Pronunciamento de Carlos Patrocínio em 28/11/2002
Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
SAUDAÇÃO AO GOVERNO FEDERAL PELA DECISÃO DE PARTICIPAÇÃO DO SOERGUIMENTO ECONOMICO E SOCIAL DE ANGOLA.
- Autor
- Carlos Patrocínio (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/TO)
- Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA INTERNACIONAL.
POLITICA EXTERNA.:
- SAUDAÇÃO AO GOVERNO FEDERAL PELA DECISÃO DE PARTICIPAÇÃO DO SOERGUIMENTO ECONOMICO E SOCIAL DE ANGOLA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 29/11/2002 - Página 23014
- Assunto
- Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, SITUAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ANGOLA, ESPECIFICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, JONAS SAVIMBI, TERRORISTA, LIDER, ORGANISMO INTERNACIONAL, OPOSIÇÃO, MOVIMENTAÇÃO, LIBERDADE, REGIÃO, INCENTIVO, AUMENTO, VIOLENCIA, CRISE, POPULAÇÃO.
- CONGRATULAÇÕES, INICIATIVA, GOVERNO BRASILEIRO, AUXILIO, RESTAURAÇÃO, POLITICA, ECONOMIA, PAIS ESTRANGEIRO, ANGOLA.
O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, grande foi o destaque dos meios de comunicação à biografia do matemático John Forbes Nash Jr. A história do criador da Teoria dos Jogos, intitulada Uma Mente Brilhante, inspirou o filme homônimo, que esteve por bastante tempo em cartaz nos principais cinemas do País. Tanto a película quanto o livro procuraram ser fiéis à carreira do genial e esquizofrênico Nash, hoje com 73 anos, que recebeu o Prêmio Nobel em 1994.
Possuir uma mente brilhante é uma das características marcantes dos psicóticos. Quase como se um cérebro normal não conseguisse abarcar tamanha inteligência. Daí a ruptura, o distanciamento da vida real; a criação de um mundo paralelo, onde os delírios parecem se concretizar, e que pode substituir a realidade comum.
Caso sejam compreendidos e adequadamente orientados, esses gênios contribuem, como Nash, para o progresso da humanidade. Desatendidos, vão povoar os manicômios, sendo trágicos personagens de uma existência irreal - como se uma parede de vidro os separasse dos demais. Manipulados, tornam-se perigosas marionetes nas mãos dos que se dedicam às disputas de poder.
O primeiro ano do Século XXI terminou sob a ameaça sombria da figura de Bin Laden e seus talibãs. Criado e treinado pelos Estados Unidos, o líder afegão continua a inspirar os guerrilheiros da Al-Qaeda que estão determinados a lutar “até o último suspiro”. Osama Bin Laden, “terrivelmente quieto”, segundo o presidente George W. Bush, permanece bastante presente no imaginário do mundo ocidental, porque ousou estender seus tentáculos sobre a maior nação do planeta.
Menos conhecido, mas não menos perigoso, foi o líder máximo da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), Jonas Savimbi, que morreu em confronto com militares de seu país, em 22 de fevereiro deste ano de 2002. Segundo os que com ele conviveram, era um cérebro brilhante, mas perigoso; talvez até psicopata.
As informações sobre esse líder guerrilheiro são bastante imprecisas. O que se sabe ao certo é que era filho de um pastor protestante, estudou na Europa e foi destaque durante a guerra fria. Formou-se em medicina em Lisboa, ou em ciências políticas e jurídicas pela Universidade de Lausanne? Morreu aos 65, 67 ou 68 anos? Com 15 ou 17 tiros? Com o tempo, os historiadores esclarecerão todos esses fatos.
Hoje, a certeza é que Savimbi - condecorado em 1968 pelo presidente Ronald Regan, no Salão Oval da Casa Branca, como um “combatente da liberdade” - morreu como um pária, encurralado pelas tropas do governo; abandonado pelos antigos aliados; chamado pelas Nações Unidas de terrorista e assassino de civis inocentes.
Da mesma forma que Osama Bin Laden, Jonas Savimbi contou com o apoio dos Estados Unidos em sua luta contra o Movimento Popular pela Libertação de Angola - MPLA, de tendência marxista e patrocinado pela União Soviética. A luta planetária entre o comunismo e o capitalismo travou-se naqueles perdidos rincões da África, da mesma forma que na Coréia, no Vietnã e no Afeganistão.
Em 1976, terminou a primeira etapa da guerra civil em Angola, com a vitória do MPLA. Em 1979, o marxista José Eduardo dos Santos assumiu o poder, reconhecido pelo Brasil. Em 1991, José Eduardo e Jonas Savimbi firmam um acordo de paz, que culminou com as eleições de 1992 - as únicas já realizadas naquele país. Derrotado nas urnas, Savimbi retornou à luta armada.
Antes prestigiado pelos Estados Unidos, por Portugal e pela África do Sul, o líder da Unita, já sem nenhuma serventia no jogo de xadrez internacional, continuou sua guerra particular.
Voltou-se contra a população civil - que o rejeitara nas eleições - e contra as organizações de ajuda humanitária que buscavam auxiliar o povo angolano. Atacou escolas, ônibus, hospitais. A imprensa relata que, em agosto de 2001, descarrilou um dos raros trens a operar no país e massacrou os passageiros que tentavam fugir, matando mais de 250 pessoas.
Para manter as atividades da UNITA, recorreu ao contrabando de diamantes, arrecadando US$4 bilhões na década passada.
Sua morte deixa um saldo trágico para o povo angolano:
- em conseqüência daquela guerra insana, Angola, um país repleto de recursos naturais, se tornou uma das mais pobres nações do mundo;
- os 10 milhões de minas espalhadas pelo país, resultaram em mais de 100 mil mutilados;
- 80% dos 10,4 milhões de angolanos são jovens demais para terem conhecido a paz;
- aproximadamente 3 milhões de deslocados vivem na periferia das grandes cidades, em condições subumanas.
Apesar dessa herança terrível, o desaparecimento de Savimbi trouxe a possibilidade de dar fim a uma guerra que já matou mais de 500 mil pessoas. O povo sofrido nutre esperanças de que, em 2005, o trigésimo aniversário da independência do país possa ser comemorado em clima de paz.
Embora o mundo ocidental não lhe tenha atribuído a devida importância, a guerra civil angolana foi, sem dúvida, um dos mais violentos conflitos contemporâneos.
Sr. Presidente, nobres Senadoras e Senadores, entre os 170 países avaliados pela Nações Unidas, a posição de Angola é a de número 160. Entretanto, potencialmente é a nação mais rica do continente africano.
Ressalte-se, porém, que, nos quase 27 anos de luta, a agricultura - como tudo naquele país - foi devastada. Proliferaram somente as plantações de “liamba (maconha), porque as guerrilhas sempre cobram dos camponeses uma taxa de proteção ao cultivo e sobre a distribuição de drogas, para financiar suas batalhas internas”. Assim afirma Wálter Maicrovitch, em seu artigo intitulado “Narcotizar os explorados”.
O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, há 25 anos. Hoje, nosso país tem tudo para ser o maior parceiro econômico, político e cultural daquela nação.
O povo angolano inicia a reconstrução da sua pátria. E não conseguirá ressurgir dos escombros sem ajuda externa, pois os bombardeios de Savimbi destruíram a hidrelétrica de Capanda, além de estradas, pontes, prédios públicos, núcleos de exploração diamantífera etc.
Saúdo, portanto, a decisão do Governo Federal de participar da tremenda tarefa de soerguimento da pátria angolana. É por isso que me orgulho do meu país e do meu povo! Uma vez mais, o Brasil se fará presente no momento difícil em que um povo vilipendiado procura se pôr de pé frente ao mundo. Nossos técnicos, nossos compatriotas, lá estarão representando o povo brasileiro, empenhando sua coragem e sua força, em uma tarefa de paz.