Pronunciamento de Olivir Gabardo em 12/12/2002
Discurso durante a 147ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
REGISTRO DE CORRESPONDENCIA RECEBIDA DO PRESIDENTE DA REPRESENTAÇÃO CENTRAL UCRANIANO/BRASILEIRA, SENHOR J. WELGACZ.
- Autor
- Olivir Gabardo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
- Nome completo: João Olivir Gabardo
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.
POLITICA EXTERNA.:
- REGISTRO DE CORRESPONDENCIA RECEBIDA DO PRESIDENTE DA REPRESENTAÇÃO CENTRAL UCRANIANO/BRASILEIRA, SENHOR J. WELGACZ.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/12/2002 - Página 26024
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
- Indexação
-
- REGISTRO, RECEBIMENTO, CORRESPONDENCIA, AUTORIA, PRESIDENTE, REPRESENTAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, UCRANIA, AVISO, AFASTAMENTO, FUNÇÃO.
- HOMENAGEM, EX PRESIDENTE, ENTIDADE, ELOGIO, ATUAÇÃO, MELHORIA, RELACIONAMENTO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, UCRANIA, AUXILIO, TRATAMENTO, MEDICO, VITIMA, ACIDENTE NUCLEAR.
- COMENTARIO, HISTORIA, BRASIL, ESCLARECIMENTOS, ENTRADA, IMIGRANTE, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, UCRANIA, DESTINO, ESTADO DO PARANA (PR), REGISTRO, CONTRIBUIÇÃO, ESTRANGEIRO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
O SR. OLIVIR GABARDO (Bloco/PSDB - PR) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, recebo do Presidente da Representação Central Ucraniano/Brasileira, Sr. J. Welgacz, documento em que S. Sª comunica estar afastando-se do cargo, após oito anos a frente da entidade representativa da nação Ucraniana. Sou testemunha do muito que ele fez em prol das relações do Brasil com o seu país e do trabalho humanitário que desenvolveu em favor de concidadãos vitimados pelo acidente da Usina Nuclear de Chernobyl, que atingiu considerável extensão da Ucrânia e vitimou um grande numero de seus habitantes. Tive a oportunidade de, nos tempos em que exerci cargos políticos no Paraná, a exemplo da Secretaria de Educação do Estado, de colaborar com J. Welgacz, e, por isso mesmo, posso dar o meu testemunho da dedicação e da competência com que ele se houve nestes oito profícuos anos em que presidiu a Representação Ucraniano/Brasileira. Como Secretario, atendi ao apelo para facultar no Paraná o ensino do idioma ucraniano nas escolas de primeiro grau. Em visita que fiz ao país, firmamos acordo de colaboração cultural, pelo qual professores da Ucrânia vieram ao Paraná, enquanto mestres paranaenses foram para aquele país, num salutar intercâmbio que, infelizmente, não teve continuidade. Mas foi no campo do atendimento às vitimas de Chernobyl que me senti mais gratificado em colaborar com o povo ucraniano. Lembro-me de ter contribuído para que as três primeiras crianças contaminadas pela radiação e que, como conseqüência apresentavam um quadro de leucemia, viessem ao Paraná submeter-se a transplante de medula óssea, tratamento até hoje indicado para o mal. A partir delas, outras tantas vieram submeter-se ao tratamento no Hospital Evangélico de Curitiba, culminando com a assinatura de protocolo, através do qual médicos e enfermeiros da Ucrânia foram treinados no Paraná para a prática do transplante de medula óssea naqueles pais, não obstante continuemos a receber pacientes de lá para o revolucionário tratamento.
No documento que o Presidente da Representação Ucraniano/Brasileira me encaminhou e no qual teve a gentileza de prestar-me homenagem, atribuindo-me parceria em varias promoções, está a indicação de um trabalho persistente e produtivo em favor das relações entre os dois países. Ele enumera, além do acordo de treinamento de médicos, a instalação da Embaixada e do Consulado-Geral em Curitiba; a vinda do Presidente da Ucrânia, Leonid Kutchma ao Brasil e ao Paraná, quando inaugurou o Memorial Ucraniano; a celebração de acordos que possibilitaram cursos de pós-graduação de Literatura, História e do Idioma ucraniano; curso de coreografia folclórica ucraniana e de pintura de ícones e projetos de Ucrainosnavstva. Insere-se, ainda, entre as promoções de J. Welgacz os Festivais do cancioneiro ucraniano e as comemorações da Independência da Ucrânia, com festividades cujo ponto alto eram jantares que reuniam mais de 500 membros da comunidade ucraniana do Brasil e da Ucrânia.
Foi, sem dúvida, Sr. Presidente, uma gestão profícua deste ucraniano, que tem sabido honrar as tradições do seu povo e contribuído de forma brilhante para o estreitamento das relações entre o Brasil a Ucrânia.
Sinto-me honrado por ter sido agraciado com palavras generosas pelo representante da nação ucraniana, porque sei da contribuição que este povo tem dado ao desenvolvimento do meu Estado. Este país do Leste europeu, que passou a fazer parte do contexto mundial desde a sua declaração de independência em 1991 e brasileiro, desde o final do século XIX, com a chegada ao Brasil de alguns milhares de imigrantes ucranianos, tem contribuído grandemente para o desenvolvimento econômico e cultural do Paraná, graças à capacidade de trabalho de sua gente que para o meu Estado imigrou.
A Ucrânia, antiga republica soviética, tornou-se independente no dia 24 de agosto do ano de 1991. Situa-se no Centro-Leste da Europa. Sua área de 603.700 mil quilômetros quadrados teve origem no Principado de Kiev, atual capital do país e cidade mais populosa, com 2,6 milhões de habitantes. Apesar de ter estado por mais de 70 anos sob o regime comunista, a Ucrânia, com mais de 52 milhões de habitantes, solidifica, cada vez mais a sua economia. Foi lá que as turbinas da Hidrelétrica de Itaipu foram construídas. Após sua independência em 1991, a Ucrânia abriu suas portas, mostrando o seu sistema de transporte, exemplificando a alta tecnologia do país que soube dominar a energia nuclear e construir as maiores hidrelétricas do mundo. Possui uma industria desenvolvida, sobretudo de metalurgia, engenharia mecânica, maquinaria (locomotivas, equipamentos ferroviários, tratores, automóveis e ferramentas). Além disso, possui carvão, minério de ferro, manganês, gás natural e petróleo e seus produtos industriais são exportados para mais de 100 países, entre os quais o Brasil.
O Brasil sempre acolheu com a maior fraternidade os imigrantes ucranianos que para aqui vieram em busca de melhores dias em períodos difíceis de sua história. Boa parte dessa imigração foi encontrar em meu Estado, o Paraná, o ambiente propício para a nova vida. Essa imigração teve o seu inicio no final do século dezenove. É possível registrar-se que já nos anos de 1876, 1884 e 1891 começaram a chegar algumas famílias e grupos isolados de ucranianos ao Paraná, fixando-se em sua maioria nos arredores de Curitiba, mais precisamente nas Colônias de Santo Inácio e Tomás Coelho. A história registra que eles desembarcaram no Porto de Paranaguá, chegando a Curitiba, para, em seguida, receberem lotes no interior do Estado. Pode-se considerar que a imigração ucraniana no Paraná realizou-se em três etapas distintas. A primeira, como disse, data de fins do século XIX, quando milhares de ucranianos, sobretudo lavradores da Galicia e Bukovina, em conseqüência da superpopulação agrária e débil industrialização, bem como das más condições sócio-econômicas, abandonaram as terras negras e se transferiram para outros paises, entre os quais o Brasil, onde se fixaram, especialmente no Paraná. A segunda etapa ocorreu após a Primeira Guerra Mundial. Os motivos desta vez foram, sobretudo políticos, ligados à unificação dos Estados Ucranianos numa só Republica, combatida pelos russos. Os imigrantes desta etapa foram encaminhados aos núcleos já existentes. O maior êxodo dos ucranianos, todavia, se deu após a Segunda Guerra Mundial e constituiu a terceira etapa da imigração ucraniana. Foram mais de 200 mil imigrantes, entre operários, prisioneiros de guerra, refugiados políticos e soldados da Primeira Divisão ucraniana e outras formações militares que lutaram contra os russos. Boa parte destes imigrantes se concentrou no Paraná.
A história registra que os imigrantes ucranianos viveram no Paraná uma verdadeira epopéia, pois seguiram de Curitiba em comboios de carroças, a cavalo ou a pé, para o interior, onde se instalaram nas regiões íngremes do Norte do município de Prudentópolis, na época denominado de São João do Capanema. Outros seguem para Santa Catarina, para terras tomadas dos índios Botocudos, na região de Iracema, hoje município de Itaiópolis, Papanduva e Santa Terezinha. Outros tantos descem o Rio Iguaçu, atingindo a região de Santa Cruz do Rio Claro (Colônia 5, Serra do Tigre) hoje municípios de Mallet, Paulo Frontin, Paula Freitas e Rio Azul. Outros, ainda, vão mais além, para as regiões inóspitas de então do “Jangada”, hoje município de União da Vitória, Porto União, General Carneiro e Cruz Machado.
A vida destes imigrantes ucranianos, Sr. Presidente, foi marcada por dificuldades de toda ordem, a começar pela natureza inóspita, que era preciso domar à força do trabalho, pela falta de meios de comunicação e de transporte, sem contar com as terríveis doenças tropicais, com a intolerância dos nativos e com a fome. Foi uma verdadeira epopéia no sentido maior da expressão. Sentiram estes primeiros imigrantes a necessidade de organizar a vida, sob pena de perecimento. Não podiam contar com o apoio de cônsules ou outros representantes diplomáticos, à falta deles. É quando resolvem apelar para o socorro da Igreja. Procuram os padres locais, mas estes não os entendem. Resolvem escrever para a Ucrânia, com um apelo dramático: “enviem-nos padres”. Em 1896, chega ao Brasil o Padre João Volianskiy, como emissário do governo Austro-Hungaro, para certificar-se da realidade do povo. Após a visita, retorna para a Europa. Então o cardeal Silvestre Sembratovicz, Arcebispo Metropolitano de Lviv, começa a sua missão. Em 1896, envia dois sacerdotes: Padre Nicolau Michailevicz e Padre Nikon Rozdolskiy, da Arquidiocese de Lviv. Estes padres vão enfrentar sérios problemas no Brasil, pois, pertenciam ao Rito Oriental, que permite o casamento de sacerdotes. Em face desta circunstância não conseguiram aqui autorização para exercerem o ministério sacerdotal. Foi preciso o famoso “jeitinho” brasileiro para que a situação se normalizasse: o Padre Nino Rozdolskiy era viúvo e, por isso, obteve jurisdição, do então Bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros, sendo nomeado para os rutenos (ucranianos), no dia 10 de julho de 1896, enquanto o seu companheiro, o Padre Nicolau, teve que retornar a Europa. Muito dinâmico, o Padre Nikon inicia o seu trabalho na região de Prudentópolis. Depois vieram outros padres para o trabalho missionário junto aos seus conterrâneos ucranianos.
Destaco essa participação da igreja, Sr. Presidente, para lembrar o caráter eminentemente religioso do povo ucraniano instalado no Brasil. Eu próprio, recebi educação em colégio religioso de ucranianos e muito me orgulho da formação que tive.
Hoje, no Brasil inteiro, há mais de 300 mil imigrantes (entre ucranianos e seus descendentes), dos quais 90% estão em meu Estado, destacando-se o município de Prudentópolis onde 75% da população é de origem ucraniana.
Descendentes dos primeiros imigrantes ucranianos, hoje eles estão na quarta e quinta gerações, cujo trabalho e dedicação são reconhecidos nas mais variadas áreas de atuação da vida do Estado e do País.
É o registro que faço, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao reportar-me ao documento do ilustre Presidente da Representação Central Ucraniano/Brasileira que me chegou às mãos.
Muito Obrigado.