mas tenha, sobretudo, a chance econômica e a possibilidade social de chegar a algum lugar, de ser alguém na vida, de assumir ele próprio seu futuro e seu destino. Esse o desafio maior que nos impõem a história e a trajetória de Teotônio, sua pregação e sua esperança, sua luta e seus sonhos.

Sr. Presidente, é preciso hoje, mais que nunca, multiplicar pelas masmorras sociais dos guetos urbanos, gritando pela justiça social, o mesmo clamor de Teotônio que ecoou pelos subterrâneos e pelos porões da ditadura em favor da anistia.

Esse o grito de Teotônio que nasce de sua pregação e se multiplica nos ecos de sua história; essa a conquista que ele nos aponta; esse o avanço que a sua história nos impõe. Acredito, Sr. Presidente, e acredito com a fé fortalecida, nos exemplos da vida de Teotônio, que esse não será um sonho divisionário, mas o grito de um profeta na antevisão de seus sonhos de esperança.

O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senador?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO(Bloco/PSDB - AL) - Com muito prazer, querido conterrâneo, Senador Renan Calheiros.

O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Senador Teotonio Vilela Filho, sinceramente lamento interromper o brilhante discurso que V. Exª profere nesta manhã, no Senado Federal. Em meu nome e em nome de todos os companheiros do PMDB, associo-me à justíssima homenagem que V. Exª presta a um dos maiores brasileiros de todos os tempos, Teotônio Vilela. De norte a sul, como ninguém, em nenhum momento da nossa História, sintetizando o sentimento da Pátria, pregou a liberdade, guerreou pela democracia, pela justiça social e pela anistia política. Sinceramente, Senador Teotonio Vilela, tenho muito orgulho de ter sido contemporâneo, amigo e seguidor do Senador Teotônio Vilela, que foi um exemplo de vida. A sua memória, sem dúvida nenhuma, fortalece cada vez mais a amizade, o companheirismo e o respeito que tenho, igualmente, por V. Exª. Parabéns pelo discurso.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Muito obrigado, Senador Renan Calheiros.

            Lembro-me muito bem do quanto o velho Teotônio estimava V. Exª. Lembro-me também quando, em um discurso, em um palanque em Murici, a sua terra natal, lá na nossa pequenina Alagoas, Teotônio disse, há vinte e dois anos aproximadamente, que aquele jovem deputado estadual, então, com vinte e dois, vinte e três anos de idade, chamado Renan Calheiros, ainda seria muito ouvido por todo o Brasil. O velho Teotônio, mais uma vez, profetizou em Murici, já antevendo a competência, o caráter e o vigor político da personalidade do Senador Renan Calheiros. Eu fico muito honrado com o aparte de V. Exª.

O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - Senador Teotonio Vilela Filho, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Concedo um aparte ao nobre Senador Francelino Pereira.

O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - Meu caro Senador e amigo, contemporâneo dos meus filhos e também deste seu amigo, a minha presença aqui é para felicitá-lo, nesta quinta-feira azul - mais azul se torna com as palavras de V. Exª - pela homenagem que presta ao grande e inigualável ex-Senador da República Teotônio Vilela, o Menestrel das Alagoas. Confesso a V. Exª que não convivi na proximidade com Teotônio Vilela. Entretanto, confesso ainda a V. Exª que considero ser ele um dos grandes vultos, dos maiores do Brasil, da história contemporânea, a espalhar pelo Brasil inteiro e fazer penetrar no tecido social deste País a imagem de homem só que teve a coragem e o destemor de testemunhar a situação de um país que agora está chegando aos 180 milhões de brasileiros, guardando na memória a pregação de Teotônio Vilela. O pronunciamento de V. Exª, bem elaborado, até com um toque de visionário, como visionário foi seu pai, no sentido mais elevado da palavra, faz referência a que o Brasil ainda não atingiu os píncaros da pregação de Teotônio Vilela. Claro que alcançamos: pela lembrança da ditadura de Vargas, pelo despotismo do Estado Novo e, depois, pela interrupção do processo democrático que deveria perdurar por menos de 2 anos e terminou chegando aos 22 anos. E essa situação, de certa forma anômala ou de exceção, permitiu que Teotônio Vilela percorresse o Brasil inteiro, que visitasse todas as regiões do Brasil, que fosse abraçar as montanhas mineiras, que recorresse sempre à imagem dos inconfidentes, de onde saiu a liberdade deste País. Vale sempre recordar que a imagem de Teotônio Vilela teria de ser lembrada nesses 19 anos do seu último adeus. A pregação dele deve ser sempre lembrada porque o Brasil, embora esteja cada vez mais conquistando a igualdade política e o sentimento do amor e da fraternidade, continua sendo um País injusto porque desigual, desumano, entregue a uma distribuição de renda sinistra porque das piores do mundo. Toda a pregação de Teotônio Vilela foi no sentido de aprofundar a consistência das instituições democráticas. Faz V. Exª muito bem lembrar que ele não se limitou apenas ao aprimoramento dessas instituições do ponto de vista formal. O âmago, as profundezas da pregação de Teotonio Vilela assumem uma dimensão maior, haja vista que pregou a necessidade de estabelecer-se no Brasil uma sociedade dominada pela igualdade social no pressuposto de que não basta igualdade política, porque essencial é a igualdade social. Em Minas, também tivemos, sem uma história lancinante como a de Teotônio Vilela, a figura de Milton Campos, que dizia não ser fundamental para a democracia apenas essa pregação formal entre democracia e redemocratização; que o fundamental é uma pregação sincera e autêntica em que o brasileiro possa confiar. Interessante e admirável é a pregação de Teotônio Vilela, que passou a ser respeitada e relembrada, pelos anos afora, pela consistência da sua palavra e pela autenticidade daquilo que pregava. Então, transmito, por intermédio de V. Exª - seu filho -, uma mensagem ao povo de Alagoas pelo fato de Teotônio Vilela ter pregado a existência de um País na igualdade econômica e social, sem a terrível exclusão social que atualmente devora, cada vez mais, a paz e a tranqüilidade de uma Nação que merece o amor de todos e o olhar do mundo inteiro. Nesta hora, digo a V. Exª que a pessoa de seu pai está sendo lembrada hoje, no término de uma semana, e será eterna. Muito obrigado.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Agradeço a V. Exª, nobre Senador Francelino Pereira, o seu aparte, que, com muito orgulho, incorporo ao meu pronunciamento. V. Exª é um querido e velho amigo e, ao comparar Teotonio com Milton Campos, escolheu justamente uma figura por quem ele tinha admiração profunda. Meu pai dizia que Milton Campos era um sábio e um santo e realmente o admirava. Muito obrigado, meu querido amigo, nobre Senador Francelino Pereira.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Ouço com prazer V. Exª, que é mais do que um amigo: é um irmão do velho Teotônio Vilela.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Meu bravo e querido Senador, V. Exª está comovendo toda a Casa e faz muito bem ao chamar a atenção do Plenário para a figura de Teotônio Vilela exatamente agora quando estamos às vésperas de ver assumir o novo Governo. A poucos dias de o próximo Governo iniciar sua gestão, vale a pena lembrar a luta e a caminhada de Teotônio Vilela e o quanto muitos devem, neste Brasil, aos sonhos e às loucuras - digamos assim - da sua coragem. Ele teve a antevisão e, que coisa estranha, eu estava lembrando agora com o Senador José Fogaça que, quando estávamos no ABC, naquela praça lotada de militares e de mulheres de operários, exigindo os militares que as mulheres saíssem imediatamente, Teotônio conseguiu do coronel que primeiramente se retirassem os militares e, logo depois, as mulheres e as crianças. Lembro-me de quando fui, junto com Teotônio, visitar o Lula na cadeia, barba por fazer, aquela figura estranha, presenciei o carinho e o afeto que Teotônio tinha pelo Lula - sendo a recíproca verdadeira -, quem poderia imaginar que, hoje, estaríamos nas vésperas de aquele homem assumir a Presidência da República? Exatamente Teotônio acompanhou toda a caminhada do ABC, toda aquela luta, toda aquela greve e toda aquela ação de Lula. Teotônio estava sempre presente, foi para ficar os dias necessários. Lembro-me do debate dele de dedo em riste na cara do coronel, fazendo-o retroceder. A conversa foi com ele no Dops, defendendo, debatendo e justificando o esforço de Lula, dizendo que o Lula era apenas um que estava representando os milhões de brasileiros que passavam fome e tinham o direito de estar lutando. É impressionante! Aonde quer que fosse! Não que o Teotônio ofendesse, ele não partia para agressão pessoal; ele não baixava o nível do debate. Mas na agressão cívica e moral, ele era muito duro. Ele era áspero. No entanto, dizia com tanta firmeza e com tanta convicção que as pessoas jamais, em momento nenhum, levantavam a mínima censura ou interrompiam qualquer tipo de debate de Teotônio Vilela. Faz bem V. Exª lembrar hoje Teotônio. E creio que o Lula e o PT fariam bem se, agora, na hora da festa e da alegria, na hora de assumir o Governo, escolhessem uma forma, um momento de se lembrar de Teotônio Vilela. Teotônio tinha um carinho muito grande pelo Lula e pelo ABC. Ele dizia que era dali que se poderia esperar nascer um movimento que realmente fizesse as transformações de que o Brasil precisa. “E o que precisamos fazer - dizia Teotônio - é que isso seja feito pacificamente. Essa gente está se organizando, está querendo criar um partido, está querendo se esforçar! Temos que fazer com que isso seja possível pacífica, ordeira e democraticamente, e não na luta de derramamento de sangue. Amanhã, esses trabalhadores vão querer responder à redentora da ditadura, e não sabemos como terminará!”. Nos dias que estamos vivendo tem a presença de Teotônio. Não tenho nenhuma dúvida nesse sentido. V. Exª lembra o último discurso dele. Ele que queria ser candidato à reeleição não pôde, porque, na eleição, estava hospitalizado, em São Paulo. Ele queria ir de qualquer jeito. E acho que deveríamos ter deixado o nome dele na cédula. E ele teria sido eleito. E fui um dos que defenderam isso. E fui um dos que defenderam que o nome de Teotônio deveria figurar na cédula. E ainda no hospital, ele teria condições de fazer algumas mensagens; e ele seria eleito. Mesmo não sendo candidato, ele deixou de ser Deputado quando fez o discurso de despedida. Mas é importante salientar: quando os médicos diziam que, feito o discurso de despedida, a missão dele era Paris, a Europa; que ele tinha direito - ele já havia feito o máximo possível pelos seus filhos, pela sua mulher, pela sua família - de ir para Paris, onde deveria ter um apartamento, e lá usufruir das coisas boas. Ele não fez isso. Ele não saiu nem de Brasília. Ele ficou mais dois anos aqui, neste Congresso, debatendo, discutindo, lá no comando do MDB. Ele ficou - ainda que sem a tribuna parlamentar - com a imprensa, com o rádio, com a televisão. Era um Senador a mais que tínhamos aqui, convivendo conosco, cobrando de nós, dizendo que tínhamos de ir à tribuna. Depois, avaliava a nossa atuação e dizia: “Mas não era isso que tinha de fazer”. E continuou percorrendo o Brasil, em cadeira de rodas, com os quatro cânceres, com as duas muletas. O discurso mais bonito que ouvi, na minha vida, foi na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, onde havia milhares de jovens, todos chorando copiosamente. Teotônio foi de cadeira de rodas até a tribuna, pegou as duas bengalas e começou falando lentamente, levemente, até que, de repente, a emoção tomou conta dele, dando-lhe uma força extra. Então, ele colocou as muletas em cima da mesa e começou a dizer: “Eu estou aqui com meus quatro cânceres, eu estou aqui com minha cadeira de rodas, eu estou aqui com minhas muletas. Posso não enxergar direito, mas estou aqui. E vocês? E vocês, jovens desta terra, que têm dois olhos, que têm saúde, que têm vida, que têm pernas, o que estão fazendo por este País? Vocês é que têm de transformar este País. Vocês têm de mudar, têm de alterar a realidade deste País!” E esse discurso ele fez pelo Brasil inteiro. Por isso, meu querido amigo, que tem a honra de ocupar aqui a cadeira de Teotônio, aqui, e trazer o espírito de Teotônio ao Senado, no seu brilhante discurso, o qual estamos atrapalhando, tem razão em nos chamar a atenção. Eu iria além, para dizer: infelizmente, surpreendentemente, o PT já não é mais o PT. Nunca havia visto isso. Quando o PT tinha dois Senadores, sempre havia um aqui. Agora, que tem dez, não há nenhum aqui. Eles devem estar nas reuniões preliminares de Governo. Mas, mesmo assim, faço um apelo ao Senador Suplicy, que é Líder e que tanto conviveu com Teotônio, que, mesmo atarefado em virtude dessas atividades fantásticas de preparação da justa posse do Lula na Presidência da República, fale com o Presidente eleito - o próprio Lula deveria pensar nisso - para que o Congresso e o Governo, nos primeiros dias de janeiro, prestem uma homenagem conjunta ao grande homem que foi Teotônio Vilela. Meu abraço muito carinhoso a V. Exª, prezado Senador.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon. Esta Casa não sabe, o Brasil não sabe, quase ninguém sabe, mas a minha família jamais esquecerá o gesto de V. Exª quando, um dia, foi a Alagoas, sozinho, sem avisar a ninguém a não ser à família, pediu que se rezasse uma missa. Depois, fomos todos ao cemitério, e, no túmulo de meu pai, V. Exª colocou uma pequena placa, singela, que dizia: “Teotônio, a homenagem do amigo Pedro Simon.”

Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

O Sr. Geraldo Melo (Bloco/PSDB - RN) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Concedo um aparte ao meu Líder, no Senado, Senador Geraldo Melo.

O Sr. Geraldo Melo (Bloco/PSDB - RN) - Caro amigo e companheiro, eminente Senador Teotonio Vilela, estou ouvindo, emocionado, o discurso de V. Exª. Sou daqueles brasileiros que, não tendo tido o privilégio de conhecer pessoalmente Teotônio Vilela, tiveram a sua parte de esperança na construção da liberdade, da democracia, neste País, distribuída ao coração de todos nós, inclusive ao meu, pela palavra, pelo exemplo, pela bravura de Teotônio. Não quero me alongar, Senador; mas gostaria de dizer apenas duas coisas: primeiro, que o Brasil que somos é obra de muitos, de 500 anos de vida do povo brasileiro. O que ele tem de bom, também foi construído no decorrer do tempo e há, em algum lugar do infinito, em algum lugar do espaço, uma galeria de vultos, de figuras, que construíram o momento de liberdade, de amadurecimento, de consolidação democrática de que desfruta hoje o povo brasileiro. E tenho certeza de que já hoje distante da sua cadeira de rodas, das suas muletas, das suas bengalas e dos seus cânceres, Teotônio está como uma das mais eminentes figuras e um dos mais importantes construtores da sociedade que estamos começando a ser. E, segundo, que enxergo em V. Exª alguém que percebeu a responsabilidade que tem hoje como Senador. Sentado na mesma cadeira de seu pai, V. Exª preserva, mostra e revela sua própria personalidade, revela a individualidade de Teotonio Vilela Filho, a força e o caráter de uma pessoa jovem mais o compromisso de integridade, de amor ao Brasil e dedicação à democracia que V. Exª trouxe para esta Casa e soube conservar. Uma das coisas que mais me tocaram neste momento, além do seu discurso, foi V. Exª iluminar a grande honra que me dá: a condição de ser Líder de uma Bancada da qual fazem parte homens como V. Exª. Peço a Deus, diante dos desafios do futuro, que o Brasil de amanhã veja que Teotônio ajudou a construir o Brasil de hoje e que na construção do Brasil de amanhã não faltem tantos Teotônios Vilelas quantos forem necessários, para que o povo brasileiro continue a ter personalidades como S. Exª, das quais possa se orgulhar, no futuro. Parabenizo V. Exª não só pelo discurso de hoje, mas pela maneira como sabe ser o novo Teotonio das Alagoas e alguém que honra esta Casa, seu Partido, seu povo e seus amigos.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Muito obrigado, meu Líder e amigo, Geraldo Melo.

A honra - saiba V. Exª - é minha, de ser liderado pelo Senador Geraldo Melo, do Rio Grande do Norte.

O Sr. Carlos Wilson (PTB - PE) - V. Exª concede-me um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Concedo um aparte ao Senador Carlos Wilson.

O Sr. Carlos Wilson (PTB - PE) - Senador Teotonio Vilela Filho, vim a este plenário hoje para ouvir o discurso de V. Exª. Eu sabia da sua emoção, sabia que V. Exª contaria toda a história de vida de seu pai, o Senador Teotônio Vilela. Fiquei inquieto, secretariando a Mesa ao lado do Senador Edison Lobão, e quis aparteá-lo. Eu me considero um privilegiado. Cheguei ao Congresso Nacional com 23, 24 anos de idade e já encontrei o saudoso e querido Senador Teotônio Vilela, um referencial de luta de todos nós. Lembro-me bem de que nos encontrávamos quase que diariamente no restaurante do Senado para ouvir o Senador Teotônio Vilela. Ele foi sempre um referencial de luta, de bravura e de dignidade para todos nós, parlamentares. Em um dos momentos mais difíceis deste País, como foi destacado brilhantemente pelo Senador Pedro Simon, na época da ditadura militar, em que muitos companheiros morreram, outros foram cassados, Teotônio estava sempre na linha de frente em defesa dos que sofriam retaliações do regime militar. O Senador Pedro Simon disse aqui da solidariedade do velho Teotônio a Lula. Quando Lula iniciava sua luta pelo movimento sindical, ele sempre estava presente. O Senador Romeu Tuma relatava há pouco que, no momento em que Lula estava preso, o Senador Teotônio lá estava presente. Isso nos leva a ter a certeza de que, se o Senador Teotônio Vilela aqui estivesse, Senador Pedro Simon, também estaria muito feliz - e lá onde se encontra também - com o momento que o País atravessa, quando elege um Presidente da República que tinha toda identificação com o Senador Teotônio Vilela. Acompanhei de perto toda a luta do Senador Teotônio Vilela e também fui oriundo da Aliança Renovadora Nacional - Arena. V. Exª foi aparteado aqui pelo ex-Presidente da Arena, o Senador Francelino Pereira. Àquele momento, quando veio a reforma partidária, meu caminho político - até posso dizer com muita honra e como privilegiado - foi pautado pela decisão do Senador Teotônio Vilela. Fomos os dois primeiros parlamentares da antiga Arena, quando se abriu o quadro partidário, a entrar na oposição, no PMDB, para se alinhar aos outros companheiros no combate à ditadura militar. Então, Senador Teotonio Vilela Filho, hoje deve ser um dia de muita emoção e muito orgulho para V. Exª, filho de Teotônio Vilela, assomar à tribuna e fazer este belo discurso, destacando a figura de seu pai. Também me lembro, Senador Pedro Simon, de uma outra figura que foi um referencial de muita luta, por quem o Senador Teotônio Vilela tinha muita admiração e que morreu também vitimada por essa doença miserável e cruel que o levou, a saudosa Deputada Cristina Tavares. Eles formavam quase um casal de baluartes da democracia neste País. Quando se fala da visita que ele fazia a Lula quando preso, lembro-me de muita gente. Então, quero agradecer o privilégio de ter aprendido muito com o Senador Teotônio Vilela e a honra e o privilégio de ter como companheiro V. Exª, Senador Teotonio Vilela Filho, que é um orgulho da nossa geração. Já foi destacado aqui, com muito brilho, pelo Senador Artur da Távola, o perfil de V. Exª, que herdou todas as virtudes do Senador Teotônio Vilela. Então, para nós que tivemos esse privilégio de conviver e aprender com o Senador Teotônio Vilela, quero mais uma vez exaltar, destacar e louvar o discurso que V. Exª faz, homenageando a memória daquele que, honrosamente para V. Exª e para nós, brasileiros, foi o grande Senador do nosso País, o nosso saudoso Menestrel das Alagoas, Senador Teotônio Vilela.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Muito obrigado, nobre Senador Carlos Wilson, querido Cali. Sei muito bem do carinho, da amizade e da estima que o velho Teotônio tinha por V. Exª. Orgulho-me muito por dar continuidade a essa amizade que vem da amizade de seu velho pai com o velho Senador Teotônio.

Muito obrigado.

O Sr. Antero Paes de Barros (Bloco/PSDB - MT) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Concedo um aparte ao nobre senador Antero Paes de Barros.

O Sr. Antero Paes de Barros (Bloco/PSDB - MT) - Prezado Senador Teotonio Vilela Filho, quero cumprimentá-lo pela qualidade do pronunciamento, pela justa homenagem que faz ao grande Menestrel das Alagoas. Não tive oportunidade de conviver com o Senador Teotônio Vilela. Conheci seu pai de forma diferente, exclusivamente pela leitura dos jornais, pelo rádio e pela televisão; exclusivamente pelo noticiário. Há um fato na minha vida pública que eu gostaria de deixar registrado aqui e creio já ter-lhe contado pessoalmente. Minha primeira eleição foi em 1982, para Vereador, em Cuiabá. Minha primeira iniciativa parlamentar foi conceder a Comenda da Ordem do Mérito Legislativo Pascoal Moreira Cabral, que foi o fundador da minha cidade, ao Senador Teotônio Vilela. Incumbi, à época, o Deputado Federal eleito, Dante de Oliveira, que depois faria a emenda das Diretas Já, por cuja causa tanto lutou Teotônio, de transmitir-lhe o convite. Não tive a alegria e a oportunidade de entregar-lhe a comenda, mas a minha cidade, Cuiabá, teve a honra de poder homenageá-lo, pelos vereadores da Câmara Municipal àquela época. Quero cumprimentá-lo, dizer que realmente novas são as tarefas. V. Exª faz bem em lembrar a necessidade da eliminação do apartheid social, da diminuição, da conquista da democracia econômica, da evolução, para que nós, que no passado combatíamos a censura da ditadura, possamos combater hoje a censura econômica tão presente nos veículos de comunicação, como tivemos recentes exemplos em importante jornal da capital da República. Enfim, são muitas as lutas ainda a serem travadas para darmos seqüência ao ideal de Teotônio Vilela. Mas eu quero cumprimentá-lo pela qualidade do seu pronunciamento, lamentar interrompê-lo, mas dizer que não poderia deixar de me associar à justeza da homenagem de V. Exª àquele que é, sem dúvida, um dos maiores brasileiros de todos os tempos. Parabéns a V. Exª.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Obrigado, nobre Senador Antero Paes de Barros, querido amigo, pelo aparte de V. Exª.

Sr. Presidente, eu quero agradecer a generosidade de V. Exª ao ampliar o tempo para a conclusão do meu discurso.

O Sr. Romero Jucá (Bloco/PSDB - RR) - Senador Teotonio Vilela Filho, peço um aparte a V. Exª.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Sr. Presidente, vou conceder um aparte ao Senador Romero Jucá e depois concluirei o meu pronunciamento.

O Sr. Romero Jucá (Bloco/PSDB - RR) - Caro Senador Teotonio Vilela Filho, serei breve. Como o Senador Antero Paes de Barros, também não convivi com Teotônio Vilela, seu pai. Não tive o prazer de receber diretamente as lições que muitos dos nossos Parlamentares, com brilhantismo, relataram. Gostaria de, em primeiro lugar, associar-me às homenagens. Como o Senador Antero, conheci o Senador Teotônio Vilela pelos jornais, pelos livros e, principalmente, pela postura política. O Senador Teotônio Vilela foi um dos ícones na formação política da minha geração. Poder hoje estar homenageando-o por intermédio de sua pessoa, meu querido amigo, companheiro e até confidente, traz-me alegria. Tenho certeza de que Teotônio Vilela pai está feliz onde estiver, porque fez um grande trabalho pelo País, deixou uma grande herança e um grande legado e também porque vê hoje seu filho trilhando os mesmos caminhos e sendo também uma peça fundamental para o presente e o futuro do nosso País. Homenageio V. Exª e seu pai, em nome da Liderança do Governo e em meu nome pessoal.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL) - Agradeço-lhe o aparte, querido amigo e Líder, Senador Romero Jucá.

Sr. Presidente, para concluir meu discurso, repito: é preciso hoje, mais que nunca, multiplicar pelas masmorras sociais dos guetos urbanos, gritando pela justiça social, o clamor de Teotônio que ecoou pelos subterrâneos e pelos porões da ditadura em favor da anistia.

Esse o grito de Teotônio que nasce de sua pregação e se multiplica nos ecos de sua história. Essa a conquista que ele nos aponta. Esse o avanço que a sua história nos impõe. Acredito, e acredito com a fé fortalecida nos exemplos de vida de Teotônio, que esse não será um sonho de visionário, mas o grito de um profeta, na antevisão de seus sonhos de esperança.

Acredito, Sr. Presidente, e acredito com a esperança de Teotônio, que não sonhamos sozinhos esse sonho de um Brasil mais justo e mais solidário; sonhamos juntos o sonho que será penhor de futuro e conquista de nosso povo. Sonhamos juntos o sonho da justiça, o sonho da esperança. Sonhamos juntos o sonho do Teotônio das Alagoas, dos oprimidos e de todos os excluídos, do Teotônio dos que têm fé e esperança, do Teotônio do Brasil.

Ao completar dezenove anos da morte de meu pai, quero mandar estas flores, como brasileiro, como cidadão, como Senador da República e como um filho que tem muitas saudades.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Muito obrigado.

(Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/11/2002 - Página 23002