Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO DE S.EXA. COM O AUMENTO DA VIOLENCIA E DA MISERIA NO PAIS.

Autor
Marcelo Crivella (PL - Partido Liberal/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • PREOCUPAÇÃO DE S.EXA. COM O AUMENTO DA VIOLENCIA E DA MISERIA NO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2003 - Página 9134
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, DECADENCIA, COSTUMES, ETICA, MORAL, SOCIEDADE, BRASIL, AUMENTO, VIOLENCIA, DESTRUIÇÃO, FAMILIA, INCOMPETENCIA, PODER PUBLICO, SOLUÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA, REDUÇÃO, MISERIA, NECESSIDADE, RECUPERAÇÃO, TRADIÇÃO, CRISTÃO, INFLUENCIA, CRENÇA RELIGIOSA, CONDUTA, POPULAÇÃO.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, PROGRAMA, ASSISTENCIA, POPULAÇÃO CARENTE, VITIMA, SECA, REGIÃO NORDESTE, DEFESA, BEM ESTAR SOCIAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 29/04/2003


 

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DISCURSO PRONUNCIADO PELO SR. SENADOR MARCELO CRIVELLA, NA SESSÃO DELIBERATIVA ORDINÁRIA DE 28-04-2003, QUE, RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO, PUBLICA-SE NA PRESENTE EDIÇÃO. *************************************************************************

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Srª. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez ocupo a tribuna desta Casa para falar de um assunto da mais alta relevância: a situação de decadência da sociedade brasileira. A decadência dos nossos costumes, da nossa tradição, da nossa religiosidade, dos princípios da nossa família, da educação dos nossos filhos, do que tem sido passado em nossa televisão, em nosso teatro, em nosso cinema, enfim, com o aumento da violência em nosso País.

O Brasil tem sido vítima da destruição, da desagregação familiar. Todo dia, quando abrimos os jornais, nos deparamos com crimes hediondos praticados no seio da família. Recentemente, vi uma estatística estarrecedora: 80% dos crimes de homicídio praticados no ano passado em nosso País foram cometidos por amigos e parentes. Apenas 20% foram fruto de assalto, seqüestro, latrocínio e coisas do tipo, de tal maneira que essa violência está intrínseca à nossa família e aos amigos. Por que tanta miséria, tanto sofrimento e desemprego? Por que essas coisas persistem e se agravam?

Parece que nós todos, na labuta diária, nos trabalhos parlamentares, o Governo, no seu esforço, com tantos ministros e assessores, não temos conseguido dar uma solução, quiçá minorar o ritmo, a marcha dessa progressão exponencial - não diria nem geométrica - da violência e da miséria no nosso País.

Podemos divergir das soluções. Alguns apontam a geração de emprego, o crescimento econômico. Outros falam em priorizar o combate à fome, em educação. Cada um de nós tem a solução para esse problema na sua visão, no seu coração, na sua alma. Mas certamente todos convergimos para a constatação de que há um afastamento de Deus, dos nossos princípios. Hoje, são poucos a citar a Bíblia, o Evangelho. São poucas as crianças que fazem uma oração antes das refeições ou que freqüentam uma igreja, independentemente de denominação.

Sem sombra de dúvida, o Brasil se ressente disso. No momento em que discutimos uma nova sociedade - estamos na implantação de um novo Governo -, vejo tantos sonhos, tantas esperanças, mas não sei se essas sementes plantadas darão bons frutos se não tivermos fé. Ela é a força maior, o entendimento de que a solução dos problemas muitas vezes não está só na álgebra, na solução de equações, mas no transcendental, na origem da vida, no espiritual, que motiva o homem acima de tudo. As maiores forças são do espírito, do coração. Não é o amor a base de tudo na vida? Não é a definição do próprio Deus? Se há uma definição de Deus, é esta: Deus é amor. É esse amor que constrói. E não vamos encontrá-lo fora dos nossos princípios, da nossa tradição religiosa, bíblica, cristã na sua essência.

Foi assim que esse discurso teórico passou à prática, Srª Presidente, numa experiência que tive a oportunidade de viver no sertão da Bahia, morando em Irecê, a capital do feijão, uma cidade típica do semi-árido brasileiro, com cerca de 60 mil pessoas, muitas das quais migrantes oriundos de outros Estados do Nordeste, que para lá se deslocaram numa época em que o feijão tinha um bom preço - chegou a ser vendido US$60 a saca. Mas, com os problemas da seca continuada, do El Niño, do ecossistema, da poluição, da agressão que o meio ambiente sofre por parte da humanidade, as secas têm sido mais prolongadas e mais repetitivas, de tal maneira que a antiga capital do feijão acabou sendo uma capital de problemas, porque muitas pessoas que para lá migraram, com a falta das colheitas e com o preço do produto em queda, acabaram se encontrando em situação difícil.

No final da década de 90, a Rede Record de televisão liderou campanha de assistência às vítimas da seca do sertão nordestino. Foram programas chamados de SOS Nordeste. Essas campanhas consistiram em ampla divulgação na grade de programação da televisão, convidando a população em geral a levar alimentos não perecíveis a milhares de postos de coletas, normalmente igrejas, centros comunitários, associações de moradores, espalhados em todo o território nacional. Voluntários se encarregaram de selecionar e separar as doações em cestas básicas, que foram distribuídas nos focos da miséria do sertão, naqueles povoados mais pobres, mais aflitos, mais sofridos.

Essas campanhas cumpriram dois objetivos principais: auxílio à população, evidentemente de cunho assistencialista, porque o momento o exigia; e conscientização das autoridades e da população em geral para os graves problemas do nosso Nordeste. É lógico que essa distribuição de alimentos é sempre uma medida de caráter emergencial, com benefícios muito temporários. Minora os efeitos da seca, mas não apresenta soluções às causas do problema.

Eu mesmo tive oportunidade de, da boléia de um caminhão, distribuir cestas, e aquelas filas não paravam. Lembro-me de que, no sertão de Pernambuco, ao final, já estávamos fazendo de uma cesta duas e de duas quatro para poder atender às pessoas, porque o sol ia se pondo e as filas iam aumentando, embora fiscalizássemos para que as pessoas não recebessem duas cestas. A miséria era tão grande, a pobreza era tão terrível, que tentávamos fazer, como se fosse uma multiplicação do peixe para atender a tantos problemas.

Em meio a essas localidades pobres do sertão do Nordeste, a microrregião de Irecê, com os seus povoados, apresentou quadros dramáticos de miséria, com intenso sofrimento de uma vasta população. Isso foi mostrado em dois programas intitulados Repórter Record, apresentados pelo jornalista Goulart de Andrade. Nesse programa, houve cenas marcantes que gostaria de ressaltar aqui no plenário do Senado. Uma delas retratava a família do Sr. Aélcio, um agricultor de pequenas posses, com uma pequena propriedade, que teve a promessa do Banco do Nordeste para obter um sistema de irrigação e um poço na sua roça de pinha. Essa roça de pinha estava sofrendo por causa da seca, cada vez produzindo menos, devido a pragas na plantação, enfim aos efeitos da seca. Fizeram-lhe uma promessa de um empréstimo de seis mil reais. Esse homem, esperançoso e confiando nessa promessa, acabou pegando um adiantamento com agiotas, ciganos que fazem esse papel no sertão, a juros de 10%. Passados seis meses, o empréstimo não se concretizou, e esse homem se suicidou. Ele se enforcou numa noite de domingo, desesperado, angustiado, sem saber o que fazer para pagar o agiota. Deixou uma carta dramática, que foi lida nesse programa do Goulart de Andrade. Ele deixou três filhos e a esposa. Foram momentos terríveis na vida de um brasileiro que lutou, migrou para Brasília, foi balconista, tentou estudar, plantou a sua roça, precisou de um poço, teve a promessa de um empréstimo, pegou um dinheiro com agiotas e acabou se enforcando. Amanhã, se Deus me permitir, vou mostrar, aqui no plenário, as imagens da carta, da mulher chorando e dos filhos.

Entretanto, terei o privilégio de mostrar também aquilo que pude presenciar naquela roça, porque essa campanha da Rede Record acabou se transformando num projeto, que criou uma fazenda, para onde vieram técnicos e engenheiros de Israel e do Nordeste. Pudemos colocar naquela roça um poço e alguns metros de mangueira para fazer irrigação.

Como disse, amanhã, se Deus me permitir, quero mostrar as duas fases dessa história: a família desesperada e também a colheita do ano passado, que foi de oitenta mil pinhas enormes, doces, extraordinárias. Aquela senhora sozinha, calçando galochas e usando chapelão, com um simples poço, que não custou mais de R$6 mil e alguns metros de mangueira, fez aquela terra florescer e já está vendendo no abençoado mercado de Salvador -- graças a Deus, Salvador é um lindo e grande centro consumidor - dessa sua produção. Segurando uma pinha, com lágrimas nos olhos, ela disse: “O Aélcio morreu por isso e hoje vivo disso.”

Transformar sonhos em realidade não é possível sem fé. A fé é sem dúvida a ignição, a chama maior, é aquilo que nos faz acreditar no que os livros, a matemática dizem ser impossível. E nós precisamos de fé. Quando não temos fé, agimos mal, quando preconizamos, por exemplo, a queda do mercado financeiro brasileiro, quando nossos técnicos do Banco Central disseram que precisávamos dar ajuda aos bancos, e emprestamos milhões, bilhões, fizemos um aporte aos bancos que iam quebrar, mais tarde, vimos que esses bancos não quebraram. E o Presidente do Banco Central saiu preso do Congresso, preso, porque não quis responder perguntas na Comissão. Mas, na verdade, ele tinha uma fé, negativa. Ele acreditava na catástrofe, no problema, na angústia. Os senhores vêem como a fé é importante, tanto a positiva como a negativa. E o que mais precisamos neste Brasil é de fé.

Uma senhora sozinha, contagiada pela esperança e pela fé, ainda que corroída pela saudade do marido, que partiu em razão de um suicídio, deixando uma carta tão triste, com os filhos, que deixaram a escola e começaram a beber por não aceitarem a morte do pai, essa mulher deu a volta por cima porque acreditou. E o milagre aconteceu.

A história da Dona Edna não é única. Eu fui morar em Irecê, em razão do Projeto Nordeste, da Fazenda Nova Canaã, e presenciei o mesmo acontecendo na vida da Dona Telma, da Dona Tânia e de tantas outras famílias que foram assentadas, mas que, antes, apareceram dizendo que queriam afogar seus filhos numa cacimba porque já não agüentavam mais a miséria, porque os pais tinham morrido na miséria ou porque não viam perspectivas. Quando vamos a um assentamento no sertão como o dessa fazenda em que morei e que hoje é uma cidade, o principal problema que encontramos não são os recursos para irrigar a terra, para conseguir a semente e o trator. Essa é a parte menos difícil. O principal problema é motivar as pessoas, fazê-las acreditar que é possível, é mudar a consciência, a rotina, trazer hábitos novos tanto de higiene quanto hábitos de fé, de oração, de leitura, de partilha do pão. Nenhum livro, nenhuma escola, nenhuma universidade, nada pode substituir a fé nesse aspecto.

            A mesma situação ocorre nos presídios. Atualmente, em qualquer presídio no Brasil, seja estadual ou federal, há um índice de reincidência de 85%. Nos presídios de segurança máxima, esse índice chega a 90%. Entre 1.000 detentos, 900 estão cumprindo a segunda, a terceira ou a quarta pena. Foram soltos e novamente presos porque cometeram, às vezes, a mesma delinqüência, o mesmo crime. O sistema penal, com sua punição e seu rigor, não recupera o homem; o índice de recuperados, no entanto, relaciona-se àqueles que aceitaram a fé.

Fato semelhante ocorre com as drogas. Em relação a esse vício, nem nós do Poder Legislativo, elaborando leis, nem o Governo, com seus programas, temos conseguido grandes resultados. O grande sucesso tem surgido nas igrejas, na catequese da Bíblia, na fé diária passada por cânticos, por reuniões, por vigílias, por jovens com violão nas praças, debaixo das árvores, distribuindo folhetos. Nós, como sociedade brasileira, não podemos ficar indiferentes nesse instante de tamanha calamidade e tragédia em que vemos filhos matando pais ou avós e lares destruídos. No Brasil, de cada dez casamentos que hoje se realizam, seis ou sete terminarão em divórcio nos próximos cinco anos.

A campanha do SOS Nordeste deu luz a essa fazenda de aproximadamente 450 hectares, localizada a 600 quilômetros de Salvador, na aprazível localidade de Irecê, precisamente no km 350 da Rodovia do Feijão.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Senador Marcelo Crivella, V. Exª me permite um aparte?

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Pois não, Senador.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - No momento em que V. Exª está na tribuna, tenho de dar um testemunho sobre esse assunto. Estive com V. Exª nesse local e ajudamos na medida do possível como Governo da Bahia. V. Exª realiza um trabalho notável que o Brasil deveria conhecer melhor para que pudesse ser reproduzido em toda parte. Assim acredito que teríamos êxito, inclusive no Programa Fome Zero. O trabalho que V. Exª vem realizando na Bahia deve ser mais bem conhecido em todo o País, graças ao espírito público de V. Exª e à sua fé em acreditar que o projeto seria possível enquanto nós mesmos e outros não acreditávamos.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Muito obrigado.

Senador Antonio Carlos Magalhães, se V. Exª permitir, farei apenas uma pequena correção. V. Exª disse que o projeto é meu, mas ele é nosso, é de V. Exª, é do Senador César Borges, que sempre me acolheu e me orientou com tanto amor, e do povo da Bahia. De mim mesmo não provieram os recursos para o projeto; como sabe V. Exª, foram obtidos com a venda de CD’s, comprados por tantas pessoas que colocaram no sertão uma gotinha e acabaram irrigando os hectares onde hoje se produzem mais do que alimentos: produzem-se frutas, tais como manga, fruta-de-conde, coco, goiaba, acerola. Tanta abundância produz esperança! São 540 crianças na escola. São muitas famílias, dezenas e dezenas de famílias assentadas que vivem bem, que freqüentam a escola, que tomam café juntas no mesmo refeitório, que freqüentam uma igreja, cada uma com seu credo, mas que lêem a Bíblia juntos. Há católicos, espíritas, evangélicos, aliás, esses são minoria lá. O padre também freqüenta a fazenda. As piscinas da fazenda, aos finais de semana, trazem vastas populações que vêm de quermesses, vêm de ônibus, de kombis. Enfim, é um centro comunitário em que a fé tem realmente feito milagres.

Se Deus me permitir e, volto a repetir, em busca de audiência, amanhã mostrarei esse trabalho do Projeto Nordeste em um filme rápido de quinze minutos. Nesse filme, atenho-me exatamente a essa diferença entre o antes e o depois na vida de uma pessoa, quando é absorvida pela fé. Fé é algo que falta, muitas vezes, nos nossos assentamentos, pelo menos nos que visitei no Nordeste. Há muitos assentamentos feitos pelo Governo anterior. No entanto, encontrei pessoas desesperançadas em casinhas cujos reservatórios d’água eram enchidos pelo Exército uma vez por mês, mas que não dava para higiene, era apenas para beber e para cozinhar. Essas pessoas não tinham uma liderança tecnológica, não tinham equipamentos para plantar e para se desenvolver e acabavam percorrendo um caminho em três etapas: na primeira, caçavam, buscavam calangos, lagartos, pássaros, na nossa tão fragilizada vegetação do Semi-Árido.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador Marcelo Crivella, V. Exª me concede um aparte?

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Pois não.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Senador Marcelo Crivella, V. Exª está fazendo uma dissertação muito interessante sobre o projeto que desenvolve no Nordeste, numa componente social muito elevada, e considerações sobre o quanto é importante agir sempre sob os impulsos da fé. Certa feita, São Paulo disse que ter fé possuir o que ainda se espera e contemplar realidades que ainda não se vêem. Realmente, a fé é algo que nos leva a refletir não somente sobre questões imanentes mas também sobre questões transcendentes. V. Exª busca a um só tempo realizar as duas coisas: a sua preocupação com as questões terrenas, com a melhoria da condição de vida do povo e com as questões transcendentes, que se expressam de forma muito evidente nessa sua profecia de fé cristã. Por isto quero cumprimentar V. Exª, pelo discurso, e fazer votos de que esse trabalho social de V. Exª prossiga e que possa trazer continuados frutos para a melhoria de condições de vida do povo, de modo especial das comunidades mais carentes que se encontram no Nordeste, em que os indicadores sociais ainda são adversos, sobretudo se cotejados com os do Sul e do Sudeste do País.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Muito obrigado, Senador Marco Maciel.

Ouço o Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PSDB - RR) - Senador Marcelo Crivella, pedi o aparte, em primeiro lugar, para aplaudir o discurso de V. Exª. É importante falar de fé, falar de Deus. É importante ter fé, mas, mais do que isso, é importante agir com fé para mudar a realidade. V. Exª abordou uma série de questões e fez uma afirmação que pode ter passado despercebida para alguns, mas que me tocou muito, pois acompanhei de perto. Refiro-me à afirmação de que o trabalho do grande controle social, da grande relação que impede um nível de escalada de violência muito maior no País, deve-se à atuação, principalmente, das igrejas evangélicas nas periferias das grandes cidades. Sou testemunha desse trabalho. Tenho uma relação muito próxima com os pastores em Boa Vista e acompanho o primordial trabalho realizado pelas igrejas, principalmente nas regiões mais pobres. Sem dúvida, as igrejas se tornaram um grande pólo indutor de paz, de esperança e de tentativa de transformação. É fundamental levar em conta, por exemplo, a atuação das igrejas evangélicas no Programa Fome Zero, já que não estão envolvidas com a política como muitos governos ou prefeituras trabalham. O pastor, a esposa do pastor, os obreiros, todos conhecem a realidade daquele bairro, daquela localidade. Com satisfação, dou esse testemunho para que fique registrado no discurso de V. Exª. Efetivamente, temos que mudar a realidade do Brasil, o que somente será possível com muita fé, muito trabalho e muita esperança.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Muito obrigado, Senador Romero Jucá.

Enquanto V. Exª falava, fiquei imaginando uma vasta comunidade desses evangélicos de periferia, dessas igrejas simples que prestam um serviço relevante, como disse V. Exª. Deve ter sido um grande incentivo e deve ter alegrado muito o coração desse povo. Muito obrigado.

Nós falávamos desses assentamentos. Eu me lembro de Jacaré-Curituba, um assentamento em Alagoas, na bacia dos rios Curituba e Jacaré, onde quase uma centena de famílias tinha essa rotina. Primeiro caçavam, quando a caça acabava, faziam carvão - queimavam a caatinga e vendiam o saco de carvão a R$1,00 -, depois, quando essa atividade escasseava, faziam os pedágios na estrada. O prefeito dessa cidade é um homem notável, Frei Beto. Ele dizia: “Crivella, eu quero ajudar. Eu quero me ombrear com o governo na tentativa de trazer essas pessoas e desenvolvê-las, mas um projeto pela metade é um problema tremendo. Veja, depois dos pedágios, o próximo passo será o saque aos nossos armazéns. Vamos perder os nossos comerciantes. A nossa miséria vai aumentar e emprego, que já é pouco, vai ficar mais difícil ainda.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Fazendo soar a campainha.) - Sr. Senador, a Presidência concederá a V. Exª mais dois minutos, para que conclua, porque há muitos inscritos.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL-RJ) - Eu concluirei, Srª Presidente.

            É muito importante que, nesse esforço de melhorar o País, possamos contar, pelos princípios cristãos que temos, com as forças religiosas deste País, e não faço distinção de nenhuma. É fundamental que, pela vivência que têm - eu tive oportunidade de viver, durante dois anos no sertão, e tantos outros fazem o mesmo trabalho -, como disse o Senador Romero Jucá, sejam ouvidos, passem a sua experiência e juntos, de mãos dadas, possamos construir o Brasil de nossos sonhos.

Quero agradecer a todos e deixar-lhes minha mensagem de fé: acredito neste País, acredito em cada um de nós, acredito em nosso esforço, acredito no nosso Governo e tenho certeza de que, juntos, vamos juntos mudar essa realidade.

Muito obrigado.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2003\20030429do.doc 12:45



Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2003 - Página 9134