Discurso durante a 20ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Contestação ao discurso otimista do Senador Aloizio Mercadante, no que diz respeito à melhora dos índices econômicos. (Como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Contestação ao discurso otimista do Senador Aloizio Mercadante, no que diz respeito à melhora dos índices econômicos. (Como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 20/03/2003 - Página 4114
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, DISCURSO, AUTORIA, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR, REGISTRO, MELHORIA, AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, CONTENÇÃO, CRISE, POSSIBILIDADE, AUMENTO, JUROS, DESEQUILIBRIO, DOLAR.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é precisamente com o espírito construtivo e dentro da mesma linha de debate qualificado que venho aqui me reportar à comunicação de liderança do nobre Líder Aloizio Mercadante.

Gostaria de dizer que S. Exª tem que tomar muito cuidado com o velho adágio popular de que “desta água não beberei”. S. Exª insinua assumir compromissos com a suspensão dos aumentos das taxas básicas de juros a partir de agora - pelo que entendi -, mas pode - se Deus quiser, não, mas pode -, quem sabe, no mês que vem, precisar aumentar a taxa Selic. Se precisar, não tenho dúvida alguma de que a orientação do Ministro Antônio Palocci será no sentido de aumentá-la.

Da mesma forma, S. Exª diz que o dólar entra em situação de equilíbrio, como se S. Exª pudesse garantir que não vai haver mais solavancos no dólar. Temos a convicção de que o Brasil, infelizmente, ainda haverá de experimentar turbulências em relação à cotação do dólar frente ao real.

S. Exª fala que a política econômica mudou. O Governo brasileiro acaba de assinar um protocolo de intenções com o Fundo Monetário Internacional, garantindo a continuidade das políticas que estão sendo praticadas. E o meu medo é que, à míngua de criatividade, se aferrem demais os atuais governantes e não mudem na hora em que a ousadia lhes permitir a possibilidade de mudar. Por exemplo, na questão dos juros.

E digo mais, Sr. Presidente, mudanças houve. O MST passou novamente a inquietar este País. Há, hoje, uma ameaça clara sobre a agricultura produtiva brasileira, que tem sido a responsável pela virada da balança comercial. Se formos listar o número de prédios públicos ocupados em poucos dias do atual Governo, as fazendas produtivas ocupadas, o quadro de inquietação que volta a reinar no campo - o MST estava bastante esvaziado pela ação de reforma agrária do Governo anterior -, pensamos que essa mudança é real, mas não é positiva.

Ao comparar indicadores do período em que se consolidava o favoritismo do seu candidato, o ilustre Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vemos que os indicadores se deterioram, inclusive em função desse favoritismo. S. Exª compara indicadores de outubro com os de agora, quando, meramente, o Governo começa a retornar a padrões inferiores aos melhores momentos experimentados pelo Governo Fernando Henrique. Por exemplo, juros de 1.100 pontos. O padrão no Governo Fernando Henrique era de 700 ou 800 pontos o prêmio do risco Brasil. Então, estão meramente retornando, até porque, graças a Deus, não houve nenhum gesto tresloucado do Presidente Lula ou de sua equipe de governo ao longo desses primeiros quase 90 dias.

Por isso, começa-se a estabelecer uma relação de confiança entre os mercados e o País, mas estamos ainda longe dos melhores momentos vividos pelo Governo Fernando Henrique. E mais não foi feito até porque, à época, havia uma crítica empedernida às reformas estruturais, que poderiam ter garantido para o Brasil o chamado grau de investimento, o investment grade, que, se tivesse sido atingido, colocaria o Brasil hoje na posição privilegiada de México, Rússia e Chile, que pagam um prêmio de apenas 250, 300 ou 350 pontos a título de taxa de risco.

Portanto, Sr. Presidente, com o meu espírito construtivo, faço aqui a advertência de que algumas heranças devem ser consignadas, sim, como tendo sido recebidas pelo Governo do Partido dos Trabalhadores, a partir, portanto, de legado a ele destinado pelo governo anterior. A safra recorde de grãos não está sendo inventada, tanto quanto a roda não foi, pelo atual Governo. Ela é fruto de oito anos de trabalho incessante e comunhão com os anseios de quem trabalha no setor primário neste País.

Da mesma maneira, se formos a outros indicadores, podemos até dizer que a verdadeira avaliação do Governo do Presidente Lula no que toca à pauta de exportação, à balança comercial e ao desempenho do setor exportador só se verificará a partir, Senador Tasso Jereissati, de abril e maio, a partir dos contratos firmados do mês de maio em diante, porque até agora o que se vê é resultado, pelo lado positivo, de contratos e acertos feitos ainda no governo anterior; o lado negativo deve-se ao crescimento econômico infelizmente ainda medíocre que o Brasil tem sido obrigado a observar. Se o Brasil crescesse um pouco mais, já se deterioraria a perspectiva de um saldo de balança comercial maior. Esse é o quadro.

Não vi mudança significativa entre um modelo macroeconômico e o outro. Imagino que, a esta altura, devamos questionar sobre o momento em que as mudanças devam acontecer, até porque queremos que o Brasil encontre o caminho do crescimento sustentável e sustentado da sua economia.

(O Sr. Presidente José Sarney faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM ) - Já concluo, Sr. Presidente.

Portanto, os esclarecimentos assim prestados pelas Lideranças do PSDB são esses. Que o debate se faça e, sobretudo, que busquemos, ao longo de todas as tertúlias, ao longo de toda a nossa procura, explicitar as nossas verdades; que busquemos restabelecer, cada um com muito amor pela própria verdade, a sua verdade, para que as verdades sinceras se choquem com outras verdades sinceras e possamos chegar a sínteses inteligentes que haverão de mostrar o caminho do crescimento econômico, que começou, a meu ver, a se delinear com as reformas estruturais iniciadas em 1995, contra a perspectiva do então Partido dos Trabalhadores.

Se Deus quiser, as reformas continuarão sob a batuta do Presidente Lula, convertido à causa de que não é um fato neoliberal reformarem-se as estruturas deste País, e, sim, é o imperativo do realismo, é o imperativo da seriedade administrativa, é o imperativo da austeridade de se gerir a coisa pública.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/03/2003 - Página 4114