Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Editorial publicado no jornal "O GLOBO", edição de 06 de maio de 2003, sob o título "Velho Fantasma", em que aquele jornal condena pretendidas alterações nos critérios legais de incentivo cultural.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Editorial publicado no jornal "O GLOBO", edição de 06 de maio de 2003, sob o título "Velho Fantasma", em que aquele jornal condena pretendidas alterações nos critérios legais de incentivo cultural.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2003 - Página 9685
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PROTESTO, ALTERAÇÃO, CRITERIOS, LEGISLAÇÃO, INCENTIVO, CULTURA, AUTORIA, SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO DE GOVERNO E GESTÃO ESTRATEGICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, leio, para que conste dos Anais do Senado Federal, o editorial publicado na edição de hoje, dia 6 de maio de 2003,do jornal O GLOBO, sob o título “Velho Fantasma”, em que o jornal condena pretendidas alterações nos critérios legais de incentivo cultural. O artigo refere-se às novas modalidades anunciadas pelo Secretário de Comunicação do Governo do Presidente Lula, Sr. Luiz Gushiken, as quais, segundo denúncias do cineasta Cacá Diegues, significariam retrocesso, com sérios prejuízos para a cultura brasileira.

            O editorial é do seguinte teor:

Rio, 6 de Maio de 2003
 
Velho fantasma 
No final dos anos 40, quando a então União Soviética recuperava-se da catástrofe que foi, para o país, a Segunda Guerra Mundial, Josef Stalin entregou a um membro do Politburo, Andrei Jdanov, a tarefa de pôr a classe artística estritamente dentro dos parâmetros ideológicos do regime. A orientação foi seguida com rigor extremo; e quem não obedecia ao que se chamou de “realismo socialista” passava a enfrentar a cólera do regime.

Nada de parecido, com certeza, está acontecendo no Brasil; mas o nome de Jdanov foi lembrado pelo cineasta Cacá Diegues, na entrevista que concedeu ao GLOBO, e em que ele protesta contra os rumos que começa a tomar a política cultural do governo Lula. O mais curioso é que essa política não parte do Ministério da Cultura, e sim da Secretaria de Comunicação do ministro Gushiken; o que sinaliza uma interferência direta da máquina do governo na condução do que poderia ser uma política de cultura.  

É um retrocesso, e a classe artística tem todo o direito de estar em pânico. Esse controle exercido através dos subsídios para a cultura atinge sobretudo a área do cinema; e é exatamente aí que se vê por que a discussão é estapafúrdia. Como lembrou Cacá Diegues, o caminho para um cinema nacional auto-sustentável tinha sido aberto pela Lei do Audiovisual de 1994. Desde então, produziram-se 250 filmes; e a parcela de mercado do cinema nacional, que era de 1% do mercado, está chegando perto dos 10%. O sucesso visita um filme nacional depois do outro -- “Cidade de Deus”, “Deus é brasileiro”, “Carandiru”. Que outros indícios seriam necessários de que uma determinada política cultural está dando certo?  

Cinema é diversão de massa; através da indústria cinematográfica, um país visita as suas realidades, o que é um modo de refletir sobre elas, de modificá-las no que isto seja necessário. Mas, a julgar pelo que estamos vendo, não serão mais os artistas e diretores que escolherão os seus projetos: a decisão escorrega para a burocracia de um órgão do governo que sequer tem compromisso direto com a cultura. Que farão os aprendizes de feiticeiro se esses “novos projetos” devolverem o cinema brasileiro à época do marasmo?  


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2003 - Página 9685