Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Entendimento positivo a respeito da expectativa da população quanto à mudança de governo.

Autor
Lúdio Coelho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Lúdio Martins Coelho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Entendimento positivo a respeito da expectativa da população quanto à mudança de governo.
Aparteantes
Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2002 - Página 23152
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, EXPECTATIVA, POPULAÇÃO, BRASIL, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ELOGIO, ELEIÇÕES, PAIS, REFORÇO, DEMOCRACIA.
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DIVIDA EXTERNA, BRASIL, REGISTRO, IMPORTANCIA, FINANÇAS, PAIS, ECONOMIA, MUNDO, MANIFESTAÇÃO, ORADOR, CONFIANÇA, GOVERNO, CANDIDATO ELEITO.

O SR. LÚDIO COELHO (Bloco/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem à noite, quando saí do Senado, estava assistindo à televisão e vendo o resultado de pesquisas sobre o que a família brasileira está esperando do próximo Governo.

Em todo esse período da minha vida, nunca assisti a uma expectativa tão positiva da família brasileira quanto a um Governo que se vai iniciar. Isso é muito bom. A esperança é muito boa. As sinalizações - porque ainda não passam disso - de alguns Ministros de Sua Excelência, o Presidente Lula, estão me dando uma boa impressão. Estou gostando das suas possíveis escolhas.

Tenho a impressão de que esta é a oportunidade que a Nação brasileira tem de procurar fazer as modificações necessárias e mais urgentes para aprimorarmos, de uma maneira geral, o desempenho do Poder Público brasileiro como um todo. Tenho a impressão de que, com esse apoio que está recebendo da população, o Presidente Lula terá condições, logo de início, de marcar uma direção firme de aprimoramento de desempenho.

Tenho falado, no correr da minha estada no Senado, sobre a necessidade do aprimoramento de desempenho de todos os Poderes da República. Seria oportuno que, nessas reformas, procurássemos aprimorar todas as áreas do Governo - os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo -, sendo que o Poder Legislativo abrangeria todas as esferas de poder no nosso País, começando pelas Câmaras de Vereadores, Assembléias Legislativas e Congresso Nacional.

O nosso País tem dado uma demonstração de compreensão muito boa. A família brasileira é muito cordata. Não me recordo de uma mudança tão acentuada de governo como a resultante das últimas eleições. Nem mesmo na Polônia, quando Lech Walesa assumiu o governo, houve uma mudança tão completa como a que estamos assistindo aqui: um político operário, de origem humilde, da classe trabalhadora, substitui, na Presidência da República, um governo capitalista liberal - porque o nosso Governo é capitalista. A nossa população fez essa mudança com tranqüilidade, pacificamente, sem movimentos radicais de nenhum dos lados. Isso é extraordinário. Diante desse mundo conturbado e das dificuldades por que a Humanidade está passando, essa é uma demonstração de compreensão.

Quero dizer ao meu País e à população do meu Estado que estou esperançoso de que, havendo persistência nessa linha de comportamento, o Presidente Lula constitua um governo efetivamente representativo das forças que o elegeram. É muito importante essa compreensão.

Em certa ocasião, conversando com o Governador Zeca, do meu Estado, eu lhe disse que S. Exª não havia constituído um governo representativo das forças que o elegeram. O PT foi o instrumento, mas a eleição foi da vontade popular, da maioria da população.

É necessário que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, entenda bem o que o povo brasileiro disse nas urnas. Estou com a impressão de que esse acontecimento das últimas eleições é um cenário extraordinário para os cientistas políticos avaliarem o que a população falou nas urnas: elegeu o Presidente de Honra do PT à Presidência da República e outras forças para governar quase todos os Estados do Brasil. Na base principal do PT no Rio Grande do Sul, a população substituiu o Governo do PT no Executivo.

Então, considero da mais alta importância tentarmos fazer um diagnóstico adequado do recado que a população brasileira nos está dando.

O PT trabalhou, durante todos esse anos, numa oposição sistemática, votando contra quase tudo, e recebeu o apoio da população a essa posição. Então, é necessário que o PT dê cumprimento aos compromissos assumidos perante a população de melhoria de desempenho do Poder Público do nosso País.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. LÚDIO COELHO (Bloco/PSDB - MS) - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Nobre Senador Lúdio Coelho, desejo cumprimentá-lo pelo pronunciamento extremamente lúcido, pelo diagnóstico tão preciso do momento político brasileiro, pela análise que demonstra maturidade política ao reconhecer o que significa este momento histórico testemunhado pelo povo brasileiro, essa delegação de poder a um novo projeto de desenvolvimento socioeconômico para o Brasil e as distinções ideológicas, muito bem estabelecidas por V. Exª, entre a apresentação do projeto representado pelo Presidente eleito, Lula, e o Governo que sai, do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Não tenho dúvida de que V. Exª traduz a realidade do momento político atual. V. Exª expõe a melhor das intenções ao falar da grande responsabilidade do Presidente eleito em corresponder a essa demonstração de confiança e ao desejo de mudança da nossa sociedade. O Presidente eleito, Lula, há poucas horas, em conversa com a Bancada do Partido dos Trabalhadores, externou que tem plena consciência de que nunca se impôs tanta responsabilidade e exigência de acertar a um governo como está acontecendo neste momento histórico, em que o povo tomou essa decisão política. Este momento de aparente tranqüilidade reflete um momento difícil da vida nacional. Temos 12 milhões de desempregados no País, temos crises em inúmeros setores do desenvolvimento nacional, crise no saneamento básico, crise da potencialidade do desenvolvimento da agricultura, que não correspondeu à capacidade produtiva do homem brasileiro, porque os investimentos foram mais escassos, em que pese esse setor ter dado passos satisfatórios de desenvolvimento nos últimos anos. E temos uma dívida social profunda, acumulada ao longo de 500 anos, com os excluídos do Brasil, que somam hoje mais de 40 milhões. Temos que encontrar uma política pública capaz de absorvê-los. Tenho certeza absoluta, principalmente após ouvir um pronunciamento como este que V. Exª faz, de que vamos entender a maturidade política que vive o Brasil e que vivem os partidos que compõem o Congresso Nacional, que certamente estarão a favor de tudo que diga respeito ao desenvolvimento do País. A dívida herdada é enorme, mas a decisão política em corresponder às expectativas da população no sentido de fazer o que estiver ao alcance do novo governo para mudar os indicadores é maior ainda. Estou otimista, apesar da prudência, da responsabilidade e do cuidado de não se tratar com magia nenhum dos atuais problemas brasileiros.

O SR. LÚDIO COELHO (Bloco/PSDB - MS) - Obrigado, Senador Tião Viana, pelo aparte de V. Exª, que, nesta Casa, representa o Acre, Estado governado pelo Dr. Jorge Viana, seu irmão, sobre cujo desempenho no governo só tenho ouvido referências positivas.

Sr. Presidente, efetivamente, as deficiências nos mais variados setores da vida da população brasileira constituem um fato, o diagnóstico está correto. No entanto, tenho presenciado algo interessante: no que diz respeito às coisas básicas, o futuro governo está seguindo o mesmo roteiro do Governo Fernando Henrique, a estabilidade econômica, o controle da inflação e o cumprimento de compromissos assumidos.

Nobre Senador, sempre disse para os meus companheiros que estavam insatisfeitos com o Governo do Presidente Fernando Henrique que não tínhamos muitas coisas diferentes a fazer, porque o básico é gastar de acordo com as nossas receitas. Parece-me que não há outro caminho a ser seguido. Não podemos inventar receitas. O nosso endividamento é extremamente alto em relação às riquezas que produzimos.

Sr. Presidente, sou político da época em que o forte da campanha eleitoral eram as obras públicas, como se administrar fosse apenas fazer obras públicas. E, ao investirmos em obras, produzimos esse enorme endividamento, às vezes com obras desnecessárias à Nação brasileira; outras vezes, investindo mal o dinheiro público. Agora, chegamos nesse patamar elevadíssimo de endividamento. Penso que, daqui a três, quatro ou cinco anos, o mundo capitalista terá que fazer uma renegociação com as nações altamente endividadas, tais como Brasil, Argentina, Turquia, Rússia.

Sr. Presidente, acredito que os nossos credores entenderão a importância da sobrevivência dessas nações devedoras para o mundo. O Brasil, com 170 milhões de habitantes, é importante no contexto mundial como importador e como pagador de juros. Portanto, o crescimento econômico dessas nações endividadas é de toda conveniência para o Primeiro Mundo. As nações endividadas deverão renegociar paulatinamente suas dívidas, a fim de que os credores não percam seus investimentos e, portanto, continuem a viabilizar um crescimento econômico capaz de fortalecer tais nações.

Não compartilho da idéia de que as nações do Primeiro Mundo não querem o crescimento das nações do Terceiro Mundo, não querem o crescimento do Brasil. Pelo contrário, o nosso crescimento é importante para que tenhamos condições de comprar mais deles, gerando, por conseqüência, maiores rendas a esses países.

Sr. Presidente, acredito que com governos novos, com raça, como certamente será o do Senador Roberto Requião, eleito Governador do Paraná, nossas esperanças se redobram. Temos confiança de que o Governador Roberto Requião estabelecerá um excelente nível de governo no Paraná - um dos Estados mais importantes do País na produção de alimentos, com novas tecnologias sendo implantadas.

Sr. Presidente, penso que será muito difícil o mundo consumir o que vamos produzir. Vejamos, por exemplo, a produção de carne bovina. Com as reformas das pastagens, com a aplicação de novas tecnologias, teremos uma produção fantástica, excedendo o consumo interno.

A par das esperanças que a Nação brasileira deposita no governo que se iniciará em janeiro próximo, transmito à Direção Nacional do PT algumas coisas que estão acontecendo em nosso Estado, sem nenhum sentido de hostilidade ao atual Governo do Estado. O Governador do Mato Grosso do Sul, para pagar a folha de novembro, dezembro e o décimo terceiro salário, está fazendo operação bancária em nome dos funcionários, ao custo de 3,4% ao mês, taxa que considero elevada para nosso Estado.

Sr. Presidente, ao encerrar, reafirmo minha confiança de que, agora, teremos condições de aprovar as reformas básicas de que o País precisa e das quais falamos permanentemente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2002 - Página 23152