Discurso durante a 33ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela Campanha da "Fraternidade e Pessoas Idosas: Vida, dignidade e esperança".

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Homenagem à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela Campanha da "Fraternidade e Pessoas Idosas: Vida, dignidade e esperança".
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2003 - Página 6274
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), CAMPANHA DA FRATERNIDADE, DEBATE, SITUAÇÃO, IDOSO, ELOGIO, ATUAÇÃO, IGREJA CATOLICA, BRASIL, OPÇÃO, APOIO, POPULAÇÃO CARENTE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, IMPORTANCIA, MOBILIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, senhores representantes da CNBB, Srªs e Srs. Senadores, hoje é uma data importante para o Senado Federal. Todos somos admiradores da CNBB, independentemente de sermos católicos ou não. Essa entidade tem uma atuação tão positiva, tão concreta, com tantos serviços inestimáveis prestados à história deste País, que não há como analisar a história brasileira sem identificá-la com os trabalhos da CNBB. Tem sido uma luta bonita, magnífica e, às vezes, difícil, incompreensível, com os próprios católicos divergindo, perguntando-se onde está a verdade e se é esse verdadeiramente o caminho.

Na época em que eu era criança, em Caxias do Sul, é verdade que não havia pobreza, miséria, fome, mas o nosso padre, o nosso vigário, o nosso Bispo, Dom José Barea, eram identificados com o contexto da sociedade. As pessoas pobres, humildes não tinham uma identificação com a Igreja. O País cresceu, a miséria veio e, de repente, a Igreja tomou uma posição corajosa de buscar a identificação também com os humildes, abrindo as portas para uma imensidão de pessoas que viviam à margem da sociedade. E fez isso arrostando grandes perigos, pois foi à época do regime militar.

Cito sempre dois nomes que em mim provocam profunda emoção: Dom Hélder Câmara, pelo trabalho que fez, a vida que realizou numa hora tão dura para ele; e a figura de Dom Evaristo Arns, criando as comunidades de base. Tivemos no Rio Grande do Sul a figura de Dom Ivo Lorscheiter e de seu irmão Dom Aloísio.

A CNBB tem uma história profundamente identificada com o social do nosso País. E a Campanha da Fraternidade tem a grandeza de nos alertar, a cada ano, para um tema da maior importância, do maior significado. A Quaresma é isto: um período de 40 dias durante os quais somos chamados a meditar. Alguns jejuam, outros cortam algumas coisas supérfluas, mas a Igreja tem nos levado a meditar nesses 40 dias, a meditar sobre temas os mais variados, os mais importantes e os mais significativos, como a questão do índio, do preso, do menor, do velho. E cobra de cada um de nós o que fazemos, nossa atuação, nossa colaboração, nossa presença diante de cada um desses temas.

Hoje a Igreja se dirigiu a nós, Presidente José Sarney, a V. Exª, a mim, ao Senador Antonio Carlos Magalhães, a nós, os velhos, que temos mais de setenta anos.

O Líder Arthur Virgílio saiu daqui debochando da gente, dizendo que ele, um jovem de 48 anos, um menino, já se perguntava como se sentia um velho de 48 anos. E alguns de nós já passamos dos 70 anos. Temos aqui o Presidente José Sarney, firme, tranqüilo, que, se deixarmos, volta à Presidência, com a mesma disposição e garra. Está aqui o nosso Cardeal, com a sua firmeza, que, se não houvesse essa obrigação de sair aos 75 anos, ficaria até os 90 anos, brilhando na nossa Igreja. Mas essa campanha de valorização do idoso tem um sentido mais profundo do que podemos imaginar.

Nunca me esqueço de quando estive na China. Eu era jovem e como me chocou ao ver a veneração que os chineses têm pelos mais velhos. Na China, ser velho é quase ser sábio. Pode ser alguém importante, pode ser nas grandes corporações, onde quer que seja todos se referem aos velhos com reverência.

No Brasil, ainda bem que a sociedade se preocupa com o jovem, com a criança, porque, infelizmente, o velho é carta fora do baralho.

Não há dúvida de que essa campanha a favor dos idosos, que divulga o respeito e a compreensão que merecem, tem um significado profundo.

Quando fui Governador do Rio Grande do Sul, verifiquei que, nos asilos do Estado, havia inúmeros idosos abandonados pela família. Embora tivesse bens e até condições de viver com o que ganhava, algum familiar conseguia uma procuração do idoso, colocava-o no asilo e nunca mais o procurava, nem tomava conhecimento de sua existência.

Estamos vendo o Papa, esse idoso jovem que, na minha opinião, é a figura deste século, que está dando uma demonstração fantástica de grandeza, de pureza, um exemplo. Alguns cardeais, a exemplo do que disse meu amigo Arthur Virgílio, devem estar discutindo se já não é hora de Sua Santidade descansar, de afastar-se e gozar de uma justa aposentadoria. No entanto, o Papa está dando um exemplo da maior grandeza e beleza no momento presente.

Conta-se que, no meio da Segunda Guerra, quando Stalin, Churchil e Truman, iriam se reunir em Alta, sugeriram convidar o Papa a participar da reunião, o Stalin perguntou quantas divisões tinha o Papa.

Na verdade, força não tem nenhuma. Contudo, hoje, no momento mais dramático por que já passou a ONU, a exemplo do que houve com a Liga das Nações, com a insegurança sobre a continuidade ou não da sua existência, nesta hora em que já se debate sobre os despojos, em que o americano, como senhor absoluto, diz que haverá os vice-reis do sul, do norte e do centro, o Papa, com sua voz - e nunca o vi tão candente, está mais forte e firme, com as mãos menos trêmulas; parece que melhorou -, tem sido a consciência da humanidade, pregando e cobrando daqueles que não têm a coragem de fazer aquilo que poderiam e deveriam. O Papa está rezando pelas vítimas da guerra, defendendo o respeito às garantias internacionais e pregando o respeito que devemos a toda criatura humana.

Essa Campanha da Fraternidade coincide com a Quaresma e termina logo ali, no Domingo de Páscoa, quando voltaremos ao nosso dia-a-dia, tendo que conviver com o mundo do pós-guerra, que, cá entre nós, é ridículo ser chamada de guerra. Dizer que houve uma guerra entre os Estados Unidos e o Iraque é uma piada. Houve um massacre, onde uma nação que detinha tudo usou e abusou de outra. Claro que ninguém defende Saddam Hussein, que é um sanguinário. Mas não era essa a fórmula!

Falo isso porque faço referência à CNBB e ao Papa. Falo isso porque falo naquilo que é por que a humanidade toda está a chorar no dia de hoje. Mas falo isso para dizer, meus prezados amigos, dirigentes da CNBB, que temos muito orgulho dessa entidade. Temos muito orgulho da CNBB. Temos muito orgulho das campanhas da fraternidade. É algo que veio e veio para ficar. As campanhas da fraternidade tocam na nossa sensibilidade e fazem com que paremos, reflitamos e analisemos. O problema existe? Existe. O que fiz até agora para ajudar a resolver? Qual é a minha cota-parte? Qual é a minha participação? O que fiz para esse problema diminuir?

Trago um abraço muito carinhoso. Em primeiro lugar, agradeço à CNBB, em nome dos velhos que representamos; em segundo lugar, agradeço ao Senado por esta importante reunião, singela, simples, numa segunda-feira, mas que, na profundidade do seu sentimento, faz com que o Brasil se sinta aqui representado pela força daqueles que, de uma maneira ou de outra, conseguiram chegar a essa idade, com cada um contribuindo com a sua parte.

Muito obrigado, Sr. Presidente!

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2003 - Página 6274