O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, se fosse dado a nossos avós - nascidos, digamos, por volta de 1920 ou 1930 - o dom de antever o futuro, e lhes fosse facultado enxergar por uma janela do tempo o que ocorre na atualidade, iriam, com certeza, sofrer grande espanto. Ônibus espaciais orbitando a Terra, carros velozes cruzando estradas, aeronaves riscando os céus, pessoas tirando dinheiro em máquinas, homenzinhos de lata trabalhando em indústrias, aparelhos que escrutinam doenças no interior do corpo humano, muita gente nas ruas falando em microtelefones sem fio, aparelhos com imagens ao vivo, telas nas quais as pessoas dizem “navegar” e onde compram coisas... Enfim, Srªs e Srs. Senadores, nossos avós iriam se assombrar com o progresso visível da tecnologia e da informática.

Os ponteiros do avanço do conhecimento andaram aceleradamente nas últimas décadas. No campo da informática, então, o tempo parece que disparou. Muitos de nós acompanhamos essa vertiginosa aceleração. Muitos se lembram dos computadores gigantescos requerendo salas imensas e ar refrigerado para acomodar seus colossais componentes. Hoje, carregamos computadores praticamente nos bolsos!

No entanto, Sr. Presidente, como todo progresso - que não vem de imediato para todos -, também o avanço da informática deixou grande massa de pessoas à margem das inovações, excluídas de seu acesso e dos benefícios que elas podem trazer, com conseqüências perversas, porque o mundo do trabalho, hoje, está cada vez mais exigindo pessoas que saibam lidar com computador, tenham domínio dos mais variados programas e linguagens... e mais: que estejam familiarizadas com a busca de informações pela Internet.

Antigamente, tínhamos grande massa de analfabetos - os excluídos do mundo da escrita. Hoje, temos novamente grande massa de analfabetos: os chamados analfabetos digitais. São os excluídos do mundo da informática, aqueles que não têm acesso ao computador. Não o têm em casa; não o têm na escola; não o têm no bairro em que moram. Mas precisam saber usá-lo para conseguir emprego, para se situar melhor no processo produtivo, para alcançar progressão funcional.

Por isso, Sr. Presidente, tal assunto tem de estar presente na agenda educacional de nosso País. É inconcebível que o aluno passe oito, doze anos para concluir o ensino fundamental, ou médio, e, nesse tempo, nunca tenha se deparado com um computador na escola! Se isso estiver acontecendo, podemos apontar nosso sistema educacional como um grande gerador de exclusão - a exclusão digital! E nossas crianças e jovens estarão perdendo a oportunidade de dispor de uma infinidade de soluções digitais, cada vez mais surpreendentes e poderosas.

Outras organizações também podem - até devem! - estar envolvidas na educação digital, como empresas, associações de bairros, clubes de serviço, sindicatos de trabalhadores, organizações não-governamentais - há um sem-número de organismos que podem laborar no mesmo propósito. Enfim, a democratização da informática está recrutando colaboradores e parceiros para incluir cada vez mais gente na sociedade da informação.

Inclusão digital é um tema de relevância mundial. Reconhecendo que a tecnologia e o conhecimento são elementos fundamentais para a criação de riqueza e bem-estar nas nações, a Organização das Nações Unidas publicou, em 2001, uma classificação dos países de acordo com o Índice de Avanço Tecnológico. O Brasil ficou em quadragésimo terceiro lugar. De favorável a nós, houve destaque especial para as cidades de São Paulo e Campinas. Tudo a ver, porque são elas os centros brasileiros mais habilitados para o desenvolvimento de alta tecnologia, dada a presença de universidades competitivas internacionalmente, como a USP e a UNICAMP, nessas cidades.

Com fundamento em toda a argumentação levantada, quero, Sr. Presidente, destacar a importância da criação do Dia da Inclusão Digital. A data foi criada pelo Comitê para Democratização da Informática - CDI, com o objetivo de sensibilizar a sociedade civil, empresas e governos (além de chamar a atenção da mídia) para a inclusão digital em comunidades de baixa renda e em instituições que atendam públicos com necessidades especiais. Este é o terceiro ano em que a data é celebrada, sempre no último sábado do mês de março.

Faço votos de que o próximo dia 29 seja o catalisador de novos elos a se juntarem à corrente da inclusão digital! Decidi jogar luz nesse tema, Sr. Presidente, porque estou convicto de que a inclusão digital não é apenas mais uma forma de facilitar o acesso ao emprego! Ela é uma via consistente para populações carentes adquirirem mobilidade social, alcançarem melhoria na qualidade de vida, enfim, construírem a tão necessária cidadania.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.