Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

BALANÇO DA ATUAÇÃO PARLAMENTAR DE S.EXA. POR OCASIÃO DO TERMINO DE SEU MANDATO.

Autor
Carlos Patrocínio (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • BALANÇO DA ATUAÇÃO PARLAMENTAR DE S.EXA. POR OCASIÃO DO TERMINO DE SEU MANDATO.
Aparteantes
Arlindo Porto, Emília Fernandes, Lindberg Cury, Lúdio Coelho, Valmir Amaral.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2002 - Página 26141
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, BALANÇO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, SENADO, REGISTRO, COMPROMETIMENTO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, PRIORIDADE, SAUDE, EDUCAÇÃO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, ESTADO DO TOCANTINS (TO).
  • ESCLARECIMENTOS, EMPENHO, ORADOR, REALIZAÇÃO, BENEFICIO, ATIVIDADE SOCIAL, CRIAÇÃO, ESTATUTO, IDOSO, LEGISLAÇÃO, SAUDE, FAMILIA, DEFESA, REDUÇÃO, PREÇO, MEDICAMENTOS, REGISTRO, ATUAÇÃO, NECESSIDADE, MELHORIA, SEGURANÇA PUBLICA, COLABORAÇÃO, PROGRESSO, ATIVIDADE ECONOMICA, DESENVOLVIMENTO, EXPORTAÇÃO.
  • REGISTRO, ESFORÇO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, ESTADO DO TOCANTINS (TO), DEFESA, CRIAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, AMBITO ESTADUAL, PROGRESSO, TRANSPORTE AQUATICO, TRANSPORTE RODOVIARIO, MELHORIA, INSTALAÇÕES, CONSTRUÇÃO CIVIL.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, CORRUPÇÃO, AGRADECIMENTO, SENADO, CONCLUSÃO, MANDATO PARLAMENTAR.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, embora o Plenário ainda esteja um pouco esvaziado, gostaria de fazer o meu discurso de despedida desta Casa, até porque certamente será difícil uma nova oportunidade, uma vez que inúmeros Srs. Senadores haverão de aproveitar este ocaso dessa Sessão Legislativa para se despedir de seus queridos Colegas, daqueles grandes homens brasileiros que tivemos a oportunidade de conhecer durante a nossa estada aqui.

“Um dos maiores sofrimentos do ser humano está na imensa necessidade de ser feliz, já que a felicidade é como uma borboleta que, quanto mais perseguida, mais foge” - assim considerava o autor americano Nathaniel Hawthorne.

Entretanto, nobres Colegas, venho observando que o conceito e a busca da felicidade variam em função de muitos elementos e, entre esses, o mais importante é a faixa etária em que o indivíduo se encontra.

Assim pensando, e sendo este um discurso de despedida, permitam-me V. Exªs um pequeno retrospecto autobiográfico e ligeiramente filosófico.

Quando bastante jovem, ainda nos primeiros anos da universidade, caiu-me em mãos um texto do grande inventor Thomas Alva Edison, segundo o qual “felicidade é viver na própria fazenda, longe das condições artificiais da cidade, tirando o sustento do solo com um jardim em frente, uma família saudável e normal e contribuir para as pequenas alegrias domésticas”. Em busca dessa felicidade, empenhei-me em cursar a faculdade de Medicina, em Minas Gerais, e depois me desloquei, recém-casado, para o então norte goiano, hoje Estado do Tocantins, fixando-me no Município de Araguaína.

Naquela cidade, exerci a Medicina durante 19 anos, precisando superar os obstáculos da falta de recursos técnicos, humanos e tecnológicos, principalmente no início da profissão. Aos poucos, em contato com as carências da população mais pobre e a dura realidade do interior do Brasil, concluí, como o escritor francês Louis Pawels, que é difícil ser feliz: requer espírito, energia, atenção, renúncia e uma espécie de cortesia que é bem próxima do amor; que é uma graça ser feliz, e que um homem digno deste nome liga-se à felicidade como a um mastro em tempo ruim, para conservar a si mesmo. Deste ângulo, é um dever ser feliz; uma generosidade.

E assim pensava, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quando, há 14 anos, aportei a esta Casa Legislativa. Eu havia investido toda a minha energia e dedicação em defesa da saúde e da vida daquela parcela da população brasileira que habitava um rincão distante da capital do Estado e da capital do País. E aquele povo entregou-me, em troca, sua confiança. Fez-me depositário dos seus sonhos de progresso, da expectativa de melhores condições de vida, da esperança de um futuro mais justo e mais humano para seus descendentes.

A Constituição de 1988 havia criado o Estado do Tocantins, dando representatividade - e, portanto, voz e voto - àquela gente, antes praticamente abandonada nas lonjuras dos rios e das matas e na vastidão do cerrado. De todo o imenso território, apenas dois nomes eram lembrados: o Bico do Papagaio e Xambioá, sempre associados a conflitos, morte e violência.

Assim cheguei ao Senado Federal, em 1989, trazendo nos ombros a carga da responsabilidade de um Estado recém-criado, com toda a inexperiência de quem conhecia bastante o sofrimento humano, mas não a vida pública, a carreira política. Embora partilhasse essas responsabilidades com os nobres Senadores Moisés Abrão e Antônio Luiz Maia, os pontos de vista muitas vezes divergiam. Em resumo, citando o grande Olavo Bilac, “a alma de sonhos povoada eu tinha”.

E atirei-me, com afinco, ao trabalho: estudar as proposições em tramitação, manter-me atualizado com a leitura de jornais e revistas; estar atento às informações da mídia; atender às pessoas que me procuravam... em suma, cumprir a rotina diária que todos conhecemos tão bem e à qual nos acostumamos.

            Era urgente adaptar-me ao mandato e corresponder aos desafios desse universo envolvente que é o Congresso Nacional. Para fazê-lo, optei por aplicar à nova realidade a estratégia que bem conhecia, a ótica do médico. Foi este o eixo de toda a minha atividade parlamentar, ao longo dos 14 anos ininterruptamente dedicados ao Estado do Tocantins e à Pátria: primeiro, o diagnóstico, as informações que retratavam a situação, o fato, a crise; segundo - e sempre que possível - as ações preventivas; terceiro, o mais comum, a tentativa de erradicação dos males, objetivando o retorno à homeostase - ao equilíbrio.

            Como temas principais, voltei-me para a saúde e para a educação - bases insubstituíveis da vida e do progresso de qualquer povo. Em decorrência, as questões sociais constituem o fulcro da maioria dos discursos e das proposições que apresentei. Os demais estão a elas relacionados de alguma forma, como a precária situação dos idosos.

            Fomos nós, Sr. Presidente, em companhia do saudoso Senador Jutahy Magalhães, que instituímos e aprovamos o Estatuto do Idoso, eu como Presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal e ele como Relator da lei em vigor hoje do Estatuto do Idoso, que diz respeito à política do idoso.

            Não pretendo cansar V. Exªs com a relação detalhada da minha vida política, nela incluídos os cargos, comissões, trabalhos, comissões diplomáticas etc. Desejo apenas ressaltar as atividades que tive a satisfação de ver concluídas - o que é difícil e, portanto, raro nesta Casa Legislativa. Sintetizo esses resultados nos assuntos a seguir, sem preocupação de ordem valorativa ou cronológica.

Sr. Presidente, lembro-me de que, quando deixava esta Casa para assumir o Governo de São Paulo - e havíamos acabado de aprovar o Estatuto do Idoso -, o então Senador Mário Covas me disse: “Você é um aquinhoado pelo destino, porque nunca consegui aprovar um projeto de lei nesta Casa”. O querido ex-Governador Mário Covas disse-me isso. É por isso que chamo a atenção das dificuldades que temos para fazer valer nossas idéias.

1. Fui Relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a estudar a incidência de esterilização em massa das mulheres no Brasil (1993), e a Senadora Benedita da Silva, hoje Governadora do Rio de Janeiro, foi Relatora. Entre as conclusões apresentadas, encontrava-se o PL nº 3.633/96, que deu origem à Lei nº 9.263/96, a Lei do Planejamento Familiar, cujos vetos presidenciais foram sensata e corajosamente derrubados por este colendo Plenário.

2. Ao constatar que a privatização das telecomunicações no Brasil era um processo irreversível e que a deficiência do Estado do Tocantins nesse setor impedia o interesse das grandes empresas, empenhei-me em conseguir a criação de uma Vice-Presidência da Telegoiás, com o objetivo de realizar os investimentos e demais procedimentos necessários. Hoje, vilarejos tocantinenses que nem constam do mapa dispõem desse serviço essencial. E o mais importante, Sr. Presidente: o ICMS da telefonia do nosso Estado, que ia todo para Goiás, passou a ficar no Tocantins. Digo isso para se aquilatar o valor de um Senador quando pretende representar de fato o seu Estado.

3. Todos os Parlamentares tocantinenses se preocuparam com a evasão de jovens do Estado para outras Unidades da Federação em busca de cursos superiores, gratuitos ou não. Sabendo ser a criação de instituições de ensino uma competência específica do Poder Executivo, concluí que de nada adiantaria apresentar um projeto de recomendação a essa outra área governamental; além de inócuo, seria demagógico e repetitivo, pois existiam dezenas de proposições desse teor no Senado e na Câmara. Preferi trilhar caminho mais árduo, mas que era o único que poderia dar resultados. Elaborei uma Exposição de Motivos ao Presidente da República em que deixava claro que o Tocantins era o único Estado da federação que não dispunha de nenhuma instituição federal de nível superior. Após conseguir adesão de toda a bancada do Senado Federal - a quem reitero, mais uma vez, o meu agradecimento, Sr. Presidente -, iniciei uma via-sacra incansável, do Palácio do Planalto ao Ministério da Educação. Vi o trabalho dar frutos, e os louros dessa vitória foram bastante disputados, mas o que importa é que a juventude tocantinense pode, agora, desfrutar de um ensino superior federal em sua própria terra. Isso também é cidadania.

4. A Lei de Diretrizes Orçamentárias, LDO, concernente ao ano de 1996 determinava que a União não construiria edificações públicas nos Estados da federação, a exceção do Distrito Federal. Ora, nobres colegas, o meu Estado do Tocantins, recém-criado, preparava-se para implantar essas entidades, arcando com todas as despesas - e todos sabemos a grande significação dessas instituições no que tange à receita do INSS. Também a instalação da capital em Palmas, em sítio até então desabitado, exigia a construção de prédios públicos próprios. Tive a satisfação de ver aprovada uma emenda que, com o apoio da Bancada Tocantinense, incluiu o nosso Estado num regime de exceção, ao lado do Distrito Federal, o que considero uma questão de justiça.

5. A construção da Ferrovia Norte-Sul deverá projetar o Brasil no mercado internacional, especialmente quanto à redução dos preços dos nossos produtos de exportação, com destaque para a soja e possivelmente, na nossa região, para o gado. Além disso, constituirá um eixo de desenvolvimento do interior do País, agilizando a movimentação dos produtos nos dois sentidos: norte e sul. Emendas oportunamente apresentadas permitiram recursos necessários à construção de trechos da ferrovia em território tocantinense, o que vem a estimular a produção, o escoamento de mercadorias, o recebimento de insumos e equipamentos, o transporte de pessoas, além de a viabilizar efetivamente a intermodalidade de transporte - hidrovia, ferrovia e rodovia.

6. A atuação como Presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Setor Farmacêutico, em 1995, destinada a examinar sua situação, fortaleceu a minha concepção de que era urgente encontrar uma solução para a população mais carente, que se via impossibilitada de adquirir os medicamentos necessários. Assim, empenhei-me na campanha pelos medicamentos denominados genéricos.

7. Sete das propostas que apresentei à Comissão Mista Especial sobre Segurança Pública, encarregada de analisar os efeitos da violência que assola o nosso País, eram propostas que já tramitavam e foram aprovadas, ainda que parcialmente.

8. Informado dos benefícios auferidos em todos os países que implantaram Zonas de Processamento de Exportação ou similares, participei do esforço que resultou na criação de 17 ZPEs no Brasil. Tive a satisfação de ver que as obras de infra-estrutura da ZPE de Araguaína foram concluídas. Resta implantar definitivamente os instrumentos do comércio exterior por meio de regulamentação do Poder Executivo.

Chamo a atenção do futuro Presidente e de sua equipe econômica para o fato de que inúmeros países do mundo, entre eles os Tigres Asiáticos, o México e os Estados Unidos, desenvolveram-se tendo como base suas Zonas de Processamento de Exportação. O Governo Fernando Henrique Cardoso sempre foi contrário à idéia, creio que para não desviar o eixo da grande produção de São Paulo. Temos de implantar essa política de exportação que gerará empregos em nosso País.

Uma das primeiras visitas que farei será ao Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Quero mostrar a S. Exª, em companhia do Presidente da Abrazpe, Associação Brasileira das Zonas de Processamento de Exportação, a viabilidade desse grande instrumento de exportação e de geração de emprego e renda.

9. O transporte interior por via navegável tem como resultado a integração física, econômica e cultural de estados, regiões, países e continentes. Com esse objetivo, envidei esforços para que o Corredor Araguaia/Tocantins se tornasse realidade, fato reconhecido pelo então Ministro dos Transportes, Deputado Odacir Klein, quando da inauguração da hidrovia, em Nova Xavantina, MT, e em Xambioá, no meu Estado do Tocantins.

Permitam-me os nobres Pares sugerir-lhes empenho em produzir maior integração das Mesas Diretoras das duas Casas Legislativas, para que haja mais presteza na tramitação das proposições. Observo que o Plenário desta Casa sempre discute e vota propostas originárias da Câmara em maior volume que as por nós apresentadas. Considero que deveria haver reciprocidade, o que não ocorreu ao menos nos últimos 14 anos.

Despeço-me do Senado, porém, com a alegria de ter visto nove proposições minhas aprovadas nesta Casa, como, por exemplo, o PLS nº 59/96, que cria a obrigatoriedade de eclusas e de equipamentos e procedimentos de proteção à fauna aquática, quando da construção de usinas e barragens, que aguarda a decisão dos egrégios Deputados Federais, desde o ano de 1997 e que já foi analisado e elogiado em todo o País pelos interessados na questão ambientalista. Há ainda o PLS nº 224/91, que determina o pagamento de acionistas das sociedades anônimas, que foi encaminhado à Câmara em 1994, e o PLS nº 257/89, relativo à exploração das riquezas materiais do solo, dos rios e dos lagos em terras indígenas, que foi encaminhado à outra Casa do Congresso, em 1990 etc.

Outro motivo de realização pessoal é constatar que alguns temas que defendo e que não despertaram atenção quando os apresentei voltam agora à consideração, tais como a necessidade de mudança das datas de posse dos membros do Poder Executivo Federal e Estadual. Com efeito, Sr. Presidente, quase se implantou uma nova data, a toque de caixa, para que o Presidente eleito pudesse tomar posse no dia 06 de janeiro de 2003. Apresentei uma emenda que está dormitando na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania desde junho de 1990 e que propõe mudança da data de posse do Presidente da República e dos Governadores de Estado.

Defendi a permanência no serviço público de funcionários competentes e com direito à aposentadoria, o estabelecimento de um percentual anual de reajuste do salário mínimo que evite as paralisações e greves, tão prejudiciais à população e à economia, e o voto facultativo, uma das minhas propostas de emenda constitucional recentemente apensada à do Senador Sérgio Machado e aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e também - creio - por esta Casa.

No caso da proposta do voto facultativo, tem toda a razão o ilustre Senador Iris Rezende, ao concluir que a obrigatoriedade do voto no Brasil é um constrangimento legal e tem caráter negativo por obrigar o eleitor a exercer algo que deveria constituir um direito.

Durante quatro anos, exerci as atribuições de 2º Secretário da Mesa Diretora desta Casa, sob a competente Presidência do preclaro Senador Antonio Carlos Magalhães - que felizmente para cá está voltando. Além da oportunidade de melhor conhecer o funcionamento desta grande engrenagem que é o Senado Federal, ressalto dois momentos que considero marcos de grande importância para esta Casa e para o Poder Legislativo em suas três instâncias: a implantação da Unilegis e do Interlegis.

A Unilegis é um projeto de minha autoria, em nome da Mesa do Senado Federal, e já está funcionando a Universidade do Legislativo Brasileiro, instituição capaz de criar lideranças políticas e cursos de excelência em gestão administrativa.

Empenhei-me de coração para que essas duas instituições se tornassem realidade, tendo sido o relator do empréstimo solicitado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, que possibilitou a concretização do Projeto Interlegis.

Sr. Presidente, peço apenas um pouquinho de tolerância, e também aos queridos Colegas que desejam apartear-me. Logo darei a palavra a V. Exªs com muita honra e com muita alegria.

Sr. Presidente, honrou-me, sobremaneira, representar esta Casa do Congresso Nacional e o nosso País em eventos importantes realizados na Itália, na Austrália, na Coréia do Norte, no México e no Chile. Também as honrarias e condecorações da Marinha, da Aeronáutica e do Estado de Tocantins representam momento de grande emoção, da mesma forma que a participação como membro titular ou suplente de diversas comissões permanentes e especiais, destacando-se a Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização, dentre outras.

Foram muitas as tarefas que me foram confiadas nesses 14 anos, e procurei executá-las da melhor forma possível. À medida que entendia melhor o processo legislativo e que via, em cada um dos nobres Senadores, um mestre com quem sempre se pode aprender, modificou-se, outrossim, meu conceito de felicidade. Hoje, concordo com o historiador grego Tucídides, para quem o segredo da felicidade é a liberdade e o da liberdade é a coragem.

Fiel aos valores e princípios que norteiam a minha vida e sob essa nova concepção de liberdade, comecei a preocupar-me com o desvio dos caminhos anteriormente traçados para o meu Estado do Tocantins. Passei a observar os mesmos erros que têm inviabilizado outras Unidades da Federação. Aqueles que me conhecem de perto sabem que não é da minha natureza tergiversar. Não sou homem de usar de subterfúgios nem de atitudes sub-reptícias. Por essas razões, Sr. Presidente, optei por filiar-me ao Partido Trabalhista Brasileiro, cuja Liderança exerço nesta Casa.

Nobres Colegas, o Brasil vive um novo momento, em que a esperança popular se encontra exacerbada. Cumpre ressaltar a importância do pacto social que se pretende e do Projeto Fome Zero. Paralelamente, que se faça uma oposição responsável, tendo em vista sempre o melhor para a Nação. Rogo também a cada um dos meus nobres Pares que se empenhem, a ferro e fogo, na luta contra a corrupção neste plenário, no Executivo Estadual ou participando do próximo Governo.

O 70º lugar no “ranking da roubalheira”, conforme divulgou a revista Veja de 27 de novembro passado, é uma nódoa que deve ser removida. Corruptores e corrompidos precisam ser punidos e afastados, para que findem a cultura do “jeitinho brasileiro” e a famigerada “lei de Gerson”. Além disso, como bem situou a reportagem, a corrupção produz pobreza, pois reduz a arrecadação de impostos e, conseqüentemente, a receita, com resultados perversos na área social.

Sr. Presidente, tenho dito em meus pronunciamentos que se o Lula diminuir em 50% a corrupção no País, terá os recursos mais do que necessários para implantar todos os seus programas sociais e ainda haverá de sobrar dinheiro.

Sr. Presidente, estudos de institutos como o IPEA chegam a aquilatar a roubalheira per capita no Brasil e concluem que, se não roubassem tanto, cada brasileiro teria mais R$6 mil por ano. Ou seja, daria para resolver o problema de todos.

Se me autorizam os estimados Companheiros que aqui deverão permanecer, rogo-lhes muita atenção às flutuações do dólar, às oscilações do preço do petróleo e de seus derivados e ao grave risco do retorno da inflação. Sei que muitos pensam como eu e espero que continuem a luta pelas mudanças na matriz energética do País - sobre as quais fiz mais de dez discursos aqui.

Não se pode nem se deve esquecer que o Brasil tem como produzir energia limpa, sem depender de combustíveis importados, valorizando e respeitando os recursos naturais de que somos tão ricos, entre eles o Sol, os ventos, mas também o Proalcool, que sempre defendemos nesta Casa.

Para finalizar a lista de pedidos, encareço-lhes a urgência das reformas estruturais - que se façam todas e completas, como o Brasil precisa: a tributária, a político-eleitoral, a previdenciária, a judiciária, a da segurança e tantas outras necessárias ao longo do tempo.

Devo agora encerrar e deixei para o final os agradecimentos. Primeiro, ao povo do Estado do Tocantins, que por duas vezes me alçou a este seleto convívio - e talvez me renovasse a confiança pela terceira vez, se um acidente não me houvesse impedido de continuar a campanha eleitoral. É quase certo, Sr. Presidente, pela receptividade à minha candidatura, que eu teria sido reeleito, apesar das dificuldades na luta contra o Governo do Estado do Tocantins.

Agradeço, em segundo lugar, a todos os prezados Colegas, e a cada um em particular, pela atenção, pela lhaneza de trato, pelas divergências cordiais, por essa convivência fraterna e respeitosa, pelo muito que aprendi nesta Casa.

Em terceiro lugar, permitam-me os dignos Membros da Câmara Alta expressar ainda uma vez a minha grande admiração pela Bancada feminina desta Casa, não por serem mulheres apenas, mas pela sensibilidade e desenvoltura com que circulam neste universo ainda tão masculino, pela competência e atenção aos graves problemas nacionais, pelas acertadas sugestões que delas recebi.

Por último, mas não menos importante, agradeço ao corpo de funcionários do meu gabinete e desta Casa pela dedicação e competência com que sempre me distinguiram. Sr. Presidente, talvez os funcionários do Senado Federal sejam os mais competentes deste País.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, talvez um dia retorne a esta Casa, se Deus assim o permitir. Estarei atento aos problemas do meu Estado e do meu País e às ações do Congresso Nacional, pois esta venerável instituição faz parte da minha vida. Penso que cumpri o meu dever e estou em paz com a minha consciência. Parto com o coração leve, pois tenho certeza de que aqui não fiz nenhum inimigo.

Se me permitir o eminente Presidente, concedo, com muita honra, aparte ao eminente Senador Lúdio Coelho e, posteriormente, à Senadora Emília Fernandes.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - A Mesa solicita aos Srs. Senadores aparteantes que o façam, sim, mas se utilizem apenas do tempo regimental de dois minutos, porque temos ainda diversos outros Senadores que deverão assomar à tribuna com o mesmo objetivo do nosso Colega que se despede.

A Mesa agradece.

O Sr. Lúdio Coelho (Bloco/PSDB - MS) - Senador Carlos Patrocínio, no momento em que V. Exª se despede do Senado, quero dar testemunho do seu desempenho. V. Exª cumpriu bem o mandato que o povo de Tocantins lhe conferiu, tratando, aqui, no Senado, mais de assuntos de interesse da Nação brasileira que do próprio Tocantins. V. Exª foi efetivamente um Senador da República do Brasil. Desejo que, lá onde for no seu Tocantins, continue cumprindo seu elevado espírito patriótico, seu dever para servir bem ao nosso País. Pena que não tenha regressado ao Senado.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Agradeço-lhe as palavras, eminente e grande amigo, que muito admiro, Senador Lúdio Coelho.

A Srª Emilia Fernandes (Bloco/PT - RS) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Carlos Patrocínio?

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Com muita satisfação, ilustre Senadora Emilia Fernandes.

A Srª Emilia Fernandes (Bloco/PT - RS) - Senador Carlos Patrocínio, neste momento em que V. Exª faz este pronunciamento de encerramento de seu mandato, não posso deixar de registrar a forma respeitosa e cordial com que sempre tratou os colegas nesta Casa. Nós, até por proximidade das nossas bancadas - a de V. Exª se situa atrás da bancada do Rio Grande do Sul, mas, evidentemente, ocupa posição não menos importante -, compartilhamos e trocamos idéias muitas vezes diferenciadas do ponto de vista ideológico. Entretanto, demonstrou sempre grande sensibilidade e capacidade de trabalho. Médico competente, de renome, demonstrou - e aí eu recolho os cumprimentos à Bancada feminina feitos por V. Exª em seu pronunciamento como forma de parceria nos grandes temas em debate, relacionados às questões de saúde da mulher. V. Exª nos auxiliava muito, inclusive, com os seus conhecimentos médicos. Tenho certeza de que, se não fosse o problema de saúde que o acometeu, V. Exª retornaria a esta Casa. Por ter se acidentado, V. Exa não concorreu nestas últimas eleições. Entre a saúde e o mandato, V. Exª optou pela primeira, pois lhe exige um cuidado especial e, como médico, sabe disso. Então, reitero o meu cumprimento a V. Exa e registro a satisfação de tê-lo conhecido e verificado o seu trabalho nesta Casa em benefício do Estado de Tocantins e do Brasil. Os meus cumprimentos.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Muito obrigado, eminente Senadora Emilia Fernandes. V. Exª bem citou a proximidade das nossas bancadas. Até por osmose a Bancada do Tocantins aprendeu muito com V. Exas - com V. Exª e com os Senadores José Fogaça e Senador Pedro Simon. Mas o que conta, eminente Senadora, é que mantivemos uma convivência muito harmônica e pacífica. Sempre tive essa deferência pela Bancada feminina, porque vejo na mulher, hoje, um motivo de muita esperança para o futuro e para as questões sociais do País. V. Exª certamente haverá de ocupar um Ministério ou uma Secretaria voltada para as questões sociais do Brasil. Sei que o Presidente Lula é inteligente e haverá de contemplá-la ou de contemplar o Brasil com a sua presença em um desses órgãos importantes.

O Sr. Valmir Amaral (PMDB - DF) - Senador Carlos Patrocínio, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Ouço com muita satisfação o eminente Senador Valmir Amaral.

O Sr. Valmir Amaral (PMDB - DF) - Meu amigo, Senador Carlos Patrocínio, V. Exª representa tão bem o seu Estado do Tocantins. V. Exª era membro da Mesa, quando cheguei a esta Casa. Tive a felicidade de ser seu amigo e visitar o seu Estado. Fomos a Araguaína...

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - A Carmolândia.

O Sr. Valmir Amaral (PMDB - DF) - A Carmolândia. Desde que cheguei a esta Casa, tenho me espelhado em V. Exª. Como seu trabalho é maravilhoso, como luta pelo seu Estado e como é querido naquele Tocantins! Tenho certeza de que, se V. Exª tivesse sido candidato, teria sido reeleito. Infelizmente, por causa de um acidente, V. Exª não se candidatou. Tenho certeza de que V. Exª ainda retornará a esta Casa. Desejo-lhe felicidades. Conte com um amigo nesta Casa, pois estarei sempre pronto a ouvi-lo e a assessorá-lo em qualquer assunto de interesse do seu Estado. Boa sorte, Senador Carlos Patrocínio!

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Muito obrigado, eminente Senador Valmir Amaral. V. Exª tem uma facilidade muito grande em conquistar as pessoas. De pronto, assim que V. Exª chegou a esta Casa, já nos aproximamos e tivemos oportunidade de viajar para Tocantins. Estava fazendo força para que V. Exª comprasse uma fazenda lá, sem medo de que a sua simpatia pudesse, no futuro, até me tirar uma eventual reeleição, porque V. Exª representa muito bem o Distrito Federal. Foi um prazer muito grande ter conhecido V. Exª.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Ouço, com muita satisfação V. Exª.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Senador Carlos Patrocínio, nobre representante do Estado do Tocantins, estamos vivendo um clima de despedida, com profundo pesar do próprio Estado e de todos nós. Em breve, estarei saindo com V. Exª. Nesta Casa, que costumo chamar de Casa nobre da política brasileira, acabamos formando amizades e admirando pessoas. Podemos ter divergências, mas preservamos respeito mútuo. V. Exª sai de cabeça erguida, com o sentimento do dever cumprido. Trabalhou ativamente como Líder em prol do seu Estado e até em assuntos de interesse nacional, como disse o Senador Lúdio Coelho, a quem também respeitamos. Como médico, V. Exª conheceu de perto os problemas da área, não apenas no Estado do Tocantins mas no Brasil, colocando em evidência propostas inteligentes. V. Exa deixa nesta Casa um grande número de admiradores de sua atitude na política. Esperamos que o retorno ao seu Estado seja bem compreendido pelo povo do Tocantins, como sói acontecer. Lamentamos que o acidente sofrido por V. Exª o tenha impedido de conviver com a próxima geração de Senadores. Receba os nossos parabéns, os nossos cumprimentos.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Muito obrigado, Senador Lindberd Cury. V. Exª chegou a esta Casa, dadas as circunstâncias que todos conhecemos, e, de pronto, conseguiu afirmar-se como grande Senador e defensor do Distrito Federal e de toda a vasta região do Centro-Oeste brasileiro. V. Exª é um homem inteligente, perspicaz e muito preocupado com o destino da nossa Pátria. Lamento que V. Exª não tenha retornado a esta Casa em virtude das alianças políticas, mas tenho certeza de que, enquanto V. Exª aqui esteve, prestou relevantes serviços ao Distrito Federal, ao Entorno de Brasília, ao Estado de Goiás e, sobretudo, ao nosso País.

Agradeço o aparte de V. Exª.

O Sr. Arlindo Porto (PTB - MG) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Concedo, com muita honra e alegria, um aparte ao meu eminente Senador e companheiro de Liderança nesta Casa, Senador Arlindo Porto.

O Sr. Arlindo Porto (PTB - MG) - Meu caro Líder, Carlos Patrocínio, meu coestaduano de Minas Gerais, do norte do Estado, da cidade de Montes Claros, venho, neste momento, com muita alegria, fazer uma intervenção no pronunciamento de V. Exª, que não vem à tribuna para despedir-se, mas para fazer um relato da vida pública ao longo dos últimos 14 anos. Pudemos observar em V. Exª a lhaneza no trato, o compromisso com a verdade, o respeito ao cidadão e a vontade de fazer transformações. Dou aqui o meu testemunho, como liderado de V. Exª, que tanto se preocupou com o nosso Partido, o PTB, jamais colocando a questão partidária acima dos interesses do Senado Federal e da Nação. Cumprimento V. Exª pela alegria da nossa convivência e, principalmente, pelo quanto defendeu, nesta Casa, o jovem Estado de Tocantins, que o recebeu ainda na sua fundação. V. Exª, aqui, conseguiu retribuir o gesto com honradez, dignidade, determinação e vontade de servir. Nós que não disputamos a eleição voltamos para os nossos Estados, junto à nossa família, aos nossos negócios, aos nossos amigos e àqueles que, como nós, têm o sentimento da responsabilidade e do compromisso. Muito ainda haveremos de fazer. Ao congratular-me com V. Exª pelo trabalho realizado, também desejo sucesso nessa nova etapa de sua vida, que seguramente estará esperando mudanças substanciais, sempre com a determinação de fazer mais pelo Estado de Tocantins e pelo Brasil. Honrado estou de ter sido seu liderado, mas feliz estou também de termos, durante todo esse tempo, empunhado a bandeira do nosso PTB, esse Partido que procurou, nesta Casa, agir sempre com decoro e dignidade. Desejo que V. Exª seja feliz ao lado de sua família e que vá com a consciência tranqüila porque assim agiu ao longo desse tempo. Parabéns pela sua presença nesta Casa e felicidades no futuro.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PTB - TO) - Eminente Senador Arlindo Porto, já tinha o privilégio de desfrutar de um conhecimento ainda que distante com V. Exª, que é ligado por laços de grande amizade à família de minha esposa, que reside em Patos. Posteriormente, tive a oportunidade de acompanhá-lo em algumas cidades de Minas, inclusive Montes Claros, quando V. Exª praticamente era o Governador, porque representava o então Governador Hélio Garcia em muitos daqueles eventos. Desde então, a nossa amizade cresceu. Quando Ministro da Agricultura, V. Exª me deu o grande prazer de ir à minha cidade inaugurar uma das exposições agropecuárias mais importantes deste País e o privilégio de se hospedar em minha humilde residência. Desde então, eminente Senador Arlindo Porto, tenho, cada vez mais, nutrido uma simpatia, uma amizade muito grande por V. Exª e sua família. Sei o quanto V. Exª é querido nas Minas Gerais, sobretudo na cidade-modelo que V. Exª construiu, a querida Patos de Minas, que também é a terra do Senador Valmir Amaral e do Deputado Maurício Rabelo, que se elegeu agora no Estado do Tocantins.

Sr. Presidente, ao terminar, coloco-me à disposição de cada um, repetindo, prezadas Senadoras e caros Senadores, que o segredo da liberdade é a coragem; porque é preciso ter coragem para defender os próprios ideais com firmeza, mesmo quando não há possibilidade de vitória.

Quero dizer ainda que leio sistematicamente todos os dias a coluna de um dos grandes escritores deste País Carlos Heitor Cony, que hoje parece ter dado um puxão de orelhas em Lula, dizendo que o Presidente eleito estaria chorando muito, e, se continuasse assim, alguém eventualmente poderia achar que elas seriam lágrimas de crocodilo. Quero, pela primeira vez, não concordar exatamente com Carlos Heitor Cony. Acho que um homem que tem sentimento, que tem responsabilidade com a pobreza do povo brasileiro e que tem vontade de enfrentar os desafios, em momentos especiais como aquele de diplomação, do seu primeiro diploma, conforme citou, pode e deve chorar. Quero terminar dizendo que estou fazendo um grande sacrifício e esforço para não chorar no meio de todos vocês. Muito obrigado. (Palmas!)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2002 - Página 26141