Discurso durante a 48ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

VOTO DE PESAR PELO FALECIMENTO DO PROFESSOR JOÃO HERCULINO, EX-DEPUTADO FEDERAL, QUE SE DESTACOU PELA SUA INDOLE DEMOCRATICA E PELA LUTA INTRANSIGENTE CONTRA A DITADURA.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • VOTO DE PESAR PELO FALECIMENTO DO PROFESSOR JOÃO HERCULINO, EX-DEPUTADO FEDERAL, QUE SE DESTACOU PELA SUA INDOLE DEMOCRATICA E PELA LUTA INTRANSIGENTE CONTRA A DITADURA.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/2003 - Página 9528
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO HERCULINO, PROFESSOR, EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA, LUTA, OPOSIÇÃO, DITADURA, ATUAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, FUNDAÇÃO, UNIVERSIDADE PARTICULAR, DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, procurei resumidamente falar de João Herculino no próprio requerimento que solicita esse justo voto de pesar, mas acrescento mais duas coisas. A primeira é que eu próprio tive a honra de ter sido colega de Câmara do Deputado João Herculino. Presenciei a sua coragem, soube da sua honradez, convivi com a sua coerência, aproveitei a sua experiência e pude ver que o que meu pai dele dizia era a mais exata expressão da verdade: um homem de bem, a serviço das suas convicções, sempre de acordo com o que de melhor se pudesse pensar para a pátria brasileira.

A segunda razão é um lembrete, um histórico muito filmado, bastante repetido, quando se lembra do alvorecer do golpe de 64. O microfone de aparte da Câmara tinha um fio longo. João Herculino era um homem afável, como disse no requerimento, mas de temperamento forte. João Goulart estava ainda no País, saía do Rio de Janeiro para Brasília e de Brasília para o Rio Grande do Sul, na tentativa de organizar a resistência à ditadura que se implantava. O Presidente do Congresso e do Senado de então, Senador Auro de Moura Andrade, apressadamente e servindo aos poderosos que nasciam, o que não fez bem à sua biografia correta, homem brilhante, orador emérito, decretou a vacância do cargo com João Goulart ainda no País. Outros protestaram. As fotos falam melhor do que as palavras. Tancredo Neves retrata uma cena em que está exposta toda a indignação de que era capaz. O meu pai e tantos outros foram à tribuna. João Herculino resolveu não falar, atirou o microfone na direção da Mesa, na direção de Auro de Moura Andrade. Esse gesto, em condições normais de democracia, seria anti-regimental e condenável. Naquela altura, o mais grave mesmo era a ditadura que se implantava, não o gesto de arroubo, revolta e indignação, justos, de João Herculino. E parece que calculou muito bem, porque o microfone ficou a dez centímetros do Presidente do Congresso. Volto a dizer que seria um gesto condenável nos dias de hoje, mas àquela altura compreensível porque, afinal de contas, estavam pisando sobre a liberdade do País; estavam desmontando um governo eleito pelo voto popular; estavam antecipando um pronunciamento que não era das urnas, mas um pronunciamento de quem imaginava que liberdade e Brasil não casavam, e liberdade e Brasil, na verdade, têm que, cada vez mais fortemente, estabelecer um vínculo de casamento indissolúvel. Por isso a saudade do meu querido João Herculino e a homenagem, que eu sei que é de todo o Senado, a esse grande mineiro, a esse grande brasiliense, a esse grande Parlamentar e figura humana que foi o Reitor, o Deputado, o libertário João Herculino.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/2003 - Página 9528