Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

RETROSPECTIVA DA ATUAÇÃO PARLAMENTAR DE S.EXA. NO SENADO FEDERAL.

Autor
Arlindo Porto (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MG)
Nome completo: Arlindo Porto Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • RETROSPECTIVA DA ATUAÇÃO PARLAMENTAR DE S.EXA. NO SENADO FEDERAL.
Aparteantes
Carlos Patrocínio, Emília Fernandes, Juvêncio da Fonseca, Lindberg Cury, Osmar Dias, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2002 - Página 26164
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, CONCLUSÃO, MANDATO, SENADOR, AGRADECIMENTO, SENADO, POPULAÇÃO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), COLABORAÇÃO, CUMPRIMENTO, MANDATO PARLAMENTAR.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, PODER PUBLICO, ATIVIDADE POLITICA, ORGANIZAÇÃO, PARTIDO POLITICO, DEFESA, COOPERAÇÃO, FEDERAÇÃO, REFORÇO, DEMOCRACIA, DESENVOLVIMENTO POLITICO, POSSIBILIDADE, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, FACILITAÇÃO, INCLUSÃO, BRASIL, POLITICA INTERNACIONAL, GLOBALIZAÇÃO.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este meu pronunciamento é um balanço, que espero equilibrado entre a razão e a emoção, entre a fé e a esperança, entre dúvidas e certezas. Emociona-me voltar às montanhas de Minas Gerais, com a consciência do dever cumprido, com a tranqüilidade que tudo fiz para exercer a delegação que os mineiros me deram, em 1994, para aqui representar nosso Estado, Estado tão cheio de tradições, inclusive a tradição de inovar, de criar novos paradigmas e, ao mesmo tempo, de conservar valores e princípios, mas sempre atento aos ventos do futuro.

Minas, um Estado marcado pelo anseio de liberdade, com o inarredável compromisso com a justiça e que deu a vida e o exemplo de muitos dos seus filhos para sedimentar os caminhos da nossa independência, hoje tão ameaçada. Volto a Minas, o Estado síntese da cultura nacional, de onde brotaram Tiradentes e luminares, que freqüentaram esta Casa: Milton Campos, Gustavo Capanema, Juscelino Kubitschek, José Maria de Alckmin e tantos outros.

Vejo, neste plenário, Senadoras e Senadores com os quais convivi nos últimos oito anos. Alguns aqui permanecerão; outros tomarão outros rumos, outros cargos e encargos. Volto a Minas, levando o calor desse convívio, das amizades aqui criadas, do respeito adquirido pelo exemplo. Nesta Casa, muito aprendi e aqui deixo a lealdade para com os meus colegas, que se estende além da distância e do tempo. Foi um tempo de luta; foi um tempo feliz; foi um tempo de realizações que não teriam acontecido sem a amizade e o companheirismo que as divergências políticas não embaçaram, que o calor do debate não agastou.

Foi um tempo de muito trabalho, em que tentamos melhorar as condições para o constante caminhar do Brasil e dos brasileiros rumo ao futuro, em que nos preocupamos em fortalecer as instituições para que a Nação possa enfrentar o enorme desafio de resolver nosso principal problema interno, que é a desigualdade. Fortalecimento também indispensável para que no front internacional não nos vejamos excluídos, vítimas do acirramento da competitividade imposta pela globalização.

A receita - creio que consensual - para resolver os desafios internos e externos é uma só: desenvolvimento. Para tanto, temos que ter instituições políticas sólidas, uma democracia representativa dinâmica, um Estado ágil, empresas fortes e ousadas, mas, acima de tudo, capital humano, que só a educação de qualidade e a permanente capacitação podem criar, o desenvolvimento centrado no ser humano e para o ser humano. Essa é a conclusão óbvia diante da constatação de que o conhecimento é o mais valioso dos fatores de produção. Informação, ciência e tecnologia já respondem por mais da metade do PIB das economias mais avançadas. Superam, em muito, os fatores tradicionais em vantagens comparativas, tais como os recursos naturais e o capital físico.

Graças ao conhecimento, criam-se novas vantagens comparativas em interação com as disponíveis. No entanto, em todos os aspectos condicionantes do desenvolvimento, enfrentamos sérias dificuldades. Nunca como hoje, por exemplo, o ideal democrático foi tão aceito e tão valorizado pelas sociedades. Paradoxalmente, nunca como hoje, o exercício da política é visto com tanta desconfiança e tanto descrédito pelos cidadãos, fruto de nosso tempo, da fragmentação da sociedade, do isolamento do cidadão, da violência e da insegurança de que é vítima. Conseqüência também da descrença de muitos e principalmente dos jovens em um futuro melhor. Um tempo de desesperança para tantos que, já excluídos dos benefícios da sociedade de consumo, vêem-se cada vez mais empurrados para a periferia das cidades e da possibilidade da participação nos destinos de sua sociedade e na determinação do seu próprio futuro.

Diante da impotência frente à realidade, diante dos exemplos que denigrem a atividade política, resta a auto-exclusão de tantos cidadãos cuja participação democrática se restringe à obrigatoriedade do voto e, por vez ou outra, a injuriar os políticos.

Srªs e Srs. Senadores, mesmo optando por não disputar um mandato, continuo político e a me preocupar com essa realidade. Vamos continuar a lutar e a trabalhar para estruturar partidos políticos, a fim de que cumpram suas funções clássicas de forjar uma massa crítica de opinião e votos em torno de objetivos comuns em benefício da sociedade. E ainda, para construir estruturas representativas intermediárias, eficientes e legítimas.

A dignidade e o valor do exercício da política precisam ser resgatados. É por demais conhecido o magnífico trecho do texto “O Idiota Político”, de Bertolt Brecht, e sua força em condenar aqueles que se submetem à tirania alheia; em alertar aqueles que demitem, primeiro, que lhes tirem uma flor do jardim, depois, que pisem em seu jardim, invadam a sua casa e lhes tomem a liberdade. Mas vou buscar em outra citação de Brecht uma necessária lição sobre política deste grande escritor e teatrólogo do século passado:

A vitória da razão pode ser a vitória das pessoas razoáveis, a razão não existe para si mesma, ela existe na conduta e na ação das pessoas. Então, se as pessoas razoáveis não vencem, a razão não prevalece. A vitória das idéias é a vitória dos portadores materiais das idéias. Pessoas razoáveis têm de fazer política para que a razão prevaleça, porque não há outro meio de prevalecer a não ser por meio da política feita por pessoas razoáveis.

Volto a Minas, volto ao berço da minha formação humana e política. Deixo aos meus colegas presentes e aos futuros Senadores a preocupação com o aperfeiçoamento da representação política nacional. Sem poder de mobilização, não vejo como a Nação poderá enfrentar os seus grandes desafios, vencer as desigualdades e não se ver excluída ou subestimada no tabuleiro internacional. Se substituídos os Partidos por representações de interesses específicos, de corporações e lobbies distintos, distorcida estará nossa democracia. Enfraquecida, a representação política mina a capacidade do Estado, compromete a força da Nação.

Conclamo todos meus colegas, Senadores e Senadoras, cidadãos, políticos militantes ou não, para participarem da construção de um Estado moderno e justo, eficiente e eficaz, que consiga criar um ambiente em que a todos sejam oferecidas as oportunidades necessárias para o autodesenvolvimento. E isso não ocorrerá sem a democracia e suas instituições fortes. Os únicos instrumentos para essa construção são partidos políticos fortes, coerentes, comprometidos com a sociedade, com fidelidade a princípios e em que impere a lealdade entre seus membros.

Outra reforma que nos desafia, Srªs e Srs. Senadores, é a construção do Federalismo no Brasil. O País não é um todo indivisível; é o resultado de suas partes. Um elo fraco quebra a corrente. Enquanto houver Municípios fracos, não haverá Estado forte. Enquanto houver Estados dependentes do Poder Central, subjugados às determinações do Poder Central, não há como termos um Brasil forte e coeso para enfrentar o grande desafio da globalização.

Precisamos construir um federalismo corporativo, cooperativo, e demonstrar o federalismo competitivo em que vivemos, criado pela reforma tributária de 1996, agravado pela Constituição de 1988, distorcido pela desproporcionalidade na representação política no Congresso Nacional. É preciso definitivamente redistribuir encargos e tarefas para Estados e Municípios, mas que a União também transfira os recursos condizentes com a carência e a necessidade de cada Estado. O Orçamento Geral da União que estamos aprovando para 2003, assim como os que aprovamos nos últimos anos, é mais um exemplo da fragilidade da nossa Federação. São recursos divididos desproporcionalmente às necessidades, sub ou sobredimencionados, é a União interferindo, via orçamento, na educação e na saúde, que deveriam ser geridas e orientadas pelos próprios Estados e Municípios.

Não se fará esta nova Federação sem a reforma tributária. E esta não se realiza justamente porque não temos uma correta definição de funções e atribuições entre os componentes da Federação. Ninguém quer perder e não se buscam fórmulas criativas para que se inicie a reforma, mesmo a partir da aceitação de que esta não se dará de uma só vez, mas será construída como um processo para o qual temos que encontrar o rumo.

Esta reforma tributária - entre as demais que se fazem necessárias - é também indispensável ao surgimento e ao crescimento de empresas sólidas e fortes, ousadas e capazes de cumprir o imperativo brasileiro de se voltar às exportações. Sem aumentar as nossas exportações, não conseguiremos superar a nossa vulnerabilidade externa. Os obstáculos são enormes, a competitividade cada vez maior. Ou bem superamos esse desafio, ou nos submeteremos às determinações dos Estados centrais, em prejuízo geral dos brasileiros. Precisamos libertar nossas empresas da carga tributária insustentável, das amarras da burocracia, do chamado “custo Brasil”.

O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senador Arlindo Porto?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Com muito orgulho, acolho o aparte do nobre Senador e meu Líder Carlos Patrocínio.

O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - Eminente Senador Arlindo Porto, V. Exª se despede a seu estilo, defendendo os pontos programáticos que sempre defendeu nesta Casa. Portanto, o que pauta seu pronunciamento é a coerência como Senador, ex-Ministro da Agricultura, Prefeito da nossa querida Patos de Minas e Vice-Governador do Estado, sempre defendendo pontos basilares da democracia. Chamo a atenção para as demandas da democracia, cada vez mais visíveis no seio da população brasileira, no sentido de que a democracia favoreça a todas as camadas sociais. Destaco a fragilização das instituições partidárias e concordo plena e perfeitamente com V. Exª: temos que mudar o estado de coisas no que diz respeito aos partidos. V. Exª conclama aqueles que permanecerão aqui para trabalhar para dotar a Nação das reformas tão necessárias, algumas das quais já deveríamos ter feito, como a da Previdência Social e a Política, e analisar a questão da exportação, que é de extrema importância. Portanto, ilustre Senador Arlindo Porto, eu, que privo da amizade de V. Exª, que o admiro como homem público dos mais importantes que esta Casa e o País já tiveram, quero cumprimentá-lo e dizer que a Nação perderá, talvez nesses próximos três anos em que V. Exª estará afastado da política. Eu não sei se V. Exª deverá, poderá ou se será aproveitado em algum órgão da administração futura. De qualquer maneira, estou convencido de que qualquer função que venha lhe caber, V. Exª saberá se desincumbir dela com a lealdade que sempre o caracterizou e, sobretudo, com a eficiência. Portanto, o meu abraço e o reconhecimento deste modesto amigo seu a um dos maiores Senadores que esta República já teve.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Muito obrigado, Senador Carlos Patrocínio. Agradeço a manifestação de V. Exª, que, sem dúvida, está revestida de um processo emocional, pela nossa amizade e pelo nosso relacionamento, e, também, na condição de meu Líder, o Líder do nosso PTB. Muito obrigado.

O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Senador Arlindo Porto, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Concedo o aparte ao nobre Senador Osmar Dias.

O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Senador Arlindo Porto, eu já tive a oportunidade de saudar V. Exª quando voltou do Ministério da Agricultura, depois de haver cumprido uma missão muito importante. É muito difícil lembrar-se das atitudes e dos feitos de alguém que, por mais de um ano, ocupou relevante cargo como Ministro da Agricultura. Mas eu, por acompanhar de perto o trabalho de V. Exª, lembro-me de uma das mais importantes iniciativas que o Ministério da Agricultura já tomou, que foi o Programa de Sanidade Animal. Se o Brasil abriu as fronteiras do mercado internacional para a exportação de carne, se podemos comemorar o aumento das exportações de carne nesse período, principalmente neste último ano, é porque V. Exª teve o descortino de implantar um programa modelo de sanidade animal, a que deu seqüência o Ministro Pratini de Moraes. Lembro a iniciativa de V. Exª. Estivemos juntos em Paris, quando o Instituto Internacional de Epizootias assinou a liberação dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no mandato de V. Exª como Ministro de Agricultura. Portanto, quando deixou o Senado e foi para o Ministério da Agricultura, V. Exª fez um trabalho fundamental para o futuro da pecuária brasileira. Como Senador, tenho de registrar que V. Exª foi sempre muito decente, muito sério e, com muita dignidade, exerceu o mandato. Por isso, Minas Gerais pode, neste momento, orgulhar-se pelo fato de, na sua despedida, o Senador Arlindo Porto poder falar e receber não um elogio - porque não sou afeito a fazer elogios - mas o reconhecimento de que V. Exª se comportou com absoluta decência, honrando os eleitores mineiros, com toda certeza. Parabéns pelo mandato sério e digno que exerceu nesta Casa. Parabéns pelas realizações no Ministério da Agricultura.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Obrigado, Senador Osmar Dias. Registro, nesse agradecimento, o reconhecimento pela contribuição que V. Exª, como engenheiro agrônomo, deu àquele período em que estive no Ministério. Se algo realizamos foi graças ao apoio das Lideranças, dos Parlamentares, do próprio Presidente Fernando Henrique e da população brasileira, dos produtores rurais, que juntos buscamos apresentar algo que pudesse ser novo, moderno, definitivo. A sua contribuição foi importante, mas agradeço principalmente o apoio que V. Exª nos deu enquanto juntos caminhamos, durante esses oito anos, nesta Casa.

           O Sr. Juvêncio da Fonseca (PMDB - MS) - Permite-me V. Exª um aparte?

           O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Juvêncio da Fonseca (PMDB - MS) - Senador Arlindo Porto, vim correndo do meu Gabinete, quando V. Exª começava o seu discurso, para dizer da minha simpatia e do meu prazer de ser também seu vizinho, junto com o Senador José Alencar. Para mim, isso é um privilégio, como se privilégio já não fosse a minha cidade, Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, ter sido fundada por mineiros. Posso dar um testemunho a V. Exª e ao Brasil. O meu Estado é essencialmente agrícola e pecuário. Lembro-me de quando V. Exª era Ministro da Agricultura e, ao visitar a minha cidade, na exposição agropecuária, havia uma verdadeira festa para recebê-lo. As palavras de simpatia e reconhecimento pelo seu trabalho eram grandiosas. Ali conheci V. Exª. Pela primeira vez, apertei sua mão. Eu era Prefeito de Campo Grande e senti que, naquelas manifestações, estava diante de um grande homem, de um grande Ministro, de um grande brasileiro. Aqui, depois que tomei posse no Senado Federal, percebi e senti, na convivência diária, que não só Campo Grande, mas todo o Estado do Mato Grosso do Sul estavam certos: V. Exª é, realmente, um grande Líder, um homem excepcional e um ilustre Senador. Minas Gerais, enfim o Brasil todo tem um enorme respeito por V. Exª, um notável brasileiro que trabalha para o País. Parabéns pelo seu trabalho!

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Obrigado, Senador Juvêncio da Fonseca. Retribuo os agradecimentos, especialmente pela nossa convivência.

Campo Grande é uma cidade importante de Mato Grosso do Sul, Estado fundamental para a pecuária brasileira, com o maior rebanho do País, que tem contribuído muito para a riqueza do Brasil, para o crescimento da nossa economia e para a geração de emprego e renda.

Buscando inspiração para desempenhar o trabalho com as Lideranças, estive, várias vezes, no Mato Grosso do Sul, terra do Presidente desta Casa, Senador Ramez Tebet, com quem convivi de maneira muito fraterna, e do Senador Lúdio Coelho. Em diversas oportunidades, procuramos, em conjunto, retribuir ao povo sul-mato-grossense aquilo que deveríamos fazer como representante do Governo brasileiro.

Agradeço as palavras, a manifestação e a alegria da convivência ao longo desses últimos anos.

A Srª Emilia Fernandes (Bloco/PT - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Ouço V. Exª com prazer.

A Srª Emilia Fernandes (Bloco/PT - RS) - Senador Arlindo Porto, durante o meu pronunciamento, após o aparte solicitado por V. Exª, tive a oportunidade de dizer um pouco do tanto que o admiro. Neste momento em que faz o seu pronunciamento de despedida desta Casa, também não poderia deixar de pedir um aparte para registrar o respeito, o carinho e a amizade que tenho por V. Exª. Reconheço em V. Exª a qualidade e a experiência de um homem público que passou por diversos cargos em sua cidade e até no mais alto escalão do Poder Legislativo, esta Casa, e do Poder Executivo, o Ministério da Agricultura. Mesmo na divergência, sempre primamos pelo respeito e pela boa convivência, o que possibilitou, antes de tudo, que eu conhecesse um pouco mais do povo de Minas Gerais. A primeira pessoa com quem convivi mais de perto nesta Casa representando aquele Estado foi V. Exª. A partir de então, pude melhor perceber que o povo de Minas Gerais é hospitaleiro e alegre. Ele nem sempre diz tudo o que pensa, mas tem, na sua capacidade e nas suas formas de expressão, a tradução de muito sentimento e valor naquilo que faz. Tive a oportunidade de conhecer outros Parlamentares, homens e mulheres, que fortaleceram essa idéia. Nos últimos tempos, logicamente, também, a convivência com o ilustre e hoje Vice-Presidente eleito deste País, Sr. José Alencar, comprovou aquilo que aprendi a partir de quando conheci V. Exª nesta Casa. V. Exª já prestou um grande serviço ao Brasil e, certamente, continuará a fazê-lo pela sua forma de trabalho, pela sua dedicação e pela seriedade que dedica às atividades que exerce. Particularmente, ressalto, ainda, que a contribuição que V. Exª prestou, como Ministro da Agricultura, fez um grande bem ao Brasil e ao Rio Grande do Sul, que é um Estado que precisa e depende de políticas, de ações, de discernimento e de compromisso nesse setor primário. Então, neste momento em que V. Exª faz seu pronunciamento de despedida deste mandato, quero registrar a minha amizade e o meu reconhecimento, com a certeza de que V. Exª ainda tem uma longa trajetória na vida pública neste País, representando o Estado de Minas Gerais. Cumprimentos.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Agradeço a V. Exª e quero também testemunhar que a partir, seguramente, desse nosso contato, nas várias vezes em que V. Exª esteve em Minas Gerais, sempre deixou uma excelente imagem, uma excelente presença, um excelente relacionamento, e isso naturalmente é fruto de sua personalidade e determinação. Agradeço muito seu aparte e afirmo que, se assim o fiz, foi fruto da reciprocidade que recebi de V. Exª. Quando se diz que o mineiro às vezes não diz tudo o que pensa, entendemos que isso é verdade, sobretudo quando se trata de pessoas especiais, porque guardamos sempre algo para que possamos, ao reencontrar, continuar o processo de relacionamento. Não dizemos tudo o que pensamos para as pessoas que são generosas, cordiais, sempre esperando a oportunidade de um novo encontro.

É o que desejo que possa ocorrer entre V. Exª e mim.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Com prazer, Exª.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Senador Arlindo Porto, fico muito satisfeito de fazer algumas colocações preliminares aqui. Tive o prazer e a satisfação de inicialmente conhecê-lo como prefeito de Patos de Minas pelos idos de 1986, 1987. Empresário bem-sucedido naquela cidade, V. Exª foi direcionado para a prefeitura, e aí então nos conhecemos. V. Exª fez um trabalho brilhante ao transformar um pantanal que por lá existia em uma lagoa, hoje um ponto de atração com bares, diversão e muitos jovens; V. Exª fez de um ponto negativo um ponto estratégico de lazer para toda a cidade. Lembro também do trabalho da sua senhora quando juntava os jovens na produção de brinquedos que era colocada no mercado. A cidade o idolatra, tem uma reverência muito especial pelo trabalho que ali realizou. Foi tão importante a sua presença na prefeitura que, logo de imediato, foi conduzido à vice-governadoria do Estado de Minas. Sabemos que Minas Gerais é um Estado que tem centenas de Municípios, não é fácil se eleger e gradativamente V. Exª chegou a essa vice-governadoria pelos méritos pessoais. A partir dali, ocupou o Ministério da Agricultura, prestou serviços importantes, abriu o mercado nacional para a exportação, trazendo dólares para o País e novamente por uma circunstância muito especial do destino nos encontramos neste Senado onde pude acompanhar de perto o seu trabalho, sempre atuante nas comissões e levando idéias ponderadas, equilibradas e dando uma demonstração de sua vivência dentro da política nacional. Eu diria que os experts da política que são os mineiros, são aqui muito bem representados pelo trabalho que V. Exª fez nesta Casa. Como companheiros, pelo fato de estarmos sempre juntos aqui, sempre trocamos idéias. Por diversas vezes, tive a oportunidade de colher informações importantes, vindas de V. Exª. Quero dizer que ainda está muito jovem para nossa política. Está no momento adequado de, ao sair do Senado, já pensar numa nova carreira política. Neste ano, esta próxima etapa pode ser de dedicação à família e aos seus trabalhos, mas, oportunamente, estamos aguardando V. Exª, ou no Senado ou quem sabe no Governo de Minas Gerais. Enfim, V. Exª tem um currículo brilhante e, a qualquer lugar que for, será muito bem recebido pela sua capacidade e pelo privilégio da inteligência que Deus lhe deu. Meus cumprimentos e que Deus continue abençoando sua jornada brilhante.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Muito obrigado, Senador Lindberg.

Convivemos, como retratado por V. Exª, por mais de 15 anos. E, ao longo deste tempo, o que pudemos sempre registrar é esta lealdade, esta proximidade e este respeito. V. Exª lembra de momentos importantes da minha vida pública, como por exemplo, quando da primeira vez eleito Prefeito da minha cidade. Recebei sempre um carinho muito grande do povo da minha terra, e aqui neste ponto quero pedir permissão para manifestar a cada conterrâneo meu de lá ou que lá não esteja mais, o apoio que recebi.

E, quando V. Exª assim se manifesta é porque, sem dúvida, uma das maiores colônias, aqui em Brasília, é a colônia patense. E desejo, em nome de V. Exª, render minhas homenagens e meu agradecimento a todo patense que aqui reside, que para cá veio a fim de ajudar a construir a que era a “capital da esperança”, hoje realidade e orgulho de todos nós. Que V. Exª seja o portador deste agradecimento a todos os meus conterrâneos.

Sr. Presidente, precisamos criar os incentivos financeiros para que as empresas aqui instaladas possam se desenvolver, que possam investir no seu próprio negócio e escapar do capital alheio a juros suicidas; que possam investir em pesquisa e desenvolvimento, gerando conhecimento, tecnologia e produtos.

No setor do agronegócio, vejo com otimismo a escolha do produtor rural, líder setorial, economista e professor Roberto Rodrigues para ocupar o Ministério da Agricultura, Pasta que tive a honra de comandar por dois anos. Como todos os brasileiros, desejo sucesso ao Governo do Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, e de seu Vice, o mineiro José Alencar Gomes da Silva, que assumem o comando do País dentro de duas semanas. Esse sucesso está condicionado ao sucesso do agronegócio, a única âncora que, desde a implantação do Plano Real e desde sempre, nunca faltou ao Brasil.

Ao mesmo tempo tradicional e hoje um dos mais dinâmicos do País, dos que mais rapidamente têm agregado tecnologia e conhecimento, o agronegócio já tem um rumo e um modelo a ser seguido. Digo isso com conhecimento de causa. Tanto pela minha condição de produtor rural e administrador, como pela experiência acumulada em dois anos como Ministro da Agricultura e do Abastecimento, cargo com que me honrou o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Não poderia deixar de, neste momento, também agradecer ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República pela missão que me ofereceu e, com ela, a oportunidade de melhor servir ao meu País.

Foi neste posto de observação privilegiado que decidi reunir a força da agricultura, da pecuária, da agroindústria e demais segmentos correlatos para elaboração de um diagnóstico profundo do setor e, a partir dele, uma proposta duradoura para o agronegócio. Para coordenar esse trabalho, o Fórum Nacional da Agricultura, convidei Roberto Rodrigues, por suas credenciais às quais se agregam, ainda, ter ocupado a Presidência da Organização das Cooperativas Brasileiras e a Aliança Cooperativista Internacional.

Portanto, em relação ao agronegócio, não é preciso reinventar a roda. Basta seguir o que foi proposto pelo Fórum Nacional da Agricultura. Nenhum modelo foi elaborado de forma tão abrangente, reunindo as 35 principais cadeias produtivas do setor, extremamente democrático, discutido com profundidade pelos maiores especialistas e os mais práticos profissionais do agronegócio.

Roberto Rodrigues leva essa experiência para o Ministério da Agricultura. Ao deixar a Presidência da ABAG - Associação Brasileira de Agribusiness, essa passa agora ao comando do competente engenheiro Cristiano Walter Simon. São sinais que nos alimentam a esperança de dias melhores no setor produtivo nacional.

Volto a Minas, coração de ferro do Brasil, mas nem por isso insensível. As lições de Minas, onde se cultivam a amizade e a lealdade, também me ensinaram o sentimento de gratidão. Por isso, nesta conclusão, não posso deixar de reiterar meu agradecimento a todos os colegas deste rico período de minha vida política que agora prosseguirá em outras trincheiras, em outros horizontes. Estarei, mais do que nunca, lutando junto aos movimentos sociais e políticos, por tudo aquilo que acredito, em benefício de Minas e do Brasil.

Ressalto aqui também o apoio que sempre recebi da Presidência desta Casa e deixo registrada minha gratidão ao Secretário-Geral da Mesa, ao Diretor-Geral do Senado e a todos os funcionários dos vários setores, qualificados e prestativos. Agradeço, de maneira muito especial, a minha equipe de trabalho, pela dedicação, pela lealdade, pela amizade e pela competência com que se portaram durante esse período.

Agradeço, ainda, a todos os amigos que contribuíram para esta caminhada. Aos homens públicos de Minas Gerais, aos Membros do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, que prestaram o apoio indispensável, o meu muito obrigado a todos na pessoa do Governador Hélio Garcia, de quem tive a honra de ser Vice-Governador de meu Estado e a satisfação de ser amigo.

Lembro aqueles que comigo estiveram nos primeiros passos na minha vida pública, na Prefeitura Municipal de Patos de Minas, nas regiões do Alto Paranaíba, do Triangulo e Noroeste Mineiro. A todos agradeço na figura do nosso grande líder regional, Pedro Pereira dos Santos.

Volto a agradecer a confiança do PFL, do PTB e de todos os Senadores que, partidária ou isoladamente, apoiaram o lançamento de meu nome à Presidência desta Casa, num episódio que muito me honrou e que marcou a história do Senado Federal, impulsionando mudanças que aperfeiçoaram e continuam a influir positivamente no desempenho da Câmara Alta.

Volto a Minas e ao convívio mais estreito com minha família que também se sacrificou para que eu pudesse ocupar os cargos públicos que o destino me reservou e que só pude exercer graças ao apoio deles e dos amigos.

Muito obrigado Maria Coeli, Luiz Fernando, Regina e Rogério, obrigado por tudo e aceitem minhas desculpas se, tantas vezes, abdiquei da convivência por cumprir o meu dever.

Com prazer, concedo o aparte ao nobre Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Meu prezado Senador, corri para chegar a tempo e, graças a Deus, cheguei a tempo, para trazer o meu abraço muito fraterno a V. Exª. V. Exª é uma figura muito especial, porque é um homem da maior dignidade e que exerceu um papel muito importante na política mineira. Na época do Governo Itamar Franco, nós todos apostávamos em V. Exª - Vice-Governador, à época - porque tinha todas as condições para somar e para unir o povo mineiro. Mais tarde, quando escolhido, pelo atual Governo, Ministro da Agricultura, V. Exª teve um desempenho do maior significado. Preocupou-se, analisou a situação e debateu, com humildade, mas com grandeza, os problemas da agricultura. Todos sentimos o fato de que os caminhos e talvez os descaminhos da política façam com que V. Exª hoje esteja saindo do Senado. V. Exª tinha a obrigação de se candidatar novamente, e Minas Gerais tinha a obrigação de reelegê-lo. Esse era o caminho natural, o rumo que uma política normal deveria seguir. Mas todos sabemos que, em política, o racional nem sempre é o normal. Os caminhos nos levam, muitas vezes, por onde não imaginamos e a praticar determinações como essa de V. Exª, de não se candidatar. Não tenho dúvidas de que dificilmente Minas Gerais terá um Senador aqui com a presença, com a pureza, com a capacidade e com a dignidade de V. Exª. V. Exª é um homem que faz amigos, que sabe agregar, que sabe somar; é um homem que, onde for colocado ou onde quer que esteja, colocará o “sim” em primeiro lugar, o dar-se mãos em primeiro lugar. Nunca vi, por parte de V. Exª, uma palavra que não fosse de estímulo, que não fosse de compreensão. Quando as coisas ocorrem positivamente, V. Exª vibra, independentemente de ser seu partidário ou não, de somar a seu favor ou não. Isso é raro em política. Em política, geralmente, os homens, levados pelos caminhos e por questões pessoais, são muito orientados para o seguinte raciocínio: “Bons são os que estão comigo; ruins, os que estão do outro lado”, ou “Bom é quando um fato que ocorreu, de certa forma, me atinge positivamente; ruim é quando me atinge negativamente ou não me atinge de forma alguma”. Essa grandeza de olhar o todo para entender que a busca do bem comum é o objetivo do político faz com que se V. Exª destaque, pois faz de tal orientação uma rotina. É de sua essência, de sua personalidade, de sua maneira de ser, buscar o bem, praticar o bem, agir a favor da soma, da busca do bem comum. O Senado perde muito com a saída de V. Exª. Saem dois grandes Senadores: V. Exª e o Senador José Alencar - para cumprir o desiderato que o povo determinou-lhe pela eleição. Tenho certeza de que, independentemente do que pensa, dos propósitos que tenha em sua vida política futura, os caminhos de Minas e do Brasil, bem como seus destinos, cruzarão, mais de uma vez, os caminhos de V. Exª. Um carinhoso, fraterno e amigo abraço, meu prezado Senador.

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Agradeço sensibilizado, Senador Pedro Simon, a manifestação de V. Exª. Quem o conhece de perto sabe que suas palavras são sinceras, pois observa a forma como sempre se manifesta e conduz sua vida e atividade.

Se contribuí com o meu País, se contribuí com o meu Estado, o fiz cumprindo o que determinou minha consciência. Assim o fiz porque recebi o apoio de muitos. V. Exª foi importante quer nesta Casa, quer no Ministério da Agricultura. A V. Exª, meu prezado amigo, como ex-Ministro, pude recorrer inúmeras vezes para buscar opinião, buscar sugestão, receber ensinamento. Se fiz algo tenho que, neste momento, dividir com V. Exª e com nossos colegas desta Casa.

Sr. Presidente, pedindo desculpa por ter extrapolado o meu tempo, tentarei ser sintético nesse encerramento.

Quero manifestar, com a expressão de respeito e gratidão a Minas Gerais, o meu Estado, votos de sucesso ao jovem Governador eleito, Deputado Aécio Neves, que toma posse no próximo dia 1º de janeiro, sob a marca da esperança e de novos e melhores momentos para Minas. E se existem novos e melhores momentos para Minas, esses novos e melhores momentos, seguramente, se estenderão ao País.

Concluo agradecendo ao motivo, à razão última dessa longa jornada que é o povo mineiro, que me distinguiu com sua confiança e me honrou com este e outros mandatos consagrados nas urnas. Dos mineiros sou e serei eternamente devedor pelo carinho, solidariedade e apoio que recebi.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2002 - Página 26164