Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Transcurso do centenário de nascimento do Cardeal Dom Vicente Scherer, líder religioso do Rio Grande do Sul, ocorrido no último dia 5 de fevereiro.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcurso do centenário de nascimento do Cardeal Dom Vicente Scherer, líder religioso do Rio Grande do Sul, ocorrido no último dia 5 de fevereiro.
Publicação
Publicação no DSF de 09/04/2003 - Página 6606
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, VICENTE SCHERER, CARDEAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, AUTORIDADE RELIGIOSA.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recentemente, uma importante rede de comunicação social do Rio Grande do Sul estimulou os gaúchos a escolherem, em uma eleição, os mais destacados vultos da história do nosso Estado. Foram espalhadas 360 urnas pelo Estado e mais de um milhão e 700 mil pessoas participaram da promoção.

Entre os vinte mais destacados cidadãos do Rio Grande do Sul, encontravam-se dois religiosos: o cardeal Dom Vicente Scherer, que esteve por trinta e quatro anos à frente da Arquidiocese de Porto Alegre, e o padre Roberto Landell de Moura.

O Padre Landell de Moura foi votado principalmente em função do trabalho científico que desenvolveu ao longo de sua vida nas áreas de telegrafia e telefonia.

Já o cardeal Dom Vicente Scherer foi votado principalmente pelo seu fantástico trabalho evangélico, cuja importância - seis anos depois de sua morte - ainda não pode ser totalmente avaliada.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou aqui, hoje, para falar justamente de Dom Vicente Scherer, o mais destacado líder religioso do nosso Rio Grande do Sul, cujo centenário de nascimento transcorreu no último dia 5 de fevereiro.

Ao longo de seus 93 anos de vida, Dom Vicente ordenou 491 sacerdotes, criou 105 paróquias e transformou a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - que estava em situação pré-falimentar - num dos mais modernos e eficientes hospitais brasileiros.

Segundo o jornal Zero Hora, quando o testamento de dom Vicente Scherer foi aberto, em 1996, os gaúchos descobriram que o cardeal “não deixara mais bens materiais do que alguns livros, uma velha máquina de escrever portátil e meia dúzia de móveis”.

Se não deixou bens, Dom Vicente construiu - ao longo de seu episcopado - muitas casas para famílias carentes de Porto Alegre, ao mesmo tempo em que levava conforto espiritual a um número incalculável de fiéis.

Vicente Scherer, o único cardeal que o Rio Grande do Sul já teve, foi o mais novo de doze irmãos de uma família de agricultores, de origem alemã, do município de Bom Princípio. Segundo antigos moradores daquela região, a família Scherer, aos domingos, tinha de acordar às cinco horas para percorrer oito quilômetros até o templo, onde eram os primeiros a chegar e os últimos a sair da missa.

O menino Alfredo Vicente Scherer ingressou no seminário aos 11 anos. Ordenou-se em abril de 1926. Depois de formado, em Roma, retornou ao Estado. Em junho de 1946, foi escolhido secretário do então arcebispo de Porto Alegre, dom João Becker. Seis meses depois, em dezembro daquele mesmo ano, foi indicado arcebispo da capital gaúcha. Em 28 de abril de 1969, tornou-se cardeal. Aposentou-se em 1981, aos 78 anos.

Em 1982, assumiu a provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, que estava em situação caótica, ameaçada de falência. Mesmo achando que seria muito difícil reverter aquela situação, dom Vicente empenhou-se em salvar aquele hospital. Conseguiu apoio do governo do Estado para levar adiante uma profunda reforma administrativa. Hoje, graças em grande parte à gestão de dom Vicente, a Santa Casa de Misericórdia é um hospital modelar. Há cerca de um ano inaugurou o primeiro centro especializado em transplantes da América Latina.

Em novembro do ano passado, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - um complexo formado por sete hospitais, que tem 70 por cento de seus trabalhos voltados para o atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde(SUS) - foi o primeiro hospital a receber o Prêmio Nacional de Qualidade de 2002. 

Homem sereno, mas de posições firmes na defesa da fé católica, que atuou durante anos de intensa efervescência política, Dom Vicente era um intelectual reconhecido. Falava fluentemente alemão, francês, italiano e latim.

Dom Vicente foi sempre alinhado entre os integrantes da chamada ala conservadora do clero. Via com desconfiança a participação de sacerdotes em atividades políticas e manifestava-se contra as inclinações marxistas das comunidades eclesiais de base.

Em reportagem que dedicou a Dom Vicente, no dia 5 de fevereiro, pelo transcurso do seu centenário de nascimento, o jornal Zero Hora diz que o cardeal gaúcho conquistou a admiração dos papas:

Pio XII qualificou-o de “sábio e douto”. Paulo VI dirigiu-se a ele como “venerável irmão”. O bispo dom Antônio Cheuiche conta que, ao visitar o Vaticano depois da morte de Scherer, lamentou a perda diante de João Paulo II. “Todos os dias eu rezo ao cardeal Scherer”, respondeu-lhe o Papa.

Já em artigo publicado no Jornal do Brasil, de 22 de março de 2003, intitulado “Dom Scherer, um ponto de referência”, diz o cardeal Dom Eugênio Salles: “Mais do que nunca, quando a sociedade é atingida pela decomposição moral, violências, crime organizado, corrupção administrativa e insegurança, faz-se mister recordar figuras que viveram com honradez, na fidelidade a Deus e à pátria. Enquanto, por todos os meios, provoca-se a exaltação do mal, uma reação se impõe: chamar a atenção do público para o fato de nem tudo ser negativo. Refiro-me à abertura, em Porto Alegre, do Ano Centenário do Nascimento do Cardeal Vicente Scherer, por muitos anos arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre e falecido em 8 de março de 1996”.

Mais adiante, diz, ainda, o cardeal Eugênio Salles: “Toda a vida do cardeal arcebispo de Porto Alegre foi um exemplo admirável. Nem sempre compreendido em suas posições relativas ao regime militar, agiu sempre com coerência, deixando em segundo plano o juízo que dele poderiam fazer. No cristão fiel há uma profunda harmonia entre corpo e alma, comportamento social e responsabilidade no mundo. Ela está expressa em São Paulo: ‘Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito’. Dom Scherer seguiu fielmente essas diretrizes do apóstolo”.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/04/2003 - Página 6606