Pronunciamento de Ana Júlia Carepa em 23/04/2003
Discurso durante a 43ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Obstáculos que vêm enfrentando a indústria da madeira tropical, serrada e compensada, com perda de competitividade no mercado mundial e prejuízos para a economia do Pará, maior produtor dessas espécies.
- Autor
- Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
- Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA INDUSTRIAL.:
- Obstáculos que vêm enfrentando a indústria da madeira tropical, serrada e compensada, com perda de competitividade no mercado mundial e prejuízos para a economia do Pará, maior produtor dessas espécies.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/04/2003 - Página 8523
- Assunto
- Outros > POLITICA INDUSTRIAL.
- Indexação
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- COMENTARIO, DIFICULDADE, SITUAÇÃO, INDUSTRIA, MADEIRA, ESTADO DO PARA (PA), AUMENTO, CUSTO, EXTRAÇÃO, AUSENCIA, PRODUTO FLORESTAL, PROXIMIDADE, SERRARIA, EFEITO, DESMATAMENTO, FALENCIA, EMPRESA, CRESCIMENTO, JUROS, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, CONCORRENCIA, PRODUTO NACIONAL, MERCADO EXTERNO.
- CRITICA, AUSENCIA, INVESTIMENTO, INDUSTRIA, MADEIRA, COMPARAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO, PAPEL, CELULOSE, NECESSIDADE, INCENTIVO, PESQUISA CIENTIFICA, MODERNIZAÇÃO, TECNOLOGIA, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REFLORESTAMENTO, REDUÇÃO, IMPACTO AMBIENTAL, RECUPERAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, EXTRAÇÃO, PRODUTO FLORESTAL, BENEFICIO, ECONOMIA NACIONAL, MEIO AMBIENTE.
A SRª ANA JULIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, público que nos ouve, hoje gostaria de me reportar às razões e aos obstáculos que vem enfrentando a industria da madeira tropical, serrada e compensada, fazendo com que perca gradativamente competitividade no mercado mundial, pintando um cenário preocupante para nossa economia, principalmente no Pará, o maior produtor dessas espécies.
Corremos o risco de ver acontecer, no setor madeireiro da Amazônia, o que ocorreu com a borracha nativa de nossa região, que perdeu mercado para a borracha plantada na Ásia, principalmente na Malásia, o que provocou o fim da sociedade próspera baseada na extração daquele produto, seguindo-se um período de crise econômica e social que nos assola desde os anos 20 do século passado.
Avizinha-se o momento, no contexto internacional, em que será inútil termos a Floresta Amazônica como recurso para a indústria da extração da madeira tropical, porque ela terá mercado reduzido. É preciso perceber as mudanças na base produtiva do setor madeireiro para enfrentar esse desafio.
O desenvolvimento da indústria madeireira no Pará teve um grande desenvolvimento em função do esgotamento das reservas madeireiras naturais na Mata Atlântica do Sudeste e dos pinheirais do Sul, o que provocou o deslocamento de madeireiros para a Amazônia, facilitada pela abertura de estradas, principalmente a Belém-Brasília. Nesse processo, uma parte do setor madeireiro do Sudeste e do Sul separou-se e foi investir na indústria de celulose e papel.
Enquanto o estabelecimento de plantações e a pesquisa aplicada sobre melhoramento genético do eucalipto foram fortemente subsidiadas nos anos 70 e 80, a pesquisa sobre métodos de manejo da floresta tropical e o reflorestamento com espécies nativas nunca receberam apoio significativo; enquanto o aumento da capacidade da indústria de celulose e papel foi estimulado pelo Estado entre 1971 e 1995 por meio de créditos subsidiados e condicionados ao aumento de escala por empresa, programas similares nunca foram desenvolvidos para a indústria madeireira. Esta última tampouco pertence aos principais beneficiários dos incentivos geridos pela extinta SUDAM.
A indústria de celulose cresceu e a indústria de madeira perdeu competitividade. A indústria de celulose aumentou a produtividade e fez inovações tecnológicas na sua base produtiva. Uma dessas mudanças foi a obrigação de incluir o suprimento de matéria-prima no planejamento estratégico de produção. Como se vê, esses dois setores tiveram tratamento diferenciado dos governos nos anos 80 e 90 e, hoje, o setor madeireiro está atrás em produtividade, avanço tecnológico e importância na balança comercial brasileira.
Segundo dados de consultorias internacionais publicados amplamente, existe uma diminuição das taxas de madeira tropical no mercado consumidor mundial no setor de compensados, serrado e laminado. Em contrapartida, houve um rápido crescimento das exportações de celulose e papel. Além da substituição da madeira serrada e compensada tropical pelos novos painéis, há a substituição por outros materiais, como alumínio e o plástico. Esta tendência de queda do uso da madeira tropical foi incentivada, também, pelo aumento da área florestada na Europa e no hemisfério Sul.
A partir do Plano Real (1994), o setor madeireiro entra em crise no Estado do Pará, sofrendo os efeitos da política de juros altos, taxa de câmbio e estabilidade monetária. Nesse contexto, os empresários escolheram caminhos diferentes: uma parte fecha a empresa e muda de setor; outra parte desloca a serraria para áreas ainda pouco exploradas. Uma parte pequena decide investir em maquinaria nova e produtos mais elaborados e todos procuram aumentar as exportações. Mas o setor não faz grandes mudanças no padrão de produção. Continua a convicção de que a atividade madeireira é uma atividade transitória, o que impedia o surgimento de um padrão sustentável de uso dos recursos florestais e de gestão empresarial.
A derrubada foi mecanizada, mas foi mantido o sistema de aviamento da economia extrativa do século passado, o mesmo da extração da borracha adotada desde 1852 se mantém. Ou seja, os donos de serrarias pré financiaram os custos da extração e têm grande influência sobre o preço de venda da madeira em tora. Só há um respeito formal aos planos de manejo florestal apresentados ao Ibama. Há um atraso tecnológico no setor. Não há pesquisa para aumentar o número de espécies comerciais. O tamanho e a capacidade média das serrarias não sofreram mudanças. Na sua maioria, são serrarias que produzem cerca de 40% abaixo da capacidade máxima.
Há uma grande instabilidade das empresas do setor madeireiro. O período de vida média é de sete a dez anos e não há uma estratégia de longo prazo de crescimento da empresa, da abertura de novos mercados, de ampliação e diversificação da produção.
Há uma posição diferenciada por parte da AIMEX, que não consegue ainda ser uma instituição de serviços e de transmissão de conhecimentos para orientação de seus filiados para as exigências do mercado. A maioria dos empresários do setor quer somente assegurar o corte de mogno e impedir que o mogno seja colocado na lista vermelha do CITES (Convenção Internacional de Proteção de Espécies Ameaçadas). Não há uma relação de confiança entre os madeireiros para desenvolver atividade de cooperação, no transporte de madeira por exemplo. Não há um debate sobre a responsabilidade das empresas na crise do setor madeireiro.
Faltam recursos para pesquisa na área de engenharia florestal nos trópicos úmidos, resultado de décadas de financiamento preferencial para a pesquisa sobre eucalipto. Ao nosso ver, o problema central reside na competência tecnológico-administrativa limitada das empresas locais, no atraso da produtividade e na falta de mão-de-obra qualificada.
Além disso, os madeireiros mostram uma atitude passiva no que diz respeito à tecnologia do processamento. Só algumas empresas de compensados investiram na pesquisa sobre adesivos. O lucro das empresas madeireiras declinou entre outras dificuldades, o que nos leva a identificar três tipos de crise empresarial:
- Empresas especializadas na exploração do mogno tiveram aumentado os custos de extração e a não concessão de licença para novas extrações;
- Escassez de madeira no entorno das serrarias que produziam para o mercado interno; e
- Grandes empresas faliram após investir em maquinaria pesada para derrubada de madeira, devido ao aumento das taxas de juros reais em 1995.
A maioria dos empresários reduziu os custos por meio de demissões e não intensificaram a produção por meio de aumento do grau de processamento dos resíduos. Mas já há uma saída, apontada por setores da madeira em Paragominas. Uma empresa de compensados construiu um forno de alta temperatura para queimar os resíduos, acoplado a um gerador de energia. A mesma empresa investiu no reflorestamento, como na espécie de rápido crescimento e outras empresas que produzem madeiras serradas e compensados e estão no processo de adequação às normas para a certificação de manejo florestal sustentável. Este é o caminho.