Pronunciamento de Gerson Camata em 11/03/2003
Discurso durante a 14ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem à memória do ex-Senador Dirceu Cardoso, falecido sábado passado, no município de Muqui/ES. (Como Líder)
- Autor
- Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
- Nome completo: Gerson Camata
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem à memória do ex-Senador Dirceu Cardoso, falecido sábado passado, no município de Muqui/ES. (Como Líder)
- Aparteantes
- Roberto Saturnino.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/03/2003 - Página 3189
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, DIRCEU CARDOSO, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, EX PREFEITO, MUNICIPIO, MUQUI (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Como Líder, pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srªs e Srs. Senadores, apagou-se no Espírito Santo, no último final de semana, a chama que por muitos anos iluminou e deu transparência aos alicerces da política brasileira. Aos noventa anos, faleceu em Muqui, sábado passado, o ex-Prefeito daquela cidade, ex-Deputado Estadual, ex-Deputado Federal e ex-Senador da República Dirceu Cardoso. Com pesar - e tenho certeza de que o sentimento de perda é compartilhado por toda esta Casa, mesmo por aqueles que não tiveram o privilégio de desfrutar da companhia daquele honrado homem público -, compareço a esta tribuna para fazer, em meu nome e no do Senador João Batista Motta, também do Estado do Espírito Santo, o panegírico de um combatente permanente.
O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço V. Exª.
O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PT - RJ) - V. Exª pode falar em meu nome também? Gostaria de constar dessa iniciativa de V. Exª. Fui colega desse estimado Senador, seu conterrâneo, que honrou esta Casa e destacou-se pelo comportamento sério, ético e pelo devotamento à causa pública. Dirceu Cardoso foi um exemplo de político atuante, representante legítimo do povo, que, infelizmente, o seu Estado perdeu, o Brasil perdeu e todos os brasileiros perderam, mas gostaria que o meu nome figurasse também entre os que tomaram essa iniciativa.
O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - O Espírito Santo fica grato a V. Exª pela palavras.
Dirceu Cardoso, o mais capixaba de todos os fluminenses e o menos fluminense de todos os capixabas, nasceu na cidade de Miracema, no dia 4 de janeiro de 1913. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, especializando-se em Direito Criminal, matéria na qual se transformaria em sumidade anos depois. Em 1934, quase setenta anos atrás na esteira do tempo, Dirceu Cardoso se mudaria para a pequenina cidade de Muqui com o propósito de realizar, segundo me confidenciou certa vez, um desejo oculto: ser professor. Com abnegação e extraordinária força de vontade, atributos que nunca lhe faltaram ao longo de sua laboriosa existência, fundou o Colégio Estadual de Muqui, de onde saíram médicos, jornalistas, professores, engenheiros, centenas, milhares de profissionais competentes que até hoje colocam os ensinamentos recebidos do venerado mestre a serviço do Espírito Santo e do Brasil.
Polemista por formação e convicção, Dirceu Cardoso não se sentia totalmente realizado numa sala de aula. Faltava-lhe um instrumento através do qual pudesse externar o seu ideário político, num momento em que a democracia havia sido subjugada pelo autoritarismo do Estado Novo.
Dirceu Cardoso elegeu-se Prefeito da cidade, depois Deputado Federal. Foi Secretário de Estado e, em 1947, Secretário da Educação do Governo Carlos Lindenberg no Estado do Espírito Santo.
Dirceu Cardoso acabou sendo premiado, com toda justiça, por sua coerência partidária. Em outubro de 1950, elegeu-se Deputado Estadual, pela legenda do PSD, sendo reeleito em 1954. Quatro anos depois, com uma grande votação, foi eleito Deputado Federal. Em 1961, na condição de vice-líder da bancada do PSD na Câmara, transformou-se em personagem da história ao ler, da tribuna da Câmara, a célebre carta em que o Presidente Jânio Quadros renunciava ao poder. Discreto, Dirceu Cardoso levou para o túmulo a identidade da pessoa que lhe entregou a missiva que não era para ser lida antes que Jânio desembarcasse em São Paulo.
Dirceu Cardoso se elegeria Senador da República em 1974, pelo MDB, partido ao qual se filiara logo após a implantação do bipartidarismo. A respeito desse primeiro e único mandato de Senador, quero chamar a atenção dos caros colegas para uma cruzada por ele iniciada aqui nesta Casa e que, infelizmente, não logrou o efeito que não apenas ele, mas toda a Nação desejava. Em 1981, numa admirável antevisão do futuro, o nosso saudoso colega iniciou uma campanha nervosa e febril contra os empréstimos externos constituídos pelos Estados e Municípios, por entender que, no futuro, esta prática acabaria por empobrecê-los, com resultados maléficos para a economia do País. Sabemos hoje que o raciocínio de Dirceu Cardoso era absolutamente correto, mas lamentavelmente, seus avisos acabaram-se debruçando sobre ouvidos moucos, mesmo tendo ficado rouco na tentativa de obstruir as votações dos empréstimos.
Acossado pelo sentimento da perda irreparável, encerro esta minha fala plenamente consciente de que ele é um reflexo opaco do grande espelho que a morte ensombreceu. Resta-me, no entanto, a certeza de que, distante para sempre, esta Casa jamais se esquecerá de tudo aquilo que Dirceu Cardoso fez pela manutenção de suas honradas e seculares tradições.
Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.