Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cobrança da restauração das rodovias que cortam o Mato Grosso, visto que tem prejudicado sobremaneira a escoação da safra de grãos do Estado. Homenagem ao poeta baiano Castro Alves, pelo transcurso do Dia da Poesia, hoje. Considerações sobre o edital da revista Matria.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. HOMENAGEM.:
  • Cobrança da restauração das rodovias que cortam o Mato Grosso, visto que tem prejudicado sobremaneira a escoação da safra de grãos do Estado. Homenagem ao poeta baiano Castro Alves, pelo transcurso do Dia da Poesia, hoje. Considerações sobre o edital da revista Matria.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2003 - Página 3549
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, DIFICULDADE, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), PRECARIEDADE, RODOVIA, BRASIL, SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RECUPERAÇÃO, MANUTENÇÃO, ACESSO RODOVIARIO, IMPEDIMENTO, PREJUIZO, REGIÃO.
  • ANUNCIO, COMPOSIÇÃO, CONSELHO, SENADO, DEFESA, DIREITOS, MULHER.
  • LEITURA, ELOGIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, MATRIA EMANCIPAÇÃO DA MULHER, ESPECIALISTA, ASSUNTO, REFERENCIA, MULHER.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ANTONIO DE CASTRO ALVES, POETA, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, OBRA LITERARIA.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, inicio o meu discurso na esteira do pronunciamento do Senador Marcelo Crivella, que abordou a questão das estradas, e do brilhante aparte que lhe fez o Senador Almeida Lima.

Desde os primeiros momentos em que cheguei a esta Casa, venho debatendo o tema das estradas do meu Estado de Mato Grosso, que, repito mais uma vez, é o maior produtor de soja do mundo e um dos maiores produtores de algodão. Também a bovinocultura, no meu Estado, aparece como possível líder. No entanto, as nossas estradas - a BR-070, a 158, a 163 e a 364 - estão com onze pontos de estrangulamento. Mato Grosso está em pleno “arranca-safra”: são carretas e mais carretas que tornam o tráfego pelas estradas de Mato Grosso quase impossível. O movimento do “arranca-safra” se verifica praticamente no Estado todo, pois produtos que saem do Nortão e do Baixo Araguaia principalmente só têm saída por Santos ou Paranaguá. A distância é muito grande, V. Exªs hão de convir conosco.

As reivindicações relativas à BR-163 são repetidas por mim em praticamente todas as sessões em que tenho acesso à palavra. Precisamos agir conjuntamente para que a produção possa escoar via Pará. Além disso, em Mato Grosso, temos algumas dificuldades com a BR-163, dificuldades sérias de conservação. Aliás, a maioria das nossas estradas está há vinte anos sem manutenção, sendo que elas teriam que ser restauradas, tecnicamente falando, no mínimo, de três em três anos ou, no máximo, de cinco e cinco anos. Isso não acontece e elas estão em estado de calamidade.

Além da restauração da BR-163, entendemos ser necessário também um esforço gigantesco para que ela seja ampliada e alcance o Estado do Pará, porque só assim teremos um melhor escoamento da produção. Se isso acontecer, a produção em Mato Grosso vai ser barateada em R$5,00 por saca. V. Exªs já imaginaram o que significa isso para o nosso Estado de Mato Grosso, para o Estado do Pará e, certamente, para outros Estados que poderão convergir por essa saída?

Hoje à tarde, teremos mais uma audiência com o Sr. Ministro dos Transportes para tratarmos tanto das situações de emergência quanto de outras situações com relação às estradas.

Hoje não vou me alongar a respeito das estradas, porque preciso fazer alguns comunicados. O primeiro deles diz respeito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, à instalação, no dia 12 deste mês, às 18 horas, do Conselho do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, conselho do nosso Senado da República.

A sua composição foi assim definida: pelo PMDB, Senadora Iris de Araújo; pelo PFL, Senadora Roseana Sarney; pelo PT, Senadora Serys Slhessarenko; pelo PSDB, Senadora Lúcia Vânia; pelo PDT, Senador Augusto Botelho; pelo PTB, Senador Papaléo Paes; pelo PSB, Senador Geraldo Mesquita; pelo PL, Senador Magno Malta; pelo PPS, Senadora Patrícia Saboya Gomes. Foram eleitos, como Presidente, a Senadora Serys Slhessarenko, e como vice-presidente, o Senador Geraldo Mesquita.

Causou estranheza a algumas pessoas o Vice-Presidente ser um Senador, mas a eleição se deu por aclamação. Aliás, esse fato é muito importante, porque precisamos trabalhar em todas as frentes com relação à discriminação contra a mulher, à violência, à opressão etc.; precisamos, homens e mulheres de boa vontade, agir juntos, pois só assim vamos superar essa problemática ou, pelo menos, iniciar essa superação. Melhor dizendo: iniciar não, pois ela já foi iniciada; precisamos é fazer com que ela avance de forma mais rápida.

Esse Conselho esteve sob a presidência, até o término de seu mandato, da nossa querida Ministra Emilia Fernandes, que fez um belíssimo trabalho e hoje é a nossa Secretária Especial de Políticas para as Mulheres. Precisamos dar continuidade a esse trabalho.

Já recebemos trinta e dois currículos de candidatos à premiação Bertha Lutz, que acontecerá no próximo dia 18. O Conselho selecionará cinco currículos para serem premiados - será uma seleção dificílima - e entregará o prêmio no dia 27 de março em sessão ordinária do nosso Senado.

Gostaria ainda de fazer referência, ainda que rapidamente, à revista Mátria, a Emancipação da Mulher, que é publicada anualmente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. Trata-se de publicação da melhor qualidade, e este número trata exclusivamente de questões correlatas à questão da mulher.

Vou ler parte do editorial para que fique gravado nos Anais do nosso Senado da República:

Mátria amada

A humanidade só tem a ganhar ao incluir a mulher, de modo igualitário, na vida social, familiar, política e sexual.

Mátria. Complemento e antítese de pátria. Pátria, de pai; mátria, de mãe. Pátria da moeda e da espada; mátria da inclusão e da igualdade. Este é o verdadeiro sentido da luta da mulher pela igualdade de direitos. Fazer com que o mundo seja um lugar onde, como no coração de uma mãe, todos tenham espaço, vez, voz e sejam tratados com justiça e igualdade de oportunidades.

Direitos já assegurados, embora, não raro, ameaçados, como a licença-maternidade, são avanços importantes nessa luta milenar, mas são apenas a ponta de um iceberg cuja maior parte permanece oculta sob as águas geladas da intolerância, do sexismo e da desigualdade. A meta final é, mais do que garantir direitos compensatórios pontuais, mudar o mundo e fazer dele um lugar onde o senso de justiça entre os gêneros seja prática comum, óbvia, por estar dentro do coração das pessoas.

Uma piada bastante popular entre adolescentes diz que “mãe é tudo igual, só muda de endereço”. Há uma certa verdade nisso: o reconhecimento de que os valores identificados como “maternais” são universais. Se assim são, então o destino da humanidade só tem a ganhar na medida em que incluir a participação da mulher, de modo igualitário, na vida social, familiar, política e sexual.

Não repudiamos nossa feminilidade, nossa sexualidade, nem nossas diferenças; de fato, as acentuamos como marca de nossa identidade e condição. Mas, para muito além da biologia e da anatomia, somos seres sociais, vítimas de uma história que nos delegou, ao longo de milênios, um papel menor na condução dos destinos de nossos povos. É isso que repudiamos. É isso que queremos mudar. Para alcançarmos esse objetivo, precisamos trabalhar diligentemente para detectar, com sobriedade, todas as áreas onde o sexismo e o preconceito em geral continuam atuando; seja no mercado de trabalho, nas relações familiares ou na linguagem.”

Eu mostraria mais uma vez aqui Mátria, a Emancipação da Mulher, uma revista que trata de muitos aspectos das questões correlatas e ligadas à mulher, questões que vão do machismo às relações familiares, às relações de trabalho, às relações do poder político. Esta revista trata, de forma politicamente correta e acessível, de problemas que dizem respeito a toda a sociedade. Por ser uma revista de tal qualidade e por ser publicada pela CNTE, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, eu diria que é mais que uma simples revista: é um material pedagógico.

Gostaria, ainda, de fazer um outro registro. Serei breve - está ali o Senador Marco Maciel me olhando, aflito, pensando: “Esse povo fala... Cada um que chega aqui acha que é dono do tempo!”. Defendo-me dizendo que assumi o compromisso de tentar não ultrapassar o tempo regulamentar... Acontece que, quando chego na tribuna, acabo esquecendo!

Pode parecer a alguns que o assunto que vou abordar agora é de menor interesse. Eu diria que não: para quem acredita na importância e na necessidade de mudança de valores, nada é de menor importância.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - V. Exª me concede um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Estou ouvindo com muito interesse e muita atenção o discurso de V. Exª e me agrada sempre participar do debate e, sobretudo, desse convívio parlamentar. V. Exª traz à nossa consideração temas que são do interesse do País e do Senado.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Com certeza, Senador Marco Maciel. E fiz a brincadeira com V. Exª porque eu queria fazer esse registro, até para tentarmos nos adequar ao tempo, mas gostaria de tê-lo feito de uma forma mais delicada. Hoje, quando o Senador Almeida Lima concedeu um aparte ao Senador Romero Jucá, tive, como Presidente, que cometer a, digamos assim, indelicadeza de não permitir. Não havia outro jeito, pois, segundo o Regimento, quando um Senador fala em nome da liderança do partido, não pode conceder apartes. Não deixei de ficar, no entanto, em uma situação extremante difícil, porque quem não gostaria de ceder um aparte ao Senador Romero Jucá e, ao mesmo tempo, permitir que o Senador Almeida Lima procedesse a todo o seu discurso tão empolgante e tão importante? O descobrimento dessa bacia de petróleo em Sergipe é realmente uma informação muito importante para a população brasileira. E S. Exª estava fazendo essa comunicação de uma forma bastante detalhada.

Gostaria, ainda, de registrar que hoje é o Dia da Poesia. E alguns dirão: com tanta gente passando fome, com tantos problemas, com tantas estradas intransponíveis, temos que falar de poesia também? Eu digo que temos, sim, que falar de poesia, pois ela retrata a alegria e a tristeza de um povo; retrata a realidade. Coincidentemente - e não estudei a origem dele -, hoje é o dia de aniversário de nascimento de Castro Alves, o Poeta dos Escravos.

Uma questão que se discute no meio daqueles que realmente admiram os versos é a seguinte: quem surgiu primeiro: o poeta ou a poesia? Aproveitando a oportunidade, registro e agradeço ao Senador Ney Suassuna pelo presente que nos deu: o seu livro de poesias Ousadia, muito interessante. Sobre a questão, alguns dirão: que idiotice, a poesia não poderia existir sem o poeta, logo este veio primeiro.

É, parece muito óbvio. Mas, num sentido bem amplo, poesia não se limita às definições do dicionário que diz: “...aquilo que desperta o sentimento do belo... aquilo que há de elevado ou comovente em qualquer pessoa ou coisa...” O belo assim como o feio já existiam antes do homem, claro. A existência de ambos não justificaria a presença da poesia antes do surgimento do homem? Digo isso porque para mim a poesia não apenas é escrita, não somente se origina dos devaneios líricos de pessoas que têm uma sensibilidade maior que outras. Não. Eu inverteria a primeira definição do dicionário e ousaria afirmar que o belo, ou mesmo o feio, desperta no homem ou na mulher um sentimento, os eleva, os comove. Então a poesia está também fora de nós, ao nosso redor, ou, como diz um amigo meu: “A poesia está no ar, na Natureza, na mulher, no homem, na flor, na mão que se estende à caridade, na tragédia das guerras, na vida, enfim, na morte.”

O ser humano traduz em versos os seus sentimentos. O valor do poeta está na sua sensibilidade para perceber e registrar, para os demais seres mortais, a poesia, sempre presente à sua volta. Afinal, como diz aquele meu amigo: “A poesia está no ar, na Natureza, na mulher, no homem, na flor, na mão que se estende à caridade, na tragédia das guerras, na vida, enfim, na morte.”

Até no calendário a poesia está presente bem antes do poeta. Hoje, 14 de março, é o Dia da Poesia. Somente em outubro, no dia 20, comemora-se o Dia do Poeta.

E aqui a nossa homenagem, em nome de todos os poetas e poetisas do nosso Brasil, dos mais conhecidos, os mais renomados, aos absolutamente anônimos.

Para tanto, queremos falar um pouco de Castro Alves, o Poeta dos Escravos. Antônio de Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847, na Bahia. Poeta do romantismo brasileiro, expôs o sofrimento dos escravos por meio de seus versos. Navio Negreiro é, talvez, o seu poema mais famoso, parte integrante de uma coletânea de poesias intitulada Os Escravos.

Sua vida de amores e desencantos se revela nos poemas de “espumas flutuantes”.

Em março de 1868, foi morar em São Paulo. A cidade ansiava por conhecê-lo. Sua consagração veio em julho, ao recitar o poema “Pedro Ivo” em sessão de caráter político. Foi aclamado o “Poeta-vidente da Abolição e da República”.

Ao lermos esse pequeno parágrafo, Sr. Presidente, já podemos perceber que a poesia pode contribuir também para as grandes transformações sociais. E as poesias de Castro Alves tiveram esse significado.

Infelizmente, o nosso poeta, o Poeta dos Escravos, morre com 24 anos, em 6 de julho de 1861, muito jovem ainda, mas deixa uma contribuição muito grande e muito significativa ao nosso povo e, em especial, à abolição da escravatura.

Também trago, aqui, um pequeno poema intitulado Mendigo, de R. Pires, que mostra como podemos, por intermédio da poesia, demarcar a realidade que nos é colocada nua e crua. Vou lê-lo muito rapidamente, em homenagem a você:

Mendigo

Maltrapilho pelas ruas vai vagando

Cabelos em desalinho por aí, 

Com seu saco de bobagens carregando

Desgraçado, nunca chora, nunca ri...

Sem amor, sem carinho, sem destino...

sem presente, sem passado e sem futuro

Vil pessoa que das coisas não tem tino

Procurando pela vida no monturo

Segue teu caminho, o teu presente

Revirando este mundo que não sente

Pois esperando pela morte merencória,

Deitado na sarjeta humilhante

Agonizas pela rua torturante

Sem notar que escrevo tua história...

Fiz questão de falar de Castro Alves e ler essa poesia de R. Pires, intitulada Mendigo para mostrar que a poesia pode retratar o belo, mas também a realidade. E a poesia pode nos comover e fazer com que nossos sentimentos aflorem e comecemos a envidar todos os esforços no sentido da mudança de valores em nossa sociedade. Chega de competitividade, chega de disputa, chega de pensar em guerra. Vamos pensar na construção de novos valores, em especial, da solidariedade e da fraternidade, porque o resto virá como conseqüência.

Muito obrigada, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2003 - Página 3549