Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários à publicação que trata do problema da dívida pública do Brasil, no Caderno Adenauer editado pela Fundação Konrad Adenauer da Alemanha.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIVIDA PUBLICA.:
  • Comentários à publicação que trata do problema da dívida pública do Brasil, no Caderno Adenauer editado pela Fundação Konrad Adenauer da Alemanha.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2003 - Página 11127
Assunto
Outros > DIVIDA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, INICIATIVA, FUNDAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, ATUAÇÃO, BRASIL, CONTEUDO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ESPECIALISTA, DIVIDA PUBLICA, PAIS, ENCAMINHAMENTO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, APOIO, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, ORADOR, CONTINUAÇÃO, CONTROLE, GOVERNO.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, o objetivo deste breve pronunciamento é comentar uma interessante e recente publicação que trata dos problemas da dívida pública do Brasil. Refiro-me à edição de novembro de 2002 dos Cadernos Adenauer, que se dedica a analisar os dilemas da dívida.

A Fundação Konrad Adenauer é um instituto alemão, com forte presença internacional, dedicado a estudos políticos sobre as questões contemporâneas da democracia representativa, dos direitos humanos, da economia social de mercado, da justiça social e do desenvolvimento sustentado. O nome da fundação é uma homenagem a Konrad Adenauer, o grande estadista democrata-cristão que liderou, após a 2ª Guerra Mundial, a notável recuperação alemã nos campos da democracia e do ressurgimento econômico.

No Brasil, uma das boas iniciativas da Fundação, já há alguns anos, é a publicação trimestral dos Cadernos Adenauer, cada número dedicado a determinado tema de interesse brasileiro ou internacional. O de novembro, como disse, é sobre a dívida pública brasileira, e reúne artigos e opiniões de diversos estudiosos. São diferentes enfoques e diferentes opiniões, alguns mais técnicos, outros mais políticos, no que tange à gravidade ou não do montante da nossa dívida pública, da maior ou menor dificuldade de administrá-la, do acerto ou não das políticas que levaram ao seu crescimento e da influência maior ou menor dos azares externos que a condicionaram.

Em meio a essa diversidade de opinião sobre a formação da dívida, destaca-se uma faceta muito interessante: há quase unanimidade entre os autores sobre a maneira correta de conduzir a política econômica, em face do fato concreto da existência da dívida. E é exatamente a maneira como vinha atuando o Governo Fernando Henrique Cardoso, nos anos mais recentes, ou seja, a adoção de uma política fiscal equilibrada, a obtenção de expressivo superávit fiscal, a conquista da confiança dos investidores nacionais e internacionais, visando a uma dinamização da economia, e a busca de reformas que favoreçam a competitividade das empresas e o resgate das expectativas de avanços no panorama social.

Mais notável ainda, Sr. Presidente, é a constatação de que essa “receita de bolo” tucana vem sendo agora seguida pelo governo do partido que sempre a criticou, numa clara e auspiciosa demonstração de que, na cúpula do PT, a responsabilidade finalmente venceu a demagogia.

O primeiro artigo dessa edição dos Cadernos Adenauer é assinado pelo economista sênior do Banco Mundial Santiago Herrera. Em sua análise, ele lembra que a dívida pública brasileira é, hoje, predominantemente dívida interna: a dívida externa, em dólares, é 4 vezes menor que a interna. Ele diz que a gestão dessa dívida aperfeiçoou-se tecnicamente nos últimos anos, pois técnicas sofisticadas têm sido utilizadas para neutralizar a pressão negativa que a dívida exerce sobre a economia. A meta deve ser alongar e desindexar gradualmente a dívida interna. Entre suas recomendações, destaca-se a de ampliar o mercado comprador de títulos governamentais, hoje excessivamente concentrado no sistema financeiro.

Outra análise que chama atenção é a de Dieter Benecke, economista da Fundação Konrad Adenauer, pelo seu enfoque histórico e político. Ele afirma que os baixos crescimentos dos anos 80 e 90 relacionam-se com endividamento. Aponta para as duas histórias muito diferentes da dívida externa dos anos 80 e da dívida interna dos anos 90. Na primeira, preponderaram os fatores do segundo choque do petróleo, da subseqüente alta dos juros internacionais e da quebra do México. Nos anos 90, houve a recuperação do crédito; mas, na segunda metade da década, ocorreram os choques externos de sucessivas crises financeiras, de repercussão global: a do México, a da Ásia e a da Rússia.

Aqui é preciso relembrar e acrescentar que, em paralelo à formação da dívida interna nos anos 90, houve contrapartidas positivas notáveis, obras do Governo Fernando Henrique Cardoso, tais como: a vitória sobre uma monstruosa inflação, a melhoria de muitos e importantes indicadores sociais, a reforma do Estado, a introdução firme da responsabilidade fiscal na consciência dos brasileiros, os avanços na reforma da previdência e em direção a uma reforma tributária, e, finalmente, a melhor articulação de nosso esforço exportador, com a decorrente obtenção de brilhante saldo positivo em nossa balança comercial, em 2002.

Um artigo muito esclarecedor sobre a natureza de nossa dívida interna é o do economista brasileiro Flávio Rabelo Versiani. Ele chama a atenção para o fato de que 85% do crescimento da dívida interna nos anos 90 deveu-se a fatores não recorrentes, isto é, a dívidas ocultas preexistentes, que não mais se repetirão e que foram reconhecidas, explicitadas e consolidadas em atos corajosos do Governo Fernando Henrique. Pelo efeito de trazer transparência a males antes escondidos no nevoeiro da insinceridade, a assunção desse endividamento pela União foi fato de efeito positivo a longo prazo.

Essas dívidas não recorrentes e herdadas dividem-se em três blocos principais. O primeiro foi o refinanciamento da dívida dos Estados e Municípios. A União assumiu o endividamento dos entes federados num montante que, em abril de 2002, era de 275 bilhões de reais.

O segundo bloco de endividamento da União não recorrente e herdado refere-se ao reconhecimento de diversos “esqueletos”, ou, em linguagem técnica, passivos contingentes, como, por exemplo, o do sistema financeiro habitacional. O valor desse bloco, em abril de 2002, era de 143 bilhões de reais.

O terceiro bloco assumido pela União foi o saneamento dos bancos federais, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e dos bancos regionais. Esse bloco totalizava, em abril de 2002, 69 bilhões de reais.

Os três blocos não recorrentes e herdados somavam, em meados de 2002, cerca de 488 bilhões de reais! As dívidas assim originadas formam, portanto, o grosso da dívida interna, que era, em junho de 2002, de 709 bilhões de reais. São 488 comparados a 709, Sr. Presidente!

            Temos aí, Sr. Presidente, não só um importante fato político e moral, como também um indicador de que a tão propalada dívida interna tem todos os indícios de ser uma dívida administrável, como de resto apontam diversos estudos. Isto é, a dívida interna, ao longo dos anos vindouros, representará percentual cada vez menor no PIB brasileiro.

De 1994 a 2002, a dívida externa passou de 8,1% para 11,1% do PIB. Seu valor, em dólares, até decresceu, em 10%. A dívida interna, de 1994 a 2002, passou de 28,1% para 55,9% do PIB. Um percentual de 60% do PIB requer uma gestão cuidadosa e profissional, mas será um percentual cadente, cada vez mais fácil de carregar, desde que o atual e os próximos governos persistam no espírito do Governo Fernando Henrique, de seriedade, responsabilidade e credibilidade interna e externa.

São esses, Sr. Presidente, os pontos mais marcantes dessa oportuna edição da revista Cadernos Adenauer, da qual trago notícia para a atenção desta Casa.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2003 - Página 11127