Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DISCURSO DE DESPEDIDA DO SENADO FEDERAL, TENDO EM VISTA A ELEIÇÃO DE S.EXA. A VICE-PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

Autor
José Alencar (PL - Partido Liberal/MG)
Nome completo: José Alencar Gomes da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • DISCURSO DE DESPEDIDA DO SENADO FEDERAL, TENDO EM VISTA A ELEIÇÃO DE S.EXA. A VICE-PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, Arlindo Porto, Artur da Tavola, Bernardo Cabral, Carlos Patrocínio, Carlos Wilson, Casildo Maldaner, Eduardo Suplicy, Emília Fernandes, Fernando Bezerra, Francelino Pereira, Geraldo Melo, Gilberto Mestrinho, Iris Rezende, José Agripino, José Eduardo Dutra, Juvêncio da Fonseca, Leomar Quintanilha, Lindberg Cury, Lúdio Coelho, Maguito Vilela, Marina Silva, Marluce Pinto, Ramez Tebet, Roberto Saturnino, Romero Jucá, Tião Viana, Valmir Amaral.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2002 - Página 25422
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • DESPEDIDA, ORADOR, SENADO, ANALISE, SITUAÇÃO, ATUALIDADE, BRASIL, COMENTARIO, INICIO, CARREIRA, POLITICA, FORMAÇÃO, ACORDO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO LIBERAL (PL), PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELOGIO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AGRADECIMENTO, PERIODO, EXERCICIO, MANDATO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, CARTA, PEDRO SIMON, SENADOR.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, estava aguardando que todos cumprimentassem o Senador Bernardo Cabral porque meu discurso começa com um poema de Gilberto Freyre. A impressão que tenho é a de que todos gostarão de ouvi-lo, mesmo que depois nem prestem atenção ao meu pronunciamento. É de 1926.

Eu ouço as vozes,

vejo as cores,

eu sinto os passos

de outro Brasil que vem aí:

mais tropical, mais fraternal, mais brasileiro.

O mapa desse Brasil, em vez das cores dos Estados,

terá as cores das produções e dos trabalhos.

terá as cores das produções e dos trabalhos.

Os homens desse Brasil, em vez das cores das

três raças, terão as cores das profissões e

regiões.

As mulheres do Brasil, em vez das cores

boreais, terão as cores variamente tropicais.

Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu

quero o Brasil, todo brasileiro, e não apenas o

bacharel ou o doutor o preto, o pardo, o roxo, e

não apenas o branco e o semibranco.

Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil

lenhador

lavrador

pescador

vaqueiro

marinheiro

funileiro

carpinteiro

contanto que seja digno do Governo do Brasil

que tenha olhos para ver pelo Brasil,

ouvidos para ouvir pelo Brasil

ânimo de viver pelo Brasil

coragem de morrer pelo Brasil

mãos para agir pelo Brasil

mãos de escultor que saibam lidar com o barro

forte e novo dos Brasis

mãos de engenheiro que lidam com ingresias e

tratores europeus e norte-americanos a serviço

do Brasil

mãos sem anéis (que os anéis não deixam o

homem criar nem trabalhar).

mãos livres

mãos criadoras

mãos fraternais de todas as cores

mãos desiguais que trabalham por um Brasil

sem Azeredos

sem Irineus,

sem Maurícios de Lacerda.

Sem mãos de jogadores

nem de especuladores nem de mistificadores.

Mãos todas de trabalhadores,

pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,

de artistas

de escritores

de operários

de lavradores

de pastores

de mães criando filhos

de pais ensinando meninos

de padres batizando afilhados

de mestres guiando aprendizes

de irmãos ajudando irmãos mais moços

de lavadeiras lavando

de pedreiros edificando

de doutores curando

de cozinheiras cozinhando

de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas

comadres dos homens.

Mãos brasileiras

brancas, morenas, pretas, pardas, roxas

tropicais

sindicais

fraternais.

Eu ouço as vozes

eu vejo as cores

eu sinto os passos

desse Brasil que vem aí.”

Esse é um poema de Gilberto Freyre, escrito em 1926.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores e Deputados, Exmªs autoridades, meus amigos, este é um momento altamente significativo em toda a minha vida. É uma despedida. Despedida e saudade, posso dizer. Despedida, por força de um novo chamamento a novas responsabilidades que estou assumindo.

Saudade, que já se manifesta. Saudade do Senado, onde se traçam os rumos e se decidem os destinos do País. Saudade do companheirismo e do ambiente acolhedor que me proporcionaram períodos dos mais enriquecedores de toda a minha existência.

No Senado, há quatro anos, iniciei o honroso mandato que me delegou o povo mineiro, na expectativa de cumpri-lo até o fim. Aqui cheguei para ocupar minha cadeira por oito anos. Não digo longos, Sr. Presidente, porque, para trabalhar pelo Brasil, qualquer tempo é pouco, qualquer período é curto, qualquer mandato é breve.

No convívio com meus nobres colegas, vindos de todas as unidades da Federação, conheci a síntese de um Brasil fascinante na diversidade de sua cultura, de sua economia, de seu tecido social, de sua geografia física e humana e de sua peculiar unidade lingüística.

Aqui assisti, nos trabalhos do Plenário e das Comissões, a notáveis manifestações de sabedoria, de tolerância, de acatamento, de civilizadas e respeitosas discordâncias e de nivelamento de conceitos quando em jogo estavam os superiores interesses do Brasil.

E pude constatar, na prática, as lições de brasilidade que aqui aprendi. Agora, por exemplo, na campanha eleitoral, ao lado do eminente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, percorri o Brasil de ponta a ponta, conheci brasileiros de todas as raças, de todos os matizes.

Vi com os meus olhos, em cada escala da longa jornada, que o Brasil real, o Brasil das ruas e dos campos é o mesmo Brasil aqui projetado na figura dos nobres Senadores, legítimos representantes de cada Estado da Federação.

Conhecendo e ouvindo o Brasil e os brasileiros, reforcei a convicção de que estava certo ao defender a aliança vitoriosa nas eleições para a Presidência da República. Havia questionamentos contra a coligação do PT com o PL, o PC do B, o PCB e o PMN. Especialmente quanto ao PL. Afinal, onde estava a coerência? O PL é um Partido de centro e não deveria participar dessa aliança predominantemente à esquerda.

Entendia que, se o alvo comum é combater a fome, a miséria, o desemprego, a desigualdade de renda, o analfabetismo e a baixa escolaridade, as diferenças ideológicas e partidárias deveriam ficar para trás, perder-se no caminho, porque a meta está à frente.

Houve um momento em que na China, após a morte de Mao Tsé-Tung - da Revolução Comunista de 1948, da Revolução Cultural de 1966 - assumiu o Governo uma grande liderança e um grande estadista, que foi Deng Xiaoping, que, numa metáfora, abriu espaço para que se unissem todos os povos da China para construir aquele país e retomar o desenvolvimento. Sua metáfora ficou conhecida no mundo inteiro: “Não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace o rato”.

A partir da China, alguns cientistas políticos a traduziram: “Não importa a coloração ideológica, o que importa é o bem comum”. No Brasil, outros cientistas a traduziram: ”Não importa a coloração partidária, o que importa é que se alcancem os objetivos sociais”. Sabemos que os radicalismos, sejam os de direita ou de esquerda, são coisa do passado. A própria experiência socialista de Estado na ex-União Soviética fracassou depois de 70 anos. E por que fracassou? Por várias razões, mas por três básicas que devem ser lembradas. Uma delas de ordem econômica, outra de ordem política e outra que poderíamos dizer de ordem filosófica.

Da ordem econômica, fracassou a experiência socialista de Estado porque o Estado é um péssimo empresário. Aqui no Brasil, o Estado conseguiu quebrar praticamente todos os Bancos de todos os Estados da Federação - isso apenas como exemplo. Pois bem, a economia lá também não foi bem, assim como não foi bem a economia da Alemanha oriental em relação à economia da Alemanha ocidental. Também não foi bem a economia da Coréia do Norte em relação à economia da Coréia do Sul.

Veja que a razão econômica foi uma das causas do fracasso da experiência socialista de Estado.

A razão política deveu-se ao fato de que o regime foi implantado e mantido pela força, especialmente com a morte de Lênin e, a partir de 1924, com a assunção de Stalin, houve o sacrifício de milhões e milhões de pessoas para a manutenção do regime.

Faltou liberdade e a liberdade na política é como o ar que se respira na vida. Sem a liberdade a política não prospera. Daí a razão pela qual, politicamente, também tinha de fracassar o regime.

            Da mesma forma, do ponto de vista filosófico, porque a premissa era falsa. Nós não somos iguais, somos semelhantes. Por quê? Porque somos do reino animal, da espécie humana, então somos semelhantes. Mas cada um de nós tem sua vocação, sua aptidão, seu temperamento, sua responsabilidade naquilo que faz, sua dedicação ao que faz. Daí a razão pela qual, do ponto de vista filosófico, tinha que fracassar a experiência socialista de Estado.

Mas tudo isso não significa que as Esquerdas tenham desaparecido. As Esquerdas estão presentes, só que elas hoje significam principalmente probidade no trato da coisa pública, sentimento nacional e sensibilidade social. Esse é um tripé sobre o qual precisa ser construída uma nova era para o nosso País. Foi pensando assim que eu não via nenhuma incompatibilidade ideológica ou de princípios na aliança que nós construímos. E ela pôde ser levada a cada cidadão com o qual nós - o Presidente Lula e eu - nos reunimos, para o qual falamos em todo território brasileiro.

Não se iludam! O Presidente Lula é uma figura admirável, um predestinado, um homem absolutamente preparado para realizar um grande governo à frente dos destinos do País. É inteligente e conhece tudo de política. Não há nenhum outro político mais bem preparado do que o Presidente Lula para administrar o Brasil. Essa é outra razão pela qual eu não via nenhuma dificuldade para que nós fizéssemos a aliança e levássemos a mensagem da aliança ao povo brasileiro.

O esmaecimento das ideologias e o sepultamento de preconceitos têm permitido ao mundo conhecer novos caminhos e perspectivas que abrem à humanidade canais de entendimento antes inexplorados.

Foi nesse cenário que enxerguei a figura admirável de Luiz Inácio Lula da Silva e com ele me identifiquei.

Todos conhecem a minha vida. Eu sou de origem muito humilde. Eu sou o décimo primeiro filho de uma família de quinze. Saí de casa aos quatorze anos de idade para trabalhar como empregado na cidade. No meu primeiro emprego, eu não recebia o suficiente para que eu pudesse pagar um quarto no hotel onde queria morar. Café da manhã, almoço, jantar e quarto custavam mais do que aquilo que eu iria receber de ordenado. Então, concordei com a dona do hotel em morar no corredor. E não tenho nenhuma mágoa disso. Ao contrário. Equilibrei o meu orçamento. E não era orçamento adjetivado; era equilíbrio mesmo. Era superávit sem o adjetivo de “primário”. Era superávit mesmo.

Portanto, uma das coisas que eu mais prezo é a questão orçamentária, porque, sem equilíbrio orçamentário, como dizia o saudoso João Saldanha, “a vaca vai para o brejo”.

Meus amigos, morei no corredor desse hotel por um ano e meio, para equilibrar o meu orçamento e tornar-me independente aos 14 anos de idade. Aos 18 anos, queria me estabelecer, mas não tinha R$1. O meu irmão mais velho - ele era mais velho do que eu quase 18 anos - concordou em me emprestar 15 contos, Cr$15 mil, desde que meu pai concordasse em me emancipar. Falamos com papai, que concordou em me emancipar aos 18 anos de idade. Montei uma casinha de tecidos com os Cr$15 mil emprestados por meu irmão, que me cobrava 1,5% de juros. Eu depositava mensalmente no Banco Hipotecário Cr$225,00 para crédito em sua conta em Ubá. A lojinha era em Caratinga.

Um belo dia, o gerente do banco me disse assim: “Meu filho - ele me tratava assim, porque eu era um menino de 18 anos -, por que você deposita todo mês Cr$225,00 aqui para crédito de Geraldo Gomes da Silva em Ubá?” Esse gerente do banco também se chamava Geraldo.

Falei: “Sr. Geraldo, o Geraldo Gomes da Silva é meu irmão. Eu não tenho nada. Os Cr$15 mil que são o meu pequeno capital são dele e pago 1,5% de juros ao mês”.

Ele me disse: “Isso é um absurdo. Seu irmão não pode lhe cobrar esses juros. Existe a Lei da Usura, de 1933, de Getúlio Vargas. Juros podem ser 12% ao ano, a rigor até menos de 1% ao mês. Você não pode pagar esses juros. Vou lhe emprestar esses Cr$15 mil e você paga seu irmão”.

Eu falei: “Sr. Geraldo, eu não posso fazer isso. Meu pai me emancipou também a pedido dele”.

Ele disse: ”Fale com ele”.

Um belo dia, meu irmão chega a Caratinga. E eu lhe disse assim: “Geraldo, o Sr. Geraldo Santana disse isso e isso”. Falei grosso: “Você não pode me cobrar 1,5%. Existe a Lei da Usura”.

Ele disse: “Nunca lhe cobrei juros”.

Eu disse: “Mas como? Todo mês, deposito Cr$225,00 já há quase um ano. Você não tem recebido?”

Ele disse: “Tenho recebido, sim, tudo direitinho, mas aquilo não são juros”.

Eu disse: “Então, o que é aquilo?”.

Ele falou: “Aquilo é aluguel do dinheiro”.

Eu disse: “Tudo bem, mas que diferença há entre aluguel do dinheiro e juros?”.

E ele disse: “Há muita diferença! Você tem que ir lá agradecer ao Sr. Geraldo Santana, porque ele lhe deu crédito, mas você não pode tomar o empréstimo lá, porque daqui a 120 dias vence e você tem que pagar e fechar a lojinha, pois você não tem nada. Comigo, não. Comigo você vai pagar só o aluguel”. Ele não falava juros de forma alguma. Cobrar juros era fora da lei; era aluguel. Dizia: “Você vai me pagar só o aluguel”, mas juros não.

E eu: “Ah, muito bem, quer dizer que você doou o principal para mim?”

E ele: “Não, não doei, não; você vai me pagar; mas, daqui a uns dois ou três anos, vamos fazer um balanço; você terá feito capital; então faremos uma planilha e você vai pagando o aluguel sobre o saldo devedor até o final, sem prejuízo da lojinha”.

Assim aconteceu e assim foi feito. Ele me deu uma grande lição.

A minha origem é de luta. Fui para a empresa ainda jovem, criança; o Lula foi para uma escola de torneiro mecânico, uma escola admirável do Senai. Fui Presidente da Federação das Indústrias e conheço o Senai. O Senai, além de formar o profissional, forma o cidadão, porque se preocupa com questões ligadas ao sentimento nacional e cidadania. E é muito importante que o Lula tenha se preparado numa escola tão boa quanto o Senai.

A história dele, afinal, o Brasil já conhece. Lula é a cara do Brasil: bom, simples, trabalhador, versátil, honesto, inteligente e é um predestinado. Eça de Queiroz, nas “Últimas Cartas a Fradique Mendes”, de 1888, parece ter antevisto o Brasil do século XXI ao escrever:

No dia ditoso em que o Brasil, por um esforço heróico, se decidir a ser brasileiro, a ser do novo mundo, haverá no mundo uma grande nação. Os homens têm inteligência; as mulheres têm beleza - e ambos, a mais bela, a melhor das qualidades: a bondade. Ora, uma Nação que tem a bondade, a inteligência, a beleza (e café, nessas proporções sublimes), pode contar com um soberbo futuro histórico, desde que se convença que mais vale ser um lavrador original que um doutor mal traduzido do francês.

É grande a responsabilidade de um Governo alçado ao poder nos braços da esperança e da legítima aspiração por dias melhores. É enorme a responsabilidade do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De minha parte, sabe o Presidente: estarei sempre pronto e solidário.

Não será fácil. A dívida é grande, e os custos de capital são os mais elevados do planeta. Nunca se viu, na história de nosso País, maior transferência de renda oriunda da produção, o que vale dizer, do trabalho para o sistema financeiro, hoje mais internacionalizado do que nunca. Isso é grave. Nosso Orçamento é deficitário. O superávit adjetivado, o superávit primário, na verdade, cobre cerca de 40% do déficit do Orçamento-Geral da União; os outros 60% acoplam-se à dívida, que cresce como bola-de-neve.

Penso que o despropositado Risco Brasil, que eleva os spreads, existe justamente porque a banca credora internacional e nacional sabe fazer conta e sabe, mais ainda, que nenhuma economia pode suportar tal custo. Basta dizer que nossa taxa de juros básica real é, hoje, cerca de 20 vezes a americana e 10 vezes a dos países europeus que pertencem à União Européia.

Refiro-me à taxa básica, porque as taxas cobradas aqui pelos bancos comerciais para, por exemplo, descontos de duplicatas ou para financiamentos para o consumidor, essas são um verdadeiro despropósito, um assalto. Enquanto prevalecer esse regime de juros, não nos livraremos dessa dependência, dessa subserviência e dessa obediência aos ditames disso que se convencionou denominar mercado.

Então, continuará grande o sacrifício até que possamos trazer a dívida a um patamar plausível. A economia precisa voltar a crescer e as exportações também e principalmente. Nossas potencialidades são gigantescas, e no momento em que o saldo de nossa balança comercial alcançar valores que nos permitam o superávit nas transações correntes e a quitação dos títulos cambiais de nossa dívida pública interna - títulos cambiais que jamais deveriam existir representando nossa dívida pública interna, porque essa deveria ser representada apenas por moeda nossa -, nesse dia não haverá mais o constrangimento cambial e as taxas de juros cairão, permitindo-nos competir em condições menos desfavoráveis em relação ao mercado a que estamos submetidos.

Mahatma Gandhi, condutor da independência da Índia, disse: “A decadência social nasce da riqueza sem trabalho, dos prazeres sem escrúpulos, do conhecimento sem sabedoria, do comércio sem moral, da política sem idealismo, da religião sem sacrifícios, da ciência sem humanismo”. E eu me permito acrescentar: a decadência social nasce também das onzenárias taxas de juros. Certamente, na História contemporânea do Brasil, se tivéssemos ouvido com atenção esses ensinamentos, não estaríamos na situação penosa em que nos encontramos, de desemprego, de fome, de sofrimento, de sacrifícios, de humilhações e de renúncia aos nossos valores patrimoniais e culturais.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, meus amigos, aqui é o momento da despedida. Circunstâncias levam-me a outra missão. Gostaria que me permitissem vir aqui de vez em quando para matar a saudade, que já está presente só por saber que não serei mais um Senador a partir de 1.º de janeiro de 2003. Minha convivência nesta Casa com Parlamentares das mais diferentes posições e regiões, defensores de variadas bandeiras de luta, contribuiu para apurar a noção do que seja política elevada. Aqui não aprendi a política rasteira, a política menor, subalterna. Não almejo nem busco a satisfação de necessidades pessoais ou materiais. O que me trouxe à vida pública foi e é a necessidade de realizar um trabalho que me traga a consciência do dever cumprido.

Nossa convivência nesta Casa me revelou muitas coisas. Uma delas é que o Brasil é maior que a soma de suas partes. Particularmente nesta Casa, o Senado da República, aprende-se a sobrepor a Federação à soma dos entes federados. Aqui está o ponto de inflexão de onde se descortina o todo.

Saio do Senado, por conseguinte, com o olhar afiado para ver o Brasil por inteiro em toda a sua unitária dimensão. Serei na Vice-Presidência da República um brasileiro de Minas Gerais. Aqui no Senado minha cadeira será ocupada pelo Suplente, Dr. Aelton José de Freitas, que, certamente, dedicará ao nosso Estado o melhor de sua capacidade. Formalizo neste momento a decisão de abdicar do mandato de Senador de Minas Gerais com efeito a partir de 1º de janeiro de 2003.

Para finalizar, Sr. Presidente, quero fazer agradecimentos especiais. Começo pela Mesa Diretora do Senado, na pessoa de V. Exª, Senador Ramez Tebet, que tão dignamente preside e orienta com mestria os trabalhos do Congresso Nacional. Aos diretores e funcionários da Casa quero levar também uma palavra de reconhecimento, pela atenção com que sempre me distinguiram, e o faço nas pessoas de Agaciel Maia e Raimundo Carreiro.

Digo-lhes, por fim, que nesta Casa realizei parte dos meus sonhos, se não todos, pelo menos muitos deles. Levo-os comigo para a Vice-Presidência da República, onde espero poder participar, como aliado, das grandes causas nacionais.

Muito obrigado! (Palmas!)

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador, V. Exª deixou frustrados muitos dos que gostariam de aparteá-lo, ainda que brevemente, e de dar seu testemunho. Eu gostaria, profundamente, antes que V. Exª deixasse a tribuna, de aparteá-lo.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - V. Exª, eminente Senador Saturnino Braga, será o segundo, porque há aqui um pedido para que eu dê a palavra ao eminente Presidente, Senador Ramez Tebet, em primeiro lugar.

O Sr. Artur da Távola (Bloco/PSDB - RJ) - V. Exª me pode inscrever para terceiro, em nome do Governo?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Com muita honra, Senador.

Com a palavra, então, o nosso Presidente.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador José Alencar, encaminhei esta solicitação a V. Exª. Encaminhei-a, e vim ocupar o lugar que V. Exª ocupou como representante de Minas Gerais, porque me recordei do seu primeiro discurso aqui nesta Casa, quando V. Exª se apresentou aos seus Colegas do Senado da República e, portanto, à Nação brasileira. Recordo-me de que fui o primeiro Senador a lhe pedir um aparte. Vi logo as excelsas qualidades que ornamentam a sua personalidade: homem simples e humilde. Todos sabemos do seu êxito como empresário; poucos, todavia, sabiam, como reconhecemos hoje, da sua capacidade política e da sua capacidade administrativa, que V. Exª demonstrou como empresário. E digo da capacidade administrativa também porque, nos reiterados pronunciamentos de V. Exª, percebi que o lugar de V. Exª tanto pode ser no Poder Legislativo como no Poder Executivo. Quis o destino que V. Exª fosse companheiro de chapa do futuro Presidente da República. Acertou a Nação brasileira. Acertaram aqueles que primeiro pensaram em V. Exª. Mas não conheço ninguém - e digo com toda franqueza -, que fizesse alguma restrição à figura do homem público chamado José Alencar. Fico feliz em ser o primeiro a aparteá-lo, do lugar onde V. Exª teve assento durante todos estes anos, a fim de reiterar minha convicção de que o futuro Presidente da República estará muito bem acompanhado, pois está acompanhado justamente de V. Exª, homem capaz, homem de negócios, homem de espírito público, homem de vida simples e humilde, homem de conceito ilibado e de moral inatacável. Eis como todos enxergamos a figura de V. Exª nesta Casa. Dou-me por satisfeito por ter o privilégio de repetir, pela segunda vez, o primeiro aparte, reconhecendo neste que não me enganei nas palavras que lhe dediquei quando V. Exª ocupou pela primeira vez a tribuna desta Casa. Que V. Exª seja muito feliz, juntamente com toda a sua família, é o que lhe desejo, porque V. Exª dará, como tem dado, mas vai dar ainda mais, uma grande contribuição para tudo isso que V. Exª está pregando desta tribuna, com tamanha sinceridade. Que V. Exª seja feliz. Ganha o Brasil com V. Exª. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Eminente Senador Ramez Tebet, nosso digno e ilustre Presidente, não sei, não tenho palavras, estou até emocionado porque V. Exª se lembrou do meu primeiro pronunciamento. Naquela ocasião, fiz questão de trazer à tribuna do Senado a figura de um grande homem público brasileiro, que foi o Senador Levindo Coelho, da minha terra, e aqui lhe prestei uma homenagem e também aos seus 11 filhos e filhas e aos seus 11 genros e noras. Levindo Coelho foi um cidadão, um chefe de família exemplar e um grande homem público. V. Exª compreendeu que aquela era uma boa razão para que eu ocupasse a tribuna pela primeira vez como Senador e me honrou com um aparte tão belo quanto este que V. Exª fez hoje. Muito obrigado.

Gostaria de pedir ao Presidente que me permitisse fazer como fez o eminente Senador Bernardo Cabral, que sempre nos ensinou e hoje também nos ensinou. Há muitas pessoas que querem falar, então eu gostaria que V. Exª me permitisse fazer um agradecimento, no final, a todos os aparteantes.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) - V. Exª tem toda a autorização para isso.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Com a palavra o eminente Senador Roberto Saturnino.

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Senador José Alencar, não foi apenas o Presidente Ramez Tebet que observou e percebeu a densidade do seu primeiro pronunciamento, densidade que foi crescendo nos pronunciamentos sucessivos. Obviamente, o Presidente Ramez Tebet, homem de grande sensibilidade, de grande acuidade, logo foi capaz de estabelecer a dimensão, a estatura do político em V. Exª, que chegou a esta Casa conhecido como um empresário de êxito. Mas a sua dimensão política imediatamente se revelou nos seus pronunciamentos. Eu me recordo de ouvir um comentário, logo nos primeiros meses da legislatura, de um grande amigo meu, falecido há pouco tempo, que foi uma espécie de líder maior de todos os funcionários do BNDES, que se chamava Juvenal Osório Gomes. O prédio do BNDES leva o nome dele, em homenagem à liderança que ele exercia sobre todos nós. E ele, em um dos primeiros encontros que tivemos logo depois que voltei a esta Casa, me disse: “Escutei esse Senador de Minas, José Alencar. É extraordinário!” Eu disse: “Juvenal, ele é extraordinário, realmente.” A expectativa era de que V. Exª chegasse aqui com o espírito de pragmatismo de um empresário bem sucedido e nos desse lições sobre economia empresarial, enfim, todos os conhecimentos que V. Exª trazia na sua experiência. E V. Exª nos deu lições de política na sua dimensão mais elevada. V. Exª trouxe uma sabedoria política, uma visão tão clara da realidade do País e dos problemas pelos quais o País atravessava, que nos impressionou a nós todos. E, Senador Alencar, me levou a pensar, pouco tempo depois, nesta hipótese: o Senador José Alencar é um excelente candidato a Vice do Lula. Fui uma das pessoas que cogitou, e V. Exª sabe disso, pois até conversamos a respeito. E esse projeto se realizou. Quero dizer que estou absolutamente seguro de que a presença de V. Exª na chapa foi fator decisivo para a vitória magnífica de Lula. As qualidades de Lula V. Exª ressaltou com perfeição, são essas mesmas, mas a presença de V. Exª trouxe a densidade de alguém que tinha a prática da economia. Isso confortou, deu um sentimento de segurança a muitos daqueles que, de certa forma, duvidavam de que Lula, um trabalhador, fosse capaz de conduzir a Nação. V. Exª foi decisivo, sim, nesta vitória que há de marcar a história do Brasil. Estou seguro também de que V. Exª será um dos principais, se não o principal, consultor, o diálogo mais denso, mais rico e mais esperado pelo Presidente Lula no exercício de seu mandato. Tenho observado também a confiança que Lula tem em V. Exª. Exatamente essa sua visão, essa capacidade de aliar o pragmatismo da sua experiência com a sensibilidade da visão dos problemas do País e os conhecimentos teóricos que V. Exª adquiriu ao longo da vida fazem de V. Exª, Senador José Alencar, Vice-Presidente da República, o principal assessor, consultor, amigo do Presidente Lula nas horas, meses e anos difíceis que ele vai enfrentar. Meus agradecimentos pela contribuição, pela colaboração que V. Exª deu a todos nós e meus cumprimentos pela vitória histórica que vai marcar o Brasil daqui para frente.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador.

Concedo o aparte ao eminente Senador Artur da Távola.

O Sr. Artur da Távola (Bloco/PSDB - RJ) - Prezado Senador, em primeiro lugar, quero desejar a V. Exª todas as felicidades no desempenho deste cargo que o destino colocou em seu caminho. É sempre importante atribuir-se força e expressão a certas decisões, a certos desígnios que estão na linha do destino individual. V. Exª, aliás, tem um destino individual de êxito tanto na atividade privada, que o caracterizou até chegar à atividade pública, quanto nos poucos anos de atividade pública revelados aqui no Senado e em vias de revelação em uma posição fundamental para o País nos próximos anos. Em meu nome pessoal e como Líder do Governo, quero desejar a V. Exª e ao seu Governo felicidades. O século XX, Senador, foi muito pouco inteligente. A inteligência do século XX se encaminhou na direção da ciência, das ciências físicas, das ciências matemáticas, e o caldo de cultura resultante da pouca inteligência desse século foi o resultado de todas as guerras, de tantas mortes, baseadas nos sistemas políticos ortodoxos. Assim aconteceu na 1ª Guerra Mundial e na 2ª Guerra Mundial, assim aconteceu em toda a expansão capitalista e imperialista de alguns países, que mataram muita gente, assim aconteceu no colonialismo, que infelicitou tantas pessoas, assim aconteceu no comunismo ortodoxo, morte de milhões de pessoas, morte de inimigos. O século XX termina exatamente com uma capacidade de análise que a humanidade fez das duas vertentes que se chocaram de uma maneira absurda, violenta, ortodoxias desnecessárias: capitalismo por um lado, socialismo de Estado por outro. No Brasil, após a Constituição de 1988, surgiu uma corrente política que pregou os ideais da socialdemocracia. Isso já era antigo nos países do norte da Europa - nos países nórdicos -, isso tinha algumas raízes na Inglaterra e isso era experiência nascente, já com dez, quinze anos de comprovação, na Espanha e em Portugal. Essa tendência socialdemocrata junta exatamente duas vertentes que antes pareciam antagônicas. O nosso Partido, por exemplo, junta tendências que vêm do socialismo com as que vêm do pensamento liberal em um amálgama difícil, porém, possível. Repare V. Exª: fomos violentamente criticados porque pavimentamos pelo centro uma aliança - vejam o nome: não é PFL, é Partido da Frente Liberal - que junta liberais conservadores com liberais progressistas, além de contar com a participação do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, que também é um Partido de corrente socialdemocrata, tanto que está a um passo de ser convidado para fazer parte do novo Governo. V. Exª vem do Partido Liberal. Em primeiro lugar, faço uma homenagem ao Álvaro Valle, com quem, praticamente, comecei minha vida política, nos anos 60, e que sempre foi defensor de um Partido que representasse um espaço liberal, em que pudesse haver um jogo de opiniões e tendências e caminhasse sem se afastar da base democrática de sua organização. Fomos profundamente criticados porque fizemos uma aliança com a Frente Liberal. Quem nos criticava de maneira violenta está agora aliado aos liberais na pessoa de V. Exª. Veja que responsabilidade! Os liberais eram pintados como vendilhões da Pátria, adeptos do capitalismo opressor, responsáveis - a expressão é essa - pelo desmonte do Estado e, no entanto, ao fim de oito anos, de tal maneira, as idéias de socialdemocracia se arraigaram no Brasil que nenhum partido de vertente socialista pôde chegar ao Governo sem uma aliança com os liberais - os quais V. Exª representa. Chegou ao Governo uma aliança muito bem montada com os liberais e começa a compreender que não se dirige um País como o Brasil sozinho, com uma tendência, com exclusividade para algumas idéias; começa a compreender que, sem o entendimento de que a realidade de um governo é compósita, includente e não excludente, não se governa um País com as complexidades do Brasil. V. Exª, portanto, nisso que lhe dá o destino - fazendo justiça ao que é V. Exª como pessoa, como cidadão - representa neste instante a possibilidade da manutenção dessa aliança, de uma aliança que pavimenta o caminho do avanço brasileiro pela estrutura democrática, pela absorção de idéias liberais que são hoje aceitas na economia do mundo e, também por parte do pensamento liberal, a compreensão de que não é exclusivamente com a acumulação capitalista que se vai fazer o avanço do Brasil, o progresso deste País na direção do humano. Essa tarefa de viver em aliança não é fácil, porque aliança é justamente algo que não é feito entre os iguais, é feito entre os que pensam diferentemente, capazes de se unirem em torno de um projeto comum. Esta, aliás, é a base do parlamentarismo: a junção de tendências que se unem em torno de um objetivo construído em comum. Espero que, como um representante liberal, com a prudência que tem, com o bom-senso, com a experiência e com esse modo suave de fazer e defender as suas idéias - nunca ouvimos de V. Exª uma palavra agressiva, não fosse V. Exª a própria expressão da sabedoria da mineiridade -, V. Exª possa ser esse fator de equilíbrio e, como disse o Senador Roberto Saturnino, esse conselheiro. Não se preocupe se, no caminho, vozes radicais interpretarem mal esse novo casamento que a política brasileira faz. Em primeiro lugar, porque ele não é tão novo, já foi experimentado nos últimos oito anos. A experiência desses oito anos é tão promissora, é tão importante para o Brasil que segui-la, aprimorá-la e aprofundá-la é uma tarefa para todo governo legitimamente eleito pelo povo, ao qual, em meu nome e em nome do Governo, como seu Líder, neste momento, coloco nas mãos de V. Exas, desejando-lhe todas as felicidades e cumprimentando-o pela forma como exerceu o mandato de Senador, honrando Minas Gerais e o Brasil. Felicidades, Senador.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Fazendo soar a campainha.) - Senador José Alencar, permita-me interrompê-lo, para cumprindo o Regimento, prorrogar a sessão para dar oportunidade aos que desejam aparteá-lo e, também, para cumprir a Ordem do Dia, ao final.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Quero agradecer muito as palavras sábias do Senador Artur da Távola. Vou passar a palavra ao ilustre Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador José Alencar, desejo reafirmar a admiração que tenho por V. Exª. Pude acompanhar os momentos de consolidação de V. Exª como elo de uma aliança nacional que redundou na vitória de um projeto político extraordinário para este País, que lançou o desafio, no cenário nacional, de termos um projeto de sociedade à altura dos desafios do terceiro milênio. Estamos diante de um cenário internacional muito preocupante, e V. Exª, como um profundo conhecedor dos graves problemas econômicos, constata isso. Testemunhamos a morte de mais de 30 mil crianças, todos os dias, em função da fome ou de doenças evitáveis, destacadamente dos nossos irmãos africanos. Temos o Brasil inserido em grandes dificuldades. O setor produtivo passa por verdadeira asfixia e pede algum caminho de estabilidade para gerar emprego, renda e novas oportunidades para o País. Temos de testemunhar que há oito anos, quando tivemos um projeto político vitorioso no cenário nacional, havia quatro milhões de desempregados, hoje, são 12 milhões e ainda temos uma inflação que nos ameaça com taxas de 05% ao mês. Temos, então, grandes desafios. Mas vivemos um momento de transição responsável, em nível elevado, com um diagnóstico situacional muito correto e sincero do atual e do novo Governo. As responsabilidades tornam-se comuns entre os que estão saindo e os que estão entrando, porque existe algo maior do que as diferenças partidárias e ideológicas: o desafio de fazer bem a este País. Posso testemunhar que V. Exª é detentor de uma das mais extraordinárias biografias. Espero que V. Exª possa deixar, para as futuras gerações, o exemplo de sua vida pessoal, pois, ouvindo suas histórias, tenho certeza de que há muito a apreciar e refletir. Que V.Exª continue, no seu dia-a-dia de Vice-Presidente da República do Brasil, como amigo do Congresso Nacional, de ser um forte interlocutor do que pensa o Congresso Nacional, que representa a sociedade brasileira, a nação brasileira e possa ajudar nos avanços sociais do País. O Brasil tem a felicidade de ter Luiz Inácio Lula da Silva como condutor de seus destinos. O século XX fez a humanidade inteira sofrer com tantas guerras e mortes. Esperamos que este seja o século da dignidade humana, em que o ser humano esteja sempre em primeiro lugar. Muito êxito e minha admiração.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador Tião Viana. Concedo a palavra ao Senador Gilberto Mestrinho.

O Sr. Gilberto Mestrinho (PMDB - AM) - Eminente Senador José Alencar, a vida de V. Exª, a experiência e a sabedoria que alcançou poderão dar uma contribuição muito grande ao Brasil, ajudando o novo Presidente da República. Como foi dito aqui, V. Exª poderá ser um grande conselheiro. Eu digo mais: V. Exª poderá ser um parceiro, mostrando a realidade brasileira: aquilo que é bom e aquilo que é ruim. Porque essa experiência de vida, o técnico não conhece; aquele homem de gabinete nunca sentiu; o economista raciocina por um axioma estatístico de que o que é constante no passado é provável no futuro. Mas na vida não é assim; na vida é diferente. V. Exª que veio de uma porta em Montes Claros, que chegou empresarialmente aonde chegou e, politicamente, se transforma no segundo homem da República, poderá dar ao Brasil uma grande contribuição: a do aconselhamento, a da orientação, a da sabedoria que só se adquire com o tempo. E V. Exª tem o tempo necessário para possuir sabedoria. Parabéns e muito sucesso na Vice-Presidência da República!

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador Gilberto Mestrinho, pelo seu aparte.

Passo a palavra ao eminente Senador Bernardo Cabral.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador José Alencar, conheci o Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no começo da sua carreira sindical. Depois, dele me transformei companheiro na Assembléia Nacional Constituinte. Conheci V. Exª ainda comandando a Federação das Indústrias de Minas Gerais. Convivo com V. Exª no Senado. Um e outro levam a experiência do Parlamento que é fundamental para quem chefia o Poder Executivo. É ilusão se imaginar um Presidente da República, um Governador de Estado ou um Prefeito Municipal que não tenha um bom relacionamento com as respectivas Casas Legislativas. V. Exª pode não ser um modelo de vencedor na vida porque as pessoas não gostam de modelos, mas ninguém há de negar que V. Exª é um exemplo. Queiram ou não, V. Exª levará a experiência da vida empresarial e política no Senado - V. Exª declarou nesta tarde que tinha sido muito enriquecida esta sua vivência aqui - para a Vice-Presidência da República. Sabe V. Exª que é pela qualidade da luz que melhor se distingue o efeito da sombra. Se um, o Presidente da República, for a luz, e V. Exª, como Vice-Presidente, for a sombra, na harmonia de sábios homens decentes e dignos, que é o caso de V. Exª, tenho a impressão de que poderemos afastar as dificuldades que virão por aí. Esteja certo, Senador José Alencar, de que V. Exª traz a marca do homem de caráter, de dignidade e de decência. Quando Confúcio disse, há milhares de anos, que uma longa marcha se começa com o primeiro passo, eu penso que ele estava equivocado: uma longa marcha começa com a decisão que antecede os primeiros passos, e a decisão que Lula teve ao chamá-lo com os companheiros dos dois partidos para esta união (Presidente e Vice-Presidente) foi a que hoje faz com que V. Exª vá à tribuna, despeça-se dos seus colegas, diga um até breve, porque V. Exª não perderá jamais as suas pegadas aqui dentro. Daqui, os que ficam são seus admiradores; os que saem, como eu, são muito mais admiradores porque é à distância que se vê o tamanho da montanha; perto dela não dá para ver muito. Deus o proteja, seja feliz e considere que, nesta Casa, V. Exª deixou um passo grande, muito luminoso. Cumprimentos e parabéns pela Vice-Presidência da República, a partir de 1º de janeiro de 2003.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador Bernardo Cabral, pelo seu aparte. Muito obrigado.

Com a palavra o Senador Iris Rezende.

O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador José Alencar, pela honra da concessão do aparte. Esta tarde realmente torna-se marcante no Senado, primeiramente pela palavra do Senador Bernardo Cabral e, agora, a de V. Exª, o que nos sensibiliza profundamente. Estamos extremamente felizes por saber que V. Exª deixará o cargo de Senador para ocupar, a partir do dia 1º de janeiro, a honrosa posição de Vice-Presidente da República. Para Goiás, particularmente, é até motivo de realização, porque a sintonia, a harmonia e a convivência entre mineiros e goianos é muito fraterna, é algo excepcional. Mas há uma explicação: possivelmente, 80% da população de Goiás são provenientes de Minas Gerais, o que realmente nos aproxima. Certa vez, disse ao recém-eleito Presidente da República Tancredo Neves da satisfação de Goiás, afirmando-lhe que quando um mineiro ocupava uma posição na República o goiano se realizava. Nós nos realizamos com a presença de V. Exª ao lado do Presidente eleito, o Lula, na direção máxima da República. Lembro-me bem quando V. Exª liderava os empresários de Minas Gerais, salvo engano na Presidência da Associação Comercial e Industrial de Minas Gerais, sendo posteriormente candidato ao Governo daquele Estado. O destino o trouxe a esta Casa para que tivéssemos a oportunidade de conviver mais proximamente. Recordo-me bem de uma reunião da Bancada do PMDB, convocada para tratar de questões político-partidárias, quando V. Exª pediu a palavra e nos deu uma lição de conhecimento da situação econômico-financeira do Brasil. Estávamos preocupados, talvez, com assuntos partidários, e V. Exª inquietava-se com o cenário econômico brasileiro. Aquilo nos impressionou tanto que, logo depois, os três Senadores de Goiás convidamos V. Exª - que, gentilmente, satisfez aquela vontade coletiva - para comparecer ao nosso Estado a fim de, na Assembléia Legislativa, falar ao povo goiano e injetar naquela região a confiança no futuro deste País diante, muitas vezes, da desconfiança de grande parte da população brasileira pelas dificuldades vividas. Por questões locais, V. Exª deixou o PMDB e agasalhou-se no PL. Em seguida, Lula tornou-se candidato à Presidência da República, buscando no PL o seu companheiro de chapa, quando o Partido decidiu indicar o nome de V. Exª. Trata-se de obra do destino. Num momento difícil, nós não podemos negar que este País tem experimentado desenvolvimento. O Brasil de hoje não é o de ontem, mas convive com dificuldades seriíssimas, sobretudo na área social. De repente, o destino oferece ao Brasil a oportunidade da união do líder empresarial ao líder sindical, numa demonstração de que realmente é preciso dar-se as mãos - jovens, idosos, brancos, negros, profissionais liberais, operários, empresários -, a fim de transformar o Brasil no país de nossos sonhos. Vejo hoje a Nação tomada de esperança e de fé no Governo que se instalará no dia 1º de janeiro, constituído daquele que surgiu do meio operário e daquele que, com dificuldade, se transformou num líder empresarial. Foi justamente por causa desse sentimento de necessidade de união que o povo deu ao Presidente Lula e a V. Exª, seu companheiro de chapa, a maior quantidade de votos já vista em todo o mundo. Isso mostra a todos nós que a responsabilidade nessa hora se expande, se avoluma, sobre todos aqueles que têm nos ombros a responsabilidade pelos destinos deste País. Estou certo, embora distante daqui, de que o Senado Federal e a Câmara dos Deputados não faltarão com o novo Governo que brevemente se instalará, porque esse é, na verdade, um momento de ouro para o futuro do Brasil. A presença de V. Exª, ao lado do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realmente é motivo de alegria para Minas Gerais e para Goiás e de segurança para o Brasil. Meus cumprimentos pelo trabalho realizado nesta Casa e pelo que V. Exª, ao lado do novo Presidente, realizará pelo Brasil. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Iris Rezende.

Com a palavra o Senador Maguito Vilela.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Quero também registrar nos Anais desta Casa os meus cumprimentos a V. Exª pelo belíssimo trabalho que desenvolveu no Senado dando-nos lições importantíssimas e desejar-lhe muito sucesso nessa missão árdua que tem pela frente. V. Exª e o Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentarão enormes desafios. O País se encontra em dificuldade. Teremos de encontrar novos caminhos. Hoje o Brasil inteiro confia tanto na capacidade do Presidente quanto na do Vice-Presidente. V. Exª é um dos homens mais importantes deste País, tanto na área empresarial quanto na área política. Poucos homens conseguiram tanto êxito na vida empresarial e na vida política quanto V. Exª, pois, embora esteja há pouco tempo na vida pública, chegou à Vice-Presidência do Brasil. Tenho certeza de que alçará, ainda, vôos muito mais altos. Quero desejar-lhe muitas felicidades na futura missão e agradecer-lhe seus ensinamentos. Tive o privilégio de privar da amizade e dos conselhos de V. Exª nesta Casa. V. Exª fez também uma deferência especial a mim, visitando a minha cidade, Jataí, onde o Presidente Lula obteve um dos maiores índices de votação, mais de 72% do total dos votos. Ouvi um testemunho muito importante de um jataiense, que disse: “Senador Maguito, quem ouve José Alencar não deixa de votar nele!” E aquele cidadão nunca tinha visto nem ouvido José Alencar. Isso realmente se confirmou: no 1º turno, o Presidente obteve lá cerca de 50% dos votos e, no 2º turno, mais de 72%. Foi um dos maiores índices do Brasil. Isso ocorreu em virtude da visita de V. Exª, que muito nos honrou, honrou Jataí, honrou Goiás. Quero agradecer-lhe isso e, mais uma vez, dizer-lhe que estarei no Senado para lutar, para trabalhar em favor do futuro Governo, para ajudá-lo. Saí pelo meu Estado pedindo votos para Lula e para José Alencar. Não tenho como não apoiar o novo Governo Se pedi votos para ele, devo ter a responsabilidade de, apoiá-lo, de ajudá-lo, sem nada querer em troca. Já deixei isto muito claro: faço política por ideal, nada mais. O que desejo é um Governo justo, humano, democrático, solidário, que dê oportunidade a todos. O que desejo é uma pátria em que haja menos desigualdades sociais, uma pátria sem fome, sem miséria, enfim, uma pátria justa. Por essa razão, estarei aqui lutando com todas as forças para ajudá-los a encontrar caminhos que dêem ao País dias melhores. Repito, o Brasil precisa mudar muito. As coisas não vão bem. Não adianta querer tapar o sol com a peneira. A violência é muito grande. Sessenta por cento das estradas brasileiras estão deterioradas, e para recuperá-las o custo será altíssimo. Em minha região, entre as cidades de Santa Rita e Portelândia, para percorrer 30km de estrada, são necessárias quatro horas. Lá estão os Municípios que mais produzem. Jataí, é o maior produtor individual do País. Rio Verde é o segundo. E as estradas são quase intransitáveis. Há muito o que fazer. Teremos de ajudar muito, lutar muito, trabalhar muito. Portanto, desejo a V. Exª muito êxito na missão. E conte comigo, como Senador de Goiás, para estar rente com V. Exª e com o futuro Presidente, ajudando o País a encontrar novos caminhos e dias melhores para o povo. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador Maguito Vilela.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) - Senador José Alencar, quero apenas pedir às Srªs e aos Srs. Senadores que ainda querem aparteá-lo que se atenham aos dois minutos regimentais para dar oportunidade a todos de se manifestarem num momento tão importante como este.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Sr. Presidente, pelas nossas anotações, estão inscritos o Senador Carlos Patrocínio, Senadora Emilia Fernandes, Senador José Agripino Maia e Senador Francelino Pereira. Todavia, peço a S. Exªs que me permitam passar a palavra antes à Senadora Marina Silva, futura Ministra do Meio Ambiente, porque S. Exª tem um compromisso fora e veio aqui para participar da sessão, com grande honra para nós.

De maneira que, se me permitem, vou passar a palavra à Senadora Marina Silva.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador José Alencar, permita-me fazer minha inscrição também.

A SRª MARLUCE PINTO (PMDB - RR) - Senador José Alencar, também quero me inscrever.

O SR. VALMIR AMARAL (PMDB - DF) - Senador José Alencar, também quero me inscrever.

O SR. LINDBERG CURY (PFL - DF) - Senador José Alencar, também desejo me inscrever.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Pois não, Excelências.

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Senador José Alencar, em primeiro lugar, quero agradecê-lo por aquiescer ao meu pedido e, em segundo, agradecer a todos os colegas que concordaram em que eu usasse da palavra neste momento.

Muito rapidamente vou fazer minha homenagem ao grande parceiro que V. Exª tem sido nas questões mais relevantes deste País. Como Senador e como empresário, V. Exª tem uma preocupação muito grande com o nosso futuro e incorpora nas suas ações como empresário a responsabilidade social. Com certeza, é essa sua postura que hoje o leva a um dos postos mais importantes em nossa República, na condição de Vice-Presidente. É motivo de orgulho e de muita honra para nós, do Partido dos Trabalhadores, tê-lo como parceiro ao lado de Lula nesse grande desafio de fazer com que este País volte a crescer, possa gerar oportunidades de emprego, combater as mazelas sociais. De sorte que quero aqui pedir a Deus que o acompanhe nesse novo desafio, e que o Sr. Senador José Alencar, também da Silva, ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, possa fazer o resgate deste País, em todos os aspectos, do ponto de vista econômico, social, cultural e, sobretudo, do ponto de vista do alinhamento ético de fazer com que possamos enfrentar as grandes mazelas de inclusão social. Que Deus o acompanhe na sua caminhada. Muito obrigada aos colegas por terem permitido esse aparte.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senadora Marina Silva.

O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Ouço agora o eminente Senador Carlos Patrocínio.

O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - Nobre Senador José Alencar, V. Exª revive a saga dos famosos políticos mineiros. Dizem, eminente Senador, que as mulheres são mais inteligentes do que os homens. V. Exª deve ter aprendido muito com as mulheres. Muito embora a primazia seja do homem, em pedir a mão em casamento, dizem que são as mulheres que escolhem o homem que vai escolhê-las. Creio que V. Exª sentiu que o Lula precisaria muito do seu concurso, para modificar este Brasil. E V. Exª fez como os antigos e inteligentes políticos mineiros: acabou sendo Vice-Presidente de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa parceria, eminente Senador, confere o equilíbrio de que o Brasil tanto precisa para implementar as reformas estruturais necessárias ao País. V. Exª representa, afinal, a aliança entre o capital e o trabalho, em que não há antagonismo, mas somente confluência de idéias. Portanto, como mineiro e, sobretudo, como brasileiro, acho muito importante que V. Exª seja o Vice-Presidente de Luiz Inácio Lula da Silva, porque haverá de conferir esse equilíbrio de que o Brasil tanto precisa. Minas Gerais sempre esteve presente nas horas mais angustiantes da Nação: com Felipe dos Santos, com Tiradentes, posteriormente com o grande Juscelino Kubitschek e outros nomes. V. Exª será o grande político mineiro do futuro. Portanto, em meu nome, em nome do povo tocantinense, e se eu tiver autorização do eminente Senador Francelino Pereira, gostaria também de saudá-lo em nome dos monteclarenses e de todos os mineiros do norte, onde nasci, porque V. Exª é muito admirado, respeitado e amado naquela região. Seja o braço forte de que o Lula tanto precisa para implementar as modificações deste País. Eu, seu amigo, onde estiver, estarei torcendo e, mais do que isso, fazendo meu modesto papel para que este País mude, principalmente para o povo mais sofrido desta Nação. Seja feliz, Senador José Alencar.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador Carlos Patrocínio.

Ouço agora a eminente Senadora Emilia Fernandes.

A Srª Emilia Fernandes (Bloco/PT - RS) - Senador José Alencar, o Senado Federal presta justa homenagem a V. Exª em uma fase importante de sua vida como homem público. V. Exª fez uma leitura do momento que o Brasil vive, do clamor de um povo por vozes, por braços e por unidade na construção de um novo País. Viver este processo, para nós, é algo muito significativo. O Brasil passa por um novo momento histórico. Todos nós, homens e mulheres de esperança, de fé e visão de cidadania, somos protagonistas desta nova história. Dois Silvas chegam para orientar nossos destinos pelos próximos quatro anos, quem dera por mais. Ao lado desses grandes homens, há duas Marisas, cada uma com história, trajetória, luta, visão e luz própria. Tudo isso não foi por acaso. A vida é feita de caminhadas e desafios. É um desafio que a vida oferece a V. Exª e à sua Mariza, assim como ao Presidente eleito e à sua esposa, também Marisa. V. Exª, por meio de sua história, de sua origem humilde mas honesta, determinada e empreendedora, desde cedo mostrou, fez da sua vida uma construção de fé, de vitória, de solidariedade e de visão clara e nítida da importância da doação e da colocação das forças e das energias a serviço de uma causa maior. O modelo econômico adotado pelo Brasil exclui, desemprega, empobrece, joga milhões de pessoas ao analfabetismo, à miséria e faz com que jovens se droguem e se matem muitas vezes por um par de tênis ou pouco mais do que isso. V. Exª sabe que, neste momento, o País pede socorro a todos nós e teve sensibilidade de adotar, na postura de sempre, a determinação para se colocar à disposição de um projeto para um novo tempo. As propostas apresentadas para esse novo tempo são diferentes, sim, do que está posto agora. Alianças se constroem em cima de um novo projeto de país, um novo projeto de soberania nacional, um novo projeto de visão social acima do lucro a qualquer preço e acima do econômico, abrindo mão daquilo que é o princípio norteador de toda nação, que é garantir a vida digna e a sobrevivência de seu povo. V. Exª, como empresário empreendedor, sabe que o que está posto é diferente do que o que está existindo. Por isso me congratulo com V. Exª. Também deixo esta Casa, e a deixo feliz, porque a partir dos mais de dois milhões de votos que conquistamos no Rio Grande, tenho certeza de que parcela significativa ou total foi colocada nas urnas para que o Governo Lula/Alencar pudesse prosperar e ser vitorioso como o foi. Onde estivermos, assumimos o compromisso público de ajudar e continuar avançando na pregação que sempre fizemos: da verdade, da esperança, da fé e da dignidade a serviço de uma causa. O que V. Exª fez, ajudando, apostando e acreditando neste novo projeto que vem sendo construído ao longo de 20 anos, liderado pelo grande e futuro Presidente Lula, será registrado pela história como um ato de doação, de capacidade de ajudar e contribuir não com um projeto ou um partido, mas com o povo brasileiro -- homens, mulheres, crianças, idosos, negros, brancos, índios, do campo e da cidade, que querem ajudar a construir esse novo Brasil. Leve nossa mensagem, nosso carinho, nossa admiração e a disposição de luta que também aprendemos com V. Exª. Cumprimentos.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senadora Emilia Fernandes.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador José Alencar, V. Exª me concede um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Tem V. Exª a palavra.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador José Alencar, como catarinense, gostaria de não ficar de fora.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Pois não, Senador Casildo Maldaner.

O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Srªs e Srs. Senadores, peço licença ao ilustre orador que se encontra na tribuna para comunicar ao Senado que, em entendimento com o Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Aécio Neves, decidimos pela autoconvocação do Congresso Nacional até o dia 20 de dezembro, considerando que há grande probabilidade de votarmos o Orçamento para 2003 ainda este ano. Essa é a razão principal da autoconvocação. Incluiremos, pelo Senado Federal, as matérias da competência privativa do Senado da República e outras que dependem ainda de acordos e conversas com as Lideranças. É apenas um breve aviso.

Retorno, assim, a palavra aos Senadores aparteantes para que honrem o orador que está na tribuna.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Sim, Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Estimadíssimo Senador José Alencar, veja V. Exª como são as coisas da vida: conhecemo-nos há 20 anos, pelo menos. Não imaginei nunca que, depois de 20 anos, eu viesse a ser adversário do Vice-Presidente da República. Adversário, sim, mas inimigo, nunca. E porque não inimigo, quero desejar ao futuro Vice-Presidente o melhor dos êxitos. Mais do que desejar, estou para, ao lhe dirigir a minha palavra, manifestar a minha absoluta confiança de que isso vai existir, porque todo governo precisa de boa dose de pragmatismo. Sem nenhum demérito ao Partido dos Trabalhadores, acho que V. Exª dará uma boa dose de pragmatismo, de objetividade, de conhecimento de causa, de como bem administrar ao Governo que se inicia em 1º de janeiro do próximo ano. Senador José Alencar, talvez seja uma boa hora de, rapidamente, comunicar à Casa as circunstâncias em que nos conhecemos. Em 1982, fui eleito Governador, tinha 37 anos, era um pouco mais que um menino. Num belo dia, logo no começo do Governo, apareceu, no meio de uma grande crise que eu vivia ao começar o Governo, porque a maior das indústrias do Estado estava em colapso absoluto, era a Têxtil Seridó e os trabalhadores estavam na porta da fábrica e na porta do Hotel Ducal fazendo piquete e exigindo o direito de receber os salários atrasados de seis meses. Eu tinha que resolver aquela questão e não seria pela força, como me foi solicitado e neguei-me a fazer. Foi quando apareceu um matuto mineiro, que, com um jeito muito simpático, propondo assumir o controle da Têxtil Seridó. Pragmaticamente, ele me disse que concordaria em assumir esse complexo industrial se o Governo do Estado transformasse os déficits que a empresa tinha com o Banco de Desenvolvimento e com a companhia elétrica em ações, se o Governador fosse com ele ao Banco do Brasil e ao BNDES negociar os débitos da empresa e se outras coisas mais pudessem ser feitas pela mão do Governador. Fiquei ouvindo o matuto, gostei do jeito dele e pedi um tempo para pensar, não foi mais do que uma semana. Tomei informações do matuto e chamei-o de volta. Desculpe-me a franqueza. Descobri que se tratava de um cidadão com fama de ser um homem de bem. Eu lhe disse: “Dr. Alencar, acho que vou topar a sua parada, mas queria conhecer a fábrica que o senhor tem em Montes Claros”. Era a única que ele tinha. Perguntei se poderia ir lá e ele disse que na hora em que eu quisesse. Peguei um aviãozinho do Estado e fui bater lá. Encontrei uma fábrica grande, mas muito modesta. As paredes pintadas, imaculadas, as máquinas funcionando, tudo em seu lugar; as operárias e os operários fardados discretamente. Tudo direito, com cara de coisa bem administrada. Eu voltei e disse: “Dr. Alencar, o negócio está feito. Vou encaminhar à Assembléia Legislativa o projeto de lei viabilizando a transformação dos créditos. Vamos agora ao Banco do Brasil, ao Banco do Nordeste e ao BNDES”. Assim o fizemos, e o compromisso que ele firmou comigo de que, se eu fizesse o que tinha prometido, ele reabriria a fábrica em 30 ou 60 dias e, em 90 dias, estaria com dois turnos com todos reempregados, ele cumpriu. De lá para cá a Têxtil Seridó transformou-se na Coteminas, que, hoje, é o maior complexo industrial do Rio Grande do Norte. O matuto mineiro chama-se José Alencar, Senador, que será Vice-Presidente do Brasil a quem eu desejo todo êxito do mundo, de coração para coração, porque a nossa relação começou de forma muito sadia e muito produtiva. O meu Estado deve muito a V. Exª, Senador José Alencar, e eu espero que o Brasil lhe deva muito mais. Que Deus o proteja.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador José Agripino.

O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - Senador José Alencar, permite V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Ouço o Senador Francelino Pereira, meu eminente compadre. Em seguida ouvirei a Senadora Marluce Pinto e os Senadores Geraldo Melo e Eduardo Suplicy.

O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - Caro Senador e compadre José Alencar, permita-me a Casa o tratamento da intimidade. Fiquei na dúvida se falaria em nome de Minas, abordando os temas consistentes quanto à economia, à mobilidade social, o sentimento de Minas que ninguém viola impunemente, ou se recordaria as nossas conversas, os nossos contatos e também a nossa aproximação, embora em vertentes políticas bastante diferentes. Recorda-se V. Exª que em determinado momento havia uma preocupação, pelo menos da minha parte e acredito que da parte de V. Exª, com as entidades de classe de Minas Gerais: Associação Comercial, Federação das Indústrias, Federação do Comércio. Era preciso que elas assumissem um papel que conferisse um destaque a Minas Gerais na mídia, na imprensa, nos meios de comunicação, de certa forma sonhando com uma competição com o Estado de São Paulo. Eu imaginava que naquela hora o seu nome poderia ser uma vertente para chegar a essa posição. Pois bem, não conversávamos. V. Exª me procurava muito pouco e eu também procurava muito pouco V. Exª. Mas nos olhávamos. E havia uma certa afinidade, uma identidade entre nós dois. E certa noite, permita-me uma revelação íntima, V. Exª e a minha comadre Marisa, o casal, comunicaram-me que gostariam de nos fazer uma visita, em minha residência, na rua Antônio Aleixo, irmão de Pedro Aleixo, estadista mineiro. V. Exª foi à minha casa e disse-me: “Olha, sem nos conhecermos de uma forma mais consistente ou mais ampla, mas há uma admiração nossa por você” - dizia V. Exª -, “e nós estamos aqui para convidá-lo - não tenho muito como justificar - para o casamento da minha filha Maria da Graça, que será realizado em um determinado dia, no mês tal, assim, assim”. Eu confesso que fui surpreendido e verifiquei que o silêncio mineiro tem o equilíbrio das montanhas e promove o desenvolvimento e a qualidade social do Estado. Nós fomos padrinhos de casamento da Maria da Graça. A minha esposa Latice, a quem eu chamo de Laticínia, filha de libaneses, e o meu compadre ao lado de Marisa, a sua esposa. Pois, bem, a minha previsão silenciosa terminou acontecendo. V. Exª foi eleito Presidente da Federação das Indústrias e em razão do seu temperamento, da sua vocação, da sua destinação, da sua origem, tangido pela mobilidade social, chegou à Presidência da Federação das Indústrias, e Minas conseguiu ter um destaque maior, quase chegando perto de São Paulo na mídia nacional, nos debates nacionais, nos embates econômicos, em todos os problemas do interesse de Minas Gerais, porque defendemos esse triângulo que é São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro - para nós, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. V. Exª, Presidente da Federação das Indústrias, começou a imaginar que podia ser candidato ao Governo de Minas Gerais. Há de se lembrar que talvez o seu primeiro passo tenha sido telefonar para o seu compadre para uma conversa de três, quatro ou cinco horas no Hotel Wembley, de sua propriedade, na Rua Espírito Santo, entre a Rua Caetés e a Avenida Santos Dumont. A sua conversa era exatamente no sentido de aprofundar a minha visão quanto à possibilidade da sua candidatura ao Governo de Minas Gerais. Confesso que fiquei preocupado e o aconselhei a procurar um Partido menor, para que pudesse partir de uma vertente que não fosse tão comprometida politicamente. Entretanto, V. Exª entendeu que devia se inscrever num grande Partido, para fazer uma grande campanha. Efetivamente, a campanha se desenvolveu, e veio a primeira derrota política. Não há homem público que não tenha uma derrota política. A partir daí, meu caro compadre, começamos a perceber que o nome de V. Exª podia crescer. E foi crescendo até que, em determinado momento, acompanhando atentamente a projeção da Coteminas, ao lado do seu compadre e amigo e do meu compadre e amigo Luiz de Paula Ferreira, seu sócio na Coteminas, começamos a perceber que V. Exª seria candidato ao Senado. Fez uma campanha magnífica, uma música fantástica que encantou os mineiros. Teve uma votação esplêndida. Eu já era Senador. Ocorre, meu caro compadre José Alencar, que essa posição terminou com aquela reunião que V. Exª promoveu no Palácio das Artes em Belo Horizonte. E lá, todos nós, seus amigos, fomos surpreendidos com o ingresso, no plenário, de Luiz Inácio Lula da Silva, abraçando-o publicamente talvez pela primeira vez. E Minas, de certo modo estupefata, via o empresário José Alencar abraçando um torneiro mecânico, um operário, um líder sindical. Aquele encontro serviu para demonstrar realmente uma identidade entre Lula e José Alencar, que veio lá de Ubá, daquela loja pequenina que montou com dinheiro emprestado de seu irmão. Aluguel, não juros. Daquele encontro terminou saindo a candidatura de José Alencar Gomes da Silva ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva. Pois bem, estou aqui exatamente para lembrar esses fatos e dizer que o Brasil é realmente a terra maravilhosa para se viver, trabalhar, e nunca para morrer. A mobilidade social é extraordinária. V. Exª veio lá do mato, da loja pequenina, de um quarto de um hotelzinho de quinta classe, onde dormia no corredor. E este seu compadre e amigo nasceu no Nordeste brasileiro, filho de agricultor que não sabia ler nem escrever; entre sete irmãos, que apenas tiveram trinta dias de escola, somente este seu compadre teve a oportunidade, por ser o caçula, de estar falando hoje ao Vice-Presidente da República brasileira, meu compadre José Alencar. A mobilidade social fez de Lula Presidente da República numa decisão inédita no Brasil e talvez no mundo. Este filho de agricultor pobre está falando como Senador da República - e já exerceu todos os cargos em Minas Gerais -, ao Vice-Presidente da República, José Alencar. E peço a V. Exª que transmita à minha comadre Mariza e à minha afilhada Maria da Graça um abraço fraternal. Efetivamente, estamos satisfeitos, porque promovemos uma associação no Brasil para que, futuramente, não sejamos um Estado dominado pela brutalidade da distribuição de renda, pela pobreza, pela indigência, mas sim que aspiremos sempre à esperança de o Brasil crescer e prosperar cada vez mais. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, eminente Senador e compadre Francelino Pereira.

Ouço, agora, a Senadora Marluce Pinto.

O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - A Mesa encarece aos Srs. Senadores a maior brevidade possível nos apartes a fim de que todos tenham oportunidade de pronunciar-se, a exemplo do que ocorreu quando discursou o Senador Bernardo Cabral.

A Srª Marluce Pinto (PMDB - RR) - Nobre colega Senador e futuro Vice-Presidente da República, quando V. Exª subiu à tribuna, onde ficou alguns instantes parado, esperando que terminasse a confraternização com o nosso colega Senador Bernardo Cabral, falou que esperava porque sabia que teríamos empenho de ouvi-lo recitando um poeta, mas que talvez não agiríamos do mesmo modo ao ouvirmos o seu discurso. Tenho plena convicção de que V. Exª escolheu o poema de Gilberto Freire dos idos de 1926 não por acaso, mas por ter sentido que o que aquele poeta escreveu - embora não julgasse que, após 76 anos, o fato viesse a acontecer como estava escrito no poema - se realizaria, ou seja, poderia assumir a Presidência um operário, um profissional liberal, um preto ou um branco. Tudo o mais que já foi dito por V. Exª leva a crer que, realmente, essa hora chegou. Depois de tantos presidentes muito instruídos - uns indicados, outros eleitos pelo povo -, agora chegou a vez do operário, do torneiro mecânico, e chegou a vez do menino adolescente, que, aos 18 anos, iniciou-se como microempresário e depois se tornou um grande empresário. Ambos estão para assumir: um a Presidência, outro a Vice-Presidência da República. V. Exª disse que o futuro Presidente era um predestinado. Depois de tudo o que ouvi aqui neste plenário sobre V. Exª, principalmente o depoimento do Senador José Agripino, posso dizer que V. Exª também é um predestinado. As coisas não acontecem por acaso. Por mais que lutemos, muitas vezes queremos algo julgando que é para a nossa felicidade e de outros, mas “O lá de cima” é quem decide. Tudo tem uma razão de ser. Quando V. Exª deixou o nosso PMDB, como eu lamentei! Não estou falando isso por hoje ser V. Exª o nosso futuro Vice-Presidente. V. Exª deve lembrar que o abracei e disse como lamentava que saísse de nosso Partido, e tenho certeza de que todos os peemedebistas lamentaram a saída de V. Exª. Mas estava escrito: tinha que escolher outro Partido para chegar aonde chegou. E tenho certeza, meu nobre colega, de que V. Exª será a espinha dorsal desse Governo. Digo isso não em demérito aos demais, mas porque Lula, como já foi dito, é um predestinado - homem simples, saiu do Nordeste e foi para São Paulo fazer sua vida... todos sabem a história do futuro Presidente da República -, e V. Exª, igualmente, mas por caminhos diferentes que agora se encontraram, vão formar um par que poderá, quem sabe, conseguir aquilo que outros não conseguiram. Não por maldade, mas porque tudo tem a sua época, o seu momento, o momento de luta. Quero dizer a V. Exª que espero muito do nobre colega, e posso até dizer, amigo, pois quantas vezes da tribuna deste plenário, falando sobre a nossa Amazônia, falando sobre o meu querido Estado de Roraima, V. Exª me aparteou, afirmando, com veemência, que não era da região amazônica, mas que iria se juntar a nós para defendê-la e para ajudar o nosso Estado. Assim, meu nobre colega, não é uma cobrança, apenas um lembrete: não esqueça aquela região, promissora, que pode resgatar, no futuro, até a fome dos brasileiros. Basta que haja investimentos certos, que possam trazer rentabilidade, que possam ser bem conduzidos e bem fiscalizados, porque o importante não é só a liberação dos recursos; mais importante do que a liberação dos recursos é a fiscalização, para que não haja desperdício. E com a experiência de alguém que começou como microempresário, chegando a ser reconhecido hoje como um grande empresário, com milhares de empregados em suas indústrias, V. Exª tem capacidade suficiente para fazer essa fiscalização. Como muitos, não vou continuar no Senado. Tenho 16 anos como Parlamentar. Iniciei também como V. Exª, como empresária. Cada época se desenvolve de uma certa maneira. Mas continuo sendo brasileira, vou continuar trabalhando pelo nosso Estado e, no que puder colaborar, pelo nosso País. Vou, muitas vezes, solicitar-lhe audiências, para conversarmos sobre não só o Estado de Roraima como também sobre a nossa Amazônia. Para mim, é também um privilégio ver um ex-peemedebista, nessa tribuna, com tanta convicção, com tanta fé em Deus, para assegurar o futuro daqueles que são tão carentes. Quero aproveitar a oportunidade para deixar um abraço extensivo à minha amiga Marisa, que tantas vezes já me convidou para seus eventos. Quero guardar boas lembranças desse casal. Desejo muito sucesso, mais até do que obteve na vida empresarial, porque enquanto empresário, trabalhou, cooperando com renda e emprego para o povo. Mas agora continuará trabalhando com a responsabilidade de minimizar a carência daqueles que vivem tão desprestigiados em nosso País. Parabéns a V. Exª e parabéns ao Presidente Lula, que lhe escolheu como companheiro de chapa, pois encontrará em V. Exª muita lealdade, a principal virtude quando se é companheiro de chapa. Muito obrigada pelo aparte que me foi concedido.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, eminente Senadora Marluce Pinto, pelo seu aparte.

Ouço agora o Senador Geraldo Melo e, em seguida, os Senadores Eduardo Suplicy, José Eduardo Dutra, Juvêncio da Fonseca e Lúdio Coelho.

O Sr. Geraldo Melo (Bloco/PSDB - RN) - Eminente Senador José Alencar, meu caríssimo amigo, desejo me associar às homenagens que o Senado Federal presta a V. Exª nesta noite, incorporando o especial carinho de quem, como Senador pelo Rio Grande do Norte, viu em V. Exª, durante esses anos, um meio norte-rio-grandense disfarçado de mineiro aqui dentro, tão grande são as suas ligações e a sua contribuição ao desenvolvimento do Rio Grande do Norte como empresário e como cidadão. Sei como está no espírito de todos nós, Senador José Alencar, a esperança de que seja V. Exª uma referência e um ponto de equilíbrio no processo de transformação de que participará numa posição tão importante como a de Vice-Presidente da República. Sabe V. Exª que o cenário de grandes esperanças que aí está, o cenário de grandes expectativas, de certa forma, foi construído e alimentado ao longo dos anos pelo discurso de vanguarda que as forças hoje vitoriosas fizeram ao povo brasileiro. E o papel da vanguarda é este mesmo: o de ir à frente, levantar bandeiras, suscitar esperanças, apresentar desafios, fazer reivindicações, sem a preocupação de afinar essas propostas com a realidade objetiva. Essas forças agora terão que sair da condição de vanguarda para a condição de Governo, e precisam passar a praticar aquilo que tão corriqueiramente se chama “a arte do possível”. O êxito ou o fracasso da experiência que o Brasil vai viver a partir de janeiro dependerá da capacidade que tiverem os novos líderes do País de equilibrar esperanças com realidade, sonhos com possibilidades, a capacidade e a coragem que tiverem de arriscar popularidade em torno do cumprimento do dever. Não estou dizendo, nem de longe, nem remotamente, que suspeito que esse sentimento não existe. Muito pelo contrário. Por mais que esteja em outra trincheira, por mais que tenha um outro papel nos próximos anos, enxergo no Presidente eleito e em V. Exª dois patriotas que, certamente, desejam o melhor para o País. Mas não tenho dúvidas, Senador José Alencar, de que V. Exª, como Vice-Presidente da República, haverá de ser o elemento estabilizador, o elemento que transmitirá serenidade, equilíbrio, tranqüilidade, nos momentos de tensão e de dúvida, que virão pela frente. Como seu amigo e, mais do que isso, como brasileiro quero lhe dizer, de todo o coração, que desejo a V. Exª um grande Governo, uma grande participação no Governo e desejo que essa participação ajude a construir um grande Governo, porque o povo brasileiro precisa disso. E que haja um grande sentimento de responsabilidade e uma grande clareza em relação à diferença entre o sonho e a possibilidade, o sonho e a realidade. Repito: enxergo na presença de V. Exª ao lado de um homem com a dimensão política e a responsabilidade também política do Presidente Lula, enxergo nessa presença uma garantia a mais, um elemento a mais de tranqüilidade que também a mim enche de esperança de que tudo corra bem para o Brasil. Por isso, o que me resta é pedir que Deus proteja o Presidente da República e V. Exª. Que os homens de Oposição, os que aqui ficarem e aqueles que, como eu, sairão daqui, que todos possamos exercer nosso dever de vigilância, sem perdermos de vista a necessidade de contribuirmos para o êxito de que o Brasil tanto necessita. Muito obrigado, meus parabéns e que Deus o proteja, Sr. Vice-Presidente.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Geraldo Melo. Ouço agora o Senador Eduardo Suplicy. E, apenas para lembrar, ouvirei em seguida os Senadores José Eduardo Dutra, Juvêncio da Fonseca, Lúdio Coelho e Antonio Carlos Valadares.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - As suas mãos, Senador José Alencar, conforme previsto no belo poema de Gilberto Freire, vão se juntar às do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para construir este Brasil de todos os brasileiros, não importa se negros, brancos, amarelos, vermelhos, pessoas de qualquer cor. Senador José Alencar, quando V. Exª teve seu nome aprovado pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, tive a oportunidade, naquele dia, de aqui fazer um pronunciamento, prevendo que a presença de V. Exª ao lado de Lula muito contribuiria para que houvesse a vitória. Realmente, V. Exª acabou conseguindo contribuir extraordinariamente para a previsão tantas vezes reiterada por Lula a todos nós. V. Exª acabou se constituindo no maior achado que o nosso Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, obteve para conseguir chegar a essa extraordinária vitória. V. Exª diversas vezes observou, nos mais diversos lugares do Brasil, que era chegada a hora de haver uma modificação no poder, uma renovação que significasse a possibilidade daqueles que, por tanto tempo, estiveram sem voz e sem vez neste País; e, assim, colocou toda a sua energia e disposição nessa direção. V. Exª deu um passo notável, importantíssimo. Tenho a certeza de que irá contribuir, admiravelmente, para que a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva possa estar de acordo com as enormes esperanças que todos temos para a construção de um novo Brasil, de uma Nação onde todos possam ter voz e vez, uma Nação sobretudo justa, em que haja harmonia e respeito a todos, incluindo aqueles que fizeram outras opções, mas que agora estão respeitando V. Exª e o Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e desejando o melhor para o Brasil. Meus cumprimentos e também meus parabéns pelo seu excelente trabalho como Senador. Muito obrigado pela atenção a este seu Colega que muito aprendeu com V. Exª durante esta nossa convivência.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Obrigado, muitíssimo obrigado, Senador Eduardo Suplicy.

Ouço agora o Senador José Eduardo Dutra; em seguida, ouvirei os Senadores Juvêncio da Fonseca, Lúdio Coelho, Antonio Carlos Valadares e Casildo Maldaner.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Senador José Alencar, Vice-presidente da República eleito, acredito que quase tudo que poderia ser dito na tarde de hoje já o foi pelos nossos Colegas. Quero apenas registrar que esses quatro anos de convivência representaram um período muito profícuo para mim. Somos meio conterrâneos, já que V. Exª começou a sua atividade empresarial com uma pequena loja na avenida Olegário Maciel, em Caratinga, cidade onde também morei um bom tempo de minha vida e pela qual tenho muito carinho. Carrego com muito orgulho a lembrança de um dia - e acredito que tenha dado uma certa contribuição para este momento que estamos vivendo agora -, não sei se V. Exª se recorda dele, no mês de setembro do ano passado, quando o Presidente do PT, José Dirceu; o Deputado José Genoíno e eu estivemos em seu gabinete para conversar sobre uma perspectiva de futuro. V. Exª ainda pertencia ao PMDB. Nós já vislumbrávamos em V. Exª um aliado importante na tarefa que teríamos neste ano das eleições. Também orgulho-me de, dentro de nosso partido, o Partido dos Trabalhadores, sempre ter defendido a aliança com o PL, quando esta estava em debate. Defendia o nome de V. Exª como candidato à Vice-Presidência porque entendia que essa chapa tinha um aspecto emblemático muito importante no sentido da proposta de Lula: a construção de um pacto social. Essa chapa seria encabeçada por um líder operário, metalúrgico e sindicalista, tendo como Vice um empresário nacionalista, que sempre apostou e deu sua contribuição para a produção e o desenvolvimento do Brasil, cuja pessoa realmente personificava, como nenhuma outra, esse sentimento. Além disso, há outras coincidências e emblemas nessa chapa: o Presidente e o Vice-Presidente carregam o sobrenome mais popular do Brasil - Silva - e são casados com “Marisa”. Esses são emblemas, símbolos que mostram o quanto essa chapa realmente está afinada. Aproveito este momento para agradecer a presença de V. Exª em Aracaju, em um comício de inauguração do nosso comitê, em que prestigiou nossa candidatura e também pediu votos para o Presidente. Conheço V. Exª discursando, no plenário, e tive oportunidade de conhecê-lo discursando no palanque. V. Exª começou seu discurso como quem conta uma história e depois acabou fazendo com que toda aquela imensa platéia, que estava naquele momento no comício, se entusiasmasse com as suas palavras. Mesmo aqueles setores que inicialmente tinham certa desconfiança e resistência ao nome de V. Exª acabaram sendo conquistados pelo discurso sincero, pela convicção e pela confiança que V. Exª passava naquele projeto, naquele programa. Portanto, quero parabenizá-lo pela eleição e desejo, não só a V. Exª mas para todos nós, brasileiros, que realmente esse projeto venha a trazer um grande futuro para o nosso País. Muito obrigado e boa sorte.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muitíssimo obrigado, eminente Senador José Eduardo Dutra.

Ouço agora meu eminente amigo e Senador Juvêncio da Fonseca.

O Sr. Juvêncio da Fonseca (PMDB - MS) - Senador José Alencar, sinto-me privilegiado. Nesses quatro anos de mandato, que estou aqui em nome do Mato Grosso do Sul, V. Exª foi meu vizinho de cadeira; e, como vizinho de cadeira, sinto-me também glorificado com sua vitória e com toda essa palavra de alegria que o Senado Federal e o País estão sentindo com sua ascensão à Vice-Presidência da República. O privilégio do contato diário aqui no Senado Federal fez-me analisar a sua personalidade. Quais as razões de tudo isso que o faz tão lúcido e tão transparente? É o seu sentimento familiar, a origem humilde, quinze filhos de uma mesma família... E esse sentimento familiar é tão arraigado que V. Exª aqui contou várias vezes as histórias de seu pai, de sua mãe, sempre trazendo a informação como uma orientação de vida. Isso significa muito para a formação da pessoa e refletiu muito em sua vida empresarial: ter a organização e o respeito como sentimentos de responsabilidade social profunda em sua organização empresarial. Essa responsabilidade social é forte demais, razão de sua origem humilde e de sua família. Outra característica fundamental que pude sentir nesses anos é que V. Exª gosta de fazer amizades, tem prazer na amizade, cultiva a expansão dos amigos. Essa característica faz-me lembrar um pensamento de Epicuro, que dizia que um dos maiores prazeres do homem é o da amizade. Esse procedimento se confunde, inclusive, com a solidariedade cristã. O coração de V. Exª também tem esse sentimento de solidariedade, razão da sua responsabilidade social junto às suas empresas. Por tudo isso, V. Exª é um político otimista, dono de um sentimento moderador muito grande, mas muito determinado, e sabe o que quer. Das lições da vida, auferiu toda sabedoria que carrega hoje com essa experiência maravilhosa. O Brasil - eis nossa esperança - já construiu a democracia política, já fizemos a revolução democrática deste País, e esta é a hora da conquista da democratização do nosso capital. Que o brasileiro tenha acesso ao seu esforço, à sua produção, para diminuir as desigualdades. Sei que quanto a esse processo, V. Exª é muito lúcido quando fala que estão tirando recursos da produção para o sistema financeiro internacional, principalmente, exaurindo as forças nacionais. Essa consciência é forte demais para um Vice-Presidente que vai estar junto, em plena confiança, com o Presidente recém-eleito. As nossas esperanças residem em darmos avanço na área econômica, porque V. Exª é bastante lúcido. Falo, para concluir, da satisfação pela vizinhança de cadeira, da satisfação em conhecer a lucidez de V. Exª, do poema de Gilberto Freire, em que ele trazia também essa esperança no coração das mãos brasileiras construindo esta Pátria. E, das suas mãos mineiras, uma afirmação de Gilberto Freire: é uma mão forte que trabalha pelo Brasil. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador Juvêncio da Fonseca.

O Sr. Lúdio Coelho (Bloco/PSDB - MS) - Senador José Alencar, os depoimentos que aqui ouvimos hoje são extremamente fortes, principalmente do Senador Francelino Pereira e de V. Exª. Eles, como o conceito de V. Exª pelo Brasil, são muito fortes. Em meu Estado, no Mato Grosso do Sul, as pessoas diziam durante a campanha: “Esse Alencar é bom, Lúdio!” E eu confirmava. Senador, tenho impressão de que a aliança de V. Exª com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o ideal, é o que busca uma nação: aliança entre empresa e trabalho. Eu nunca assisti, na vida brasileira, a um momento como este que estamos vivendo, de tanta confiança da população no Governo que irá se instalar. V. Exªs representam uma grande esperança para a Nação brasileira. Certa ocasião, no Pantanal, falei ao hoje Presidente eleito Lula que estávamos vivendo um momento de dificuldade no Brasil, e que era chegado o momento de um entendimento amplo entre as forças políticas do nosso País, em busca de uma saída para as dificuldades. Creio que hoje V. Exªs têm o apoio necessário para corrigir os rumos que entendam importantes. O diagnóstico é mais ou menos comum. Quase todas as forças políticas têm o mesmo diagnóstico das nossas dificuldades. Está chegando o momento de encontrarmos os caminhos e de V. Exªs conseguirem apoio capaz de levar a termo as reformas políticas que são comuns a todos nós, buscando o aprimoramento administrativo na vida pública. V. Exª, como empresário de êxito, sabe da necessidade de buscar permanentemente aperfeiçoamento administrativo, econômico e de promover melhorias nas condições de vida do povo brasileiro. Temos confiança, Senador José Alencar, que esse conjunto de forças que há no Governo trará condições para uma administração equilibrada, justa, e que corrigirá as falhas mais gritantes da sociedade brasileira. Não vamos conseguir consertar tudo, mas muita coisa será feita, e com o apoio da família brasileira. Felicidades é o que desejamos a V. Exª.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL- MG) - Muitíssimo obrigado, eminente Senador Lúdio Coelho.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (PSB - SE) - Nobre Senador José Alencar, V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Ouço V. Exª, eminente Senador Antonio Carlos Valadares.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (PSB - SE) - Senador José Alencar, o Partido Socialista Brasileiro - PSB, por meu intermédio, soma-se às homenagens que aqui foram feitas, com muita justiça, à personalidade de V. Exª, pela passagem, nesta Casa, como Senador, em que pontificou pelas propostas apresentadas e pelas discussões de que participou, sempre evidenciando a competência, o preparo e o engajamento com os interesses maiores do Brasil. O nosso Presidente eleito e V. Exª, a partir do ano que vem, estarão assumindo o Governo num momento delicado e especial da vida nacional. O Brasil foi despertado nesse movimento nacional onde o povo soberano pode escolher os seus representantes, não só no Poder Legislativo como no Poder Executivo, numa democracia em que todos possam opinar e ter o seu arbítrio para melhor desenvolver o nosso País. Falo com a maior esperança, assim como milhões e milhões de brasileiros. Mais de 60% votaram em Luiz Inácio Lula da Silva para Presidente e no Senador José Alencar para Vice-presidente. É uma maioria estupenda de pessoas que acreditam que o Brasil vai mudar e terá uma nova cara. É também nossa essa esperança. Estou confiante de que a vitória será do Brasil, com a equidade e a justiça social postas em primeiro lugar, porque não só o Presidente eleito mas também V. Exª, empresário que é, acreditam que o investimento social para corrigir as distorções e as disparidades regionais, interpessoais, não pode ser considerado como uma simples despesa. Na área social, quando se investe, há um resultado positivo porque são reduzidos os índices de violência, há maior oportunidade para todos, aumenta a perspectiva na educação, há uma melhora da saúde. Enfim, a qualidade de vida do provo brasileiro ou de qualquer nação melhora quando o investimento social é levado em consideração. Com esse projeto, o Programa Fome Zero será instituído pelo Governo Lula. Está aí a visão de um estadista que pensa da mesma forma que V. Exª porque ambos vieram do nada, vieram das camadas mais pobres da população e estão hoje como Presidente e Vice-Presidente da República para dirigir este País, um País que espera se libertar de uma vez por todas das peias da pobreza, da miséria, da submissão ao capital internacional. Que todos nós juntos possamos construir um novo País. Confio na participação de V. Exª no Governo de Lula, que não apenas será importante e decisiva como também vai edificar o nosso Senado Federal porque a competência de V. Exª foi demonstrada nesta Casa e será manifestada, sem dúvida alguma, no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Felicidades a V. Exª!

O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Mais uma vez, a Mesa solicita aos Srs. Senadores a observância do prazo combinado de dois minutos para os apartes.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muitíssimo obrigado, Senador Antonio Carlos Valadares.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador José Alencar, logo após V. Exª ter sido escolhido candidato a Vice-Presidente da República, num entendimento com Lula, em virtude de um debate ou de uma entrevista num meio de comunicação, alguns catarinenses me abordaram perguntando quem era aquele homem candidato a Vice-Presidente da República, de quem gostaram tanto. Imagino que, no começo da campanha, havia muitos questionamentos a respeito da aliança entre Lula e V. Exª, que é do Partido Liberal. Questionava-se como essa aliança daria certo. Ao invocar o poema de 1926 de Gilberto Freire, V. Exª sintetiza tudo isso, além de representar esse conjunto, essa forma eclética. Os catarinenses, no início da campanha, logo em seguida à convenção, afirmaram ter gostado desta frase dita por V. Exª aproximadamente assim: “Não interessa a cor do gato; interessa que ele pegue o rato”. Todos apreciaram muito suas palavras. V. Exª, como se diz, “matou a pau”. Aquela sua resposta aos jornalistas foi inteligente e teve um significado extraordinário. O importante é que haja entendimento e que busquemos soluções. É o que interessa aos brasileiros e é o que vamos perseguir. Conheço a atuação de V. Exª, que é prático e eficiente. V. Exª conversa pouco, mas é pragmático. É do que o Brasil precisa. Sabemos que o sucesso de V. Exª como Vice-Presidente da República será também dos catarinenses e dos brasileiros. Boa sorte, Senador José Alencar.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Casildo Maldaner.

O Sr. Valmir Amaral (PMDB - DF) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Valmir Amaral (PMDB - DF) - Senador José Alencar, como homem público, V. Exª teve um sucesso maravilhoso. Como empresário, V. Exª também é um homem bem-sucedido. Senador José Alencar, meu amigo, peço-lhe que V. Exª prestigie os empresários do nosso País; a Nação hoje está carente deles. Sobram operários e faltam empresários. Hoje o desemprego está nas ruas. Tenho certeza de que a vitória de Lula se deve à escolha de V. Exª para a Vice-Presidência. Havia uma disputa grande por V. Exª: Garotinho, Ciro Gomes, todos o queriam. Lula acertou quando escolheu para Vice-Presidente um homem público do quilate de V. Exª, empresário de sucesso - e por que não um empresário de sucesso? -, pois houve a união do capital ao trabalho. Tenho certeza de que o Brasil estará nas mãos de pessoas experientes que começaram do nada e hoje conseguiram sua vitória maior. Dia desses, eu estava assistindo a um programa de televisão e vi Zezé di Camargo dizendo que o Brasil passará para as mãos de pessoas que conviveram com a dificuldade. Tenho certeza de que o Brasil daqui a quatro anos será diferente do que é hoje, onde só os banqueiros e o poder especulativo ganham dinheiro. Um homem do seu quilate mudará este País. O Brasil precisa de mudança e acertou escolhendo as pessoas que vão mudar o País. V. Exª e o Presidente Lula vão mudar o País porque nós, brasileiros, merecemos. A vitória foi de todos os brasileiros quando escolheram V. Exª e o Presidente Lula para administrar o nosso grande País. Parabéns, José Alencar! Parabéns ao povo brasileiro, que escolheu V. Exª. Que Deus dê a V. Exª muita sorte e muita saúde ao longo de sua jornada.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Walmir Amaral.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Ouço o eminente Senador Lindberg Cury.

            O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Senador José de Alencar, poucas vezes, no tempo em que estive por aqui, ouvi uma homenagem tão grande como esta que V. Ex.ª está recebendo hoje e que o nosso companheiro Bernardo Cabral acabou de receber também. Uma homenagem justa, digna. As posições foram bem claras e refletem perfeitamente a vida que V. Exª levou. Gostaria de sair um pouquinho do lugar comum pelo brilhantismo das exposições feitas. Gostaria de citar um provérbio secular que veio das areias ardentes do deserto. Esse provérbio é apenas uma palavra: maktub. Assim estava escrito. Assim estava escrito que aquele jovem que dormia nos corredores da pensão, que pagava o aluguel “para o irmão” e também para o da lojinha, iria crescer, com suas próprias forças, convicções, esperança e expectativa. E cresceu pelos seus próprios méritos, chegando à Presidência da Associação Comercial. Mais tarde, foi conduzido à Presidência da Fiemge. E essa foi uma das mais produtivas administrações que o Brasil teve. Posso dar esse testemunho, porque ocupava, na Confederação das Associações Comerciais do Brasil, nossas co-irmãs, o cargo de 1º Vice-Presidente e lá senti de perto que Minas pulsava forte. Sei que a presença de V. Exª junto a Lula fortaleceu a campanha eleitoral. Muitos votaram em Lula devido à presença desse vitorioso Vice-Presidente, José Alencar. Temos um respeito muito grande pelo seu trabalho, por tudo que tem feito. Esperamos que agora enfrente as dificuldades como enfrentou os desafios quando criança, quando jovem, com aquela mesma vontade de trabalhar e de vencer na vida, de ser um homem bem-sucedido. Sei que lutará pela reforma tributária, pela promoção do desenvolvimento econômico no nosso País, pelo controle da inflação, pela justiça social, pelo combate à fome. E digo isso com muita convicção, porque V. Exª é jovem. Aos 70 anos, é jovem. Ainda joga futebol, de vez em quando, marca gols, e só não sobe no alambrado para comemorá-los, porque não fica bem o Vice-Presidente da República subir no alambrado para comemorar gols. Vamos comemorar as vitórias do País, pois temos muita esperança em seu mandato.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, Senador Lindberg Cury.

Vamos ouvir o Senador Arlindo Porto, meu eminente coestaduano.

O Sr. Arlindo Porto (PTB - MG) - Senador José Alencar, gostaria, nesta noite, de cumprimentar V. Exª com uma frase utilizada com freqüência em nosso Estado, Minas Gerais: “Feliz aquele que semeia, cultiva e, ao final, colhe”. Somente aquele que tem esperança, fé e confiança pode fazer isso. E V. Exª o que fez ao longo da vida? Semeou, cultivou e naturalmente colheu. Semeou durante várias oportunidades a confiança e a fé no futuro. Semeou e cultivou a determinação, a vontade de realizar. Semeou e cultivou a coragem, a coragem de enfrentar desafios, a coragem de enfrentar oportunidades, a coragem de se posicionar. V. Exª semeou e cultivou sempre o trabalho, a dedicação, a coragem de fazer, a busca da oportunidade. Semeou e cultivou a amizade, o respeito, a fraternidade. Hoje o que acontece é, sem dúvida, uma etapa de uma grande colheita. Várias vezes colheu ao longo da vida, várias vezes teve a oportunidade de receber a retribuição por aquilo que fez, semeando e cultivando. Nesta noite, V. Exª colhe o reconhecimento, o reconhecimento do trabalho, da participação e da atuação como Senador da República, Senador que representa o Estado de Minas Gerais. V. Exª colhe porque sempre colheu o respeito de seus Pares, o respeito da sociedade, o respeito dos mineiros e dos brasileiros. V. Exª colhe também hoje o compromisso com o povo brasileiro. Ao apoiar Lula, e naturalmente V. Exª, o povo brasileiro fez uma reflexão, tomou uma posição consciente. Neste momento, nesta noite, V. Exª vem aqui para se despedir; despedir-se apenas da formalidade de participar desta Casa, sentado nesta bancada ou assomando a essa tribuna, porque, sem dúvida, não se afastará desta Casa. Irá desempenhar com grande responsabilidade, tenho certeza, o cargo de Vice-Presidente. Todos sabemos que há necessidade de integração do Poder Executivo e do Poder Legislativo, e V. Exª terá um papel fundamental nessa integração, pelo equilíbrio, pela ponderação, pela ética, pela moral, pela vontade e pela sabedoria de fazer as coisas. É um mineiro típico, um mineiro que sabe fazer acontecer no momento certo. É um mineiro que diz “é” para dizer “sim” no momento oportuno. Por isso, quero cumprimentar V. Exª e agradecer-lhe a oportunidade de estar ao seu lado representando nosso Estado, recebendo seus conselhos, seu apoio, sua amizade todas as vezes que dialogamos para tratar de assuntos de nossa Minas Gerais e, naturalmente, dos interesses do Brasil. Não há como falar em Minas sem falar em Brasil. Quero também, além da parte formal, da parte institucional, trazer a minha mensagem, o meu abraço ao companheiro e amigo, abraço esse que solicito, também em nome da Maria Célia, seja estendido a D. Marisa, com quem fizemos grande amizade. Desejamos a D. Marisa e ao caro amigo e companheiro que sejam felizes, que possam, ainda mais, dividir o curto tempo que têm não só com a sua família, mas também com toda a família brasileira, de que fazem parte. Que o amigo José Alencar faça do Brasil a nação que todos nós desejamos: uma nação mais justa. E que V. Exª continue sendo o nosso “Zé Alencar”, o nosso “Zé Alencar” de Minas Gerais, o nosso amigo José Alencar. Desejo-lhe muito sucesso e felicidades nessa nova jornada.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muitíssimo obrigado, eminente companheiro de Minas, Senador Arlindo Porto.

Ouço agora o eminente Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (Bloco/PSDB - RR) - Meu caro Senador e Vice-Presidente, José Alencar, há poucos momentos, tive de retirar-me do plenário para ir até o auditório do Supremo Tribunal Federal receber um prêmio. Saí um pouco triste, porque pensei que não teria a oportunidade de apartear V. Exª e participar das homenagens que a Casa, com muita justeza, faz a V. Exª, que, em 4 anos, conquistou esta Casa. V. Exª chegou com muita sabedoria, com muita capacidade, com um grande coração e, no estilo mineiro, foi ocupando, foi atuando, foi conquistando e, na verdade, virou uma espécie de unanimidade no respeito, na coerência, na responsabilidade, na brasilidade. A escolha de V. Exª para compor, como Vice-Presidente, a chapa do futuro Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, foi um gesto sobretudo de grandeza e de sabedoria do Partido dos Trabalhadores, porque agregou a essa chapa pontos fundamentais para o desenvolvimento de nosso País. V. Exª conhece as minhas posições: muitas vezes tenho, por força do cargo, de tomar alguns posicionamentos, mas em momento nenhum deixei de ter respeito, carinho e admiração por V. Exª. Tenho certeza de que seu estilo, sua forma de ser, sua capacidade serão extremamente relevantes para que o País possa dar certo. Quero dizer que, provavelmente, estaremos na Oposição, mas iremos, primeiro, torcer para o Brasil dar certo e, depois, ajudar para que isso ocorra e para que o Governo que V. Exª representa possa atuar e melhorar a vida dos brasileiros. A disputa eleitoral acabou. Temos agora que construir o País, e V. Exª está aparelhado para fazer esse trabalho. Quero dizer que, em alguns casos, estaremos juntos; em outros, possivelmente, teremos posições diferentes, mas V. Exª será um canal extremamente importante para que cheguemos a um posicionamento final em prol do País. V. Exª não está se despedindo desta Casa. Tenho certeza de que vamos encontrá-lo muitas vezes, porque V. Exª será um Senador Presidente e Vice-Presidente da República. Portanto, com trânsito, com relações e amizades para ajudar o País a resolver suas questões. Fico feliz por participar deste momento e de poder desejar-lhe muitas felicidades. Estaremos aqui firmes, lutando para melhorar o País. Tenho certeza de que V. Exª, da forma como construiu até agora sua vida, sua história, sua biografia, vai engrandecê-la mais ainda ocupando o cargo de Vice-Presidente da República. Muitas felicidades, que Deus o ilumine. Vamos trabalhar em prol do Brasil.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muitíssimo obrigado, eminente Senador Romero Jucá.

Ouço agora o eminente Senador Fernando Bezerra, meu coestaduano.

O Sr. Fernando Bezerra (PTB - RN) - Para mim é uma honra, Senador. O Senador Geraldo Melo foi muito feliz ao dizer que V. Exª é um norte-rio-grandense disfarçado de mineiro, o que nos orgulha muito. Quero associar-me às manifestações que esta Casa faz, com muita justiça, no momento em que V. Exª se despede para assumir suas funções e participar das grandes decisões nacionais. Orgulho-me de desfrutar de sua amizade, do tempo em que éramos companheiros na Confederação Nacional da Indústria, quando V. Exª presidia a Federação das Indústrias de Minas Gerais e eu, a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte, sua terra. Sei que V. Exª dará uma grande contribuição ao País. Lembro-me de uma história em que V. Exª dizia que haveria de chegar o dia em que, jantando num restaurante em Paris, na Avenida Champs-Elysèes, pagaria em dólar e o garçom pediria a gorjeta em real - alguma coisa parecida com isso -, e neste momento ficaria orgulhoso de ser brasileiro e ter uma moeda que valia alguma coisa. V. Exª tem esta oportunidade. Eu sei que vivemos um momento grave da vida nacional, mas sei também que a grande esperança que o povo brasileiro depositou nas mãos do Presidente Lula e de V. Exª demonstra realmente a expectativa de que, com a sua competência e a do Presidente, e com apoio da grande maioria do povo brasileiro, haveremos de construir um País mais justo, onde todos teremos mais oportunidades. Aqui todos enfatizaram os traços de V. Exª, de grande empresário, de político hábil, mas eu queria também registrar o de pai de família exemplar que V. Exª é e também lembrar a educação modelar que deu a seus filhos. Permita-me V. Exª citar dona Mariza e o nosso amigo Josué, que lhe torna possível hoje dedicar-se inteiramente à vida pública, sabendo que à frente de suas empresas há um homem capaz, competente, jovem, dinâmico, honrado, ético e patriota como V. Exª, traço do espírito público que V. Exª ensinou também ao seu filho. Por isso, Senador José Alencar, cumprimento V. Exª. Como modesto empresário, tive a honra de conviver com V. Exª na CNI, e, como seu colega, no Senado da República. Meu Partido não o apoiou no primeiro turno - apoiou Ciro Gomes -, mas, no segundo, tive a grande alegria de votar em Lula, sabendo que estava votando também em um companheiro, amigo e conterrâneo. O Brasil deposita nas mãos de V. Exª e do Presidente Lula uma grande esperança, à qual me associo, na convicção de que nosso País será bem conduzido e haveremos de restaurar, por meio dessa esperança, uma nova forma de viver para o povo brasileiro. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muitíssimo obrigado, eminente Senador Fernando Bezerra.

Ouço agora, com muito prazer, o eminente Senador Carlos Wilson.

O Sr. Carlos Wilson (PTB - PE) - Senador José Alencar, é uma consagração. Hoje, nesta Casa, V. Exª está sendo homenageado por mais de trinta companheiras e companheiros. É uma consagração porque sabemos que, além de seu brilhante trabalho desenvolvido nesta Casa como Senador da República, respeitado, sempre um grande conselheiro, V. Exª representa a esperança de milhões e milhões de brasileiros. Na hora em que o eleitor votava no nosso Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, estava votando também no nosso Vice-Presidente, Senador José Alencar. Essa esperança está marcada em cada palavra dos mais de trinta Senadores que o apartearam nesta tarde. Tive o privilégio, em Pernambuco, de receber V. Exª e o Presidente Lula na campanha, e eu sentia uma emoção muito forte de ver V. Exª naquelas caminhadas, naquelas carreatas. Então, é com muita emoção que venho lhe apartear, com a certeza de que V. Exª será uma peça fundamental no Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por tudo isso que já foi dito aqui pelos colegas, mas principalmente pela sua história de vida, pelo seu exemplo de vida. V. Exª, no seu breve discurso, relatou algumas das suas passagens pela vida pública, muito mais rica, com certeza, do que tudo que foi dito desta tribuna. A presença de V. Exª como Vice-Presidente da República é a certeza de que os 63% dos brasileiros que votaram em Lula e em V. Exª terão no Vice-Presidente da República também um referencial de muita bravura, de muita luta e de muita dignidade. Estou orgulhoso, como brasileiro, de ver o Senador José Alencar como Vice-Presidente da República do meu País.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muitíssimo obrigado, eminente Senador Carlos Wilson.

O Senador Antero Paes de Barros havia solicitado um aparte, mas parece que se ausentou.

Concedo o aparte ao eminente Senador Leomar Quintanilha.

O Sr. Leomar Quintanilha (PFL - TO) - Eminente Senador José Alencar, em razão de outros compromissos, precisei me ausentar por alguns momentos deste plenário, mas não o fiz sem antes ouvir o pronunciamento de V. Exª, aliás, mais um dos belos e enriquecedores pronunciamentos com que V. Exª nos brindou nesta Casa. Brindou-nos também com um convívio muito franco e fraterno nas discussões que sempre travamos sobre as mais significativas questões relacionadas com nosso querido País, com as desigualdades regionais, com as injustiças sociais que ainda afligem uma parcela considerável da população brasileira. Hoje, ao vê-lo despedir-se deste convívio, desta trincheira de luta, onde V. Exª nos ensinou a combater o bom combate, apresenta-se-nos um misto de tristeza e de alegria. Tristeza por perder o convívio do amigo, do experiente empresário e do competente Senador que aprendemos a admirar e respeitar por suas posições firmes aqui defendidas, mas alegria em saber que, assumindo a Vice-Presidência da República, V. Exª será um referencial naquela luta que é aqui travada na busca do caminho correto do País se desenvolver e poder mitigar, sobretudo, as injustiças sociais que ainda são praticadas contra milhares de brasileiros irmãos nossos. Talvez seja esse o nosso objetivo maior, talvez seja essa a luta mais importante que haveremos de travar. E com a franqueza da nossa convivência, que é uma peculiaridade de V. Exª, e que nos permitiu sempre um diálogo amigo, porém franco, eu gostaria de confessar que não votei em V. Exª, não votando no seu candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Votei em nosso também colega José Serra, imaginando tratar-se de defesa de propostas com que comungávamos aqui. Seguramente, se fosse V. Exª cabeça-de-chapa eu teria votado em V. Exª. Mas, ao vê-lo defender o caráter e as qualidades do seu companheiro de chapa, daquele que o Brasil escolheu para ser o Presidente da República, consciente da responsabilidade que tenho nesta Casa de buscar contribuir para a solução dos graves problemas nacionais, saiba V. Exª que continuará a ter o seu amigo, colega e companheiro nessa luta agora ao lado do nosso Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para buscar as soluções para os problemas do País, tão esperadas pela nossa população. Confiamos muito no trabalho que V. Exª haverá de, na Vice-Presidência da República, desenvolver na grande missão que o povo brasileiro confia ao nosso Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quero cumprimentá-lo, portanto, não só em meu nome, que tive o privilégio da convivência extraordinária com V. Exª, mas em nome do meu Estado do Tocantins, o mais novo da Federação, que é uma das regiões apenadas pelas injustiças sociais e desigualdades regionais, e que espera há muito - e para isso temos lutado tanto aqui - pelo desenvolvimento do País, pela igualdade e justiça social. Meus cumprimentos a V. Exª e muitas felicidades na nova missão que o povo brasileiro lhe confiou.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PL - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Leomar Quintanilha, pelo seu aparte.

Sr. Presidente, eu preciso apenas de 2 minutos para concluir.

Nosso eminente colega Senador Fernando Bezerra referiu-se a uma passagem que eu havia citado sobre o Champs-Elysées, em uma fala minha. Eu gostaria apenas de revelar aqui o que realmente ocorreu.

Eu era Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais. Era Presidente da República o nosso hoje eminente Governador, que também foi Senador da República por 16 anos, Dr. Itamar Franco. Pois bem, o Governador Itamar Franco, como Presidente da República, colocou no Ministério das Relações Exteriores um ex-Senador, o atual Presidente da República Fernando Henrique Cardoso - estou emocionado, mas preciso revelar isto para todos os meus companheiros. Logo em seguida, o então Presidente da República Itamar Franco convidou o então Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, para assumir o Ministério da Fazenda.

Naquele tempo, a inflação no Brasil girava em torno de 40% a 50% ao mês, e às vezes mais. Convidamos o eminente Presidente Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da Fazenda, para ir a Minas Gerais a fim de fazer uma palestra na Federação das Indústrias.

Então, houve um tempo no Brasil em que a inflação no Brasil girava em torno de 10%, 11% ao mês, no período do ex-Ministro Delfim Neto, e todo mundo já calculava a ORTN na base de 200% ao ano. Então, naquele tempo, se falava muito que a inflação precisava voltar a um dígito ao mês. Um dígito ao mês pode ser 9,8%, e isto significa uma inflação de mais de 200% ao ano. Então, quando chegou o Presidente Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da Fazenda, eu, como Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, fiz o discurso inicial de saudação a Sua Excelência. Na ocasião, tive o cuidado de dizer: “Ilustre Ministro Fernando Henrique Cardoso, nós não queremos inflação de um dígito; nós queremos...” - foi quando usei a metáfora a que se referiu o Senador Fernando Bezerra - “... chegar ao Champs-Elysées ou ao Boulevard Hausemann, entrar em um bom restaurante, pedir um steak au poivre e, quem sabe, se o café estiver bom de preço, um Bourgogne de boa safra. Depois, quando vier a conta, pagarmos com uma nota de cruzeiro...” - naquele tempo, era cruzeiro -, “... de preferência com a efígie de Juscelino Kubitschek. Então, o garçom pega essa nota e demora a voltar. Quando volta, chega fazendo reverência e nos pedindo desculpas, porque teria de nos dar o troco numa moeda menos nobre que a nossa”. O então Ministro da Fazenda gostou disso.

O tempo passou. Depois que o Presidente Fernando Henrique já estava há muito tempo na Presidência, já tinha passado aquela fase de lançamento do Plano Real e a inflação tinha acabado, o então Governador do Rio Grande do Norte - antes o eminente amigo tinha sido Senador e agora foi novamente eleito Senador, Garibaldi Alves - convidou-me para ir com ele ao Palácio do Planalto, porque precisava falar com o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Também estava ao nosso lado o Senador Fernando Bezerra, e lá chegando, o Presidente - já havia passado uns seis anos desse acontecimento de Minas Gerais - disse: “E agora, você já pode entrar naquele restaurante da Champs-Elysées ou do Boulevard Hausemann e pagar com a nota de cruzeiro?” Eu falei: “Olha, Presidente, por enquanto, ainda não, mas tenho que lhe dizer que, há poucos dias, nós chegávamos a Zurich e vi no quadro do banco - porque quando chegamos em qualquer país a primeira coisa é trocar algum dinheiro que se tenha no bolso até para pagar táxi -, vi na pedra, pela primeira vez, dentre as outras moedas conversíveis, o Real com um câmbio honesto”. Contei isso para ele: “Por enquanto ainda não podemos ir ao Champs-Elysées e pagar com a cédula de Real com a efígie do Juscelino ou do senhor, mas já podemos trocar alguns Reais nos bancos dos aeroportos”. Então a nossa moeda começa a ser conversível, o que é uma excelente notícia.

Por isso, precisava contar esse fato para fazer justiça e mostrar toda a história que foi iniciada.

Quero dizer que todos os discursos que foram utilizados como apartes muito me honraram e todos eles, tendo em vista a circunstância de eu estar me despedindo para assumir a Vice-Presidência da República, recém-eleitos que fomos, fizeram referência a esta eleição e muitos enalteceram a minha participação como decisiva na nossa vitória.

Sr. Presidente, visitei o Brasil todo e por onde passei não pude deixar de testemunhar o carinho e o entusiasmo com que o nome de Lula era recebido por todos. A grande esperança do Brasil está justamente na eleição de Lula.

Fiz um esforço muito grande para não atrapalhar a trajetória vitoriosa de Lula. E acredito que não o tenha feito, porque, graças a Deus, construí uma vida com trabalho e com seriedade e procurei manifestar a minha convicção da necessidade de começarmos a praticar a alternância de poder no Brasil, que é absolutamente essencial para o fortalecimento e enriquecimento do regime democrático. Não tenho dúvida nenhuma de que o apoio que estávamos dando ao Presidente eleito - quando falo “nós” refiro-me aos dois terços da população brasileira, que registrou sua preferência nas urnas - demonstrava o reconhecimento da Nação brasileira à liderança de Lula, que nasceu lá em Garanhuns, interior de Pernambuco, e veio para São Paulo. Poderia ser mais uma daquelas crianças que lutam, mas, às vezes, depois de muito tempo, permanecem sem emprego por falta de condições. Esse moço é um predestinado. Além disso, é de uma inteligência rara. Basta conversar com ele para sentir o seu conhecimento não apenas das questões políticas como das econômicas e sociais, especialmente essas últimas, que são o fim. Afinal, as atividades políticas e econômicas são o meio para que se alcancem os objetivos sociais.

Não tenham dúvida: Lula surpreenderá positivamente o Brasil. Peço a Deus que me dê condições para merecer a escolha dele e do seu Partido - o Partido dos Trabalhadores. Inicialmente, o PT fez aliança com o PL, o PC do B, o PCB e o PMN - éramos cinco Partidos. No segundo turno, recebemos apoios importantíssimos de outros Partidos. E Lula tem dito que seu Governo será dos brasileiros, representado por todas as regiões do Brasil e por aquilo que houver de mais puro no sentido técnico e principalmente do ponto de vista ético e moral. Assim, poderemos construir um governo sobre o tripé da probidade no trato da coisa pública, da sensibilidade social e do sentimento nacional. Não tenho dúvida de que isso acontecerá. Aprendi a admirar esse Partido com o qual nos aliamos. Trata-se de um Partido organizado e que possui quadros admiráveis.

Não duvido de que, se todos compreendermos que as questões maiores que digam respeito ao interesse nacional estiverem à frente de nossas decisões, o Brasil alcançará uma qualidade de vida superior para todos os brasileiros.

Agradeço muito a todos que me contemplaram com esses apartes altamente honrosos. Estou hoje emocionado. Hoje é um dia realmente muito importante da minha vida, pois estou me despedindo de uma Casa de onde eu não gostaria de sair nunca, uma Casa que é realmente orgulho nacional. Aprendi muito aqui. Aprendi que aqui não se pratica a política pequena, a política subalterna. Mesmo quando há discordância, ela se faz sobre temas, dentro, naturalmente, da ótica de cada um, porque, graças a Deus, nosso regime é democrático. Tenho absoluta segurança de que todos os 80 Senadores com os quais construí essa amizade, esse relacionamento fraterno, todos eles me ensinaram muito.

Termino aqui meu pronunciamento, agradecendo, mais uma vez, a oportunidade que todos os senhores me deram de conhecê-los, nas Comissões, no plenário e em outras ocasiões que nem eram de trabalho, como jantares ou coisa que o valha. Aprendi muito, enriqueci muito minha vida no convívio com esta Casa. Saio daqui com pena de sair, mas certo de que a missão que me aguarda é nobre. Voltarei muitas vezes ao Senado para matar saudade, para revê-los, para estar aqui, e o meu gabinete será um gabinete-extensão de cada um dos companheiros do Senado porque sei que todos eles irão lá com alguma coisa de maior com relação aos elevados objetivos do nosso País.

Sr. Presidente, gostaria que fosse publicada carta que recebi do Senador Pedro Simon, que aqui não pôde estar presente devido a compromissos assumidos, para que fizesse parte dos Anais da Casa.

Muitíssimo obrigado. (Muito bem! Palmas.)

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR JOSÉ ALENCAR EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2002 - Página 25422