O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao final da manhã de hoje, participei de uma audiência com o Núncio Apostólico Dom Lorenzo Baldisseri, ocasião em que lhe entreguei cópia de requerimento já aprovado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, com o parecer favorável do Senador Tasso Jereissati, do PSDB do Ceará, assinado por mim e por mais de dez Senadores. No requerimento, conclamamos Sua Santidade, o Papa João Paulo II, a reunir as principais lideranças religiosas do mundo, se possível em Bagdá, se não, em Washington ou Londres, a fim de tentar persuadir os governos das nações envolvidas nesse bárbaro conflito a encontrarem um caminho de paz.

Dom Lorenzo Baldisseri considerou a proposta muito importante. Segundo suas palavras, trata-se de iniciativa que poderá ser vista com seriedade pelo Papa João Paulo II, primeiramente porque o Papa tem muita vontade de visitar o Iraque. Durante o Jubileu do Ano Santo, Sua Santidade pensou em iniciar sua visita justamente pela cidade de Ur, onde Abraão nasceu e iniciou sua trajetória, mas não pôde. O Papa foi ao Monte Sinai e em diversos lugares da Terra Santa naquele ano, mas não pôde ir ao Iraque, apesar de ter expressado uma vontade muito grande nesse sentido. Em segundo lugar, Dom Lorenzo ressaltou os esforços do Papa João Paulo II em promover a paz. Nos dias que antecederam o conflito, por exemplo, iniciado em 20 de março último, o Papa enviou os cardeais da maior importância e experiência para conversar com o Presidente Primeiro Ministro Saddam Houssein, no Iraque; com Tony Blair, no Reino Unido; com George W. Bush, nos Estados Unidos. Para este último país, enviou também o ex-núncio apostólico que lá havia exercido suas funções durante o tempo do Presidente George Bush, o pai. Ademais, nas vésperas do eclodir da guerra, Sua Santidade recebeu o Vice-Primeiro Ministro Tariq Aziz, o Presidente Aznar, da Espanha, e diversos outros chefes de Estado, preocupados com a eclosão da guerra.

            Dom Lorenzo mencionou também que João Paulo II, por duas vezes, reuniu os principais líderes religiosos na cidade de Assis. A primeira vez foi em 1987; a segunda, no ano de 2000. Portanto, a idéia de reunir os líderes religiosos para promover a paz seria muito consistente com a proposição, com o esforço de estancar essa guerra que não faz sentido algum.

Inclusive fui conversar com o Núncio Apostólico em companhia do professor Mahir Saleh Hussein - nascido no Iraque, professor da Universidade de São Paulo há 31 anos, formado nos Estados Unidos, pós-graduado no Massachusetts Institute of Technology e com doutoramento em física. Ele inúmeras vezes tem ido aos Estados Unidos, pois tem um filho norte-americano e uma filha brasileira. Ele tem duas irmãs vivendo em Bagdá e diversos primos. Hoje tentamos falar com sua irmã, em Bagdá, e simplesmente a telefonista, em inglês, informou que “ligações telefônicas não são permitidas para esse país”. Até duas semanas atrás, ou logo antes do eclodir da guerra, ele havia conseguido falar com sua irmã normalmente, agora não pode mais, pois as ligações telefônicas estão interrompidas.

O professor Mahir Saleh Hussein inclusive informou que, entre os principais líderes religiosos, estão o líder máximo dos muçulmanos shiitas, o Sr. Muhammad Hussein Fadhel-Alla, que vive no Líbano; o líder máximo dos mulçumanos sunitas, o Grand Iman do Azhar, Dr. Muhammad Sayid Tatawy, que vive no Cairo, Egito. Outros líderes importantes que poderiam reunir-se seriam, por exemplo, o líder da Igreja Anglicana, Reverendo Rowan Willians, Arcebispo de Canterbury, Inglaterra; o líder dos Ortodoxos Cristãos da Constantinopla, His Holiness Bartholomew, Arcebispo de Constantinopla; e, claro, entre esses nomes estaria o Dalai Lama e outros, inclusive as principais lideranças religiosas evangélicas, protestantes, que, nos Estados Unidos da América, têm dialogado com o Presidente George Walker Bush.

Eu havia informado ao Núncio Apostólico que esse requerimento seria votado na tarde de hoje. Acreditava que seria aprovado por unanimidade pelas Srªs e Srs. Senadores. Entretanto, em virtude do trancamento da pauta por não termos examinado e votado todas as medidas provisórias, não pudemos ainda votar esses requerimentos, por questões de nosso Regimento. Espero que amanhã haja o entendimento devido para votarmos as medidas provisórias e, assim, como está na pauta, acredito que poderão ser votados esses requerimentos.

Mas, de qualquer maneira, como o requerimento já foi aprovado pela Comissão de Relações Exteriores por unanimidade, avaliei que já poderia encaminhá-lo, pois, provavelmente, quase que certamente, ele será aprovado por unanimidade pelo Plenário, para que seja encaminhado ao Núncio Apostólico, que me agradeceu pela visita.

Muito obrigado, Sr. Presidente.