Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem póstuma ao primeiro arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, falecido em fevereiro de 2002.

Autor
Aelton Freitas (PL - Partido Liberal/MG)
Nome completo: Aelton José de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma ao primeiro arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, falecido em fevereiro de 2002.
Aparteantes
Hélio Costa, Rodolpho Tourinho.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2003 - Página 5780
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ALEXANDRE GONÇALVES DO AMARAL, ARCEBISPO, MUNICIPIO, UBERABA (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, que gentilmente me cedeu esse horário, de muita importância para nós, do Triângulo Mineiro, para os mineiros e para os católicos do Brasil.

Na presença do Exmº e Revmº Sr. Dom Aloísio Roque Oppermann, Digníssimo Arcebispo de Uberaba, e do Exmº Sr. Dom João Bosco Óliver de Faria, Digníssimo Bispo de Patos de Minas, venho a esta tribuna, para homenagear uma das mais emblemáticas e singulares personalidades da vida mineira. Declino, com um misto de alegria e de saudade, o nome de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, primeiro Arcebispo de Uberaba, falecido em fevereiro de 2002, depois de viver uma longa e abençoada existência de 96 anos, servindo a Deus, ao Evangelho, à Igreja Católica, ao povo de Deus, ao Brasil e às abençoadas terras de Minas Gerais, especialmente do meu querido Triângulo Mineiro.

Mas, ao relembrar Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, não poderíamos deixar de registrar que S. Exª nascera na longínqua quadra de 12 de junho de 1906, em Carmo da Mata, no oeste mineiro, filho do casal Benjamim Gonçalves e Maria Cândida do Amaral. Seus estudos foram feitos inicialmente no Grupo Escolar Bernardo Monteiro, em Belo Horizonte. Ingressou no Seminário Nossa Senhora da Boa Morte de Mariana, nas proximidades da capital mineira, para cursar o ginásio e o colégio. Estudou filosofia no Seminário Coração Eucarístico de Belo Horizonte. Neste mesmo Ateneu Eclesiástico formou-se em Teologia. A Ordenação Presbiteral foi conferida pelas mãos de Dom Antônio dos Santos Cabral, em 22 de setembro de 1929, em Belo Horizonte. Como padre exerceu os seguintes ministérios: Professor do Seminário Coração Eucarístico de Belo Horizonte; Pároco da Paróquia de São José do Calafate, na mesma capital mineira; Diretor Espiritual do Seminário Coração Eucarístico e, posteriormente, Reitor da mesma Casa de Formação. Entretanto, a função eclesiástica que mais demonstrou a competência intelectual de Dom Alexandre foi a de Assistente da Ação Católica de Belo Horizonte.

Sr. Presidente, com apenas 33 anos, Monsenhor Alexandre foi nomeado Bispo da Diocese de Uberaba, no Triângulo Mineiro, em 5 de agosto de 1939. Solenemente consagrado em 30 de outubro do mesmo ano, ato contínuo tomou posse como quarto Bispo Diocesano de Uberaba.

No seu pastoreio como Bispo Diocesano de Uberaba foi inexcedível em zelo apostólico e em edificação da comunidade de fiéis. Afinal, em tempos em que muitos se autodenominam Bispos de várias seitas - sem mesmo terem recebido a ordenação presbiteral e a consagração episcopal, que na Santa Igreja Católica é feita de geração em geração, pela sucessão apostólica, retomando aos Apóstolos Pedro e Paulo, única Igreja constituída por Nosso Senhor Jesus Cristo ao afirmar que “Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja” -, Dom Alexandre foi considerado, desde jovem, o Bispo Intelectual, o Bispo Orador, o Bispo Catequista, o Bispo Jornalista, o Bispo Acadêmico.

Sr. Presidente, das cinco virtudes enumeradas da personalidade de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, seria imperioso começar analisando a sua veia de intelectualidade. Homem de estudo continuado, diariamente, depois de suas obrigações pastorais e administrativas, passava horas a fio, dentro de seu gabinete no Palácio São Luís, retomando os clássicos da filosofia, da teologia, especialmente da moral católica e da bioética, preparando-se, assim, para que, no conhecimento das mais elevadas matérias do pensamento humano, fosse encaminhando seu trabalho em benefício de esclarecer o povo de Deus das heresias que grassavam aqui e acolá no Triângulo Mineiro, dissipando o erro e anunciando a única verdade que reside em Jesus Cristo.

Nesse sentido, o Bispo Orador, que foi Dom Alexandre, foi a marca registrada de uma ação pastoral que encantava todos aqueles que acorriam ao encontro de seu Bispo Diocesano que, do púlpito ou da tribuna, era considerado um novo João Crisóstomo, ou mesmo um Santo Thomas, ou, ainda, um Santo Agostinho, pela agilidade de pensamento, pela clareza da exposição das idéias e, acima de tudo, pelo convencimento fácil que sua oratória fascinava a todos quantos tinham o privilégio de ouvir o maior de todos os oradores que passaram pelas terras do Triângulo, nas palavras de Monsenhor Juvenal Arduini, padre de seu Presbitério.

Como Bispo Catequista, Dom Alexandre percorreu por mais de 40 anos, tempo de seu ofício de Bispo e Arcebispo de Uberaba, a imensa região de sua Arquidiocese, que correspondia naquele tempo às cidades de Uberaba, Uberlândia, Patos de Minas e Ituiutaba, com todas as suas cidades ao entorno. A cavalo, a pé, de trem ou de automóvel, lá estava Dom Alexandre, impecavelmente vestido com a sua veste talar, o seu solidéu, o seu anel de Pastor e a sua cruz pastoral, anunciando a palavra de Deus, distribuindo os sacramentos, empreendendo as visitas pastorais, administrando a Crisma, erigindo paróquias, criando Dioceses, visitando vilarejos, proferindo conferências, em atividades multiformes que bem demonstram que, de todas as suas qualidades, a que mais se destacou perante o povo do Triângulo Mineiro foi o seu apegado cunho de catequista e de garimpeiro das verdades evangélicas.

Dom Alexandre foi um grande jornalista. Fundou e manteve por quarenta anos o jornal intitulado Correio Católico de Uberaba, onde publicava seus artigos, suas diretrizes pastorais e suas cartas pastorais. Um pouco polemista, manteve debates contra todos aqueles que estavam plantando idéias errôneas no imaginário coletivo. Notabilizou-se por manter no interior um diário católico de proporções nacionais, tendo em vista que os artigos publicados pelo Arcebispo de Uberaba eram motivo de debates na grande imprensa dos centros capitais, bem como neste Parlamento.

Por fim, o acadêmico Dom Alexandre Gonçalves do Amaral era membro fundador da Academia Efetiva de Letras do Triângulo Mineiro. Uberaba é um centro cultural de primeira envergadura. Seu Arcebispo foi o maior intelectual daquelas paragens. A título de conhecimento, escreveu dois livros emblemáticos: Menor Abandonado e Vínculo Indissolúvel! Digno de nota foi a Oração Fúnebre feita por Dom Alexandre no sepultamento de outro grande mineiro, que foi o Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, Arcebispo de Aparecida.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em Minas Gerais há um grande semanário católico intitulado O Lutador. O seu redator, o acadêmico Padre Pachoal Rangel, assim se expressou sobre Dom Alexandre:

Foi um dos Bispos mais respeitados e atuantes do pré-concílio. Deu um apoio importante, mais que isso, fundamental, ao apostolado dos leigos na Ação Católica, num momento de valorização notável do laicato. Impulsionou o combatido Movimento Litúrgico, que vinha preparar a reforma litúrgica levada a efeito pelo futuro Concílio Vaticano II, mas que na era bem visto pelos padres e leigos mais tradicionalistas. Polêmico, mas esclarecido, inteligentíssimo, de uma memória prodigiosa, tinha sólida formação teológica, “especialmente baseada” em Santo Tomás de Aquino, cuja Suma Teológica corria a fama que ele sabia de cor e salteado.”

O Sr. Hélio Costa (PMDB - MG) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG) - Pois não, Senador Hélio Costa, ouço o aparte de V. Exª.

O Sr. Hélio Costa (PMDB - MG) - Nobre Senador Aelton Freitas, é uma honra cumprimentá-lo por esta homenagem que presta a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, primeiro Arcebispo da nossa Uberaba. Eu, como cidadão-honorário de Uberlândia, amigo de Uberaba e triangulino de coração, não poderia deixar de manifestar o meu apreço a V. Exª por esta iniciativa, principalmente porque estão aqui conosco, ouvindo as suas palavras, Dom Aloísio Roque, Arcebispo de Uberaba, e Dom João Bosco, de Patos de Minas. Para nós é muito honroso, no Senado da República, lembrarmos, neste momento, a memória desse cidadão exemplar, desse pastor de almas, que teve a sua vida inteira dedicada à causa pastoral, servindo a Deus e ao Brasil, como bem disse V. Exª. Pela sua dedicação aos mais necessitados, as suas participações no dia-a-dia de todos aqueles que tinham problemas, principalmente os carentes, faço minhas também as palavras do nosso Ministro Anderson Adauto, dos Transportes, com quem agora há pouco falava ao telefone. Sabendo da homenagem que V. Exª presta a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, S. Exª pediu-me que lhe transmitisse congratulações pela sua iniciativa. Ao mesmo tempo, homenageio o ilustre jornalista que foi Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que manteve durante tantos anos, conforme disse V. Exª, Senador Aelton Freitas, o Correio Católico de Uberaba, mostrando a orientação da Igreja Católica nas suas linhas, na sua pena capaz, competente e ilustrada. Por isso, meus parabéns a V. Exª pela justa homenagem que presta a um mineiro tão destacado, que tanto fez por Uberaba, pelo Triângulo, por Minas e pelo Brasil! Muito obrigado a V. Exª pelo aparte.

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG) - Muito obrigado, Senador Hélio Costa.

O Sr. Rodolpho Tourinho (PFL - BA) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG) - Ouço V. Exª com muito prazer, Senador Rodolpho Tourinho.

O Sr. Rodolpho Tourinho (PFL - BA) - Em meu nome e em nome do meu Estado, associo-me a V. Exª em relação ao que disse em seu pronunciamento e lembro que Minas Gerais, além de toda sua união ao nosso Estado, legou ao povo baiano o Cardeal Lucas Moreira Neves, ordenado em 1950 na França pela imposição das mãos de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral. Dom Lucas foi realmente uma figura extraordinária na Bahia. Que a vocação da Igreja de colaborar com a edificação de um Brasil menos excludente, mais justo, passe pela valorização de grandes nomes, como os de Dom Alexandre e Dom Lucas Moreira Neves.

O SR. AELTON FREITAS (Bloco/PL - MG) - Muito obrigado, nobre Senador.

Esse era Dom Alexandre, que, a 14 de abril de 1962, tempo em que era Núncio Apostólico no Brasil Dom Armando Lombardi, foi promovido de Bispo de Uberaba para primeiro Arcebispo Metropolitano de Uberaba, com a criação das dioceses de Patos de Minas, a 5 de abril de 1955, e de Uberlândia, a 22 de julho de 1961. Foi o mesmo Dom Alexandre quem preparou a criação da Diocese de Ituiutaba em 16 de outubro de 1982, instalada em 21 de abril de 1983, com a sagração e posse de seu primeiro Bispo, Dom Aloísio Roque Oppermann, sucessor e hoje terceiro Arcebispo Metropolitano da nossa querida Uberaba, que nos honra com a sua presença, o seu carisma e a sua dinâmica pastoral, em sintonia com as diretrizes da ação evangelizadora do nosso Brasil, fazendo de Uberaba um celeiro de vocações. Dom Alexandre renunciou ao ofício de Arcebispo Metropolitano de Uberaba em 14 de julho de 1978, retirando-se para o silêncio da Residência Episcopal, situada na Rua Episcopal, onde estava sempre disponível para tantos quantos o procuravam para beber dele a riqueza de seu ministério presbiterial e episcopal.

Dom Alexandre, Sr. Presidente, faleceu em 5 de fevereiro de 2002, há pouco mais de um ano, e espera a ressurreição final sepultado na cripta do presbitério da Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Dom Alexandre foi, nas palavras de Dom João Bosco Oliver de Faria, Bispo de Patos de Minas, que aqui nos honra muito com sua presença, o respeitado teólogo, o bravo pastor, o polemista temido, o sacerdote reto e corajoso, o defensor de seus padres, o orador e pregador de retiros espirituais, o Bispo que deu ao movimento litúrgico e à presença dos leigos na Santa Igreja Católica robusta cobertura teológica. Agora, Dom Alexandre está junto de Deus.

Como Senador de Minas Gerais, a filha predileta da Santa Igreja Católica no Brasil, reverencio neste momento, para que seja perpetuada para toda a história dos Anais desta Câmara Alta, a memória do maior de todos os bispos mineiros: DOM ALEXANDRE GONÇALVES DO AMARAL - o padre reto e o Bispo santo, que é paradigma para uma Igreja que balança contra toda a esperança humana e combate todos aqueles que fazem da religião uma loja de venda do mercado da fé, pois a Igreja Católica é a certeza e a honra das maiores tradições mineiras.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/04/2003 - Página 5780