Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise do papel histórico da Maçonaria no mundo, ressaltando a operosidade da instituição no contexto social.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PFL - Partido da Frente Liberal/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Análise do papel histórico da Maçonaria no mundo, ressaltando a operosidade da instituição no contexto social.
Aparteantes
Lindberg Cury, Nivaldo Krüger.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2002 - Página 27305
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, MAÇONARIA, BRASIL, REGISTRO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INDEPENDENCIA, PAIS, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA, DEFESA, DIREITOS, LIBERDADE, DEMOCRACIA, FAMILIA, AUMENTO, DIVULGAÇÃO, ATIVIDADE ASSISTENCIAL, ENTIDADE.
  • LEITURA, TRECHO, LEGISLAÇÃO, MAÇONARIA, SOLICITAÇÃO, INCLUSÃO, DISCURSO, ORADOR, TEXTO, AUTORIA, HISTORIADOR, PARTICIPANTE, ENTIDADE.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna para falar de um tema já abordado por mim em três oportunidades: no dia 20 de agosto de 2001, no dia 20 de junho de 2002 e no dia 20 de agosto de 2002. Refiro-me à maçonaria. Dia 20 de agosto, dia dedicado ao maçom, homenageei a Maçonaria brasileira, tanto a Maçonaria do Grande Oriente do Brasil quanto a Maçonaria representada pelas Grandes Lojas. Tenho a honra de ser filho de maçom, iniciado nas Grandes Lojas, maçom do Grande Oriente do Brasil e pai de maçom também iniciado no Grande Oriente do Brasil.

Sr. Presidente, para mim, que tenho a convicção firme de que a maçonaria é, se não a mais, uma das mais importantes instituições do mundo, já que ela é universal, realmente é uma emoção falar sobre o tema.

Quando estive em Cuba, onde há um regime fechado em que se supõe que nem a religião católica nem qualquer outra funcione - e muito menos a maçonaria -, fui surpreendido ao ver diversos templos maçônicos em Havana. Perguntei, já que estava lá na condição de professor universitário, aos professores que me serviam de guia, se realmente funcionava a Maçonaria no País. E fiquei sabendo - inclusive conheci maçons lá - que, realmente, funcionava.

A origem da Maçonaria se perde no horizonte do tempo, não há exatamente um momento certo para se definir onde e como começou, mas é certo que existem registros no Egito antigo e que os construtores das catedrais no mundo todo, desde as mais remotas eras, já se organizavam numa instituição constituída justamente pelos auxiliares de pedreiros, pedreiros e mestres de obras. Historicamente, essa é a possível origem da Maçonaria e, portanto, da sua diferenciação em graus, como hoje é estruturada. A Maçonaria foi se estruturando dessa maneira, chamada operativa, quando os seus membros cuidavam das construções dos templos e das grandes construções no mundo. Inclusive, na Bíblia, há uma referência histórica à construção do Templo de Salomão, talvez o momento mais significativo da atuação da Maçonaria, pois foi um importante templo, do ponto de vista simbólico, para as religiões.

Depois, a Maçonaria sofreu uma perseguição atroz da chamada Santa Inquisição, que, aliás, não perseguiu só os maçons, mas todos os que tinham idéias libertárias, que discutiam, que questionavam as verdades, pois a Igreja não aceitava que os seus dogmas pudessem ser sequer analisados, muito menos discutidos. E muitos foram vítimas desse tipo de posição da dita Santa Inquisição.

Sr. Presidente, estou terminando de ler o livro A inquisição, de Michael Baigent e Richard Leigh, que tem todo um capítulo destinado à analise da perseguição que a Maçonaria sofreu na Inquisição. Talvez por isso a Maçonaria tenha adotado um tipo de conduta que a sociedade analisa como secreta, sigilosa, escondida. A partir daí, os maçons, até para se defenderem, passaram a efetivamente se reunir de maneira secreta, ter formas de identificação para que os outros não pudessem saber que eram maçons, já que a Igreja Católica, durante a Inquisição, rotulou a Maçonaria como uma seita diabólica, em que se faziam cultos a Satã. A Maçonaria, naquela época, foi satanizada, apesar de não ser uma religião. Ao contrário, a Maçonaria é religiosa, porque aceita pessoas de todos os credos. Só não aceitamos os ateus. Professamos exatamente a liberdade como bem maior de todo ser humano. Assim, todos são livres para acreditar no ser superior que consideram o mais correto. Para darmos uma visão ampla deste ser superior, que é Deus, nós o chamamos de Grande Arquiteto do Universo, pois foi Ele quem arquitetou, quem construiu tudo que existe no universo.

Em razão dessa perseguição da Igreja católica, por meio da Inquisição, foi que a Maçonaria se consolidou mais na Inglaterra protestante. Lá a Inquisição não teve muitas possibilidades de avançar. Por isso, a Maçonaria se consolidou e se firmou naquele país, onde surgiram as primeiras lojas - chamamos de lojas o conjunto de maçons que se reúnem regularmente e que estão inscritos naquela célula da Maçonaria.

Depois da Inglaterra, onde foram traçados os princípios históricos e atuais da Maçonaria, esta teve um grande avanço na França, a qual foi a vanguardeira da revolução democrática no mundo. Inclusive, na França, o lema maior da Maçonaria se confunde com o lema da Revolução Francesa, que foi feita por maçons. O lema, que é mundial, da Maçonaria “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” teve na França o seu maior vigor. Foi justamente ali que surgiu a forma maçônica dos Grandes Orientes, que teve um papel fundamental na nossa história.

O Grande Oriente do Brasil, Sr. Presidente, foi criado em 17 de junho de 1822. É lógico que, antes disso, desde os primeiros momentos do Brasil colônia, surgiram lojas isoladas na Bahia, em Pernambuco, no Rio de Janeiro. Principalmente depois que a Capital passou para o Rio de Janeiro, deslocando-se da Bahia, a Maçonaria brasileira ganhou força, ganhou vigor, tendo sido, portanto, no dia 17 de junho de 1822, criado o Grande Oriente do Brasil.

Sr. Presidente, a História do Brasil mesmo relata esse papel fundamental da Maçonaria, desde o Brasil colônia até o Brasil República. Muita gente não tem notícia de que a vinda de D. João VI para o Brasil, fugindo das tropas de Napoleão, foi justamente patrocinada pela Maçonaria da Inglaterra. D. João VI, quando estava aqui sofrendo pressão da Igreja para perseguir os maçons, quando recebeu uma relação de pessoas que deveriam ser, de alguma forma, punidas, disse uma frase histórica: “Esses foram os que me socorreram”. Então, a partir da vinda de D. João VI para cá, e até antes, a Maçonaria estava presente na História do Brasil.

Entretanto, foi a partir da criação do Grande Oriente, em 1822, que a Maçonaria, de maneira decisiva, assumiu um papel visível na luta pela Independência do Brasil. Aliás, a própria criação do Grande Oriente do Brasil teve essa finalidade muito clara. Isso está nos anais da História Brasileira.

Há um livro publicado recentemente, do ilustre maçom José Castellani, que é a História do Grande Oriente do Brasil - A Maçonaria na História do Brasil, em que todos esses fatos são citados de maneira muito aberta, inclusive as atas das reuniões do Grande Oriente, em que ficou estabelecido que o grande objetivo do Oriente do Brasil era lutar pela independência do Brasil.

Para isso, desde a eleição do primeiro Grão-Mestre, José Bonifácio - aliás, ele era Ministro de Dom Pedro, Ministro do Rei -, Gonçalves Ledo e muitos outros maçons ilustres levaram para o Grande Oriente o próprio Príncipe Dom Pedro I, que foi iniciado naquela ordem, sendo quase que imediatamente eleito Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil, com a função de promover a independência do Brasil, como, aliás, o fez.

E a Maçonaria não ficou só nisso. Lutou, dentro de seu lema de liberdade, igualdade e fraternidade, pela abolição da escravatura no Brasil. Aliás, todas as iniciativas referentes ao fim da escravidão, no País, partiram de maçons, desde a Lei do Ventre Livre, a Lei dos Sexagenários, até a abolição, propriamente dita.

Portanto, a Maçonaria tem, na História do Brasil, um papel de relevo muito grande, até a Proclamação da República, porque, inclusive, depois da Independência, os maçons brasileiros tentaram convencer D. Pedro I a adotar medidas mais democráticas, medidas realmente libertárias, começando, assim, a contrariar o estilo do Imperador. A partir daí, a Maçonaria começou a trabalhar no sentido de promover a Proclamação da República, o que foi alcançado. Inclusive, o primeiro Presidente da República, Marechal Deodoro, era um ilustre maçom. Então, na verdade, a história da Maçonaria brasileira se confunde com a História do Brasil.

Sr. Presidente, tenho a maior honra de pertencer a essa instituição. No entanto, sei que nós, maçons, temos hoje o grande defeito de não nos comunicarmos adequadamente com a sociedade, de não falarmos abertamente com a sociedade sobre o que é a Maçonaria, apesar de que, em qualquer livraria, qualquer cidadão que tenha a curiosidade ou o desejo de saber o que é a Maçonaria encontra livros que explicam tudo a respeito, sem omitir coisa alguma.

No entanto, continua a imagem de que a Maçonaria, por reunir-se a portas fechadas, é uma instituição que tem de se esconder da sociedade. Na verdade, nada do que se pratica nas Lojas Maçônicas é contrário à religião, à democracia, às liberdades individuais, à defesa da Pátria, acima de tudo, e à família. Inclusive, Sr. Presidente, para ser maçom, um dos requisitos fundamentais é que o homem, primeiro, acredite em um ser superior; segundo, que seja livre, porque não se pode pensar em lutar pela liberdade quando não se é livre; e, por último, ele tem que ter a aquiescência da sua esposa. Se a esposa do candidato não aceitar, não quiser que ele seja maçom, embora ele queira, ele não poderá sê-lo, porque a Maçonaria defende justamente, como um dos seus itens principais, a família, que é a célula da sociedade.

Esses fatos estão registrados. Os nossos regulamentos, os nossos estatutos, a nossa constituição estão todos registrados em cartório. São documentos acessíveis a qualquer pessoa. Portanto, não há nada de secreto. Mas há quem pense, entre os maçons e, principalmente entre os não-maçons, que se deva manter mistério em torno dos assuntos da Maçonaria.

Este pronunciamento tem justamente o escopo de tornar a Maçonaria, como ocorre em outras instituições, visível e compreensível à sociedade.

Por isso, Sr. Presidente, quero ler o art. 1º da nossa Constituição, que dispõe:

Art. 1º. A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista. Proclama a prevalência do espírito sobre a matéria. Pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade. Os seus fins supremos são liberdade, igualdade e fraternidade.

Quero também ler alguns incisos desse artigo:

Condena a exploração do homem, os privilégios e as regalias, enaltecendo, porém, o mérito da inteligência e da virtude, bem como o valor demonstrado na prestação de serviços à Ordem - no caso, a Ordem é a Maçonaria -, à Pátria e à humanidade.

Afirma que o sectarismo político, religioso ou racial é incompatível com a universalidade do espírito maçônico.

Combate a ignorância, a superstição e a tirania.

Proclama que os homens são livres e iguais em direitos e que a tolerância constitui o princípio cardeal das relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um.

Defende a plena liberdade de expressão do pensamento como direito fundamental do ser humano, admitida a correlata responsabilidade.

Reconhece o trabalho como dever social e direito inalienável, julga-o dignificante e nobre sob qualquer de suas formas.

Considera irmãos todos os maçons, quaisquer que sejam as suas raças, nacionalidades, convicções ou crenças.

Sustenta que os maçons tenham os seguintes deveres essenciais: amor à família, fidelidade e devotamento à pátria e obediência à lei.

Determina que os maçons estendam e liberalizem os laços fraternais que os unem a todos os homens esparsos pela superfície da terra.

Recomenda a divulgação de sua doutrina pelo exemplo e pela palavra e combate terminantemente o recurso à força e à violência para a consecução de quaisquer objetivos.

Adota sinais e emblemas de elevada significação simbólica, que são utilizados em suas oficinas de trabalho e servem para que os maçons se reconheçam e se auxiliem onde quer que se encontrem.

Sr. Presidente, como se vê, a Maçonaria é uma instituição que realmente resume tudo de bom que existe em qualquer outra instituição.

Quero, neste momento, anunciar, primeiro, aos meus colegas Senadores; segundo, aos maçons que me ouvem e me assistem, pela Rádio Senado e pela TV Senado, a minha satisfação em fazer este pronunciamento. Quero também dizer algo importante, Sr. Presidente: a Maçonaria é uma das poucas instituições democráticas em que todos os cargos de direção, seja do Presidente de uma Loja, que chamamos de Venerável da Loja, até os seus auxiliares, passando pelos Grãos-Mestres estaduais até chegar ao Grão-Mestre geral, cuja sede é aqui, em Brasília, são eleitos. Não há aquela história de galgar tempo e ser promovido à direção da Maçonaria por causa disso. Há que se submeter, portanto, ao sufrágio dos maçons.

Por isso, quero anunciar a todos os maçons do Brasil que, nas próximas eleições - que ocorrerão na primeira quinzena de março, em todo o Brasil, para eleição dos Grãos-Mestres estaduais e Grão-Mestre geral e seu adjunto -, serei candidato a Grão-Mestre geral do Grande Oriente do Brasil. Terei como adjunto o Dr. Ronaldo Polleti, maçom da mais alta envergadura, ex-Procurador de Justiça, professor de Direito Constitucional da Universidade de Brasília; um homem que já ocupou também, no mundo maçônico, a Presidência do Supremo Tribunal Maçônico e que, portanto, dá à nossa candidatura uma dimensão maior até do que eu poderia ter se concorresse sozinho.

Conclamo os irmãos maçônicos de todo o Brasil para que compareçam, portanto, às eleições da primeira quinzena de março, já que as eleições são convocadas, nesse período, pelas Lojas de todo o Brasil, para elegermos os Grãos-Mestres estaduais de cada Estado e para elegermos o Grão-Mestre geral.

Sou candidato, mas existe também um outro, que é o atual Grão-Mestre geral, candidato à reeleição.

Portanto, esta é a comunicação que faço aos maçons e aos não-maçons, para mostrar que realmente a Maçonaria é uma instituição que respeita, acima de tudo, a dignidade das pessoas e propugna firmemente a democracia.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR) - Antes de encerrar, concedo, com muito prazer, um aparte ao Senador Lindberg Cury.

O Sr. Lindberg Cury (PFL - DF) - Senador Mozarildo Cavalcanti, acompanhei atentamente a exposição de V. Exª e ouvi um histórico fantástico sobre a Maçonaria, a sua importância desde a época do Império, a vinda de D. Pedro II para o Brasil e o que significou a Maçonaria no nosso País. Confesso que não sou maçom, mas a minha família é muito ligada à instituição. Tenho diversos tios ligados à Maçonaria, em Anápolis, que é a minha cidade de origem, em São Paulo e aqui, em Brasília. Hoje, neste mundo globalizado, quando as distâncias se encurtam, a Maçonaria cresceu bastante. Ela presta serviços de maneira discreta, e a sociedade, na maioria das vezes, não toma conhecimento desse trabalho tão importante desenvolvido por ela em todos os lugares, primando pela verdade, pelos bons princípios, disciplinando os seus membros, fazendo com que o conceito da verdade prevaleça acima de tudo. Quando vejo V. Exª anunciar que é um dos candidatos - e o diz com muito cavalheirismo, citando o outro candidato - a Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil, que é, sem dúvida, a maior honraria dentro da instituição, fico muito feliz, porque, por conhecer o seu trabalho no Senado, sei que a Maçonaria estaria muito bem representada. A propósito, gostaria de registrar a presença do Dr. Silvio Brankfield, uma pessoa muito ligada a nossa cidade. Está aqui desde o princípio, foi ex-Venerável Mestre da Loja Pioneiros do Progresso e Venerável de Ofício da Loja Libertadores das Américas. Atualmente, é delegado do Supremo Conclave do Brasil no Estado do Tocantins. Por diversas vezes, fui homenageado pelas Lojas Maçônicas e recebi, também, a oportunidade de fazer algumas palestras sobre o desenvolvimento econômico e o processo da representação política no Distrito Federal. Lá dentro tenho diversos amigos - mas muitos amigos mesmo - e pessoas de alto conceito. Feita uma exposição dessa natureza, quero lhe desejar êxito, lembrando sempre que se a grandeza do seu trabalho no Senado for levada à Maçonaria, sem dúvida alguma, trará uma grande contribuição ao nosso País. Quero registrar, também, o meu contentamento por ver que a Maçonaria tem um papel muito importante no progresso e na formação moral do nosso mundo moderno - um mundo de distâncias pequenas, de comunicação rápida e, às vezes, até conturbado. Os meus cumprimentos. Aproveito o ensejo para desejar-lhe felicidade e, ao mesmo tempo, cumprimentar a Maçonaria.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR) - Agradeço, sobremodo emocionado, a V. Exª pelo aparte, Senador Lindberg Cury, que, como disse, não é maçom, mas existem muitas pessoas que não o sendo agem como maçons, porque cumprem exatamente aqueles princípios que li aqui. V. Exª, com certeza, é um desses cidadãos.

Portanto, acolho, com muito prazer, o aparte de V. Exª, ao mesmo tempo em que quero cumprimentar o irmão Silvio, que se encontra na tribuna de honra, e dizer que, realmente, é esse o nosso espírito de fazer o bem à Humanidade, inclusive como V. Exª frisou: sem fazer alarde, de acordo com o princípio de dar com uma mão sem que a outra perceba.

Diferentemente de outras instituições, fazemos um trabalho social muito forte e, realmente, a sociedade em si não fica sabendo que é a Maçonaria que o está fazendo. Penso, inclusive, que isso é um equívoco, porque deveríamos, sim, prestar contas à sociedade do que estamos fazendo, não para nos vangloriarmos do bem que praticamos, mas, como disse, para prestarmos contas exatamente disto que a sociedade precisa, que é o trabalho em favor dos mais necessitados e dos excluídos, socialmente falando.

O Sr. Nivaldo Krüger (PMDB - PR) - Senador Mozarildo Cavalcanti, V. Exª me permite um aparte?

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR) - Ouço, com muito prazer, o Senador Nivaldo Krüger.

O Sr. Nivaldo Krüger (PMDB - PR) - Senador Mozarildo Cavalcanti, acompanho, com muita atenção, o importante pronunciamento que V. Exª desenvolve na tribuna do Senado, neste instante, e fico gratificado, embora não seja maçom, pela oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de idéias tão positivas e de cunho profundamente filosóficos. V. Exª abordou, de forma muito superficial, a questão da Inquisição, porque todos nós não podemos nos esquecer nunca dessa fase negra da atuação de um Catolicismo que se distanciou profundamente do Evangelho - esse é o meu modo de ver, como católico. Admiro a ação da Maçonaria no Brasil e quero fazer uma referência à Maçonaria da minha cidade, Guarapuava, no Paraná, que foi fundada em 1890, por aí assim, que desenvolve também um trabalho altamente positivo. V. Exª cita a forma muito humana de atendimento que a Maçonaria faz, como um dos objetivos sociais do seu programa, da sua filosofia. Aí, encontramo-nos novamente no Evangelho, quando nos lembramos do preceito de que “não saiba a esquerda o que a direita fez”. Admiro muito esse trabalho, tenho grandes amigos na Maçonaria e cumprimento V. Exª pelo pronunciamento que faz. Se me permitir, Senador, desculpe-me a minha ignorância, com a sinceridade que V. Exª usou no seu pronunciamento, vou fazer uma indagação para a qual nunca obtive resposta, talvez porque nem tenha tido oportunidade de fazê-la objetivamente. Na deportação de Dom Pedro II, em seguida ao golpe de Estado e à implantação da República, parece-me que os atos daquele momento não corresponderam a um sentimento de solidariedade, principalmente para com um homem da expressão de Dom Pedro II, que, de certa forma, ficou abandonado, porque não quis aceitar uma contribuição da República. Parece-me uma falta de generosidade que não é compatível com o modo de ser solidário do povo brasileiro. Agora, V. Exª afirma que o Marechal era maçom. Poderia V. Exª me esclarecer como vê aquele acontecimento?

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR) - Senador Nivaldo Krüger, agradeço muito o aparte de V. Exª. Assim como o Senador Lindberg Cury fez questão de dizer que não é maçom mas demonstrou sua simpatia pela Maçonaria, por conhecer o seu trabalho e o seu passado político, fico muito emocionado e satisfeito por ter acolhido, em meu pronunciamento, o seu aparte.

Quanto à indagação feita por V. Exª, é preciso que se diga que a Maçonaria realmente comandou o processo de Proclamação da República, mas, naquele episódio, muitos não eram maçons e queriam, inclusive, que Dom Pedro II fosse preso e julgado pelos atos que achavam ser atentatórios à democracia e aos interesses do povo. No entanto, venceu justamente a tese dos maçons, de dar a maior dignidade possível, naquele momento, à saída do nosso Imperador Dom Pedro II. Foi-lhe, como V. Exª falou, oferecida inclusive uma pensão vitalícia, para que ele pudesse ter, vamos dizer assim, dignidade na sua vida daquele ponto para a frente. Ele realmente a rejeitou. Queriam lhe dar um prazo exíguo para sair do País, mas lhe foi dado o que ele, enfim, solicitou. Assim, ele não teve nenhum outro constrangimento a não ser o de ser exilado do País.

Se analisarmos a proclamação da República em outros países, observaremos que a maioria dos monarcas depostos sofreram perseguições imensas, inclusive vários deles foram decapitados ou presos. Aqui, no Brasil, dentro desse clima, vamos dizer assim, de revolução, agiu-se com uma dignidade pelo menos respeitosa em relação a Dom Pedro II.

O Sr. Nivaldo Krüger (PMDB - PR) - Muito obrigado pelo seu esclarecimento. Gostaria de acrescentar que sou um homem encantado por esses episódios de grandeza. Dom Pedro II também era maçom?

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR) - Eu não tenho certeza, Senador. Dom Pedro I, sim, eu tenho certeza.

O Sr. Nivaldo Krüger (PMDB - PR) - Eu posso afirmar que era maçom. Ele teve um gesto como cristão, como maçom, como homem de grande dignidade, de sair sem conflagrar a Nação. Ele poderia, se tivesse elevado a voz naquele instante, ter levantado contingentes monárquicos dentro do País, e teríamos tido grande conflito e derramamento de sangue. Então, neste momento em que V. Exª aborda tão sabiamente a questão, eu queria apenas acrescentar a grandeza daquele acontecimento, feito de uma forma, pelos maçons, e a aceitação extraordinária de Dom Pedro II, que nos dá um grande exemplo de sabedoria. Muito obrigado. 

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL - RR) - Sou eu quem agradeço o aparte de V. Exª.

Realmente, em todos os episódios históricos, principalmente os do Brasil, a maçonaria se houve em fina sintonia com os seus princípios. E não tem sido diferente nos tempos modernos. Eu diria que, a partir da ditadura de Getúlio Vargas, a maçonaria se recolheu para o interior de suas lojas e passou a uma atuação política mais discreta ou quase nenhuma. Até mesmo os maçons parlamentares ou ocupantes de cargos públicos se elegem por iniciativa própria; lógico que buscam o apoio dos maçons. Assim como têm direito todas as entidades, seja a dos evangélicos, dos ruralistas ou qualquer categoria profissional de se organizar e participar ativamente da vida política do País, o que, aliás, é uma obrigação, também os maçons têm. A maçonaria do terceiro milênio tem que voltar a uma participação mais ativa, de mais colaboração, participativa mesmo, afirmativamente, para que o Brasil possa ter a oportunidade de colher, por este Brasil afora, em todos os Municípios - pois são homens livres, de bons costumes, homens preparados -, a colaboração de todos os maçons.

Esse o desafio da maçonaria para o terceiro milênio.

Sr. Presidente, para encerrar, requeiro a V. Exª que dê como lido e como parte integrante do meu pronunciamento um artigo do maçom e historiador José Castellani, sob o título: Representatividade e Influência Política da Maçonaria.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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REPRESENTATIVIDADE E INFLUÊNCIA POLÍTICA DA MAÇONARIA

            José Castellani

Muitos obreiros das Lojas brasileiras têm perguntado, nos últimos tempos, PORQUE A MAÇONARIA BRASILEIRA NÃO TEM MAIS INFLUÊNCIA POLÍTICA, como tinha no passado, ou seja, até às primeiras décadas do século XX.

Na realidade, ela tem procurado trabalhar política e socialmente, muitas vezes aderindo a projetos já estabelecidos por outras corporações e por organizações governamentais e não governamentais, mas sem, todavia, criar algo novo, ou seja, um verdadeiro projeto político-social maçônico. Isso, embora a bancada maçônica na Câmara Federal seja mais numerosa do que a evangélica, muito menos produtiva, porém.

O motivo está, provavelmente, na falta de representatividade política dos dirigentes maçônicos, os quais, por isso mesmo, não conseguem aglutinar o contingente maçônico do Legislativo federal.

Isso não ocorria no passado e basta um leve olhar à História do Grande Oriente do Brasil - sem alusões às Obediências nascidas de cisões no GOB, pois estas já aconteceram na fase de "vacas magras", na política externa - para que isso seja constatado.

Ao ser fundado o Grande Oriente Brasílico, a 17 de junho de 1822, foi eleito, para o Grão-Mestrado, José Bonifácio de Andrada e Silva, super-MINISTRO da regência de D. Pedro, líder incontestável da política brasileira da época. Sucedeu-o, a 4 de outubro, o já então aclamado IMPERADOR D. Pedro I (entronizado a 12 de outubro). O Grande Oriente Brasílico, por questões políticas, seria fechado a 25 de outubro, pelo Grão-Mestre, já que a situação delicada do novo império não permitia trincas políticas entre grupos rivais.

Ao renascer, em 1830 e 1831, a maçonaria brasileira, representada pelo Grande Oriente Brasileiro (do Passeio) e pelo Grande Oriente do Brasil (herdeiro presuntivo do Brasílico), tinha, a dirigir seus destinos, respectivamente: o SENADOR Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, que fora membro da Regência Trina Provisória e paladino da abolição da escravatura, promovendo o sistema de parceria, início do trabalho livre, no Brasil, importando mão-de-obra estrangeira e mandando vir, da Alemanha, em 1847, 80 famílias, num total de 400 pessoas, para sua fazenda de Ibicaba, na Província de S. Paulo ; e o mesmo José Bonifácio, ainda uma figura política de peso e TUTOR DO FUTURO IMPERADOR D. Pedro II.

O Grande Oriente do Passeio, até desaparecer, absorvido pelo GOB, no início da década dos 60, do século XIX, ainda seria dirigido por altas personalidades do Império, como Cândido de Araújo Viana, futuro visconde e marquês de Sapucaí, SENADOR e MINISTRO do Império, o SENADOR Manoel Alves Branco e Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai, SENADOR, MINISTRO e CONSELHEIRO DE ESTADO. No Grande Oriente do Brasil, sucedendo a José Bonifácio, que falecera em 1847, foi eleito Antônio Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, futuro visconde de Albuquerque e que, na época, era SENADOR do Império, MINISTRO e, posteriormente, CONSELHEIRO DE ESTADO.

Sucedendo a Albuquerque, que fora reeleito, era eleito, em 1850, Miguel Calmon du Pin e Almeida, futuro marquês de Abrantes, SENADOR, MINISTRO E CONSELHEIRO DE ESTADO. Depois, o Grande Oriente do Brasil seria dirigido por Bento da Silva Lisboa, barão de Cayru, MINISTRO do Império, e pelo CONSELHEIRO DE ESTADO, Joaquim Marcelino de Brito. Em 1871, era empossado, no cargo de Grão-Mestre, José Maria da Silva Paranhos, o visconde do Rio Branco, que acabara de assumir a CHEFIA DO GABINETE MINISTERIAL, tendo passado por vários ministérios, pela CÂMARA e pelo SENADO, sendo o responsável pela lei visconde do Rio Branco (lei do ventre livre), de 1871.

Sucedendo a Rio Branco, foi eleito, em 1881, o CONSELHEIRO DE ESTADO, João Alfredo Correa de Oliveira, que acabou não tomando posse, sendo substituído pelo Adjunto, ALMIRANTE Artur Silveira da Mota, futuro barão de Jaceguai, diplomata e líder militar e republicano. Declarando sua impossibilidade de continuar no cargo, ele seria substituído pelo CONSELHEIRO DE ESTADO, Francisco José Cardoso Júnior. Em 1885 era eleito Luís Antônio Vieira da Silva, depois visconde Vieira da Silva, SENADOR E CONSELHEIRO DE ESTADO.

Em dezembro de 1889, pouco mais de um mês após a proclamação da República, era eleito Grão-Mestre o MARECHAL Manoel Deodoro da Fonseca, então CHEFE DO GOVERNO PROVISÓRIO da República. Com sua renúncia, a 18 de dezembro de 1891, assumiria o Grão-Mestrado Antônio Joaquim de Macedo Soares, MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Em 1901, era eleito Quintino Bocaiúva, republicano histórico, "príncipe dos jornalistas brasileiros" e PRESIDENTE DE ESTADO. Este teve, como sucessor, Lauro Nina Sodré e Silva, líder republicano e militar, SENADOR E PRESIDENTE DE ESTADO, o qual seria reeleito, sucessivamente, só deixando o Grão-Mestrado em 1916, ao ser eleito, mais uma vez, governador do Pará, sendo sucedido pelo ALMIRANTE Veríssimo José da Costa, seu Adjunto. Em 1917, era eleito Nilo Procópio Peçanha, que já fora PRESIDENTE DA REPÚBLICA, MINISTRO DE ESTADO E era SENADOR. Em 1920, era eleito o GENERAL Thomaz Cavalcanti de Albuquerque, líder militar e DEPUTADO FEDERAL, cujo sucessor, em 1922, seria Mário Behring, diretor da Biblioteca Nacional, sucedido pelo magistrado Octavio Kelly.

Depois, viria o golpe de 1930, o Estado Novo e a decadência da representatividade política maçônica.

Sem comentários e sem conclusões.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2002 - Página 27305